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O GESTO NOBRE DE UM CRAQUE APRESENTOU AO MUNDO UM GÊNIO DA BOLA

3 / julho / 2020

por Victor Kingma


Suécia, 1958. O Brasil chegou para a sexta Copa do Mundo com uma equipe totalmente renovada, após a tragédia de 1950 e a participação apagada em 1954, na Suíça.

No time que estreou contra a Áustria, na vitória por 3 x 0, apenas dois titulares da Copa anterior estavam em campo: o lateral esquerdo Nilton Santos e o meia Didi.

Outros remanescentes eram o goleiro Castilho, o lateral Djalma Santos, antigos titulares, e o zagueiro Mauro.

Outro jogador, que certamente seria titular absoluto, não estava no grupo que foi para a Suécia: o ponta direita Julinho Botelho.

O atacante da Portuguesa de Desportos tinha sido o melhor jogador da seleção na  Copa anterior, na qual o Brasil foi desclassificado nas quartas de final pela poderosa seleção da Hungria.    

Fez dois gols nas três partidas que o Brasil disputou, inclusive o segundo na famosa batalha contra os húngaros, quando a seleção perdeu por 4 x 2.  

Após se destacar no mundial, foi vendido para a Fiorentina, da Itália, onde brilhou intensamente, sendo considerado até hoje o melhor jogador da história do clube.

Naquele tempo não era comum convocar jogadores que não atuavam no Brasil mas, mesmo assim, o técnico Vicente Feola e a comissão técnica da seleção, impressionados com as notícias que vinham da Europa, o comunicou de que seria convocado.

Julinho, então, com a fidalguia que sempre o acompanhou por toda a carreira, declinou do convite para defender a seleção, argumentando que embora sentisse muito honrado pela lembrança, não serio justo tomar o lugar de um companheiro que  jogava no país.

Em seu lugar, então, foi chamado um jogador que, apesar de algumas limitações físicas, que causava certa preocupação em relação ao confronto contra os fortes marcadores europeus, vinha se destacando no Botafogo.

Assim, na relação final dos convocados para a Copa, na ponta direita, com a ausência de Júlio Botelho, astro da Fiorentina, estava escrito:

Joel Antônio Martins (Joel), do Flamengo, e Manoel Francisco dos Santos (Garrincha), do Botafogo.

Com o mundial em curso, o Brasil havia vencido a  Áustria,  por  3  x  0,   na estreia e empatado com a Inglaterra por 0 x 0 na segunda partida.

As atuações não empolgavam e o fantasma de nova desclassificação passou a preocupar os dirigentes.

Mudanças precisavam ser feitas na equipe, até porque na terceira e decisiva partida da fase de classificação a seleção ia enfrentar a União Soviética, conhecida pelos métodos científicos de preparação e com total estudo das características de cada jogador adversário.

Assim, naquele 15 de junho de 1958, na partida contra a URSS, o mundo do futebol foi apresentado oficialmente a um dos maiores fenômenos e o maior driblador que o futebol já teve.

Escalado na ponta direita, em substituição ao aplicado Joel, Garrincha fazia sua estreia na seleção.

Tinha a seu lado no ataque, o menino Pelé, então com 17 anos, que também estreava, Vavá e Zagallo.

Bastaram poucos minutos de jogo para o futebol estudado e cientifico dos soviéticos se desmoronar diante das diabruras que aquele desconhecido jogador, de pernas tortas, aprontava em cima dos seus atônicos marcadores.

Debaixo das traves, o lendário Lev Yashin, o melhor goleiro do mundo, incrédulo ao que estava assistindo, gritava desesperado para seus defensores: atenção, cuidado, não deixem passar!

Muitos estudiosos consideram que aquele início avassalador de jogo, protagonizado por Garrincha, foram os três minutos mais espetaculares da história do futebol.

O Brasil venceu por 2 x 0, gols de Vavá, e prosseguiu na campanha que o levaria a conquistar pela primeira vez o campeonato mundial de futebol.

O gesto nobre de Julinho ao abrir mão de sua convocação acabou por apresentar ao mundo um dos maiores gênios da bola.

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