THE BEST
por Elso Venâncio

A rivalidade entre FIFA e UEFA é antiga e ficou mais acirrada com a criação da Copa do Mundo de Clubes. O torneio quadrienal terá sua primeira edição disputada nos Estados Unidos, de 15 de junho a 13 de julho de 2025. Organizadora do evento, a FIFA esperava conseguir 4 bilhões de dólares em direitos de TV e publicidade, mas deve arrecadar em torno da metade do previsto, desagradando a UEFA, que é de longe a federação com maior peso, em termos financeiros e de influência no cenário internacional.
Há uma disputa entre FIFA e UEFA, por poder e dinheiro, em tudo. A cerveja parceira da FIFA é concorrente da cerveja parceira da UEFA. O mesmo acontece com os bancos, bets, refrigerantes, montadoras, e por aí vai…
A FIFA tem a Copa do Mundo, e a UEFA tem a Eurocopa, que só perde em importância para o Mundial. A FIFA acaba de criar uma “Super Champions League”. O formato de disputa é semelhante ao da Copa do Mundo. Serão 32 clubes, das seis federações continentais, divididos em oito grupos. Os dois melhores de cada chave avançam para as oitavas de final, onde começam os jogos de mata-mata. O Brasil será o país com maior número de representantes: Botafogo, Flamengo, Fluminense e Palmeiras.
Organizada pela revista France Football com apoio da UEFA, a Bola de Ouro coroou o espanhol Rodri, do Manchester City, como melhor jogador do mundo na última temporada. Na eleição da FIFA, o prêmio The Best foi destinado a Vinícius Junior.
A entrega do Troféu Bola de Ouro pela France Football começou em 1956. Até 1994, só eram relacionados para a disputa quem atuava na Europa. Romário, eleito The Best após o tetracampeonato mundial da Seleção Brasileira, nos Estados Unidos, nunca conquistou a Bola de Ouro. A France Football convida 200 jornalistas, sendo um por país, para votar. Já a FIFA define sua premiação por meio de votos dos capitães das seleções nacionais, de técnicos, jornalistas e torcedores, estes em votação on-line. Ainda há quem confunda o prêmio oficial da FIFA com a Bola de Ouro.
O The Best foi criado em 1991, com o nome de melhor do mundo, primeiro para os homens e, uma década depois, para as mulheres. Além de Romário, primeiro brasileiro a receber o prêmio, os demais brasileiros premiados são Ronaldo Fenômeno (três vezes), Ronaldinho Gaúcho (duas vezes), Rivaldo, Kaká e, agora, Vinícius Junior.
Vini foi, indiscutivelmente, o melhor jogador do planeta na temporada 2023/2024. Ele se destaca no ataque do Real Madrid, ofuscando o brilho do francês Mbappé; foi destaque da La Liga e novamente decisivo na final da Champions League. Após receber o The Best, ainda foi escolhido o craque da Copa Intercontinental. Vinícius Junior merecia também Bola de Ouro. Ao menos recebeu o The Best, e o Brasil voltou a ter o número um do futebol após 17 anos. O último tinha sido Kaká, em 2007.
A MERCEDES
por Zé Roberto Padilha

Estava entregue ao Departamento Médico da minha empresa e toda as manhãs e tardes ia até a sua sede realizar fisioterapia. Pouco importa como chegaria lá, de metrô, carro, ônibus ou a pé, importava era não faltar ao tratamento.
Só que trabalhava no Clube de Regatas do Flamengo e, na ocasião, era um ponta esquerda que chegara como solução para a posição. Mais do que isso, fora trocado por um ídolo da casa, Doval, que fora defender o rival. O Fluminense.
A equipe não ia bem, Doval se destacava no Flu e meu tornozelo não ficava bom. E a imprensa cobrando nosso retorno e a torcida insatisfeita com a demora.
Como morava ao lado do campo, na Selva de Pedra, no Leblon, tinha dificuldades em ir andando. Como estava sem carro, pedi o da minha irmã, uma Mercedes azul conversível, para ir até a Gávea.
– Pelo amor de Deus, vá com cuidado!
O carro, lindo, uma relíquia, era para ter mais do que cuidados.
Quando cheguei ao clube, quem estava chegando para fazer a reportagem e deparou comigo no estacionamento? Oldemário Touguinhó, que tinha uma prestigiada coluna de esportes no JB. Foi muito azar!
Dia seguinte as coisas pioraram para o meu lado enquanto procurava melhoras para o meu tornozelo. A manchete dizia: “Se você está esperando, torcedor rubro-negro, pela volta do seu ponta esquerda, esquece! O homem está desfilando com uma Mercedes!”
Em 1976, Zico, com 22 anos e o craque do time, tinha um Chevete. Seis meses depois, não resistindo tanto às cobranças como a jogar com botinhas de esparadrapos, fui vendido ao Santa Cruz.
Fui de avião, a Mercedes ficou e o Lico veio ocupar o meu lugar. Meu drama “Uma vez Flamengo, nunca mais no Flamengo!”, quem sabe um dia mereça um documentário da Netflix.
CRAQUE VESTE A 10
por Elso Venâncio

