Escolha uma Página

o sobrevivente

por Zé Roberto Padilha

Em meio aos nossos craques criativos que foram vendidas ao futebol europeu, e para sobreviver tiveram que deixar seu arsenal ilimitado de recursos em prol de redobrar a marcação, um foi poupado da castração que os inibiu de driblar.

Éverton Ribeiro.

Desde que fez um gol antológico pelo Cruzeiro, em cima do Flamengo, devemos a humildade e ao bom gosto dos dirigentes rubro-negros a sua contratação. E sua manutenção em nosso futebol.

Mais do que isso, seus treinadores trataram de preservá-lo em um sistema tático que lhe dava total liberdade para exibir toda a sua habilidade.

Se o Brasil se destacou no futebol mundial, deve-se à prática de um recurso que foi esculpido na história de luta dos seus excluídos. Foram eles, na fuga da opressão e da senzala, que aprenderam a driblar os senhores da Casa & Grande.

Nós rituais, como dança, a Capoeira, alcançaram o equilíbrio, o alongamento, fundamentos da agilidade.

A seguir, foram se divertir no único playground que conheceram: os campinhos de pelada das periferias, onde desenvolveram, com os pés descalços, terrenos irregulares e bolas de borracha, uma gama de recursos que nenhum outro garoto estrangeiro alcançou.

Todos os nosso gênios da bola fizeram do drible a sua maior arma na conquista da Bola de Ouro da Fifa. Na última Copa do Mundo, nenhum atacante em atividade no país foi convocado. O Brasil esqueceu de levar o drible para a Rússia.

Com Éverton Ribeiro, o sobrevivente, o drible vai embarcar para o Catar. E quando aqueles ferrolhos suíços se mostrarem intransponíveis para os previsíveis Casemiros, Fabinhos e Fred ele vai entrar e redescobrir os caminhos que nos levarão à vitória.

POSTURA COVARDE

:::::::: por Paulo Cézar Caju :::::::::

Na última coluna falei o quanto estava na torcida para ver o Vasco da Gama de volta à Série A, lembram? Por toda a história, pela sua torcida e pela grandeza do clube, mereciam demais estar na elite do futebol brasileiro e conseguiram ontem em um jogo emocionante. Impressionante como a torcida vascaína sofre e precisa ter os exames de coração em dia para não ter nenhum problema mais grave.

Fiquei contente com o resultado final, mas muito chateado com a postura do time comandado por Jorginho. Com todo respeito ao Ituano, que fez uma bela Série B, um clube do tamanho do Vasco da Gama nunca pode se acovardar, ainda por cima com um jogador a mais quase que durante o jogo todo e com o placar a favor. Quem diria que o contestado goleiro Thiago seria o grande herói do acesso, com um gol de um veterano de 41 anos?

Respondam com sinceridade: havia a necessidade desse sufoco todo? Claro que não! É muito bacana ter de volta os quatro grandes do Rio na Primeira Divisão, mas Vasco e Botafogo precisam se reformular urgente se quiserem brigar na parte de cima da tabela.

Ainda sobre a Série B, comemorei muito o retorno do Bahia, mas queria também que o Sport conseguisse o acesso! O futebol do nordeste tem times de tradição como o Santa Cruz, Náutico, que há tempos foram rebaixados e estou sempre na torcida para retornarem. Acredito que muito por conta das mudanças de treinadores, o Ceará está prestes a cair. O Fortaleza, por sua vez, deu a volta por cima e pode até beliscar uma vaga para a pré-Libertadores.

No fim de semana, também acompanhei o duelo entre Coritiba x Flamengo. Que jogo ruim! Não venham com essa de que o Flamengo jogou com time reserva e blablablá, porque isso nunca pode servir como desculpa. Nunca vou entender o fato de pouparem os jogadores. Vestir a camisa do Flamengo deveria ser motivo de orgulho para os jogadores até o fim do campeonato. Na minha geração, todos tinham esse mesmo sentimento e vai ver que é por isso que o nível era totalmente diferente.
]

O América-MG goleou o Bragantino por 4 a 1 e está cada vez mais próximo de conseguir uma vaga para a Libertadores. Na última coluna também falei da facilidade para chegar à competição e acabei de saber que o Brasileirão dá incríveis 8 vagas para disputarem o torneio. Ou seja, ou você briga para não cair ou se classifica para a Libertadores! Quase isso! Kkkkk!

