PELÉ MORREU. MENTIRA. PELÉ NUNCA MORRERÁ
por Marcos Eduardo Neves

Se Elvis não morreu, Pelé… muito menos. Pelé é eterno.
Hoje o mundo se despede de um corpo. Um corpo de ET. Um corpo perfeito, esculpido pelos anjos do esporte e por deuses do Olimpo, criado para brilhar como o de nenhum outro humano na face da Terra.
Pelé não morreu. Nem jamais morrerá. Pelé sobrevive.
Edson, sim, morreu. O simplório Edson. Humilde como só ele, e que tentou por toda a vida, até o fim, absorver que dentro de si havia algo maior, imortal. Um espírito santificado que lhe tomara a alma, feito pacto de morte. E agora, de vida. Vida eterna.
Edson Arantes do Nascimento ficou exatos 30 dias em um mês no hospital lutando por sua vida, não pela de Pelé.
Covid, infecção respiratória, câncer no colón? Deuses não morrem disso. Deuses são entidades.
Edson se vai, deixando nos parentes a saudade dos momentos íntimos por que passaram nos bastidores.
Pelé fica. Deixando na memória lembranças de genialidade, toda ela pública, exposta aos olhos de todo o planeta por quem nunca teve e nem terá comparação. Quem é único. Quem é História.
Pelé, o futebol te venera. Mas agora o jogo acabou, Edson. E a eternidade apenas se inicia para você, Rei.
Você não foi o corpo que hoje se foi. Você é alma. É espírito. Você é pele. Pele é.
Deus salve o Edson. Porque o Rei está mais do que salvo.
Por tudo o que fez. Tudo que representou. Tudo que te fez o humano mais próximo de Deus.
Deus que agora recebe com todas as honrarias o Edson. Mas não você. Porque você também é um deus.
Louvado seja teu nome, Pelé.
Mil gols farão ao teu lado, outros mil à sua direita, mas você sobreviverá.
Por ter nascido Edson, mas se tornar infinito. Potência máxima, imortalidade plena. Pelé, o eterno.
CAMISA 10 DA ETERNIDADE
por Rubens Lemos

Começando pelos compatriotas: Friendenreich, Leônidas da Silva, Zizinho, Jair Rosa Pinto, Zico menos por vontade de Zico do que da mídia. Todos comparados a Pelé. Nenhum sequer 30% dono do futebol do Crioulo.
No Brasil, inferior complexidade, Pelé sempre foi cobrado mais pelo que seu corpo humano Edson Arantes fazia do que o extraterrestre maravilhoso produziu. O Brasil tinha e terá inveja de Pelé.
Contam os antigões que, Leônidas da Silva, o brilhante propagador da bicicleta, o salto corporal ao infinito para o chute poderoso sem defesa para os goleiros, foi o mais incomodado entre os craques depois da chegada de Pelé.
Pelé mundialmente famoso a partir de 1957, aos 16 anos marcando um gol contra a Argentina diante de 60 mil pessoas no Maracanã, ele um menino atrevido e sem dar a menor peteca às tremedeiras juvenis.
Chegava a entidade capaz de chutar, cabecear, driblar, lançar, bater falta, pênalti, escanteio, ser mau quando preciso, desde que uma bola foi usada sabe-se lá onde. Pelé veio para ser primeiro e incomparável. Ninguém, enquanto existir espécie humana sobre a terra, será, sequer, assemelhado a ele.
Seguiram os invejosos. Na Argentina, Di Stéfano era tão bom ou superior ao neguinho estupendo. Maradona por palavras próprias, era melhor do que Pelé, neurose de milhões de portenhos que jamais admitirão um brasileiro no topo da lista e a anos-luz à frente do segundo colocado, outro brasileiro, Mané Garrincha.
Pelé quatro vezes campeão mundial aos 23 anos, duas pela seleção brasileira, duas pelo Santos. Nenhum dos seus concorrentes forçados chegou perto. Pelé campeão de três das quatro Copas disputadas.
Maradona disputou quatro, ganhou uma, em 1986, esplendoroso. Mas saiu em 1994 pela antessala da eternidade, dopado até a medula apenas no começo da derrocada que lhe tirou a vida. E Maradona foi ilusionista.
Chegando à Europa, ousaram comparar Pelé com o magnífico português Eusébio, destaque na Copa do Mundo de 1966, aquela em que o Brasil convocou 44 jogadores e não conseguiu formar um time.
Eusébio acabou com o Brasil na partida(Portugal 3×1), em que os zagueiros patrícios esfolavam todas as dobradiças do Rei. Do único e irrevogável Rei.
Dois meses depois do Mundial, em um torneio nos Estados Unidos, Pelé pelo Santos e Eusébio pelo Benfica se encontraram. Cara a cara. De testa. E Pelé usou sua filarmônica de jogadas de efeito e gols humilhantes, sem precisar provar nada, apenas mandando os chatos para a PQP. Santos 4×0.
Antes, Pelé havia triturado Eusébio em 1962, em Lisboa, na decisão do Mundial Interclubes, Santos 6×2 Benfica, provavelmente a melhor partida entre clubes da história.
Depois o múltiplo holandês Cruijff na Holanda de 1974. Supercraque. Líder de um carrossel em que ninguém tinha posição. Mas Cruijjff para chegar a Pelé seria preciso um tiro de canhão acertar uma formiga. Pelé aguentando, suportando, ouvindo e rindo.
De todos os pretensos, Maradona foi o mais insistente. Maradona era equivalente a Roberto Rivelino, ele, padroeiro das contradições, dizia e repetia: imitava Rivelino em seu bairro pobre da Villa Fiorito, território da aristocracia boleira de Dieguito. Ele dizia copiar Rivelino para irritar o Rei e porque, a exemplo de todos os milhões de seres humanos, nunca repetiria os toques e traços de Pelé.
Bobagem de blogosfera : Messi se iguala a Pelé. Pecado capital. Pelé não entrava na disputa porque seria referendo, mas experts, sabe com base em quais quesitos, o colocaram em primeiro em 1958/59/60/61/63/65 e em 1970, ano em que, sozinho, teria jogado a Copa do Tri.
Messi, Mbappé , Cristiano Ronaldo, todos os anteriores e posteriores não chegarão nem perto de Pelé. Ele nasceu, como todos os outros, em chão terreno. Pelé é da galáxia espiral da Via Láctea. Na eternidade, a camisa 10 é dele. O corpo de Edson Arantes se vai. Pelé estará invisível em cada campo vazio humilhando zagueiros e matando goleiros.
PELÉ SE FOI
por Marcos Fábio Katudjian

