Escolha uma Página

RAZÕES PARA O BICHO VOLTAR

por Zé Roberto Padilha

Quando as coisas dão certo no futebol elas, infelizmente, são logo esquecidas. Só mesmo o despreparo dos nossos dirigentes para explicar porque o “bicho”, premiação em caso de vitória, desapareceu da relação clube-jogador.

Exemplo: decisão da Taça GB 76 entre Flamengo x Vasco. A moeda vigente era o cruzeiro e Zico ganhava 33 mil. Junior 25 e eu, chegando do Fluminense, 21 mil. Como o cruzeiro valeria hoje 2 reais, nossos salários não seriam ruins: 66, 50 e 42 mil. Isto é, com uma folha menor, os salários estavam sempre em dia. Dificilmente tinha clube endividado. A diferença a gente buscava no bicho.

A decisão da Taça GB, em 1976, por exemplo, levou ao Maracanã 130 mil torcedores. E o bicho pela vitória era proporcional à renda: se ganhássemos do Vasco, o bicho seria de 100 mil reais. Aí você comia grama. E todos comendo grama, já pensou ganhar em 90 minutos cinco vezes o seu salario? Colocava o time lá na ponta da tabela e trazia gente para o estádio.

As vitórias eram a nossa poupança.

Hoje, Gabigol ganha 1,5 milhão por mês com qualquer resultado. Afastado há algum tempo, nem aparecer no clube podia para justificar o seu salário. Vinha treinando no condomínio onde mora, na Barra da Tijuca, com uma estrutura montada com a ajuda de profissionais do rubro-negro.

Gabigol precisa depender de jogar e vencer para viver, não viver de um alto salário que não está em campo para merecer.

Ele e tantos jogadores profissionais, como o Ganso, que precisam lutar mais em campo do que desfilar seu repertório clássico, e cada vez mais ficam distante do gol adversário. Antigamente, era a porta do cofre. Quem se afastaria na busca dos seus segredos?

Conselho de uma velha raposa, que conseguiu ser vice do Vasco na decisão de 76, e perdeu 100 mil em 90 minutos: se correr e vencer, o bicho é pago. Se ficar parado e perder, o bicho some.

Se o bicho voltar, Gabigol volta junto para pagar o condomínio.

AS FINAIS DO CAMPEONATO BRASILEIRO DE 2002

por Luis Filipe Chateaubriand

Em 2002, Santos e Corinthians jogaram as finais do Campeonato Brasileiro.

O Santos chegou às finais ao eliminar o Grêmio, e o clube voltava às finais depois de sete anos, pois a última vez que as havia disputado foi em 1995.

O Corinthians chegou às finais eliminando o Fluminense e, depois de três anos, desde 1999, estava nas finais novamente.

O primeiro jogo das finais aconteceu no Estádio do Morumbi, em São Paulo, com mando de campo para o Santos.

Com um gol de Alberto, no primeiro tempo, e outro gol de Renato, no segundo tempo, o Santos venceu por 2 x 0.

O segundo jogo das finais também aconteceu no Estádio do Morumbi, em São Paulo, desta vez com mando de campo para o Corinthians.

No primeiro tempo, Robinho, de pênalti, fez 1 x 0 para o Santos.

No segundo tempo, Deivid empatou para o Corinthians em 1 x 1, Anderson fez para o Corinthians 2 x 1, Elano empatou para o Santos em 2 x 2 e Léo fez 3 x 2 para o Santos.

Considerando-se o Campeonato Brasileiro verdadeiramente realizado a partir de 1971, o Santos era, pela primeira vez, campeão brasileiro, premiando-se uma nova brilhante geração de “meninos da Vila”.

UMA COISA JOGADA COM MÚSICA – CAPÍTULO 60

por Eduardo Lamas Neiva

Após a execução de “Carnaval tri-campeão”, a turma no bar Além da Imaginação se dispersou um pouco, esticou as pernas, foi tirar água do joelho, pediu mais uns comes e bebes. Quando deram uma pequena pausa pra respirar, Idiota da Objetividade veio com a informação incômoda.

Idiota da Objetividade: – Só em 1934, na Itália, o Brasil foi pior do que em 66, ficando em 14º lugar. Porém, daquela vez só jogou uma partida e perdeu. O sistema era eliminatório. Na Inglaterra ficou em 11º.

