AS MARCAS ESPORTIVAS NA COPA DO MUNDO DE 2022
por Idel Halfen

Mais uma Copa do Mundo se inicia e mais uma vez aproveitamos o evento para analisar os movimentos das marcas esportivas no que tange ao suprimento das seleções.
Em 2022, a Nike voltou a ser a marca mais presente, fato que só tinha ocorrido em 2014. São treze seleções – três a mais do que em 2018 – que vestem seus uniformes. Dentre essas estão o Brasil, a França e a Inglaterra (equipes que somam oito conquistas do citado campeonato).
Em segundo lugar aparece a Adidas com sete times, cinco a menos do que na Copa passada. Desde 1974, a marca alemã já foi a mais presente em onze edições. Na atual, suas principais equipes são Alemanha, Argentina e Espanha, que juntas somam sete conquistas de Copa do Mundo.

Na terceira posição, colada à Adidas, vem a Puma com seis seleções. Cumpre relatar que na Copa de 2006, graças à sua forte presença no continente africano, a marca foi a líder em número de equipes. Na atual edição, a única de suas seleções que já conquistou o campeonato foi a do Uruguai.
Quando descemos à análise para níveis continentais, encontramos a Nike ausente apenas na África, porém sendo a mais presente nos demais. A líder no continente africano é a Puma.
As demais marcas que completam a relação das que vestem seleções na Copa do Qatar são: Hummel, Kappa, Le Coq Sportif, Majid, Marathon e New Balance com uma equipe cada.
As mudanças no “ranking” das marcas ocorrem geralmente em função da classificação dos países, ou seja, são poucos os casos em que há troca de fornecedores. Das trinta e duas seleções que disputam a Copa de 2022, vinte e quatro também jogaram a de 2018 e dessas, apenas três (12,5%) mudaram de fornecedor: Iran, que deixou a Adidas pela iraniana Majid, Marrocos, que trocou a Adidas pela Puma e Tunísia que teve a Uhlsport substituída pela Kappa.

Como podemos constatar, as trocas aconteceram em seleções sem muita tradição no futebol. Na verdade, as mudanças costumam ocorrer com pouca frequência nos times considerados favoritos. A Alemanha, por exemplo, veste Adidas desde a Copa de 1982, a Argentina desde 1990 e a Espanha desde 1994. No caso das equipes supridas pela Nike, temos o Brasil que está com ela desde 1998.
Dos oito países que já conquistaram alguma edição da Copa do Mundo três mudaram de fornecedor no século atual: o Uruguai, que jogou com L Sporto em 2002 e em 2010 trajava Puma (2006 não se classificou), a Inglaterra, que em 2014 trocou a Umbro pela Nike, e a Itália, que jogou com Kappa em 2002 e com Puma nas posteriores que participou. A propósito, a partir de 2023, a Azurra será suprida pela Adidas.
Ainda que a presença no maior número de equipes seja importante para as marcas, tanto no que diz respeito à exposição como às vendas, a possibilidade de se chegar à final e conquistar a Copa conferem vantagens ainda maiores às marcas. Sob esse prisma, a disputa se mostra bastante acirrada, pois, considerando as cinco últimas Copas, temos a Adidas com quatro seleções campeãs e uma vice, a Nike com uma campeã e três vices, enquanto a Puma conta com um vice-campeonato.
COPA DE 82
1a parte- “Vânia”
por Marcos Fábio Katudjian

