CONVOCAÇÃO
por Rubens Lemos

Parávamos todos, o país suspendia seus debates sobre inflação e liberdade amordaçada, porque a seleção brasileira servia como lenitivo para as dores nacionais. Um jogo do Brasil unia extremos ideológicos e inquietava a massa alucinada por futebol.
Perdi, pelos meus parcos dois anos e meio de idade, a euforia em Natal pela presença de Marinho Chagas na primeira lista de Zagallo para os preparativos à Copa de 1974. No dia 10 de março do ano anterior, natalenses saíram de casa para soltar foguetões, esquecendo a audiência da novela Cavalo de Aço da Rede Globo, estrelada pelo casal Tarcísio Meira e Glória Menezes.
Na sede da antiga Confederação Brasileira de desportos(CDB), Zagallo anunciou Marinho Chagas como lateral-esquerdo reserva do tricampeão mundial Marco Antônio. Marinho Chagas participou de uma longa excursão para a África e Europa, escrete sendo usado de moeda eleitoral na campanha de João Havelange à presidência da Fifa.
A 07 de abril de 1974, diante de 80.552 pagantes no Ex-Maracanã, o gigante do povo humilde das gerais, Marinho Chagas tomou a camisa titular fazendo uma partida impecável e marcando o gol da vitória sobre a Tchecoslováquia. Daí, para o posto de melhor do mundo na posição escolhido após a Copa da Alemanha, ele um dos poucos a escapar do fiasco do covarde time de Zagallo.
Quatro anos depois, em 1978, assisti, de fato, minha primeira Copa do Mundo estarrecido: o técnico Cláudio Coutinho barrou Marinho Chagas, o impecável Falcão e o debochado Paulo Cezar Caju alegando indisciplina. Eram rebeldes geniais. Quase cortou o meu ídolo Roberto Dinamite, que salvaria a seleção da degola logo na primeira fase.
Expectativa também para a chamada de Telê Santana em 1982. Aquele timaço poderia ter sido muito melhor, caso o ranzinza da arte houvesse levado Leão ou Raul para o gol, Adílio para o meio-campo, Reinaldo para centroavante junto com o convocado, mas esquecido Roberto Dinamite e o vesgo genial Mário Sérgio Pontes de Paiva. Perdemos também por soberba para uma Itália de time competente e pragmático.
Telê Santana fez uma convocação medíocre em 1986, cheia de veteranos sem condição física e técnica e de medíocres da estirpe de Casagrande, Alemão, Edivaldo e do razoável Valdo que viajou apenas para passear. Deixou no Brasil: Pita do São Paulo, Andrade do Flamengo, Geovani do Vasco, sacaneou Renato Gaúcho e desprezou Bebeto.
Pior foi em 1990 com Lazaroni. Foram cinco zagueiros na lista, dois volantes e nenhum meia criativo. O que havia foi trucidado: Geovani do Vasco. O ponta-esquerda João Paulo do Guarani também jogava o fino. Esse papo de Neto injustiçado é balela. Neto não tinha bola para seleção e começou a atuar bem em 1990 no segundo semestre.
Em 1994, Parreira tetracampeão não quis Rivaldo. Em 1998, Zagallo inventou um lateral-direito ridículo, Zé Carlos, que tomou um baile diante da Holanda. Insistiu com o ciscador Denílson. Foi injusto com Romário, cortando-o. E deixou vendo tudo pela TV, dois canhotos estupendos: Alex do Palmeiras e Djalminha, ex-Palmeiras e La Coruña(Espanha).
A cada lista, desde sempre, há reações negativas. Até no tricampeonato de 1970, há remanescentes sem entender, até hoje, porque Ademir da Guia do Palmeiras e Dirceu Lopes do Cruzeiro passaram longe, enquanto Dario, o Dadá Maravilha, imposto pelo general-presidente Garrastazu Médici e o zagueiro Baldochi, ostentam a faixa mundial.