Ceguinho Torcedor: – O time brasileiro não foi derrotado pela Hungria e por Portugal, mas pela burrice da comissão técnica. Em quatro meses de treinos a comissão teve tudo e não revelou um único e escasso momento de lucidez. Com menos dinheiro a Inglaterra fez o seu império.  Quando a gente se lembra do que a comissão técnica fez, chega-se a pensar em insânia. Mas aí é que está: a burrice é a pior forma de loucura.

Garçom: – Vi várias vezes lances daquele jogo contra Portugal, e o Pelé foi caçado em campo.

Ceguinho Torcedor: – Sim, valeu tudo contra o Brasil e, sobretudo, contra Pelé. O crioulo foi caçado contra a Bulgária. Não pôde jogar contra a Hungria e só voltou contra Portugal. Nova caçada. Sofreu um tiro de meta no joelho. Verdadeira tentativa de homicídio. O juiz inglês nem piou. Silva levou um bico nas costelas. Jairzinho foi outra vítima e assim Paraná. O árbitro a tudo assistia com lívido descaro. E nós? Que fizemos nós? Nada. No último jogo, o Brasil apanhou sem revidar.

Garçom: – Como pode isso?

João Sem Medo: – Um time apático, batido antes de entrar em campo. Não havia comando.

Ceguinho Torcedor: – Como se sabe, aquela Copa foi uma selva de pé na cara. E, no entanto, vejam vocês: — o brasileiro lá apareceu com um jogo leve, afetuoso, reverente, cerimonioso. E havia um abismo entre os dois comportamentos: nós, fazendo um futebol diáfano, incorpóreo, de sílfides; os europeus, como centauros truculentos, escouceando em todas as direções. E no fim, a Inglaterra, a dona da casa, ganhou no apito o caneco de ouro.

Músico: – Soube pelo Nelson Motta que após a derrota para Portugal os torcedores brasileiros na Inglaterra improvisaram uma batucada lenta e cantaram, sofridos, o samba “tristeza, por favor vá embora, minha alma que chora”.

Jair Rodrigues aproveita o passe, levanta-se e continua a cantar a música “Tristeza”, de Haroldo Lobo e Niltinho Tristeza, logo seguida por todas as vozes do Além da Imaginação.

Todos aplaudem muito, repletos de alegria, inclusive Zé Ary.

Garçom: – Por Deus, gente! Que maravilha. Aquela tristeza foi mesmo embora e viria toda a imensa alegria do Tri em 70!

Ceguinho Torcedor: – Uma imensa alegria!

Sobrenatural de Almeida: – João, você ficou feliz com a conquista do tri, em 70?

João Sem Medo: – Claro que sim. Fiquei emocionado.

Sobrenatural de Almeida: – Mesmo sem você comandando o time que começou a montar?

João Sem Medo: – Almeida e amigos, aquela vitória extraordinária do Brasil no México foi a vitória do futebol. Do futebol que o Brasil joga, sem copiar ninguém, fazendo da arte de seus jogadores a sua força maior e impondo ao mundo o seu padrão. Não precisou seguir esquemas dos outros, pois tem sua personalidade, a sua filosofia, e jamais deveria sair dela.

Ceguinho Tricolor: – Tudo começou com o João. Quando o chamaram, berrei: “É o técnico ideal”!

João Sem Medo: – Obrigado, meu amigo. O Antônio do Passo foi à minha casa e disse que a cúpula da CBD gostaria que eu fosse o novo técnico da seleção. Perguntei a ele se era uma sondagem ou um convite. Ele confirmou que era um convite. Então respondi: “Eu topo!”.

Ceguinho Tricolor: – João, tenho-lhe um afeto de irmão. Quebrei minhas lanças para que a CBD o escolhesse. Havelange e Antônio do Passo tiveram um momento de lucidez ou mesmo de gênio, um momento digno de um Disraeli, e o chamaram. Sabe, um amigo meu, bem-pensante insuportável, veio me perguntar na época: — “Você acha que o João tem as qualidades necessárias?” Respondi: — “Não sei se tem as qualidades. Mas afirmo que tem os defeitos necessários”. E, realmente, o querido João possui defeitos luminosíssimos. E eu acreditava que com os defeitos de João Sem Medo o Brasil ganharia a Copa.

