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Ricardo Dias

SOLUÇÕES

por Ricardo Dias


Um dos maiores problemas do nosso futebol é a relação juiz/jogador. Muitos reclamam que os atletas não respeitam a arbitragem, que criam confusão à toa. De fato, fazem isso, mas curiosamente não faziam com Arnaldo Cesar Coelho, Romualdo Arpi Filho, nem mesmo com o folclórico Armando Marques. Eles se impunham, pura e simplesmente. Hoje vemos juízes que, com raras exceções, são coniventes com o antijogo. E não adianta sonhar que eles melhorem, a média é ruim, então acho que algumas alterações no regulamento cairiam bem. Atitudes automáticas, para evitar que a pusilanimidade influencie.

Cada substituição vai gerar 30 segundos de acréscimo. Se o atleta fizer cera para sair, 1 minuto. Se, após admoestado, continuar com a atitude, amarelo. Se insistir, vermelho. Sim, isso vai ser uma confusão. Mas vai durar uma ou duas rodadas, apenas. Quando virem que é sério, os atletas param. Eles não são burros. 

Jogador que simular contusão e for pego, amarelo. Isso já existe, mas muitas vezes os juízes não veem. O VAR pode avisar quando for claro, especialmente jogadores que aparentam estar morrendo e de repente saem correndo. 

Gandulas que se comportarem mal, atrasando o jogo, bola sumindo, gandula sumindo, perda automática de mando de campo no próximo jogo do time. 

Microfones com o juiz e o bandeira. Tudo será gravado. Se algum jogador ofender algum deles, ficará registrado e a punição será automática. Muitos juízes não protegem seus bandeiras. 

Acréscimo por cera: se o time que foi prejudicado virar o jogo e estiver ganhando, esse acréscimo não acontecerá, para não beneficiar o infrator. 

Cada gol marcado, 1 minuto a mais de acréscimo (a não ser em jogos claramente decididos. Goleadas, etc).

Faltas e pênaltis: nenhum jogador do time punido pode tocar na bola após a penalidade ser assinalada. Se o fizer, amarelo. 

Barreira: o juiz faz a risca. Quem a ultrapassar, amarelo automático.

Ajuntamento após marcação de penalidade. O VAR vai cronometrar a demora e compensar, resguardada a cláusula de beneficiar o infrator.

Carrinho: por trás, pegando ou não na bola, amarelo ou vermelho, dependendo da intensidade. De frente, sola exposta, idem.

Além disso, VAR ao vivo. As comunicações devem ser transmitidas, para evitar mal entendidos. E ele deve ter mais atribuições, em situações que não gerem atrasos.

Tudo isso, como disse, num primeiro momento vai gerar muita confusão (como a regra de não poder atrasar a bola para o goleiro gerou), mas logo se estabiliza. O que não podemos é ver juízes ignorando absurdos ou jogadores impedindo o trabalho deles. Como, infelizmente, no nosso país as coisas só funcionam com sanções (ou alguém teria colocado cinto de segurança se não houvesse a multa?), precisamos disso para preservar nosso futebol; pactos não funcionam, somos todos “espertos” demais para isso. 

Os caneleiros estão dominando tudo – no jogo e na arbitragem.

SAF E SAFADEZA

por Ricardo Dias


O mundo da bola anda alvoroçado. Surge no horizonte a salvação, a estrela-guia, a solução: as SAFs, Sociedades Anônimas do Futebol. Ronaldo chega ao Cruzeiro com ares de salvador, ovacionado pela torcida – até a hora em que Fabio, o grande ídolo, foi bicado. E nesse caso, independentemente das versões divulgadas, reside o grande problema da novidade – e é disso que vou falar.

Todo presidente de clube se elege prometendo títulos. Todo presidente de empresa é contratado prometendo lucro.

Clubes se mantém em situações onde empresas seriam fechadas. O amor da torcida o sustenta, impede seu fechamento (em parte… Temos exemplos de clubes que desapareceram ou que se arrastam tristemente). Mas no capitalismo o que conta é o lucro. O Deus dinheiro exige sangue, suor e lágrimas. E estarmos no Brasil é o diferencial que me preocupa.