Vem aí a seleção de Tite. Não me aquece o coração saber quem vai, quem fica. A relação para os dois últimos amistosos trouxe Thiago Silva, o xerife que chora. Esse deveria ter ficado em 2014. O tal Fred é nocivo à bola. Everton Ribeiro não dispõe de categoria para a camisa amarela. Menos mal que Gabigol, o insuportável, passou batido.
Gosto de quem sabe jogar. Gosto de Bruno Guimarães no meio-campo, de Antony. Gosto do jovem Rodrygo. Gosto demais de Vinicius Júnior, habilidoso e insinuante, jogador de drible (meu requisito fundamental).
Vinicius joga demais, só não pode seguir a estrada da antipatia de Neymar, também na lista, felizmente sem o carnaval de sempre. Quem sabe, despido de máscara, Neymar possa, finalmente, jogar uma Copa do Mundo na prática.
SEM IDENTIFICAÇÃO
:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::

Falam que eu sou chato, repetitivo, reclamão, mas me digam como foi a rodada, por favor! O queridinho Abel Ferreira, com uma tremenda falta de educação, sendo expulso por reclamar, Gabigol tomando amarelo por chilique, Felipe Mello arrumando confusão, uma baixaria só no Fla-Flu e por aí vai! É sempre mais do mesmo e o problema é que esse “mesmo” é sofrível! Bola rolando que é bom, quase não vemos! Cada vez mais isolado na liderança, o Palmeiras ganhou do Santos sem convencer, o que já é normal!
O único ponto positivo da rodada foi a festa que a torcida do Vasco fez em São Januário! Mesmo com o time em má fase, aos trancos e barrancos para conseguir o acesso, os torcedores não abandonam e fazem a sua parte nas arquibancadas.
Prestes a dormir, recebo de um amigo um vídeo no Zap que você também deve ter visto: meu parceiro Roberto Dinamite em lágrimas assistindo aquele espetáculo e usando a camisa que tanto honrou. Após uma breve pesquisa na internet, vi que foram 702 gols em 1110 partidas disputadas com a camisa cruzmaltina e isso explica muita coisa! É lindo demais ver a identificação que os jogadores da minha geração têm com os clubes que defenderam por tanto tempo: Ademir da Guia no Palmeiras, Pelé no Santos, Dirceu Lopes, Nelinho e Wilson Piazza no Cruzeiro, eu, Jairzinho, Mendonça, Carlos Roberto e Manga no Botafogo, Zico no Flamengo, Assis e Washington no Fluminense, Rivellino no Corinthians, Eduzinho no America, Parada e Paulo Borges no Bangu, Alcir no Vasco da Gama e por aí vai porque a lista é extensa e vou acabar esquecendo alguém! Mas muito me dói saber que a geração atual nunca saberá o que é isso! Antes mesmo de chegar aos profissionais, os garotos já estão pensando em jogar na Europa, a Liga dos Campeões e esses torneios de lá! Tudo bem que os tempos são outros, que a grana lá é muito mais alta, mas não há preço que pague uma cena linda dessa como a do meu amigo Dinamite!
Juro que me esforcei muito para pensar em algum jogador atual do futebol brasileiro que poderia repetir o gesto daqui a alguns anos e não me veio nenhum nome. Que loucura! Os últimos acho que foram Rogério Ceni no São Paulo e Marcos no Palmeiras, mas já tem uns bons anos que penduraram as luvas!
Pérolas da semana:
“Modelo de jogo vai dar rumo ao modelo do time com intensidade por dentro, que aproveita a bola viva para espetar o ala na beirada, encaixotar o adversário e ter uma troca de assistência terrestre”.
“Na primeira bola e depois na segunda bola, sempre com uma leitura tática dinâmica, o jogador disputa o espaço e faz o time ser consistente, subindo a parede com marcação alta e intensidade de jogo vertical, usando a caixa de ferramentas com compactação para focar com faca nos dentes”.