Garçom: – E ganhou com a ajuda dele, afinal nos classificamos nas eliminatórias só com vitórias. O “seu” João resgatou a autoestima do torcedor brasileiro.

Idiota da Objetividade: – A seleção estava sem credibilidade. Os jogos do Brasil não enchiam mais os estádios depois do fracasso em 66.

Garçom: – Lembro que ouvi pelo rádio a primeira entrevista do “seu” João como técnico da seleção. Ele deu logo a lista de titulares e reservas.

Ceguinho Torcedor: – Eram as feras do João.

Garçom: – Ah, isso dá música. Vamos chamar ao palco a dupla Pedro Bento e Zé da Estrada. Podem vir, por favor.

A dupla vai ao palco aplaudida.

Pedro Bento: – Obrigado. Em homenagem àquela brilhante seleção, especialmente o João Sem Medo que aqui está nos enriquecendo com seus conhecimentos e causos junto com Ceguinho Torcedor e demais componentes da mesa, vamos cantar “As feras do Saldanha”, de Joel Antunes Leme, também conhecido como Pedro Bento, ou seja, eu mesmo (todos riem), e J. G. Barbosa, o Zé da Estrada. Vamos lá, Zé da Estrada!

Pedro Bento e Zé da Estrada são aplaudidos. Agradecem e deixam o palco.

Músico: – Zé Ary e amigos, há ainda outra música, de Jayme Bochner, também chamada “As feras do Saldanha”, que foi gravada em 1969 pelo comediante Paulo Silvino.

Boa parte do povo no bar faz cara de espanto.

Músico: É, ele mesmo cantando.

Garçom: – Pois é, falamos já sobre isso antes, mas ainda não conseguimos a gravação, nem trazer o Silvino aqui pra cantar pra gente. (https://www.museudapelada.com/resenha/uma-coisa-jogada-com-musica-capitulo-20/)

Quer acompanhar a série “Uma coisa jogada com música” desde o início? O link de cada episódio já publicado você encontra aqui (é só clicar).

Saiba mais sobre o projeto Jogada de Música clicando aqui.

“Contos da Bola”, um time tão bom no papel, como no ebook. 

Tire o seu livro da Cartola aqui, adquira aqui na Amazon ou em qualquer das melhores lojas online do Brasil e do mundo.

Um gol desse não se perde!

TORCER CONTRA OU A FAVOR?

por Idel Halfen

Nas situações em que um time rival enfrenta um adversário de outra cidade, estado ou país, uma dúvida pode pairar sobre a cabeça do torcedor: para quem torcer? Ok, para muitos essa dúvida não existe, sendo certo que torcerá para o adversário do rival local. A maioria, acredito!

Sadismo, receio de ser zoado pelos torcedores rivais ou mesmo antipatia estão entre as razões que levam à tal decisão. Legítimas? Sem dúvida. Coerentes? Talvez.

Sim, a coerência mencionada guarda relação com uma factível racionalidade, a qual serve para amplificar os argumentos advindos da “implicância” com torcedores rivais e/ou da busca de uma suposta superioridade que, provavelmente, só se consegue sentir através do time que torce.

Essa racionalidade tem como base as receitas que são auferidas através das premiações pelas conquistas de títulos, os quais servem como impulso para compra de produtos licenciados, adesão a planos de associação e assinatura de pay-per-view. Tais cifras já deixam os resultados financeiros bem interessantes, o que permite equacionar eventuais dívidas e reforçar o time.

Deduzindo que as conquistas também têm a capacidade de formar torcedores, seja através da conversão dos simpatizantes, seja através das crianças em idade de decidir pelo time que irá torcer, a equação fica ainda mais estimulante.

Aliás, no cenário ainda pouco maduro do marketing no esporte, a quantidade de torcedores pode ainda servir como justificativa para que alguma empresa decida patrocinar o time com “tantos torcedores”, esperando, talvez, que essa “massa” fique simpática ou venha a consumir sua marca, mas isso é discussão para outro artigo.

Ok, diante de tantos argumentos parece não haver dúvida de que o melhor a se fazer é sempre torcer contra o rival. Só que não é bem assim, por uma simples razão: a falta de rivalidade, ou melhor, de competidores fortes, tem a capacidade de fazer com que a atividade fique desinteressante e afaste não apenas os torcedores dos clubes com menos chances, mas também os dos vencedores. Tentando ser bem sucinto, o que quero dizer é que ganhar é ótimo, mas para que as competições se mantenham sustentáveis é preciso que a competitividade, que muito tem a ver com a imprevisibilidade, seja preservada.

