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UMA COISA JOGADA COM MÚSICA – CAPÍTULO 35

por Eduardo Lamas Neiva

Rio de Janeiro (RJ) 29/03/1960 – Futebol – Brasil – Taça Brasil – 1959 – Esporte Clube Bahia 3 x 1 Santos – Jogo no Maracanã – Os primeiros campeões brasileiros de clubes fazem a volta olímpica – Foto Arquivo / Agência O Globo – Negativo: 20682

A alegria dos baianos presentes foi ainda maior, principalmente dos torcedores do Bahia. Idiota da Objetividade toma à frente e começa a contar como foi a campanha do Tricolor de Aço na Taça Brasil de 1959.

Idiota da Objetividade: – Para chegar à final, em 59, o Bahia eliminou CSA e Ceará, no Grupo do Nordeste. Nas quartas de final, venceu o Sport Recife, na Fonte Nova, por 3 a 2, depois levou de 6 a 0, na Ilha do Retiro. Como não se considerava o saldo de gols como critério de desempate, foi disputado um jogo extra, também no estádio do clube pernambucano, e o tricolor baiano saiu vencedor por 2 a 0.

Sobrenatural de Almeida: – Assombroso!

Idiota da Objetividade: – Nas semifinais entraram os campeões de 58 do Rio, o Vasco, e de São Paulo, o Santos. O Bahia primeiro eliminou a equipe carioca também em três partidas. Na primeira derrotou os vascaínos no Maracanã, por 1 a 0; perdeu em casa, por 2 a 1, e venceu por 1 a 0, na Fonte Nova. Na final, passou pelo Santos, na Vila Belmiro, por 3 a 2, mas perdeu por 2 a 0, em casa.

Ceguinho Tricolor: – Este segundo jogo foi disputado no dia 30 de dezembro e na Bahia todo mundo já se preparava para o maior Reveillón da História desde que Adão foi expulso do Paraíso.

João Sem Medo: – É verdade, Ceguinho, mas o Santos foi excursionar no início de 1960 ao Peru e à Colômbia e não tinha data para fazer o terceiro jogo. Naquela época, os grandes times brasileiros e também alguns pequenos, como o Madureira, por exemplo, que esteve em Cuba e foi recebido pelo Che Guevara, passavam boa parte do ano jogando no exterior.

Idiota da Objetividade: – O jogo extra acabou sendo disputado somente no dia 29 de março de 1960, em campo neutro, no Maracanã.

João Sem Medo: – O Santos não pôde contar com Pelé, que tinha feito uma operação de amígdalas, e o Bahia passou 45 dias concentrado na Ilha de Itaparica se preparando para a final.

Idiota da Objetividade: – O Tricolor baiano se sagraria campeão com uma vitória de 3 a 1, de virada. Coutinho abriu o marcador para os santistas, aos 27 minutos de jogo, mas dez minutos depois, Vicente empataria. Léo, a um minuto da etapa final, e Alencar aos 31, fizeram os outros gols do Bahia.

João Sem Medo: – Os santistas reclamaram muito do árbitro…

Idiota da Objetividade: – Frederico Lopes.

João Sem Medo: – Ele expulsou três jogadores do Santos.

Idiota da Objetividade: – Getúlio, Formiga e Dorval.

João Sem Medo: – Mas o título foi merecido, o Bahia foi melhor que o Santos.

Sobrenatural de Almeida: – Eu me lembro do time campeão até hoje: Nadinho, Beto, Henrique, Flávio e Neizinho; Vicente e Mário; Marito, Alencar, Léo e Biriba. Ainda tinha Leone e Ary, que não jogaram no Maracanã.

Ceguinho Torcedor: – O técnico do esquadrão era Geninho.

Garçom: – Muitos deles estão aqui e merecem todos os nossos aplausos.

Ceguinho Torcedor: – Claro que merecem!

Todos aplaudem os campeões de 59 presentes ao bar Além da Imaginação.

Idiota da Objetividade: – Ceguinho, Geninho não era mais o técnico do Bahia. Naquela final ele já tinha sido substituído pelo argentino Carlos Volante.

Ceguinho Torcedor: – Ah, mas o Geninho é que armou o esquadrão tricolor, foi o mentor intelectual do título.

João Sem Medo: – Ele esteve no vestiário comemorando com todo o time depois do jogo. O Volante foi bastante digno ao dividir os méritos com o Geninho.

Garçom: – Um grande feito do Bahia, time de coração do meu colega aqui do bar, Charles Nonato. Ele está de folga, mas veio nos prestigiar. Ele está ali naquela cadeira.

Ele se levanta e recebe aplausos.

