O CARRINHO SEM BOLA DO TEMPO
por Claudio Lovato Filho
(Foto: Marcelo Tabach)
Quem os conforta
Quando se dão conta de que jamais terão aquilo de novo:
O estádio lotado por causa deles
Os refletores
A adrenalina atingindo o pico no vestiário?
Quem os conforta
Quando acordam no meio da noite
Sobressaltados porque sonharam
Que tudo aquilo ainda lhes pertencia
Ainda lhes acontecia?
Quem os conforta
Quando em alguma resenha de TV
O pessoal da bancada se esquece de mencionar seu nome ao falar do time do ano tal
Campeão do torneio tal
Conquista que foi um dos maiores motivos de orgulho da vida?
Quem os conforta
Quando bate a saudade
Dos pedidos de autógrafo
Dos pedidos de entrevista
E até dos pedidos dos oportunistas que estavam sempre em volta, orbitando?
Não há conforto.
Mas há o sorriso largo
A risada sincera
Quando a família está em volta
A companheira de tanto tempo, os filhos (e para alguns, já há netos!)
Sim, agora existe tempo para a família
E também para os velhos amigos, poucos mas verdadeiros, camaradagem antiga
Então, vez por outra,
Vem a satisfação de ser lembrado e homenageado
Por aqueles que amam o futebol de verdade
Por aqueles que cultuam a história do futebol
Gente que não esquece os ídolos
(Salve o Museu da Pelada)
Conforto, não há.
Mas existe a memória
A lembrança do que se fez (e sempre se fez muito)
A alegria de recordar
Toda aquela alegria que se proporcionou a tanta gente de escassas alegrias
Quem os conforta?
Não, não há conforto.
Só há a vida que segue.
E de todos os milagres
E de todas as vitórias
E de todos os motivos de celebração
Talvez seja esse o maior deles
Por fim e definitivamente compreendido.
RONALDO, FENÔMENO DE SUPERAÇÃO
por Luis Filipe Chateaubriand
Ronaldo Nazário foi um dos maiores jogadores brasileiros pós Pelé, e isso é indiscutível. Mas Ronaldo também foi craque em outros aspectos…
Depois de um meteórico sucesso de início de carreira, entre os anos de 1993 e 1998, o centroavante passou por sérios problemas.
Primeiro, foi o episódio da convulsão horas antes da final da Copa do Mundo de 1998. A situação desgastou demais o centroavante, que não jogou a final nas melhores condições, não foi campeão do mundo e perdeu para Zinedine Zidane o posto de maior jogador do mundo.
Em seguida, vieram os problemas médicos iniciais. Os joelhos do atleta começaram a ficar doloridos em função de sobrecarga, não se sabe bem se devido a mudanças do biótipo do jogador ou consequência de suas arrancadas. O atleta, assim, sofria contusões constantes.
Enfim, em cena horrível e triste, Ronaldo rompeu os ligamentos do tendão patelar.
Aí, começa uma saga carregada de sangue, suor e lágrimas.
Muitos diziam que Ronaldo não só não voltaria a jogar, como teria dificuldades até para andar.
Alguns sustentavam que jogaria, mas não mais em alto nível.
Quase todos davam como certo que jogar a Copa do Mundo de 2002 não seria possível.
Aí, Ronaldo começou uma verdadeira saga, a trajetória épica mais incrível do futebol mundial!
Fez fisioterapia, se exercitou, se fortaleceu mentalmente, resistiu à apatia, sobrepôs-se a tudo e a todos que o desacreditavam.
Sua gana, persistência e coragem o recompensaram: ele não só jogou a Copa do Mundo de 2002, como foi seu protagonista, se coroando com o título de penta campeão.
A superação do craque é, verdadeiramente, fenomenal. E digna de cinema – uma sinopse a la Rocky Balboa.
O que Ronaldo fez foi heroico. E ficará marcado para sempre na história do futebol mundial.
Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!
