ANDRADE FOI A NOTA MUSICAL DOS CAMPOS
texto e charge: Marcos Vinicius Cabral
O mineiro Jorge Luís Andrade da Silva seria mais um jogador como tantos outros negros, humildes e que saem da cidade natal para tentar a sorte no mundo traiçoeiro do futebol.
Mas Jorge Luís Andrade da Silva sabia melhor do que ninguém que se não fosse o amor dele pela bola que o transformou em Andrade, um dos mais completos e vitoriosos cabeça de área do futebol brasileiro, esse mineiro tão talentoso de Juiz de Fora ficaria pelo caminho.
Camisa 6 de um Flamengo imortal como foi o de 1981 que conquistou o mundo, foi um genuíno craque de bola na acepção da palavra.
Carregou o piano em muitos jogos inesquecíveis, como por exemplo, nas decisões da Libertadores e do Mundial, tendo Adílio e Zico, exímios pianistas que tocavam com os pés o dó, ré, mi, fá, sol, lá e si, notas musicais criadas pelo monge italiano Guido d’Arezzo (992-1050), que resultavam em gols.
Mas Andrade foi a melhor nota musical na cabeça de área que tocou no Flamengo em 1976, quando iniciou a carreira, até 1996, quando encerrou no modesto Barreira, que virou Boavista Sport Club, agremiação esportiva da cidade de Saquarema, Região dos Lagos, em 2004.
Até hoje, passados 34 anos que deixou de atuar pelo clube, nenhum outro jogador chegou perto da classe, posicionamento e habilidade dele naquele meio de campo.
Seus desarmes, comparada a uma frequência sonora medida em hertz (Hz), descrevia com exatidão se o contra-ataque era grave ou agudo.
O posicionamento dentro de campo, representação de uma partitura ou letra em uma tablatura, por muito tempo deixou a beleza do som daquele futebol no nosso inconsciente.
Quantos desarmes! Quantos passes! Quantos momentos inesquecíveis!
Mas o Tromba, eterno ídolo rubro-negro, é patrimônio nosso e não esqueceremos sob hipótese alguma o que produziu como bom operário da bola que foi.
O resultado foi os cinco Campeonatos Brasileiros que nos deu como jogador e o sexto como técnico naquele time com Petković e Adriano em 2009.
Portanto, se não esqueceremos da Libertadores, dos Cariocas, das Guanabaras, dos torneios internacionais e do Mundial Interclubes, por que não lembrar de Andrade que contribuiu de forma decisiva nessas conquistas?
Além de um bom pianista que produzia belos sons com os pés, cada flamenguista já esqueceu quando usou as mãos para assinar com o Vasco e ganhar o título brasileiro pelo time de São Januário em 1989.
Erro imperdoável? Talvez sim, mas o indulto foi concedido anos antes com o sexto gol contra o Botafogo naquele 6 a 0 devolvido em 1981, e no passe para Bebeto marcar o gol do título da Copa União em 1987.
Mas não esqueceremos da humildade, maior qualidade do imortal camisa 6. Só os GRANDES são humildes.
Nessa quinta-feira (21) Andrade faz anos e desejar-lhe um feliz aniversário é dever nosso.
Ah, e saiba que você estará para sempre no coração do verdadeiro torcedor do Flamengo.
Abraços do fã que daqui de longe o admira. Obrigado por tudo!
JOHN TEXTOR: “TEMOS DINHEIRO”
por Elso Venâncio
O megainvestidor John Textor vem empolgando os botafoguenses, que voltaram a lotar o Estádio Nilton Santos.
Personagem simples, carismático, que aparece sorridente nos jogos com uma latinha de cerveja na mão e é sempre atencioso com os torcedores, o norte-americano promete sacudir o futebol brasileiro na janela do meio do ano. Sem demonstrar arrogância, Textor avisa:
– Temos dinheiro… O Barcelona não tem.
O uruguaio Cavani não vai renovar com o Manchester United, da Inglaterra. O artilheiro fica livre agora em julho. Eran Zahavi, do PSV Eindhoven, da Holanda, é outro cotado. Na ‘Era Textor’, já foram investidos R$ 65 milhões em mais de dez contratações. Dois “Evertons” – o “Cebolinha”, do Benfica, e o Ribeiro, meia do Flamengo – foram sondados.
O dirigente conversa com a Nike para fornecer o material. A Reebok, comprada recentemente pela Adidas, também está em pauta.
No fim dos anos 80, o cofre estava cheio no clube graças ao poderoso bicheiro Emil Pinheiro. Carlos Alberto Dias e Fernando Macaé desviaram seus destinos. Trocaram, de forma surpreendente, a Gávea por Marechal Hermes (General Severiano só retornaria ao clube em 1995, na gestão Montenegro).
Mauro Galvão e Paulinho Criciúma foram liberados por Castor de Andrade, outro magnata do jogo do bicho. Chegou, logo depois, o técnico Valdir Espinosa, e com ele o tão esperado título estadual de 1989, que quebrou um longo jejum de 21 anos.