Garçom: – Com toda esta força de sua torcida, inclusive a aqui presente, vou pôr no telão um vídeo de 2013 do Globo Esporte em homenagem ao Bahia e os seus torcedores, com a cantora Ju Moraes interpretando algumas músicas entoadas pela torcida tricolor principalmente na Fonte Nova.

Depois que todos curtiram a música, João Sem Medo pega a bola e lança.

João Sem Medo: – O Bahia voltaria a conquistar um título nacional em 1988.

Idiota da Objetividade: – Sim, em um campeonato que também só terminou no ano seguinte.

Ceguinho Tricolor: – O Bahia de Bobô e Charles, grande time.

João Sem Medo: – E o ótimo Paulo Rodrigues no meio do campo.

Idiota da Objetividade: – O Bahia eliminou o Fluminense nas semifinais e foi campeão em cima do Internacional, com uma vitória de 2 a 1, na Fonte Nova, e empate sem gols no Beira-Rio.

Garçom: – Então, em mais uma homenagem ao Tricolor baiano, vamos botar todo mundo pra dançar de novo aqui no bar. Na caixa de som: “Campeão dos campeões”, do Gilberto Gil, com os Novos Baianos, grupo que todos aqui sabem teve Moraes Moreira, que ali está e já veio ao nosso palco, como um de seus principais integrantes. Vamos lá, gente!

Fim do capítulo 35

Quer acompanhar a série “Uma coisa jogada com música” desde o início? O link de cada episódio já publicado você encontra aqui (é só clicar).

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AS FINAIS DO CAMPEONATO BRASILEIRO DE 1978

por Luís Filipe Chateaubriand

Em 1978, Guarani e Palmeiras chegaram às finais do Campeonato Brasileiro.

De um lado, o Palmeiras de Leão, Pedrinho e Jorge Mendonça.

Do outro, o Guarani de Zenon, Careca e Renato “Pé Murcho”.

O Guarani obteve sua vaga nas finais ao superar o Vasco da Gama nas semifinais.

O Palmeiras obteve sua vaga nas finais ao superar o Internacional nas semifinais.

O primeiro jogo foi com mando de campo do Palmeiras, no Morumbi.

Já no final do jogo, o goleiro Leão agrediu o centroavante Careca.

Pênalti, que Zenon bateu com categoria.

O Guarani venceu por 1 x 0.

O segundo jogo aconteceu no Estádio Brinco de Ouro da Princesa, em Campinas, com mando de campo do Guarani.

Ainda no primeiro tempo, Careca chutou rasteiro, à direita do goleiro Gilmar.

Novamente, o Guarani venceu por 1 x 0.

Foi assim que, pela primeira e única vez, um clube do interior foi campeão brasileiro!

O BOLA FAMÍLIA

por Zé Roberto Padilha

E o maior redistribuidor de rendas e oportunidades do país, o Bola Família, acaba de conceder a uma família humilde, moradora da comunidade Novo Horizonte, em Itaúna, região metropolitana de BH, uma vida melhor e mais digna.

Para preencher o cadastro, a família de Jonh Kennedy seguiu os passos de outros beneficiários do programa, como Pelé, Romário, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e Neymar.

Colocou o menino não em uma franquia de Escolinha de Futebol de time grande, com chuteiras no nascedouro, mas jogando descalço para não perder o tato.

E o deixou bater pelada num campo de terra batida, onde travou com uma bola ruim um duelo de destreza que o habilitou tanto a dominar um passe sem arte desferido pelo Marlon, quanto uma pluma repassada pelo Ganso.

A seguir, no segundo ano, o colocou para jogar Futsal. Neste estágio, com espaços reduzidos e uma bola menor, acontece a pós-graduação em dribles e habilidades para sair da marcação.

A parte complicada do programa é que os meninos precisam bater muita pelada para desenvolver suas aptidões. E pouco estudam. E daí aprontam, fogem da concentração, chegam atrasados para o treinamento e alguns ainda levam meninas para o quarto.

Porém, quando colocam na cabeça que vão ser jogadores de futebol e se esforçam, superam preconceitos e adversidades, se uma bola lhe for passada de cabeça pelo Keno, e ela quicar à frente do Romero, o corpo, a mente de Jonh Kennedy estarão diferentes…

E ao acertar na veia, dar o título da Libertadores ao seu clube formador e se tornar uma celebridade, o passado será uma roupa suada, um vídeo game não comprado, uma vida sofrida nas periferias que já não lhe cabe mais.

AGORA O DINIZ É UM BOM TÉCNICO?

por Idel Halfen

Como falar da conquista da Libertadores sob um foco de gestão sem cair no lugar comum, no qual as análises buscam ações para explicar os resultados, algo na linha do engenheiro de obra pronta?