Na teoria, essa é a descrição do processo que explica as nuances envolvidas nas decisões sobre para quem torcer – aliás, como se isso fosse influenciar no resultado.

Na prática, não existe a menor pretensão de o torcedor levar em consideração qualquer tipo de racionalidade, até porque, os próprios gestores carecem de informações que poderiam ajudar na formatação de um planejamento estratégico bem estruturado, o qual permitiria definir objetivos e metas de forma mais assertiva.

Há perguntas que, por mais que frequentem algumas rodas de discussão, estão longe de serem respondidas, entra as quais, destaco: Qual a quantidade de times competitivos que o campeonato brasileiro comporta? Quais os fatores determinantes para se propiciar competitividade? Dinheiro, torcida, tradição? Além de outras ligadas a indicadores econômico-financeiros…quem sabe um dia isso não é considerado…

O OTIMISMO DO AMÉRICA

por Elso Venâncio

Romário treina finalizações

O América, embalado pela presença de Romário, vai entrar na Série A2 seguramente otimista em relação a voltar à divisão de elite do futebol carioca.

A competição, que começará no dia 18 de maio, contará com doze clubes (América, Americano, Araruama, Artsul, Audax-Rio, Cabofriense, Duque de Caxias, Maricá, Olaria, Petrópolis, Resende e Serrano). Apenas o campeão sobe em 2025.

Romário, aos 58 anos, estará em campo em alguns jogos. Isso motiva até quem não é torcedor do América, que fará questão de ir aos estádios para poder ver ou rever o ‘Baixinho’. No seu primeiro treino, o atacante exercitou, com extrema alegria, uma rotina que viveu por décadas quando profissional: finalizações.

A meu ver, Zico foi o maior batedor de faltas; e Romário, o grande artilheiro jamais visto no país. Tudo isso porque treinavam. Hoje, gols de falta rarearam, devido à preguiça dos atletas. Sem repetições, fica difícil obter sucesso no jogo. Havia, ainda, o coletivo de sexta-feira, uma espécie de ‘ensaio’ para a partida. Noventa minutos de bola rolando, titulares contra os juniores, com essa garotada sendo observada. Os técnicos testavam as possíveis alterações, imaginando a partida.

Os professores de hoje preferem treinos táticos, com campo reduzido. Presenciei coletivos começarem tendo os titulares um jogador a menos, ou seja, dez em campo. Romário ficava atrás de um dos gols treinando com o preparador físico, com o apoio da baliza móvel. Cabeceava, matava no peito e chutava. Perna direita, perna esquerda. Gingava o corpo de um lado para o outro e batia na bola. O goleador não cobrava pênaltis – aliás, só passou a bater após sentir o frio na barriga e pedir para cobrar na decisão da Copa de 1994, durante a conquista do tetracampeonato mundial da seleção brasileira, nos Estados Unidos, diante da Itália.

Com o dólar empatado com o real, o Flamengo conseguiu tirar, no ano seguinte, ‘O Maior Jogador do Mundo’ do Barcelona, em janeiro de 1995. Um Fla-Flu que terminou sem gols foi o seu primeiro jogo oficial pelo clube da Gávea, com direito a mais de 100 mil pagantes no Maracanã. O zagueiro Lima se destacou nessa partida justamente por anular Romário. Seu primeiro gol, após ser repatriado, surgiu contra o Americano, no Estádio Godofredo Cruz, em Campos dos Goytacazes… de pênalti… A partir de então, o ‘Baixinho’ passou a ser o cobrador da equipe.

Romário já vestiu a camisa do América uma vez. Foi em 2009, quando despediu-se do futebol na vitória sobre o Artsul por 2 a 0, atendendo um pedido do pai, ‘Seu’ Edevair, que havia falecido no ano anterior.

Hoje ‘Senador da República’ e relator da CPI das Apostas Esportivas, Romário virou recentemente Presidente e jogador do América, dando novamente mais peso ao clube para, como anseia sua torcida, retornar ao lugar de destaque que sempre ocupou no futebol brasileiro.