Estive no Maracanã sábado e presenciei uma atuação de gala do Ganso, que saiu aplaudido de pé pela galera. Apesar dos três gols do Cano, foi o camisa 10 que ditou o ritmo contra o São Paulo. Excelente atuação do tricolor!

Deixei a lista do Tite para o final, mas a vontade era de nem comentar, confesso! Essa panela do Tite e do Juninho Paulista está insustentável e a convocação do Daniel Alves foi a gota d’água para mim! Como pode um jogador de 39 anos e sem clube ser chamado para disputar o torneio mais importante do mundo? Será que tem cadeira cativa na Seleção? Se eu não me engano, estava treinando no time B do Barcelona! Cadê o presidente para opinar em relação a esse absurdo? Vou ficando por aqui…

Pérolas da semana:

“O jogador deu uma raquetada/chicotada na bola chapada com o pé de embreagem alta em um contexto de jogo pegado e compactuado para mudar a chavinha, maturar a transição e agredir o adversário com um DNA ofensivo”.

“O time tem um modelo de jogo automático para encaixar o atacante agudo e espaçar o último terço do campo, quebrando a linha, compactando as ideias e trazendo um ponto de sustentação no conceito sintomático”.

Salve, geraldinos! Está difícil de aturar essas malas pesadas!

CIDADE DO FUTEBOL

por Elso Venâncio

Vamos acolher nossos ídolos!!!

“Jogador de futebol morre duas vezes. A primeira, quando encerra a carreira.”

A declaração acima é de um atleta vitorioso, o volante Falcão, o ‘Rei de Roma’, craque da inesquecível seleção de 1982 e ex-técnico da Seleção Brasileira, além de ex-comentarista da TV Globo. No momento em que pendurou as chuteiras, Paulo Roberto Falcão não sabia que direção seguir. Técnico, supervisor, diretor, empresário, comentarista? Em determinado momento, abandonou a televisão para voltar a ser treinador, já que o salário era maior. Mas não conseguiu se firmar à beira do campo.

Valdir Pereira, o Didi, foi um dos maiores de todos os tempos, como jogador e técnico. Carlos de Souza, Carlos de Souza, o ‘Biro-Biro’, hoje produtor da TV Record, revelou-me no final dos anos 90 que Didi andava triste e recluso em sua casa, na Ilha do Governador. Ligamos para ele, que argumentou:

– Lá fora me chamam de ‘mestre’, mas, e aqui?

Perguntei se toparia participar do ‘Enquanto a Bola não Rola’, programa de debates que eu apresentava aos domingos na Rádio Globo.

– Claro!

Com seu carisma e conhecimento, Didi virou uma atração. Chegava sempre acompanhado do genro italiano Luigi, casado com sua filha Lia, e abraçado à neta Paloma, por quem tinha verdadeira adoração.

Inventor da ‘Folha Seca’*, Didi disputou três Copas do Mundo (1954, 1958 e 1962), sendo bicampeão nas duas últimas e, mais do que isso, maestro de ambos os times. Entrou para a História, também, ao marcar o primeiro gol do Maracanã. Ainda inaugurou, no ano de 1958, a honraria da FIFA de melhor jogador do mundo, mesmo tendo Pelé e Garrincha ao lado na disputa.

Se o craque Falcão e o fora de série Didi sofreram longe dos campos, imaginem os outros…

Por sinal, se temos em Jacarepaguá o ‘Retiro dos Artistas’, instituição centenária, hoje dirigida pelo ator Stepan Nercessian, que acolhe músicos, jornalistas, atores, atrizes e até mesmo ex-jogadores, como o goleiro Manga, que disputou a Copa do Mundo da Inglaterra em 1966, por que não ser criada a ‘Cidade do Futebol’?

Haroldo Couto, conselheiro atuante do Flamengo, defende essa ideia há tempos. Sergio Pugliese, que resgata a memória da bola com seu ‘Museu da Pelada’, é outro entusiasta. Assim como o eterno ídolo Zico.