MOZER, DA CANTORIA EM BANGU AO FLAMENGO CAMPEÃO DO MUNDO
Dispensado pelo Botafogo, Mozer tornou-se um dos maiores zagueiros da história do Flamengo. Conheça um pouco mais sobre a trajetória do craque do passado, o garoto “Sorriso” da dona Ivone e do seu Valdemiro
por André Felipe de Lima

Em 1980, um garoto de 19 anos, alto, medindo 1,87m, com 75 quilos, impressionava o comando técnico do Flamengo. Era um zagueiro e craque, diziam, para o futuro, sob a boa máxima rubro-negra de que “craque, o Flamengo faz em casa”. No caso do rapaz, cujo nome é José Carlos Nepomuceno Mozer, era um pouco diferente.
O começo dele não foi no Flamengo, mas sim no Botafogo, que, imagine, o dispensou quando ainda estava no infanto-juvenil, com a desculpa de que o menino era “baixinho” e “franzino demais” para jogar de beque ou mesmo em qualquer outra posição. Mas Mozer, que nadara pelo Bangu com oito anos, não desistira de jogar bola.
Enquanto não pintava uma nova chance, o garoto ganhava uns caraminguás animando bailes do Cassino Bangu e cantando músicas do Cláudio Fontana, que teve entre seus sucessos “Adeus ingrata” e “O homem de Nazaré”. Com a benção da mãe, dona Ivone, um dia Mozer foi parar na Gávea. Mas antes que o sonho do menino se realizasse, a mãe o levou a um tal “doutor Roberto”, médico em Bangu, que aplicou no Mozer, em 15 dias, cinco injeções de hormônio do crescimento. Deu um tempo na voz, começou a espichar e decidiu priorizar os pés, com apoio total do pai Valdemiro. Cresceu e se tornou uma das maiores revelações do Flamengo naquele maravilhoso finzinho dos anos de 1980, quando começava a brotar um dos maiores times da história do futebol mundial.
Quando Mozer despontou no Flamengo em 1980, impôs respeito entre os companheiros de time e até dos rivais. Antes de um Fla-Flu, em julho daquele ano, a estreia dele entre os profissionais, teria sido procurado por dois jogadores do Fluminense, o meia Cristóvão (o que seria técnico do Vasco três décadas depois) e o ponta-direita Robertinho, que disseram ao estreante: “Olha, cara, não fique com medo de bater. O importante é que você estreie bem, ainda que para isso tenha que tirar um de nós de campo”. Mozer jurava ser verdadeiro o surreal conselho dos dois tricolores.
O treinador do Flamengo, o saudoso Cláudio Coutinho, e Nelsinho, que treinara Mozer na seleção brasileira de novos durante o Torneio de Toulon de 80, não tinham dúvidas de que Mozer seria o titular da seleção na Copa do Mundo de 1982, na Espanha. Mas quem primeiro percebeu que Mozer seria estupendo zagueiro foi Modesto Bria, ídolo do Flamengo nos anos de 1940: “Este garoto reúne quatro grandes qualidades. Tem a técnica de um ponta-de-lança, a habilidade de um meio-campista, a velocidade de um ponta-direita e grande reflexo de marcação e desarme. Pelo alto, é praticamente imbatível. Os zagueiros europeus cabem perfeitamente nesta definição, e Mozer não fica devendo nada a eles”. E, como Bria narrou, Mozer realmente jogou em todas estas posições até firmar-se na zaga. “O Denílson, nosso zagueiro no infanto, estava machucado e eu indaguei do Américo Faria se não seria bom improvisar Mozer na zaga. O garoto fez uma das melhores apresentações e nunca mais saiu. Desde então, passei a confiar plenamente em seu futebol. É um dos jogadores de maior futuro dentro do Flamengo”, completou Bria.
A futurologia do craque do passado era inequívoca. Mozer brilhou intensamente, não somente no Flamengo, mas na seleção brasileira, no Benfica e no Olympique de Marselha. Nos dois clubes europeus, é um dos ídolos mais cultuados até hoje pelos torcedores. Sempre disse ter aprendido a bater faltas com Zico e a ser zagueiro com Rondinelli, o eterno “Deus da raça”. “O Rondi sempre me diz: ‘Joga o que você sabe, não inventa. Mas se for preciso, dá solada de cabeça’. Isso era a única coisa que ele não precisava dizer. Tenho muita garra, porque aprendi com ele”.
