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O CARRINHO SEM BOLA DO TEMPO

15 / setembro / 2020

por Claudio Lovato Filho


(Foto: Marcelo Tabach)

Quem os conforta

Quando se dão conta de que jamais terão aquilo de novo:

O estádio lotado por causa deles

Os refletores

A adrenalina atingindo o pico no vestiário?

Quem os conforta

Quando acordam no meio da noite

Sobressaltados porque sonharam

Que tudo aquilo ainda lhes pertencia

Ainda lhes acontecia?

Quem os conforta

Quando em alguma resenha de TV

O pessoal da bancada se esquece de mencionar seu nome ao falar do time do ano tal

Campeão do torneio tal

Conquista que foi um dos maiores motivos de orgulho da vida?

Quem os conforta

Quando bate a saudade

Dos pedidos de autógrafo

Dos pedidos de entrevista

E até dos pedidos dos oportunistas que estavam sempre em volta, orbitando? 

Não há conforto.

Mas há o sorriso largo

A risada sincera 

Quando a família está em volta

A companheira de tanto tempo, os filhos (e para alguns, já há netos!)

Sim, agora existe tempo para a família

E também para os velhos amigos, poucos mas verdadeiros, camaradagem antiga  

Então, vez por outra,

Vem a satisfação de ser lembrado e homenageado

Por aqueles que amam o futebol de verdade

Por aqueles que cultuam a história do futebol


Gente que não esquece os ídolos

(Salve o Museu da Pelada)

Conforto, não há. 

Mas existe a memória

A lembrança do que se fez (e sempre se fez muito)

A alegria de recordar

Toda aquela alegria que se proporcionou a tanta gente de escassas alegrias

Quem os conforta?

Não, não há conforto.

Só há a vida que segue.

E de todos os milagres

E de todas as vitórias

E de todos os motivos de celebração

Talvez seja esse o maior deles

Por fim e definitivamente compreendido.    

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