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zé roberto padilha

Saudades de um fla x flu

por Zé Roberto Padilha

Jogar futebol e não jogar um Fla x Flu, no Maracanã, é como ser um dançarino que nunca pisou no palco do Teatro Municipal. Vai ser feliz na sua profissão, disputar até a final da Libertadores, mas sem um Fla x Flu…

Vai precisar ler Nelson Rodrigues para entender melhor o que esse clássico representa. Nosso maior dramaturgo nunca entrou em campo, mas foi quem mais captou, como tricolor, a essência dessa obra de arte, ao vivo, que quarta-feira vai ter mais um recital.

Tenho muito carinho por essa foto, Taça Guanabara 74, onde o Fluminense foi vice-campeão. Nela, estão estampados, ao meu lado, três dos seus maiores personagens, Doval, Geraldo e Cleber, que precocemente nos deixaram, e que engrandeceram cada Fla x Flu com sua arte.

Espero que torcedores não briguem, não se hostilizem, como no domingo. Porque clássicos como esse é preciso subir a rampa de joelhos, erguer os braços para os céus e agradecer a Deus por ser ainda disputado aqui.

Porque se descobrirem, alcançarem o seu fascínio, vão levá-lo não para Brasília, mas para Londres, Paris ou Madrid. Aí sim, o último a sair apague os refletores porque o futebol brasileiro, no dia em que perder o Fla x Flu, definitivamente terá chegado ao fim.

EU ESTAVA LÁ

por Zé Roberto Padilha

Um dia iria acontecer. Era apenas a terceira rodada da Taça Guanabara, no estadual de 76, e mesmo sendo um clássico, a partida entre Flamengo x Vasco nem tinha ares de decisão. Mas ao sair da praia, milhares de cariocas combinaram o mesmo programa. Vamos ao Maracanã?

Durante o aquecimento, já sentimos que o teto balançava mais do que o normal. E veio a notícia que a partida atrasaria 20 minutos em razão da polícia retirar torcedores do alto do anel superior. Não cabia mais ninguém e foram tentar assistir lá do céu.

Quando entramos em campo, deparamos com uma cena digna de um show do Queen no Rock in Rio. É quando o artista se depara com todos os sonhos que buscou. Quando sua arte é reconhecida e ela alcança seu momento mais sublime.

174.770 será um público que jamais será alcançado em partidas de futebol. Os estádios se encolheram e as assinaturas do Canal Premiére cresceram.

E um camisa 10 como o nosso, que a súmula informava ser Arthur Antunes Coimbra, que realizou uma assistência e marcou dois gols na vitória do Flamengo por 3×1, tão cedo irá aparecer.

Outro dia conversando com o Dé, que marcou o gol do Vasco, perguntei se de madrugada ele era despertado por aquele barulho infernal e triunfal. Ele confirmou que sim. Cenas e ruídos que, pelo visto, jamais nos deixarão.

Mas já agendamos um psicólogo. Antes que o Vasco empate a partida.

*Vasco X Flamengo foram à final da Taça GB naquele ano. Público de 123 mil pagantes.

O BOM FILHO… VOCÊ SABE!

por Zé Roberto Padilha

O Fluminense tem sido um grande laboratório de craques. Rodolfo, Diego Souza, Thiago Silva, Carlos Alberto, Roger, Jean, Andre..

Eles chegam em Xerém por volta dos 13 anos, superam peneiras, jogam todas as divisões de base e são revelados na Copa São Paulo de Juniores.

Depois, ganham o mundo. Poucos chegam ao Real Madrid ou ao Barcelona.

Marcelo é uma dessas joias raras que deixou o tricolor para ocupar a lateral esquerda do clube espanhol. Desde sua chegada, os cruzamentos sobre área foram substituídos pelas assistências. Os chutes para a frente deram lugar ao sair tocando a bola, e o seu domínio revelou momentos de absoluta cumplicidade.

Fora seu inesgotável arsenal de dribles que desmontam retrancas adversárias.

Pep Guardiola, quando lançou seu Tic Tac, chegou a sonhar com ele para se juntar a Daniel Alves, Iniesta, Xavi, Rakitic e Messi, para alcançar um Dream Team.

Hoje, aos 34 anos, Marcelo retorna às Laranjeiras. No auge de uma idade em que a maturidade encontra atalhos para correr menos e produzir mais, ele será a cereja do bolo que o Fluminense servirá ao mundo do futebol.

Se ano passado o clube fez bonito, venceu o estadual e chegou em terceiro no Brasileirão, com Marcelo se credencia a disputar, em igualdade de condições, a Copa Libertadores da América.

SABIA QUE VOCÊ LEVA UM JEITINHO?

por Zé Roberto Padilha

Já havia escutado muitos comentários a respeito dos meus 17 anos dedicados ao futebol. Figura publica é pra isso mesmo, ser julgado a céu aberto. Quando o Fluminense ganhava, era polivalente. Quando perdia, era peladeiro.

Sempre vale o resultado. Ele conduz à glória e ao fracasso.

Mas naquele dia era um ex-atleta aposentado e secretário de esportes da Prefeitura de Três Rios. Dia do funcionalismo público, promovemos no Sesi um torneio interno entre todas as secretarias. Na final, entre a Setures, onde trabalhava, e a Guarda Municipal, um dos nossos deixou o campo lesionado.

O Professor André olhou pra mim e pediu: entra lá e segura o resultado. Nem estava de uniforme, tinha parado quatro cirurgias no joelho e duas fraturas nos tornozelos depois. Como entrar?

Estava 2×1 pra gente, não tinha mais ninguém para entrar e achei melhor mudar a roupa e tentar ajudar. Como era intervalo, o Iodex, a última unidade, prazo de validade vencido, o único com salicitado de metila, foi introduzido nas articulações.

Joguei, ou será que roubei, 20 minutos de “miguezinho” no meio campo. Apesar da minha colaboração, deu empate e perdemos nos pênaltis. Ao sair, um senhor se aproximou de mim.

E disse:

– Andei observando o senhor jogando, sabe que você leva um jeitinho pra coisa! Deveria ter tentado ser um jogador de futebol.

Na hora, pensei ser uma brincadeira. Mas falava sério, não me viu ou soube que tinha sido um. E sai do Sesi feliz pelo seu carinho. Nunca é tarde para um elogio mesmo dando um “miguezinho” no meio para segurar o resultado.

Desde então, tenho cruzado com ele pela cidade e sempre faz questão de dizer: “Ô meu jogador “. Nunca contei pra ele porque perderia um comentário inédito na minha carreira.

“Sabe que você leva um jeitinho pra coisa?”. Como dormir, então com 60 anos, sem um incentivo desses?

DECISÃO EQUIVOCADA

por Zé Roberto Padilha

Tem que ser muito incompetente para demitir um treinador que, das três competições que foi chamado a disputar, venceu duas. E classificou o Flamengo para a final do Mundial de Clubes.

Não demitem o treinador quando perdem? E quando vão demitir os dirigentes responsáveis por sua saída?

Vitor Pereira não tem culpa de nada. Não conhecia o elenco, a ponto de tirar o Arrascaeta e o Éverton Ribeiro quando mais o time precisava de criação.

E Pulgar foi a piada final que simboliza toda a tragédia vivida pela nação rubro-negra. Uma covardia com a sua história.

Alguém tem que pagar essa conta, e ele é o diretor de futebol. E o presidente. Dois incompetentes. E irresponsáveis.