Vânia era minha colega no segundo grau. Passamos um ano inteiro juntos. Quando digo juntos, isso se refere ao fato de estarmos na mesma classe, de sermos vítimas dos rigorosos professores do Colégio Rio Branco. Além disso, não tínhamos mais nada em comum. Vânia era muito bonita, popular e sentava-se nas primeiras fileiras. Eu, ao contrário, era um sujeito medíocre, física e intelectualmente, me sentava na penúltima fileira e tinha um círculo restrito de amigos. Tinha certeza que Vânia sabia meu nome. E possivelmente mais nada a meu respeito. Apesar dessa distância – ou talvez por causa dela – o fato é que eu tinha uma fixação por ela, verdadeira obsessão. Vivia uma típica paixão platônica, aquela onde o apaixonado tem perfeita consciência da sua insignificância.
A adolescência é mesmo uma fase em que somos suscetíveis a grandes paixões. E comigo não foi diferente. E na escala das paixões daquela época, Vânia ocupava um honroso segundo lugar. O primeiro posto não era ocupado por uma mulher. Confesso, a razão da minha grande paixão adolescente eram homens. Sim, onze homens, a seleção brasileira de 82.
A relação evoluiu aos poucos ao longo do tempo, mas houve um momento, um instante em que eu me percebi irremediavelmente apaixonado. Foi lá pelo mês de março quando preenchia meu álbum da Copa da Espanha. Na mesma página lá estavam, lado a lado as fotos de Falcão, Cerezo, Zico e Sócrates, além de Leandro, Júnior e Éder.
Para entendermos o peso daqueles jogadores na ordem das coisas, é preciso contextualizar um pouco. Em 82, tivéssemos que formar uma seleção do mundo para jogar com seleções de outros planetas, não havia como deixar de escalar pelo menos cinco desses nomes, quase meio time, pelo menos. Outros nomes certos seriam Platini, Rumenige, Dasaev, Boniek, além daquele centroavante da seleção italiana também.
Para situar no tempo o poderio desse time de 82, eu diria que se os times de futebol pudessem ser levados ao instituto Butantã para que o talento de cada jogador fosse extraído como o veneno de uma cobra, eu diria que só a presença de Pelé nas seleções de 58 e 70 fazem o time de 82 inferior àqueles dois. Em outras palavras, se trocássemos Zico ou Sócrates por Pelé, a seleção de 82 seria a melhor de todos os tempos.
Foi dessa forma, com essas ideias ainda mal formadas me assombrando a cabeça, que assim que eu terminei de preencher o álbum, eu olhei para o lado e disse para o meu amigo Victor: “Victor, não tem jeito do Brasil perder essa Copa”. E depois do Victor, ao contrário do que fazia com a Vânia, onde preferia guardar segredo dos meus sentimentos, saí bradando aos quatro cantos: “nada, absolutamente nada vai tirar o nosso tão almejado tetracampeonato!”
Mas como você sabem, não foi isso que aconteceu. Menos de três semanas depois de iniciada a Copa, no dia 5 de julho, o juiz israelense apitou o fim do jogo em Barcelona, estávamos eliminados pela Itália. Naquele momento, tive sensações tão difíceis de explicar quanto de entender. Não era tristeza, não era desespero, mas uma espécie de descompasso com a realidade, que de uma hora para outra passou a não fazer sentido. Lembro da tontura que senti ao longo da hora seguinte ao fim do jogo. Se alguém perguntasse meu nome, não estou certo que fosse capaz de responder corretamente.
“A tragédia do Sarriá”, como aquele episódio foi conhecido, foi um baque no coração de cada um que se deixou apaixonar por aquele time. E para mim, o luto se estendeu por anos. Lembro que prometi a mim mesmo que todo dia 5 de julho eu passaria mudo, em completo silêncio, num gesto in memorian ao ocorrido. Depois de 3 ou 4 anos, porém, desisti da ideia de manter a mudez, pois era motivo de chacota. As pessoas se reuniam ao meu redor e me provocavam das maneiras mais variadas para que eu saísse do meu silêncio. Era ridículo!
Quatorze anos depois, estava em Barcelona e resolvi visitar o Sarriá antes que fosse demolido. Não havia jogo. Entrei e sentei-me na arquibancada vazia diante do campo vazio. Imagens do jogo me vieram com uma nitidez quase pornográfica. Diante daqueles fantasmas, fiz força para chorar, mas não consegui. Foi quando percebi que a dor já tinha passado. Ainda mais quando fui abordado por um espanhol, talvez um funcionário do clube, que me vendo ali sentado sozinho perguntou: “brasileiro?”. Respondi que sim e imediatamente percebi minha posição constrangedora, a de uma das muitas viúvas daquele time que visitava frequentemente o jazigo do falecido.
“O Brasil não merecia”, ele me disse, “vocês jogaram melhor, eram os melhores da Copa”. Naquele momento percebi quase ofendido o quanto aquela comiseração me fazia mal, nos fazia mal a todos, ao futebol brasileiro de um modo geral. Então eu respondi: “jogamos melhor, sim, e éramos os melhores da Copa, sim, mas não merecemos ganhar”. Confuso, o espanhol me pediu mais explicações. Sem pensar, abri a boca sem saber o que iria dizer. E disse exatamente assim: “a Itália tinha uma coisa que o Brasil não tinha”. “O que?”, me perguntou o espanhol. E eu respondi: “a Itália conhecia suas próprias imperfeições, suas próprias limitações. E o Brasil, não”.
Levantei-me ainda surpreso com o que acabara de dizer e aquelas palavras começaram a fazer um sentido exato sobre tudo que aconteceu naquela Copa. A partir dali me propus a uma reflexão que não havia feito até então, uma reflexão mais madura, abençoada pela passagem do tempo. Uma reflexão que pudesse afastar os sentimentalismos baratos.
Ainda naquele ano, poucos meses depois de ter visitado o Sarriá, encontrei a Vânia novamente. Para meu desapontamento ela me pareceu bem menos encantadora que quinze anos antes. Nem tão bonita e um tanto chatinha. A seleção de 82 não era chatinha, nem um pouco, mas lhe faltaram muitas virtudes. Muitas. Virtudes que certamente também nada tinham a ver com beleza.
EM 1982, O FIM DE UMA ESCRITA
por Luis Filipe Chateaubriand