Pelé se foi. Ou melhor dizendo, Edson Arantes do Nascimento está morto. A alma já não habita o corpo. Confesso que em minha mente a morte de Edson era previsível, esperada, em virtude da idade e dos sabidos problemas de saúde. Em meu coração, porém, a morte de Pelé é uma surpresa tremenda. Confesso que desconfiava, aqui dentro em minha emoção que Pelé não morreria jamais. Ao corpo físico mesmo. Além de eterno em nossos corações, Pelé pisaria o chão para sempre. Ou a qualquer momento seria abduzido para junto dos seus, fazendo jus ao imenso mistério que foi sua presença entre nós.
*
Segue teu caminho, Pelé, de volta à origem de toda a criatividade, a mesma que expressaste tão pura e lindamente neste plano.
Forjaste um esporte e forjaste um país. E para além disso, foste embaixador do sublime e do eterno, como será teu nome em nossos corações.
Retorna Àquele que te reconhecerá como semelhante, como cada um de nós para além desta vida. Àquele que, como tu, diremos para sempre em plena inteligência e emoção: “dois não há”.
Leva contigo nossa imensa GRATIDÃO pelo que semeaste no teu caminho iluminado, aquilo que nos é o mais caro, valioso e fundamental nesta vida: a Beleza.
EMPate, frustração
por Rubens Lemos