OPERAÇÃO BOTÃO 1980
por Paulo-Roberto Andel
Comecei a colecionar botões. Alguns deles, os panelinhas, a gente encontra nas Lojas Americanas ou Brasileiras. Já os botões de galalite são mais valorizados e, claro, mais caros.
Tem uma loja aqui pertinho de casa, aos pés da escada rolante que leva ao Teatro Teresa Raquel. Uma papelaria. Os botões são lindos, brilhantes, têm o escudo dourado de cada dia. Assim que conseguir juntar o troco do lanche, vou comprar um botão do Bahia, que é muito bonito. Será o Osni, que é atacante e bem pequenininho. Assim que sair a escalação do time do Bahia na revista Placar, é só recortar o nome dele, pegar um pedacinho de durex e colá-lo, de modo a não atrapalhar as palhetadas. O número 7 dá para recortar também, ou comprar decalques na papelaria – o problema é que a palheta costuma rasgá-los.
Tem uns botões bem legais do São Paulo também. Quero comprar o Serginho, mas tem que ser um botão grande que nem ele e isso vai exigir maior economia.
Geralmente a gente joga debaixo da outra escada rolante do shopping, porque ela não funciona e ali fica vazio, sem atrapalhar ninguém. Normalmente no domingo de manhã. Eu, Luis, Augusto, Marcelinho. Às vezes o Chapecó aparece. Floriano também. Na saída do shopping, do outro lado da rua mora o Gordinho, que também joga muito. Sempre tem algum adulto olhando, devem achar legal.
A bola não é bola, mas dadinho. Tem uma briga danada por isso: gente que só quer jogar com pastilha de War, ou que só aceita bolinha de feltro. Tem quem faça bolinha com miolo de pão. Nós gostamos do dadinho: o jogo fica mais rápido, mais real, os dribles também.
Gramado oficial: Estrelão ou Xalingão, dependendo do mando de campo. Comecei jogando numa cartolina, eu mesmo desenhei as linhas, o meio de campo e a grande área. Depois minha mãe me deu um Estrelão.
O goleiro é sempre feito com caixa de fósforos Olhão. Para muita gente, o melhor é colocar chumbo derretido dentro para dar peso e o goleiro não cair nunca, mas dá para fazer com moedas e arroz por exemplo, ou qualquer coisa que garanta a estabilidade do arqueiro. Os escudos a gente recorta na Placar também. Agora, a camisa do goleiro cada um faz de um jeito: todo preto, com fita isolante; colorido, com papel pintado à caneta, ou de uma cor só, com outra fita. São várias opções de nome: Leão, Wendell, Raul, País, Renato, Waldir Peres, Manga.
O botão mais valorizado depois de um artilheiro é o becão, bem grandão e sempre em dupla. Eles evitam os gols, muitas vezes empilhados ao lado do goleiro. E como são grandões, dificilmente são driblados. Impõem respeito. E são caros, quase um lanche inteiro no Gordon da Avenida Copacabana ou no Sumol da Figueiredo Magalhães. Becão não pode ser qualquer um, tem que ter moral: Abel, Rondinelli, Edinho, Moisés. Tem o Renê também. Ah, o Alex do America, que é bem grandão. Geraldo, Gaúcho. Luís Pereira. Tem gente que recua o Chicão do São Paulo para ser becão, ou o Teodoro. Beto Fuscão, não dá para esquecer!
É difícil conseguir botões de Pernambuco. Se tivesse do Sport, eu poderia batizar de Denô ou Roberto. Do Santa Cruz, Fumanchu e Nunes. Do Náutico, Chico Fraga.
Importante dizer que o batismo do botão não necessariamente é atual: você pode escolher um nome do passado que não está mais no time, ou até algum que você queria que tivesse jogado na sua equipe, mas não aconteceu. Tudo é imaginação. Mas por aqui não tem jeito: todo mundo tem um Roberto Dinamite, um Zico, um Rivellino. Tita está muito badalado, Guina e Paulinho também. E quando surge um atacante do America, é sempre Luisinho Tombo. Do Corinthians, Sócrates e Palhinha. Do Santos, Juari e Pita. Da Portuguesa, Enéas e Tata.