Pois bem, vou começar questionando o paradigma de que um técnico para mostrar sua competência precisa conquistar um título de relevância. Primeiramente, o conceito de relevância é bastante relativo, pois, ser campeão estadual dirigindo um time com poucos recursos pode ser mais relevante do que ser campeão brasileiro comandando outro com recursos abundantes, principalmente em um cenário em que não haja ou se respeite o fair play financeiro, ou seja, os gastos sejam liberados independentemente de a capacidade gerá-los.

Não parece justo colocar apenas uma condição para se incluir no panteão dos “competentes”, o técnico que ganhou um título “relevante”. Na verdade, se puxarmos pela memória, teremos um bom número de treinadores que foram campeões uma vez e sumiram ou nunca mais tiveram conquistas significativas. Ah, ficaram ultrapassados! Em dois anos? O futebol evolui tão rápido assim? Claro que não é isso, embora até possa haver falta de atualização por parte de alguns.

A propósito, muitos tentam derivar esse julgamento para os jogadores de futebol. Se Fulano fosse bom teria conquistado uma Copa do Mundo. Será mesmo? Pois bem, alguém em sã consciência pode questionar que o Zico foi um craque? Por acaso os jogadores que não possuíam reconhecida qualidade técnica e conquistaram a Copa são melhores do que ele? Evidente que não! Aliás, nessa relação dos “sem Copa” podem ser acrescidos nomes como Cristiano Ronaldo, Cruyff, Puskas, Di Stéfano, entre outros, cujos talentos são inquestionáveis.

Mas como é difícil a quebra de paradigmas, felizmente o Fernando Diniz foi campeão, fato que, além de me proporcionar uma alegria indescritível, serve para deixá-lo no fantasioso rol dos “competentes”, entretanto, reafirmo: independentemente do resultado da final da Libertadores 2023, ele é excelente.

Vitória, Fluminense!

Para corroborar com a reflexão sobre o que é ser competente naquilo que se faz, acrescento que no mercado corporativo há excelentes executivos cujas empresas que comandam não são líderes de mercado, não estão à frente nos rankings idealizados pela mídia especializada,  ou mesmo não apresentem o maior EBITDA do setor que atuam. 

Outro ponto que atesta a qualidade do Diniz é o fato de ter formado um time sem abrigar no elenco um número elevado de jogadores que vieram a seu pedido, isto é, poucas contratações foram feitas em função de sua demanda, o que o levou à elaboração de uma forma de jogar na qual o material humano disponível viesse a cumprir com sucesso os objetivos idealizados.

Quantos executivos assumem uma empresa ou um departamento e, ao invés de fazerem o time que herda performar, preferem trazer pessoas com quem trabalhou anteriormente para compor a equipe? É mais cômodo e mais seguro? Certamente, sim, mas e os custos, a adaptação à cultura da empresa e a conquista da confiança dos demais colegas e subordinados? 

Não tenho dúvida que ao fim desse texto, alguns devem estar questionando se ele seria escrito se a conquista da Glória Eterna não tivesse ocorrido. 

Respondo com a absoluta certeza que sim, talvez não nessa data e, sem dúvida, não tão emocionado.

Estar presente no estádio em que meu pai, hoje radiante e de faixa de campeão no céu, me levava desde criança, ao lado de amigos que são como irmãos e após quinze anos da maior tristeza de que tive no futebol, fazem desse texto uma forma de agradecimento à vida e de louvor à esperança.

A CADA VEZ MAIS ESTRELA SOLITÁRIA

por Marcos Eduardo Neves

No jogo entre o líder do Brasileirão contra um time da zona do rebaixamento, mais uma vez a lógica foi para o espaço.

A impressão é a seguinte. O Botafogo luta hoje para se manter na zona de classificação para a Libertadores, porque o título está cada vez mais fora da sua pobre realidade bilionária. No fundo, algo normal para quem terminou em quinto lugar no Estadual que só tem quatro clubes grandes.

Se a cada vez mais solitária Estrela vê suas Torres Gêmeas serem atacadas até pelo Pentágono, o Vasco vibra, sua torcida desesperada chora, todos se emocionam por enfim conseguirem, nem que por uma rodada, chegar ao décimo sexto lugar dentre os 20 times que disputam a elite da competição. É como se judeus brasileiros em Israel vissem um avião da FAB sobrevoar a Faixa de Gaza. Será que vai nos salvar ou teremos de seguir em oração em meio a bombardeios de todos os cantos?

A verdade é: o Brasileirão está pegando fogo. Não com o Bota. E o Vasco segue à espera de um milagre. Mas dormir alguns dias longe do inferno vale a pena e muito. Ainda que o diabo siga bem próximo, chamando com os dedinhos os que merecem e fizeram por onde descerem com ele.

Palmeiras, Bragantino, Grêmio, Atlético Mineiro e Flamengo, saibam, o céu está aberto. Quem encara pegar a crista da onda nessa praia?