No vôlei e no basquete, não existe empate. Ninguém noticia que técnico fulano ou sicrano é retranqueiro, medroso. Se for bom e tiver um time de qualidade, ganha, senão, apanha e vai pra casa conformado. É a vantagem da maioria dos esportes sobre o futebol.
O primeiro covarde dos gramados surgiu quando tirava um cochilo depois do almoço e sonhou(ou teve um pesadelo?), com as vantagens do empate. Em seus devaneios, pegou um papel ou campo de futebol de botão e foi recuando jogadores imaginários até que todo o seu lado ficasse inteiro, povoado, congestionado, numa barreira que impediria o adversário de fazer gols e garantiria o seu emprego.
Dunga, um xerife da tranca boleira, disse, impoluto como um Cony escrevendo, que, se ninguém arriscar, o jogo fica pelo menos em 0x0. E o delírio dos empatadores foi ganhando força e forma, gerando um monstro espalhado em cada “professor ”inimigo do drible,do lançamento e do gol de placa.
O campo de jogo ideal para os retranqueiros nem precisaria das duas traves. Gol pra quê? O jogo teria e tem 90 minutos de cotoveladas, divididas, toques curtos, laterais e pronto: 0x0, ninguém alegre e ninguém triste. Os subprodutos do empate são zagueiros sem classe, cabeças-de-área que parecem vikings, meias tímidos e covardes, que rodam com a bola feito enceradeiras.
Como seria um empate no amor? O sexo sem orgasmo, cada um dando, no máximo, um beijo na face do outro. Sem avanços e ousadias porque fisicamente não haveria consumo de suor nem possibilidade de procriação.
Como seria um concurso com todo mundo empatado? Ninguém classificado, ora, porque, na mentalidade avarenta dos retranqueiros, mais prudente anular a prova do que contratar todo mundo. Ou os candidatos iriam aos pênaltis?
Os apóstolos do empate devem imaginar um mundo feito de pessoas rigorosamente iguais, bonitas ou feias, mas com nada diferente umas das outras. O empate não permitiria a paixão, porque a distinção, o detalhe, o sorriso seriam invisíveis.
O empate poderia acabar no futebol. O impedimento também. Empatar, impedir. Parem, pensem. São duas palavras antipáticas, dois atos proibitivos, censores, que tolhem. Gol e gozo são termos muito mais gostosos. Na pronúncia, no ato e no fato. Na causa e na consequência.
COPIAR E COLAR
por Idel Halfen

Ao fim de toda Copa do Mundo costumam surgir as teses que determinam as razões das conquistas e dos fracassos. Após o título da Alemanha em 2014, o modelo de futebol no país campeão foi exaltado como a fórmula ideal para o sucesso, curiosamente, nas temporadas seguintes, a seleção alemã nem conseguiu passar da primeira fase. Na Copa de 2018, o modelo francês era o exemplo a ser seguido, mas ainda que tenha chegado à final em 2022, seu time foi derrotado pela Argentina que, por enquanto, vem sendo enaltecida por seus jogadores, todavia, não faltaram elogios ao modelo adotado por Marrocos.
Interessante pensar que um eventual resultado diferente, o que era bastante factível em algumas partidas que foram decididas por detalhes, os discursos dos defensores de alguns modelos estruturados mudariam o foco a favor dos vencedores, mesmo sem uma detalhada análise sobre eles.
Mas estariam errados os que defendem a elaboração e implantação de modelos estruturados no esporte? Óbvio que não! O erro consiste em considerar apenas uma razão tanto para o sucesso quanto para o insucesso, até porque não basta apenas ter um bom desempenho, é preciso superar os adversários, os quais não são impedidos de adotarem os mesmos modelos.
Algo similar acontece no ambiente corporativo, onde surgem frequentemente técnicas “revolucionárias” de gestão, as quais trazem no embalo consultores para auxiliarem a adoção, além, é claro, de cursos, palestras e livros a respeito.
Assim como citado no parágrafo referente ao futebol, não se discute aqui a importância de processos estruturados para se atingir objetivos, a tônica da reflexão tem a ver com as conclusões definitivas acerca do que é o mais certo. Nessa busca, desprezam que tão importante quanto os processos são as pessoas, ou seja, se não houver recursos humanos talentosos, os processos não atingem todo seu potencial, sendo a recíproca verdadeira.
Também não se coloca em questão a evolução do esporte e do mercado corporativo de forma geral, o que demanda constante atualização dos processos e requer tempo para se chegar a bons formatos.
Reparem que não fizemos referência ao “melhor formato”, por entendermos que a customização diante dos recursos disponíveis é necessária e, como cada equipe tem características e potenciais diferentes, o melhor para um não significa que seja o melhor para todos.
Diante do exposto, cabem às organizações usarem os cases de sucesso como benchmark, adaptando-os, porém, às próprias características. Constitui-se um enorme erro simplesmente copiar algo que aparentemente dê resultados sem considerar a conjuntura em que se está inserido, seja interna ou externamente.
Não há como negar que é muito mais fácil copiar algo pronto e responsabilizar o acaso, o árbitro, a economia, no caso de empresas, ou qualquer terceiro pelo insucesso, afinal adotaram, em tese, um modelo comprovadamente de sucesso. O problema é que tais modelos não existem, eles são, na melhor das hipóteses, roteiros que auxiliam na reflexão sobre os pontos a serem focados para, a partir daí, avaliar se fazem sentido diante dos recursos disponíveis e cenários.