O projeto seria uma área que tivesse campos de futebol nos quais ex-profissionais orientassem novos talentos, fazendo, assim, o que tanto sabem e gostam. No local, que também serviria como um grande museu, caberia um cinema – para mostrar, além de filmes, documentários e o excelente ‘Canal 100’, de Carlinhos Niemeyer, acervo hoje administrado por seu filho Alexandre. Teria também restaurantes, teatro, local para feiras, lançamentos de livros esportivos, shows, fotos históricas e, por que não, uma espécie de ‘Hall da Fama’.

A meu ver, empresas usariam incentivos fiscais para apoiar e eternizar nossos ídolos. Assim, o Rio de Janeiro teria, no país do futebol, outro de seus mais visitados pontos turísticos internacionais.

Temos apenas que pensar e planejar o projeto, em agradecimento aos personagens que fizeram do nosso futebol o maior do mundo e único pentacampeão do planeta.

*Apelido conferido pelo comentarista Luiz Mendes ao chute inventado por Didi no qual a bola tomava várias direções no ar antes de chegar ao gol, movimentos que lembravam uma folha seca descaindo de uma árvore.

TITA, O POLIVALENTE

por Luis Filipe Chateaubriand

Tita foi ídolo no Flamengo.

Tita foi ídolo do rival do Flamengo, o Vasco da Gama.

Tita foi ídolo no Grêmio.

Tita foi ídolo do rival do Grêmio, o Internacional.

Tita jogou na Alemanha.

Tita jogou na Itália.

Tita jogou no México.

Tita foi ponta direita.

Tita foi meia direita.

Tita foi centroavante.

Tita foi meia esquerda.

Tita foi ponta esquerda.

Tita foi até volante.

E o que impressiona é que, em qualquer posição que jogasse, Tita se destacava – seja pela técnica, seja pela raça.

No ano de 1979, Zico se machucou.

A lá foi Tita, assumir a camisa 10 do Flamengo.

Sem exagero nenhum, por alguns meses Tita jogou um futebol à altura de Zico!

Esse foi Tita, craque, diferenciado, fora de série.

Jogou muito mais do que é reconhecido.

CURIOSIDADES SOBRE AS COPAS DO MUNDO PARA TIRAR ONDA POR AÍ

por Mário Moreira

Época de Copa do Mundo é sempre aquele momento em que pululam dados estatísticos e informações históricas sobre as edições anteriores do torneio. Para contribuir com quem gosta de posar de sabichão, listei algumas curiosidades que não costumam aparecer nos
almanaques.

Por exemplo: a partida com mais gols em Copas do Mundo – qualquer compêndio registra – é Áustria 7 x 5 Suíça, em 54. Mas você conhece a marcha da contagem? Então pasme: aos 19 minutos de jogo, os suíços venciam por 3 x 0. E pasme de novo: aos 34, os austríacos já tinham virado para 5 x 3. Aos 39, os donos da casa reduziram a diferença. Na segunda etapa, os visitantes marcaram mais um aos 8 minutos, a Suíça diminuiu de novo aos 15 e a Áustria fez o último gol do jogo aos 31. Detalhe: pouco antes do intervalo, ganhando por 5 x 4, a Áustria chutou um pênalti para fora – ou seja, o recorde de gols poderia ser ainda maior!

Abaixo desse confronto “épico”, há três partidas com 11 gols: Brasil 6 x 5 Polônia (na prorrogação, após 4 x 4 no tempo normal), em 38; o célebre Hungria 8 x 3 Alemanha, em 54; e Hungria 10 x 1 El Salvador, em 82 (a maior goleada dos Mundiais, fato público e notório). E você sabia que um único jogo registrou exatamente dez gols na história da competição? Pois é. Foi França 7 x 3 Paraguai, em 58.

Já os empates com mais gols terminaram em 4 x 4, nas partidas Inglaterra x Bélgica (em 54, na prorrogação, após 3 x 3 nos 90 minutos) e URSS x Colômbia (em 62). Nesse último jogo, o colombiano Marcos Coll marcou o único gol olímpico já registrado no torneio – ironicamente, em cima do soviético Lev Yashin, considerado, de modo quase unânime, o melhor goleiro de todos os tempos.