Somos um país de terceiro mundo, e cada vez mais. Estamos num processo de desindustrialização, somos exportadores de commodities. Anos atrás exportávamos produtos, agora mandamos matéria prima para que outros os façam. E no futebol é EXATAMENTE a mesma coisa. Antes atletas passavam no Brasil toda a carreira, depois saíam já consagrados, mais à frente no começo da jornada, agora antes de amadurecerem. Garotos com 15, 16 anos, já são exportados. Se vingarem, ótimo; se não, são descartados e pronto. Os ídolos, sustentáculos da paixão, rareiam. No próximo parágrafo junto os pontos.

Quando um bilionário compra um clube, ele quer ou lavar dinheiro ou adquirir prestígio. Quando se cansar do brinquedo, revende e pronto. Quando um capitalista, um fundo de investimentos, assume um clube, quer lucro – PRECISA ter lucro, a lei da grana é soberana. Na Europa, onde o futebol é rentável, ele sabe que terá retorno, lento e seguro. Aqui, a única fonte rápida de lucro é com a venda de jogadores. Coisa, aliás, que já se faz há anos. Então não sei se as coisas vão de fato mudar. A diferença talvez seja que o lucro, ao invés de ir para o bolso de empresários ou atravessadores, ou desaparecer nos desvãos das conversas fora dos escritórios, irá para os investidores.

Então, amigos, honestamente não sei se isso será bom ou ruim para nosso futebol. Não vejo o futuro, embora o passado não me anime. Sempre achei que uma fiscalização mais séria sobre os clubes, federações e seus negócios poderia resolver nossos problemas. Nos oficializar como uma colônia de exploração me soa como se tivéssemos de novo Emils, Castores e Unimeds – mas sem paixão.

ROBERTO, DINAMITA ESSA PORCARIA

por Ricardo Dias


Esse pequeno inconveniente na vida do Roberto Dinamite – sim, pequeno, ele é grande demais para ser atingido por algo assim – me lembra o quanto o odiei. Ele e Zico, os maiores da história de seus clubes, eram os protagonistas quando comecei a me interessar por futebol. Por sorte, foi na época do melhor time de todos os tempos do meu Flu, então meu ódio não escorria em inveja.

Roberto sempre foi um craque singular. Não parecia ser craque, tinha pinta de ser apenas um finalizador, mas fez um dos gols mais elegantes e bonitos da história, contra o Botafogo, vitimando o grande zagueiro Osmar. Não chutava com requintes ou firulas, era simplesmente mortal. Uma eficiência cruel, explosiva – e daí o Dinamite que ostenta até hoje.

Quando Zagallo voltou da Copa de 74, tendo sido derrotado pela Holanda, resolveu imitar seu algoz. Até jogar contra o Vasco. Manchete do saudoso Jornal dos Sports:

– Roberto dinamita o carrossel de Zagallo!

No final da carreira recuou, se mostrando um meia talentosíssimo. Era um monstro.

Então nunca comemorei efusivamente gols do Bob Dinamite, como apareceu no gerador de caracteres da TV americana num torneio que a seleção disputou por lá. Mesmo esses gols de amarelinha eram toldados por um certo despeito de minha parte…

Mas a gente cresce e para com a bobagem, e passa a admirar a arte em estado puro que essas criaturas produziam. Zico, Edu, Braulio, Luizinho Tombo, Nilson Dias, Dé, Junior, essa galera toda me fez sofrer, e eu os odiei com todas as forças que um torcedor pode ter. Hoje choro a ausência deles nos campos, pensando no que fariam, quanto valeriam, se jogassem hoje.

Roberto detonou os maiores goleiros de sua geração, ignorou os melhores zagueiros, não vai ser um tumorzinho de bosta que vai pará-lo.

Força, Dinamite! Até teus inimigos te amam!

SOTELDO E O BONSUCESSO

por Ricardo Dias


A torcida do Santos chorou lágrimas de sangue pela perda de Soteldo. Antes de qualquer coisa, quero deixar claro que não tenho nada contra o rapaz, muito pelo contrário. Mas choro as mesmas lágrimas de sangue não por ele, mas pelo futebol brasileiro.