Voltando ao momento atual, há o desejo de se construir um novo estádio de 25 mil lugares, já que no Nilton Santos o torcedor fica distante do campo. O modelo seria o Crystal Palace, que possui o Selhurst Park Stadium.
Outra medida que o dirigente coloca em pauta: encontrar uma fórmula para aproximar as categorias de base dos profissionais:
-
– Eles tem que o interagir. Estão distantes hoje em dia.
Roberto Palli é um botafoguense apaixonado, que até já trabalhou no seu clube do coração como preparador físico. Ele me disse que um amigo seu estava com a esposa num pub londrino quando um rapaz se aproximou perguntando:
-
– Vocês falaram ‘Botafogo’? São brasileiros?
Ele se apresentou como filho do bilionário e ligou para o pai, que estava em Londres.
-
– Que coincidência espetacular! Me esperem aí, chego em 20 minutos! – disse Textor.
E foi mesmo.
Entre um drinque e outro, conversaram por mais de duas horas sobre o passado e o presente do Glorioso.
– Penso 24 horas em fazer um grande time.
O torcedor sabe das coisas, sente os novos ares. Voltou a caminhar nas ruas com a camisa alvinegra e a apoiar o time nos jogos. Textor não é bicheiro, como Emil. Mas, assim como ele, tem demonstrado enorme carinho por seu novo “negócio” – no caso, o Alvinegro de General Severiano.
Esperemos que a má fase acabe de vez e o time retome seu lugar de ponta no cenário esportivo nacional.
O CRAQUE DO BRASIL EM 2013
por Luis Filipe Chateaubriand
Ronaldinho Gaúcho apareceu com destaque em 1999.
Dali, foi crescendo, crescendo, crescendo… até que nos anos de 2003, 2004 e 2005 foi, simplesmente, o melhor jogador do mundo!
Muitos diziam naquela época que, inclusive, alcançaria a excelência técnica de Pelé.
Aí, veio o grande erro de Ronaldinho Gaúcho: entre a farra e a bola, escolheu a primeira.
Seu futebol foi definhando, definhando, definhando.
Virou uma caricatura de si próprio.
De repente, não mais que de repente, o homem partiu para uma reviravolta.
Em 2013, levou o seu Atlético Mineiro ao título inédito da Copa Libertadores da América.
Repertório vasto, jogadas de classe, inteligência ímpar, o homem fez a diferença para o título.
E, por isso, foi o craque do Brasil do ano de 2013!
GERSON, O CANHOTA GENIAL
por Péris Ribeiro
O Estádio Jalisco inteiro ouviu quando a mágica canhota de Gérson bateu na bola, a uma distância de mais de 40 metros, para fazê-la viajar, certeira, até encontrar o peito abençoado de Pelé, naquele segundo gol do Brasil na Copa de 70, contra a Tchecoslováquia – que vencemos por 4 a 1.
Dotada, porém, de mil outras magias, aquela canhota milimétrica era capaz de guardar força, malícia e precisão quando a dramaticidade do momento assim exigia. Que o diga o goleiro Albertosi, ao se deparar com aquele petardo inesperado, aos 20 minutos do segundo tempo.
Então, irremediavelmente batido, pôde ver aquele time de camisas amarelas desempatar um jogo tenso. E caminhar para uns estrondosos 4 a 1 sobre a Itália. Consagração definitiva de Gérson. E, por extenso, daquele Brasil tricampeão do mundo. Um campeão quase perfeito, como nunca se vira antes.
Momentos como esses, é bem verdade, são para se guardar para sempre na retina da memória do torcedor apaixonado. Só que o que ele também faz questão de não esquecer, jamais, é daquele Gérson, Canhotinha de Ourode vários outros momentos épicos no futebol.
No início da carreira, por exemplo, aquele garoto vindo de Niterói, parecia ser a arrogância em pessoa. E dizia sem qualquer pudor, para quem quisesse ouvir, que ia ser tão grande quanto Pelé, Garrincha, Didi e Zizinho – não por acaso, suas maiores admirações.
Por isso mesmo, é que não foi à toa que, já em 1961, com aquele topete enorme, calções arriados e muita habilidade no pé esquerdo, desse de encarar de igual para igual o Santos de Pelé, Coutinho, Pepe, Zito e outros cobras mais. E logo em São Paulo, em pleno Estádio do Pacaembu.
Justo onde o Flamengo, o seu time na época, enfiou uma histórica goleada de 5 a 1 nos santistas – três gols seus e dois do amigo Dida, supremo goleador da Gávea naqueles tempos – e arrancou para a conquista do pomposo título de campeão do Torneio Rio- São Paulo. Uma espécie de Campeonato Brasileiro da época.