Na banca de jornal tem os botões da marca “É gol!”. É um pacotinho igual ao de figurinhas, que vem com três botões de plástico e os adesivos para serem colados, com a cara dos jogadores. Volta e meia têm os do Cruzeiro, Revetria e Joãozinho. Já consegui um Carlinhos do Fluminense.
Na rua Santa Clara, há uma loja de brinquedos chamada Dom Pixote. Ela vende uns botões lindos, numa caixa plástica. São chamados de vidrilha. Eles são leves, ocos, com escudinho, número e faixas coloridas. A palheta é multicolorida, psicodélica. Vêm com duas bolinhas de feltro, mas a gente usa com dadinho do mesmo jeito. São feitos em São Paulo, da marca Brianezi. Aqui no Rio, os de galalite são feitos pela marca Bertiza, mas há outras.
Se for verdade o que o Jornal dos Sports publicou hoje, vou economizar o lanche de hoje e amanhã. Parece que o Cláudio Adão vai jogar no Fluminense, então preciso reforçar o meu time. Tomara que sim. Já pensou como vai ser quando ele estrear no Maracanã pelo Flu?
O DIA EM QUE A PORTUGUESA DA ILHA BATEU O REAL MADRID
por André Luiz Pereira Nunes
É possível conceber um pequeno clube carioca atravessar o continente para enfrentar o poderoso Real Madrid, repleto de astros, em pleno Estádio Santiago Bernabéu, na Espanha, e ainda sair com a vitória? O cenário parece extraído de um filme, cujo roteiro é dos mais inacreditáveis. Todavia, o que parecia impossível se tornaria realidade.
Na terça, 4 de setembro, a Associação Atlética Portuguesa, do Rio de Janeiro, comemorou 51 anos de uma inesquecível vitória sobre o Real Madrid. A simpática Lusa da Ilha do Governador foi até a capital espanhola e, capitaneada por nomes como Zeca, Escurinho e Miguel, bateu a poderosa equipe merengue por 2 a 1 em um amistoso ocorrido em 1969.
Tratava-se do cotejo de entrega de faixas para a equipe, então tricampeã do Campeonato Espanhol em 1966/1967, 1967/1968 e 1968/1969. Sob o comando de Miguel Muñoz Mozún, os madridistas contavam com grandes estrelas em seu plantel, como o atacante Paco Gento e o zagueiro Sanchis. Mas os insulanos não se intimidaram nem um pouco. Em um jogo festivo com “pouco futebol e muitas piruetas”, conforme mencionado pela imprensa espanhola, os visitantes ganhariam por 2 a 1, com direito a dois tentos do ponta-direita Miguel.
A Portuguesa realizava uma excursão à Europa para uma série de amistosos. E, como parte dos compromissos, deveria enfrentar o Sevilla. Entretanto, o duelo acabaria cancelado por um motivo peculiar. À procura de um rival para realizar o jogo festivo de entrega das faixas, o Real Madrid ofereceria uma quantia maior ao time da Ilha do Governador, levando a melhor sobre os rivais sevilhanos. O histórico, inusitado e surpreendente triunfo rendeu aos vencedores um prêmio cinco vezes maior do que o anunciado anteriormente.
– O bicho da Portuguesa era de 10 dólares. O empresário nos deu 50 dólares. Ficamos malucos. Foi só alegria, samba, pagode e felicidade. Só felicidade – diria o zagueiro Zeca em uma entrevista ao canal Sportv, em 2014.