O futebol mundial valorizou o número usado por Pelé na Copa do Mundo de 1958, na Suécia. Então um garoto de 17 anos, foi o Rei do Futebol quem deu o status à camisa 10.
Em 1993, Romário chegou ao Barcelona e, com a marra de sempre, ao receber de Johan Cruijff a camisa com o número usado por Pelé no Santos e na Seleção Brasileira, disparou: “Só jogo com a 11”. O técnico holandês rebateu: “No meu time, craque joga com a 10”. Assim, Romário se rendeu.
Atualmente, os treinadores estão matando os atletas que jogam na posição de um Pelé, Maradona, Cruijfj, Zico, Ronaldinho Gaúcho, Zidane, Messi, Tostão e tantos outros que criavam, lançavam e faziam gols. O meia ofensivo genial deixou de existir nos profissionais, embora resistam nas categorias de base.
Estevão, do Palmeiras, tem 17 anos. Eleito a revelação, o melhor atacante e craque do Brasileirão 2024, já está negociado com o Chelsea, que pagou 61,5 milhões de euros para ter o jogador após o Mundial de Clubes da FIFA de 2025. Há um ano, Palmeiras e São Paulo decidiam o Campeonato Brasileiro sub-17, na Arena Barueri. Jogando no meio e com a camisa 10, Estevão fez três gols na vitória por 3 a 0, levando o alviverde ao bicampeonato. Festejado por todos, recebeu o apelido de Messinho e subiu para os profissionais, sendo curiosamente colocado por Abel Ferreira na ponta direita. João Paulo Sampaio, coordenador da base do Palmeiras, tem suas convicções:
— Proibimos o craque de deixar o meio e ir para o lado. Temos que formar o 10 e não buscar um argentino como o Botafogo fez com Almada ou o Flamengo com o uruguaio Arrascaeta.
O português José Boto, que vai comandar o futebol do Flamengo, quer contratar Sampaio, o “descobridor das joias”. Boto chega para se reunir com Sampaio após o Natal, mesmo diante da negativa inicial por parte deste. Levando um contrato e com grana na mesa, a história pode ser diferente.
No Atlético/MG, Gustavo Scarpa sempre é deslocado para a direita. Rafinha, do Barcelona, que saiu da ponta para se destacar no meio, considera a revelação Lamine Yamal o novo Neymar. O técnico alemão Hansi Flick insiste em escalar Yamal na ponta direita, às vezes na ponta esquerda.
Em 1970, Zagallo deu o exemplo correto na conquista do tricampeonato mundial do Brasil, no México, unindo vários camisas 10. Luis de la Fuente foi quem levou a Espanha ao título da Eurocopa deste ano. Ele adiantou que Lamine Yamal, de 17 anos, será o camisa 10 espanhol — tudo indica que assumindo a responsabilidade pela criação em campo de La Furia Roja.
O IMPERADOR MERECIA BEM MAIS
por Zé Roberto Padilha

Adriano, o Imperador, que como Falcão, o Rei de Roma, encantou os torcedores italianos, foi criado nas divisões de base do Flamengo. Mesmo no auge, titular da seleção brasileira, jamais abandonou a sua comunidade.
A favela foi seu berço e sua generosidade jamais permitiu que a deixasse. Dava uma folga e lá estava ele fazendo um churrasquinho e tomando cerveja com seus amigos.
Fato raríssimo diante do sucesso que levam os Gabigol da vida, criado nas divisões de base do Santos, a se fecharem em condomínios de luxo para se protegerem da “mordida”. Daquele amigo que ralou junto mas não teve o mesmo talento para embarcar no Galeão.
Ontem, diante de 28.871 torcedores, Adriano se despediu do futebol. Uma semana antes, Gabigol, levou ao Maracanã 67.113 rubro-negros para assistir sua despedida. O dobro e mais um pouquinho.
Adriano não tem influencer nem a equipe de marketing que o Gabigol tem. Ele tem apenas um coração que não cabe dentro daquela camisa. Para levar uma multidão aos estádios, ser eleito não basta. É preciso mais de bolso do que o coração.
“A memória do torcedor é mais fraca apenas que a razão que sobrou do seu fanatismo. É fraca, mas como dói!”
(Futebol: a dor de uma paixão”, 3* edição, Zé Roberto Padilha)
A CABEÇADA MONUMENTAL DE ASSIS
por Paulo-Roberto Andel