Mozer teve grandes mestres que souberam lapidar o talento natural do garoto, que se tornou um dos melhores zagueiros do Flamengo na história. Não é pecado inseri-lo em um hipotético time dos sonhos rubro-negro, colocando-o lado a lado com Domingos da Guia na zaga eterna do Flamengo.
O mundo mereceu conhecer o garoto de Bangu, que cantava (e bem) músicas do Cláudio Fontana e que foi dispensado pelo Botafogo. Mas Mozer, o “Sorriso”— apelido que ganhou ainda menino em Bangu—, mereceu conhecer o mundo também, e no dia 13 de dezembro de 1981, o mundo e Mozer foram devidamente apresentados… para a inesquecível alegria rubro-negra.
SILVIO LANCELLOTI, O POMODORO DA NONNA NAS MANHÃS DE DOMINGO
por Marco Antonio Rocha

O cheiro da preparação do almoço de domingo tomava conta da casa, enquanto a Bandeirantes, muito antes de virar Band, apresentava o prato principal do seu cardápio nos anos 80: o Campeonato Italiano. A tarantella que anunciava a jornada não sai da memória do menino que se acomodava diante da TV para assistir a um desfile de craques como Maradona, Platini, Rummenigge, Van Basten, Laudrup, Francescoli, Boniek… Um sonho.
Logo Silvio Luiz surgia com seu vozeirão para dizer que naquela manhã a Velha Bota presentearia o mundo com o duelo entre Napoli e Fiorentina –ou Milan e Sampdoria ou (melhor ainda!) Napoli e Milan. Mas o narrador, assim como Careca, tinha seu Maradona; como Gullit, tinha seu Van Basten. Silvio Lancellotti era o pomodoro da macarronada da nonna. Um luxo.
Em contraponto a Silvio, o Luiz, Lancellotti tinha nada de espalhafato. De forma serena, dava informações sobre a Sardenha, desfiava curiosidades da Sicília. E, claro, tabelava com seu xará devolvendo de primeira informações sobre a história dos clubes, as campanhas dos times, o desempenho das estrelas no Calccio. De quebra, ensinava receitas da culinária italiana, sua outra paixão. Uma aula.
Naquela época, jogos de futebol na TV eram artigo raro, e o Campeonato Italiano servia de preliminar para os clássicos da tarde no bom e velho Maraca. Aí, o jeito era “ver” as partidas pelo rádio e entregar nossa imaginação aos olhos (e falas) de locutores como Doalcey Bueno de Camargo, Orlando Batista e Waldir Amaral. Silvio Lancellotti fazia parte dessa seleção que, aos poucos, vai se desfazendo no tempo. Uma saudade.
Em seus 78 anos, Lancellotti passou por alguns dos jornais mais importantes do país, fundou a revista Veja e brilhou na ESPN – onde, em 2003, comentou beisebol nos Jogos Pan-Americanos da República Dominicana. Formado em arquitetura, traçou uma ponte com a literatura e lançou diversos livros. A estante ficou cheia, mas no último dia 13 deixou um lugar imenso vazio. Uma pena.
O CRAQUE DO BRASIL EM 2021
por Luis Filipe Chateaubriand

Eis que, em 2021, o craque do futebol brasileiro foi Hulk!
Jogando pelo Atlético Mineiro, levou o clube das Alterosas a conquistar o Campeonato Brasileiro, feito que não era conseguido há 50 anos pelo “Galo”.
Seu jogo foi marcado por muita força, arrancadas impressionantes em direção ao gol.
Aliás, não foram poucos os gols que Hulk marcou na temporada.
Chute forte, com as duas pernas.
Cabeceio perfeito em seus movimentos.
Velocidade capaz de levar ao deleite o torcedor atleticano.
Eis o incrível Hulk, o craque do Brasil em 2021!