No final dos anos 1970 e início dos anos 1980, o Vasco da Gama vivia uma sina: era vice-campeão quase sempre.
Era muito chato, para o torcedor vascaíno, ser sempre derrotado exatamente ao final dos certames.
No Rio, o Vasco da Gama era vice de Flamengo ou, quando não era o Flamengo, era vice do Fluminense.
Ao nível nacional, o Vasco da Gama foi vice do Internacional de Porto Alegre, no Campeonato Brasileiro de 1979.
Mas, no Campeonato Carioca de 1982, essa sina chegava ao fim!
Final do Campeonato, Flamengo x Vasco da Gama.
Primeiro tempo, jogo equilibrado.
Mas, no início do segundo tempo, Pedrinho Gaúcho bate escanteio pelo lado esquerdo, Marco Antônio Rodrigues, o Marquinho, roça a cabeça na bola e esta vai “morrer” no fundo do gol do goleiro rubro negro Raul.
Vasco da Gama 1 x 0 Flamengo.
Depois do gol, a equipe vascaína se manteve firme, “segurou” o resultado e, com a vitória, veio o título.
Desde 1977, o Vasco da Gama não era campeão.
Mas, em 1982, a torcida pode dizer: “Vice é o… Flamengo!”.
AH, ISABEL…
por Mauro Ferreira

Ela sempre resolvia. Sempre. Nos momentos mais difíceis, naqueles em que a situação exigia frieza e decisão, a bola ia pra ela. Não só no vôlei. Não só no vôlei. A bola mais importante era dela. Não fugia. Nunca fugiu. Ao contrário, não se importava de se expor se acreditasse na causa. Foi assim quando decidiu jogar grávida, barrigão mesmo, proeminente, umbigo saltado, marcando a camiseta de jogo. Estabeleceu a causa.
Ah, Isabel…
Quem há de esquecer da moleca esguia, sorriso farto, espetáculo garantido a cada jogo, a cada tapa dado com vontade na cara da bola? Quem há de? Nós, os mortais, esquecíamos as dores do dia, da vida, para sorrir junto, extasiados, hipnotizados, irresistivelmente apaixonados.
Ah, Isabel…
Havia tanto ainda pra dar, pra discutir, pra influenciar, pra ensinar e pra amar. Muitos “nãos” pra dizer de cara amarrada e o triplo de “sins” com sorriso escancarado… Ainda havia muito o que fazer, o que pensar, o que projetar.
Ah, Isabel…
Você habitou tantos corações, tantos imaginários, tantos sons e sonhos… e sabia disso. Tinha a exata noção da sua relevância, do alcance da voz e dos assuntos que expandia com seu megafone rouco e potente.
Ah, Isabel…
Moça sensível, jamais tirou do radar sua intensidade infantil, acrescentando a experiência e a maturidade. Não perdeu a beleza. Fez dos anos uma fonte de juventude constante, permanente.
Ah, Isabel…
Aí está o texto prometido, embora não o que deveria ser. Os verbos agora no passado, jamais serão passado. Você é presença eterna e um presente desses que se guarda no local mais visível aos nossos olhos
Ah, Isabel…
Ah, Isabel…
Por quê?
BALANÇO DE 2022
:::::::: por Paulo Cézar Caju :::::::