Mesmo assim, e mesmo com toda a repercussão após aquela inesperada façanha, o começo do seu auge só ocorreu quando se mudou para General Severiano. Tanto que foi no Botafogo, que se transformou no herdeiro natural da camisa 8 do mestre Didi. Ali, Gérson comandava o time com uma visão de jogo rara.Inacreditável! E gritando palavrões com quem teimava em correr das bolas divididas – ou insistia em desafinar no entrosamento das jogadas -, portava-se em campo como o supercraque que era, mas também como um verdadeiro líder. Um técnico dentro de campo.
E foi assim, multiplicando-se sempre, que levou aquele Botafogo – que ainda contava com craques como Jairzinho, Manga, Roberto, Rogério e Paulo César Caju -ao bicampeonato carioca, em 1967/68. E a outro bi, o da Taça Guanabara, nos mesmos anos.
Depois da consagração na Copa do México, eis que o Gérson que fomos encontrar era um gênio da bola a guardar fôlego e disposição para dar mais um bicampeonato, desta vez o paulista, ao São Paulo F.C. do então governador Laudo Natel – que não provava do doce sabor de um título havia 13 anos. E foi lá no São Paulo, que deixou transparecer ainda mais a sua vocação de líder, quando dizia :
– O importante não é falar, é se fazer acreditar. Não quero que vejam em mim o “cobra” da Seleção. Grito, xingo…,mas corro e luto tanto quanto exijo dos outros.
Carreira encerrada em dezembro de 1974, no Fluminense, aos 33 anos de idade, e ainda com lenha de sobra para queimar, o que Gérson sempre dizia, naqueles tempos, era que não estava preparado para ouvir ingratidões. Ou chacotas, como a de um torcedor bêbado nas gerais, a gritar num jogo qualquer de menor expressão: “ Corre atrás da bola, ô careca! Tá sem perna, pô!
Porém, se ele avaliasse mesmo tudo o que havia feito pelos campos, saberia bem o que estava deixando: uma bruta saudade da sua personalidade indomável, da sua liderança, da sua inacreditável visão de jogo.
E, mais do que tudo, da centelha mágica daquele pé esquerdo. Capaz de dribles que assustavam adversários, chutes que liquidavam goleiros. E lançamentos que provocavam a alegria dos goleadores e o encanto de todo e qualquer amante daquele futebol genial, jogado com um misto de técnica, arte e lucidez científica.
DANÇA DAS CADEIRAS
:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::
Os professores passam anos nas mesmas escolas e faculdades, criam raízes, formam milhares de alunos, se reciclam, orientam e viram referências. No futebol, isso não acontece mais e vem piorando a cada ano. Já tratei esse assunto aqui diversas vezes, mas é uma tecla que precisa ser batida incansavelmente. A dança das cadeiras entre os treinadores brasileiros vem sendo danosa demais ao futebol e à formação dos jogadores. Em alguns casos são demitidos, mesmo com os dirigentes do clube atestando que faziam um bom trabalho, em outros pedem demissão e largam o trabalho pelo caminho.
Vi que Claudinei Oliveira era o novo treinador do Operário Ferroviário após sua demissão do Avaí. Em 2018, Claudinei foi contratado pelo Avaí, mas saiu logo depois para o Sport, Paraná e Chapecoense. Em 2019, começou no Goiás, foi para o Botafogo, de Ribeirão Preto, e voltou para o Avaí. Onde está o critério? Pelo que li, comandou o clube em 176 partidas, com 79 vitórias, número que o coloca como terceiro técnico que mais treinou o time. Se estava indo bem por que foi demitido? O que os dirigentes querem? Milagre? Vinha acompanhando o Cuiabá, do técnico Jorginho, e achava bem equilibrado, mas vi que agora é o Pintado.
Não sei se saiu ou foi saído, mas sem sequência é impossível os jogadores assimilarem qualquer tipo de filosofia. Marcelo Cabo agora está no CRB, Hélio dos Anjos já mudou de clube, Dorival Júnior no Ceará, Carille no Athletico-PR e meu amigo Jair Ventura assumiu o Goiás. Conversei com um técnico que está bem empregado e ele me revelou que a maioria das comissões técnicas dos times não faz um trabalho conjunto da base com os profissionais, primeiro porque não sabem o tempo que ficarão empregados e segundo por pura falta de interesse. Disse que os jovens passam mais tempo assistindo vídeos e estratégias em quadros negros do que treinando fundamentos, como chutes, cruzamentos e dribles. É preciso dar uma freada para resolver isso ou seguiremos mergulhados nessa área movediça.
Pérolas da semana:
“Jogador que vai para o X1, no mano a mano, chama o adversário para dançar e ganha no pé de ferro ao dividir a bola viva”.
“O time tem que ter identidade para se localizar em campo”. Será que tem RG e FP (Félix Pacheco)?kkkkk
“Busca penetrar as linhas por dentro, na vertical ou na diagonal, para encontrar o atacante agudo no último terço do campo”.