Além de ser o único pentacampeão do mundo, o Brasil é o país que mais vezes forneceu o artilheiro da Copa: quatro (em 38, com Leônidas; em 50, com Ademir; em 62, com Vavá e Garrincha, empatados com mais quatro jogadores; e em 2002, com Ronaldo). A Alemanha vem a seguir, com três vezes. Romário ampliaria a lista de brasileiros se a arbitragem não tivesse anulado um gol seu contra os EUA em 94, por impedimento inexistente – ele teria alcançado o russo Salenko e o búlgaro Stoichkov como artilheiro da Copa, com seis gols. (A propósito, o alemão Gerd Müller também teve um gol legal anulado pelo mesmo motivo na final de 74, contra a Holanda. Esse tento o igualaria a Ronaldo como segundo maior artilheiro dos Mundiais, com 15, um a menos que seu compatriota Miroslav Klose, como todo mundo sabe.)

Apesar de jamais uma seleção do Leste Europeu ter ganho um Mundial, a região é pródiga em artilheiros de Copas. Nove jogadores da ex-Cortina de Ferro já atingiram esse feito: dois húngaros, um tcheco, um iugoslavo, um polonês, um búlgaro, um croata e dois da URSS/Rússia. A Europa Ocidental forneceu 11 artilheiros: três alemães, dois italianos, dois ingleses, um francês, um português, um espanhol e um holandês. Da América do Sul, brasileiros à parte, foram dois argentinos, um chileno, um uruguaio e um colombiano.

Além de Ronaldo e Pelé (12 gols), só dois sul-americanos chegaram aos dois dígitos em Mundiais: o peruano Teófilo Cubillas e o argentino Gabriel Batistuta, ambos com dez gols. (Para quem não viu Cubillas jogar, sugiro buscar no YouTube o gol de falta que ele marcou contra a Escócia na Copa de 78, uma verdadeira obra-prima!) Jairzinho, que marcou sete gols em 70 e dois em 74, também poderia estar nessa lista: marcou de cabeça contra a Hungria em 66, mas o gol foi anulado por impedimento – como a imagem da TV não mostra a posição do atacante no momento do passe, é impossível saber se ele tinha condição de jogo. (Na mesma partida, o árbitro anulou um gol húngaro quando já estava 3 a 1 para eles, que foi o placar final do confronto; no caso, a imagem permite ver claramente que o jogador vinha de trás, ou seja, o resultado deveria ter sido uma goleada para a Hungria.)

Já os africanos que mais marcaram em Mundiais jogavam por seleções… europeias: o marroquino Fontaine, artilheiro em 58 com 13 gols pela França, e o moçambicano Eusébio, goleador em 66 com nove, jogando por Portugal. Pelas equipes africanas, o maior artilheiro é o ganês Asamoah Gyan, com seis tentos – teria chegado a pelo menos sete não fosse o famoso pênalti perdido contra o Uruguai no finzinho da prorrogação do jogo pelas quartas- de-final de 2010, o que levou o confronto para a decisão por pênaltis, vencida pelos uruguaios.

Apesar de ser a seleção com mais títulos e artilheiros, o Brasil nunca deu a maior goleada em nenhuma edição da Copa. Nesse quesito, o destaque é a Alemanha, que aplicou o placar mais elástico em cinco Mundiais – incluindo o de 2014, com um certo 7 a 1. Argentina e Hungria deram a maior goleada em três Copas. Na outra ponta, a seleção que mais sofreu o maior placar foi a dos EUA (três vezes), seguida de Bulgária e El Salvador (duas cada). E o placar mais frequente como maior goleada foi 6 x 1, nada menos que seis vezes.

Uma última curiosidade. Você sabia que os laterais direitos brasileiros somam o mesmo número de gols que os esquerdos ao longo dos Mundiais? Acredite: sete para cada lado. Eles empatam até em gols de bola parada: um de pênalti e um de falta para os direitos; dois de falta para os esquerdos.

Pronto: quando o assunto for Copa, você já pode despejar toda a sua cultura inútil para cima
dos amigos.