Chegou ao fim a temporada do futebol brasileiro e, como já era de se esperar, foi mais um ano de muita decepção. O próprio Flamengo, que levantou a Copa do Brasil e a Taça Libertadores, jogou a toalha e perdeu os últimos dois jogos do Brasileirão para o Coritiba e o rebaixado Avaí, respectivamente. Independentemente de ser com o time reserva ou não, não existe entrar em campo para perder, ainda mais diante de mais de 60 mil torcedores no Maracanã, que foram acompanhar as despedidas do Diego Ribas e do Diego Alves. Um verdadeiro banho de água fria!
Em 2023 teremos de volta à Série A Vasco, Cruzeiro, Grêmio e Bahia, mas confesso que estou bastante preocupado com o futuro desses clubes. Embora a Primeira Divisão não seja lá aquelas coisas, a Série B é um campeonato que é quase 100% vontade. Caso esses clubes não tragam reforços, correm grande risco de passar sufoco ano que vem. E o meu maior medo é que eles se acostumem com esse “sobe e desce”. Precisam abrir o olho antes que seja tarde!
Não preciso nem dizer o quanto eu vibrei com a vaga do Fortaleza na Libertadores, né? Acompanho esse clube há mais de 10 anos, adoro a Copa do Nordeste e já mencionei algumas vezes aqui na coluna a importância de enxergar um trabalho a longo prazo. Mesmo com uma campanha desastrosa no primeiro turno, a diretoria do Fortaleza foi muito feliz em manter Juan Pablo Vojvoda no comando do clube e o resultado está aí. Não tem mistério! Garanto a vocês que 99% dos outros clubes mandariam o treinador embora e contrariam o primeiro que estivesse livre no mercado!
Morei muitos anos em Santa Catarina e não consigo entender como Avaí e Figueirense não conseguem permanecer na Série A. Dois times com estádio próprio, bons centros de treinamento, mas os resultados não aparecem em campo.
Ainda sobre o Campeonato Brasileiro, gostaria de exaltar o ano do Germán Cano. O atacante argentino balançou a rede por 44 vezes em toda a temporada e anotou 26 gols no Campeonato Brasileiro, superando Neymar (2012) e Gabigol (2019). Por sua capacidade de se colocar dentro da área e, sobretudo, finalizar, Cano me lembra muito outros gringos que fizeram história por aqui: Artime, Fischer, Doval, Sanfilippo, entre outros. Gostaria de entender por qual motivo os argentinos nunca cogitaram a sua convocação para a seleção!
Não poderia deixar de finalizar a coluna sem expressar a minha indignação com a CBF e a FIFA por não terem convidado nenhum tricampeão do mundo (58, 62 e 70), embaixadores oficiais da federação brasileira, para viajar ao Catar! Inadmissível!
Pérolas da semana:
“Com uma compactação de ideias que define o DNA e a identidade do treinador, o time joga por dentro, espetando os alas agudos para potencializar e espalhar os pontos de sustentação da equipe”.
“Para superar as entrelinhas de quatro ou de cinco, o time faz transições dinâmicas que desconectam do contexto e espalha combustível pelo bloco alto ou baixo do adversário”.