A vitória da Portuguesa começaria a ser desenhada logo na primeira etapa. Aos sete minutos, o atacante Miguel marcou o primeiro. Ao fim da etapa inicial, aos 42 minutos, o atleta repetiria o feito, assinalando o segundo para o time da Ilha do Governador, o qual sairia para o intervalo já vencendo por 2 a 0. No segundo tempo o Real Madrid partiria para cima em busca do empate, só conseguindo diminuir o marcador aos 45 minutos, com Planelles. Tarde demais para igualar o marcador. Melhor para os visitantes que derrotaram uma das maiores e mais prestigiadas agremiações esportivas do planeta diante de mais de 50 mil pessoas no histórico Santiago Bernabéu.
Dizem até que o ponta-esquerda Escurinho, o mesmo do Fluminense nas décadas de 50 e 60, foi um dos principais destaques daquele épico confronto. Ao final da partida, quando já se encontrava no vestiário, teria recebido uma sondagem de dirigentes da equipe merengue. Entretanto, a transação não ocorreria por conta da idade avançada do atleta, o qual já contava 39 anos.
Dispondo de mais de 130 jogos internacionais, a equipe carioca, cuja mascote se tornaria a zebra, também aprontaria ainda mais uma ousadia. Em 13 de agosto de 1976, em São Januário, viria a bater o Benfica por 3 a 1.
PARABÉNS, GRÊMIO
por Claudio Lovato
Quando tinhas 50 anos,
Lupicínio escreveu o teu hino
No Restaurante Copacabana, na Cidade Baixa
E que hino!
Tua casa, naquele 1953,
Ainda era o Fortim da Baixada, nosso primeiro lar, no Moinhos de Vento,
A Baixada de Eurico Lara, Luiz Carvalho, Oswaldo Rolla, o Foguinho
E de Mohrdiek, Schuback, Grunewald, Moreira, Booth, Sisson, Assumpção e todos os outros
Um ano depois,
Te mudarias para o Olímpico, na Azenha
O novo estádio, em outro bairro
Uma nova manifestação tangível
Do teu poder de mobilizar pela paixão
E transformar desejos em concreta realidade
Concreto com alma
Olímpico dos míticos comandantes Foguinho, Ênio Andrade e Felipão
De Airton, Gessy, Juarez, Alcindo, Everaldo, Espinosa, Telê, Ancheta, Oberdan, Iúra, Éder
E de Tarciso, o jogador que mais vezes vestiu o teu manto e que nasceu no mesmo dia que tu
De Milton, Vieira, Tadeu Ricci, André Catimba, De León, Mazarópi, Jardel, Danrlei, Renato e todos os outros
Renato, o Portaluppi,
Herói como jogador, nos tempos do Olímpico,
E herói como técnico, na Arena
A Arena…
De Felipão, Roger Machado, Marcelo Grohe, Luan, Everton Cebolinha, Pedro Geromel, Kannemann, Maicon, Pepê e todos os outros
Tua terceira casa
Linda obra de engenharia e encantamento erguida no Humaitá
Agora ela guarda nossas taças
As das Libertadores, dos Brasileiros, das Copas do Brasil, dos Gauchões, das Recopas, dos Citadinos…
Guarda mais que taças: guarda História – assim como foi no Olímpico e na Baixada
Este é o teu oitavo aniversário comemorado na Arena
O teu 117º
Hoje!
Viva o 15 de setembro de 1903
Cândido Dias da Silva e outros 29 bravos
Reunidos num restaurante de hotel na Rua José Montaury, no Centro de Porto Alegre
Carlos Luiz Bohrer, o primeiro presidente
Hoje Romildo Bolzan
Salve Bohrer, salve Luiz Carvalho, salve Romildo, salve Hélio Dourado, salve Fábio Koff
Parabéns, Grêmio!
Meu Grêmio do Moinhos de Vento, da Azenha, do Humaitá, de todos os lugares
O Grêmio de todos os que o amam
Estamos juntos
Sempre estaremos
O tempo todo estivemos – para mim, desde 1965, ano em que nasci
Na verdade, antes
Muito antes.