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‘NÃO HOUVE ANTES DE ZITO, NÃO EXISTE DEPOIS DELE’

8 / agosto / 2017

por André Felipe de Lima


Pelé pegou a pelota, driblou um, driblou dois, três e ficou cara a cara com o goleiro Mão de Onça, do Juventus. A torcida se levantou na arquibancada. Gol certo do Santos, mas Pelé perdera o gol feito. Enfeitara a jogada para atender a uma equipe de cinegrafistas postada atrás do gol e pronta para capturar as cenas mais plásticas para o filme da vida do Rei. Inconformado, o líder do time, o volante Zito, correu na direção de Pelé e sem parcimônia apontou-lhe o dedo no rosto: “Chega de palhaçada, crioulo! Vamos jogar sério!”. Um humilde e titubeante Pelé respondeu: “Mas, Zito, estamos ganhando de 2 a 0, e eu…”. Zito sequer esperou o Rei completar a desculpa: “Não quero saber de quanto estamos ganhando. Trate de jogar sério e marcar quantos gols puder”.

Pelé abaixou a cabeça e acatou a ordem do Zito. Não havia no time quem não acatasse. Zito foi o maior líder que o Santos teve e um dos maiores ídolos da história do futebol brasileiro. Fazia na seleção brasileira o mesmo que na Vila Belmiro. Todos ouviam. Deu tão certo o estilo que o Brasil, com Zito em campo, conquistou duas Copas do Mundo (1958 e 62).


Ganhar era pouco para Zito. Ele sabia que seus times eram poderosos. Exigia marcadores elásticos. Goleadas inigualáveis. Recordes de gols. Pepe, o segundo maior artilheiro da história do Santos, foi um dos que temia as homéricas broncas do Zito. Assim o descreveu o maior ponta-esquerda alvinegro de todos os tempos: “Zito chegava a ser cruel. Seus gritos eram ainda mais fortes e marcados pelo desprezo.”


Para Zito, raça jamais foi sinônimo de violência, mas gritava à beça também com os juízes. Acabou expulso algumas vezes. Umas trinta, talvez. Foi com esse estilo, digamos, viril ao extremo, que marcou uma época de ouro no clube que defendeu de 1952 a 1968. “Não houve antes de Zito, não existe depois dele. Não existe agora e ninguém sabe quando aparecerá um estimulador de time, um transmissor de ânimo, um orientador tão hábil e tão enérgico, um comunicador de tão absoluto equilíbrio”, escreveu sobre ele o cronista e santista fanático Adriano De Vaney.

Zito levantou uma penca de troféus. Além das duas Copa do Mundo (1958 e 1962), ajudou ao Santos nas conquistas do Mundial Interclubes (1962 e 1963); da Taça Libertadores da América (1962 e 1963); do Campeonato Paulista (1955, 1956, 1958, 1960, 1961, 1962, 1964, 1965, 1967 e 1968); da Taça Brasil (1961, 1962, 1963, 1964 e 1965) e do Torneio Rio-São Paulo (1959, 1963 e 1964).


Mas um fato curioso marcou a vida desse ídolo santista, como o próprio Zito declarou a Bernardo Buarque de Hollanda e a José Paulo Florenzano, em entrevista para o projeto Futebol, Memória e Patrimônio, da FGV: “Não tinha outro jeito, tinha que acompanhar pelo rádio. Engraçado que a gente pegava mais o Rio do que São Paulo, e eu era palmeirense naquela época, garoto, garoto escolhia: “eu sou palmeirense, sou são paulino, sou isso, aquilo”, na época eu era palmeirense, coube para mim, não é? Mas depois você vai crescendo, vai mudando”. E Zito mudou muito. Tornou-se um dos santistas mais convictos e juramentados. Igual a ele, jamais.

Hoje, dia 8 de agosto, o inesquecível José Eli de Miranda, o incomparável Zito, faria anos.

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