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OPERAÇÃO BOTÃO 1980

15 / setembro / 2020

por Paulo-Roberto Andel


Comecei a colecionar botões. Alguns deles, os panelinhas, a gente encontra nas Lojas Americanas ou Brasileiras. Já os botões de galalite são mais valorizados e, claro, mais caros. 

Tem uma loja aqui pertinho de casa, aos pés da escada rolante que leva ao Teatro Teresa Raquel. Uma papelaria. Os botões são lindos, brilhantes, têm o escudo dourado de cada dia. Assim que conseguir juntar o troco do lanche, vou comprar um botão do Bahia, que é muito bonito. Será o Osni, que é atacante e bem pequenininho. Assim que sair a escalação do time do Bahia na revista Placar, é só recortar o nome dele, pegar um pedacinho de durex e colá-lo, de modo a não atrapalhar as palhetadas. O número 7 dá para recortar também, ou comprar decalques na papelaria – o problema é que a palheta costuma rasgá-los. 

Tem uns botões bem legais do São Paulo também. Quero comprar o Serginho, mas tem que ser um botão grande que nem ele e isso vai exigir maior economia.

Geralmente a gente joga debaixo da outra escada rolante do shopping, porque ela não funciona e ali fica vazio, sem atrapalhar ninguém. Normalmente no domingo de manhã. Eu, Luis, Augusto, Marcelinho. Às vezes o Chapecó aparece. Floriano também. Na saída do shopping, do outro lado da rua mora o Gordinho, que também joga muito. Sempre tem algum adulto olhando, devem achar legal. 

A bola não é bola, mas dadinho. Tem uma briga danada por isso: gente que só quer jogar com pastilha de War, ou que só aceita bolinha de feltro. Tem quem faça bolinha com miolo de pão. Nós gostamos do dadinho: o jogo fica mais rápido, mais real, os dribles também. 

Gramado oficial: Estrelão ou Xalingão, dependendo do mando de campo. Comecei jogando numa cartolina, eu mesmo desenhei as linhas, o meio de campo e a grande área. Depois minha mãe me deu um Estrelão. 

O goleiro é sempre feito com caixa de fósforos Olhão. Para muita gente, o melhor é colocar chumbo derretido dentro para dar peso e o goleiro não cair nunca, mas dá para fazer com moedas e arroz por exemplo, ou qualquer coisa que garanta a estabilidade do arqueiro. Os escudos a gente recorta na Placar também. Agora, a camisa do goleiro cada um faz de um jeito: todo preto, com fita isolante; colorido, com papel pintado à caneta, ou de uma cor só, com outra fita. São várias opções de nome: Leão, Wendell, Raul, País, Renato, Waldir Peres, Manga. 

O botão mais valorizado depois de um artilheiro é o becão, bem grandão e sempre em dupla. Eles evitam os gols, muitas vezes empilhados ao lado do goleiro. E como são grandões, dificilmente são driblados. Impõem respeito. E são caros, quase um lanche inteiro no Gordon da Avenida Copacabana ou no Sumol da Figueiredo Magalhães. Becão não pode ser qualquer um, tem que ter moral: Abel, Rondinelli, Edinho, Moisés. Tem o Renê também. Ah, o Alex do America, que é bem grandão. Geraldo, Gaúcho. Luís Pereira. Tem gente que recua o Chicão do São Paulo para ser becão, ou o Teodoro. Beto Fuscão, não dá para esquecer! 


É difícil conseguir botões de Pernambuco. Se tivesse do Sport, eu poderia batizar de Denô ou Roberto. Do Santa Cruz, Fumanchu e Nunes. Do Náutico, Chico Fraga. 

Importante dizer que o batismo do botão não necessariamente é atual: você pode escolher um nome do passado que não está mais no time, ou até algum que você queria que tivesse jogado na sua equipe, mas não aconteceu. Tudo é imaginação. Mas por aqui não tem jeito: todo mundo tem um Roberto Dinamite, um Zico, um Rivellino. Tita está muito badalado, Guina e Paulinho também. E quando surge um atacante do America, é sempre Luisinho Tombo. Do Corinthians, Sócrates e Palhinha. Do Santos, Juari e Pita. Da Portuguesa, Enéas e Tata. 

Na banca de jornal tem os botões da marca “É gol!”. É um pacotinho igual ao de figurinhas, que vem com três botões de plástico e os adesivos para serem colados, com a cara dos jogadores. Volta e meia têm os do Cruzeiro, Revetria e Joãozinho. Já consegui um Carlinhos do Fluminense. 

Na rua Santa Clara, há uma loja de brinquedos chamada Dom Pixote. Ela vende uns botões lindos, numa caixa plástica. São chamados de vidrilha. Eles são leves, ocos, com escudinho, número e faixas coloridas. A palheta é multicolorida, psicodélica. Vêm com duas bolinhas de feltro, mas a gente usa com dadinho do mesmo jeito. São feitos em São Paulo, da marca Brianezi. Aqui no Rio, os de galalite são feitos pela marca Bertiza, mas há outras. 

Se for verdade o que o Jornal dos Sports publicou hoje, vou economizar o lanche de hoje e amanhã. Parece que o Cláudio Adão vai jogar no Fluminense, então preciso reforçar o meu time. Tomara que sim. Já pensou como vai ser quando ele estrear no Maracanã pelo Flu? 

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