Há exatos quarenta anos, a reprise de um gol emociona a todos os torcedores do Fluminense. É uma jogada muito conhecida, mas sua repetição só causa mais vontade de rever o lance.
“O lance, típico de laboratório, teve sua execução perfeita. Renê deitou e rolou, tocou para Aldo, que penetrou nas costas de Adalberto e, da linha de fundo, cruzou sob medida para Assis, quase na pequena área, testar para o barbante sem chances para o goleiro Fillol, que não teve oportunidade nem mesmo de se mexer”, assim publicou o Jornal dos Sports no dia seguinte ao bicampeonato carioca conquistado pelo Fluminense em 1984 sobre o Flamengo, diante de mais de 150 mil torcedores pagantes e, segundo muito gente séria presente, pelo menos outros 30 mil não contabilizados. Logo, é o título tricolor mais visto in loco pelo público em pelo menos meio século.
A jogada foi de cinema. Assis parou no ar e, com seu tipo esguio, lembrou uma escultura nas muitas fotos desse gol. Um momento épico e único.
Importante dizer que, embora seja uma justa comemoração tricolor, os 40 anos do bicampeonato carioca tricolor apontam lembranças inesquecíveis: o velho Maracanã lotado e popular, dois timaços em campo, a repercussão nacional e no exterior, o maior clássico do futebol brasileiro em ação e, claro, um jogaço para a história. O Fluminense imperou no primeiro tempo e merecia sair vencendo, mas não conseguiu. Na segunda etapa o Flamengo reagiu, mas aí surgiram dois gigantes tricolores: Paulo Victor, que pegou até pensamento, e Assis, que não tinha brilhado, mas guardou tudo para o lance monumental que definiu o título.
A vitória tricolor tem um detalhe que demonstra bem a força da equipe naqueles tempos: na decisão, o Fluminense jogou sem quatro titulares importantíssimos. Imagine qualquer equipe desfalcada de Ricardo Gomes, Branco, Jandir e Deley? Mas o Flu mostrou força e dobrou o grande rival cheio de feras como Fillol, Leandro, Mozer, Andrade, Adílio, Tita e Bebeto. Só isso…
A cabeçada monumental garantiu a Assis sua eternidade tricolor e o apelido de Carrasco. Até então, nenhum outro jogador havia alijado o rival em dois títulos consecutivos, com gols solitários no Maracanã. Ok, em 1983 o Fla x Flu não foi o último jogo do campeonato, mas significou a eliminação rubro-negra no último lance da partida.
Há gols que resumem tudo. A maravilhosa cabeçada de Assis, com Fillol estático no gol, foi o nocaute da decisão de 1984. Quarenta anos depois, sua imagem remete a um Fluminense vitorioso, elegante, raçudo e vocacionado para as conquistas. Um time que se impôs ano após ano e que deu ao Fluminense uma geração de jovens apaixonados e felizes. São muitos e muitos nomes, mas agora posso falar de dois amigos: o querido Raul Sussekind, criança à época que viu tudo de perto e perseguiu o Fluminense para sempre, e Beto Meyer, então adolescente, depois o grande colonizador da internet tricolor, uma figura excepcional que infelizmente nos deixou neste sábado.
Eu era um garoto feliz e ria à toa: depois da desgraça que foi perder Edinho em 1982 e de uma longa crise, o Fluminense passou a dar as cartas no Rio de Janeiro, capital do futebol brasileiro.
Assis faleceu há alguns anos, mas continua com sua imagem tão vibrante e apaixonante quanto naqueles incríveis anos 1980. Como se falava naquele tempo, ele e Washington juntos, o famoso Casal 20, literalmente “tocavam o terror” e escreviam lindos capítulos da história do meu time. Contam com minha admiração eterna e lágrimas de saudade, feito agora. Afinal, recordar é viver.
@p.r.andel