Todo saudosista começa dizendo que não é saudosista. Bem, eu sou, e muito. Assistir a uma partida de futebol hoje, por aqui, é uma tortura. Como disse o colega de Museu PC Caju – chique, ser colega do PC –, antigamente lateral treinava cruzamento. Hoje treina bater lateral, com a mão. O incensado time do Flamengo, que sobra na turma, não seria tão espetacular meros 10 anos atrás, é que não tem rival. Empobrecemos demais. Quem viu no mesmo time o citado PC, mais Rivelino, Carlos Alberto, Edinho, Dirceu, Gil, não se impressiona com nenhum time europeu.

– Ah, mas antigamente era mais fácil, ninguém corria!

Não? Pena que há poucos vídeos do meu outro colega de Museu (meu Deus, cada dia eu sou mais chique), o Zé Roberto Padilha, que tinha um preparo físico absurdo – e que sabia MUITO BEM o que fazer com a bola. Já disse antes, a única posição que hoje é superior, é a de goleiro. Os métodos de treinamento mudaram muito. 

Mas voltemos ao bom Soteldo. Nos anos 70 (quando comecei a gostar de futebol), eu assistia a todos os jogos que podia. Morava perto do Maracanã, ia a pé, e todo começo de ano ficávamos esperando as novidades dos times pequenos. Os que se destacassem seriam comprados, fatalmente, pelos clubes grandes no ano seguinte. Hoje nós somos o Olaria do mundo. Mas os times pequenos do Rio tinham uma característica: todo ano aparecia um ou dois pontinhas, jogadores rápidos, dribladores e baixinhos. QUALQUER UM deles muito melhores que o saudoso Soteldo. 

A falta de dinheiro não é a única culpada pelos nossos problemas. A decadência dos clubes pequenos vai acabar matando o pouco que sobra de nosso futebol. Se antes revelavam craques, hoje vivem de contratar veteranos em fim de carreira – igualzinho ao Brasil. Sem pensar nem pesquisar muito, Romário veio do Olaria; Ronaldo Fenômeno, do São Cristóvão. Isso no Rio; no resto do país, o quadro era exatamente o mesmo. Hoje o jogador pertence a um empresário, que quer colocar a mercadoria na vitrine correndo – e ELE lucrar. O clube que se dane. 

Quando vejo passar uma criança com a camisa do Barcelona, lembro que o ídolo de Maradona era Rivelino; quando Seedorf veio ao Brasil jogar uma pelada, ligou para o pai, emocionado, para contar que ia jogar ao lado de Zico. O Bayern Munique, campeão europeu, ficou querendo descobrir de onde havia saído Cafuringa, que destruiu sua defesa no Maracanã num amistoso em 75. 

Então, o maior símbolo de nosso fundodopocismo é o querido Soteldo. Um jogador que seria reserva do Bonsucesso nos anos 70 hoje entristece a torcida que viu jogar o Rei, o maior de todos os tempos. 

A hora é de organizar tudo. Enquanto os empresários mandarem, enquanto cobrarem vitórias nas divisões de base, enquanto não revitalizarem os campos de várzea, enquanto não profissionalizarem de verdade a arbitragem, nada disso vai mudar.

O FUTURO É O VAR

:::::::: por Ricardo Dias ::::::::


Meu querido Arnaldo Cesar Coelho que me perdoe, mas o futuro é o VAR. Um VAR melhor, evidentemente, mais rápido e sem camisa de time nenhum, com profissionais especializados, treinados para isso. Afinal, se o cara é ruim no campo, o será em qualquer lugar. E vejo a tragédia que é sua falta no Campeonato Carioca. Não assisto a muitos jogos, me detenho mais no meu Fluminense, mas a quantidade de erros básicos é assustadora. E nem chamo de roubo, não, é incompetência mesmo. 

Antes de chegar à minha tese, gostaria de uma reflexão sobre juízes e técnicos. O sujeito rala, e muito para chegar a uma Série A. Chega no campo, como juiz, e fica olhando para ontem, perdendo jogadas óbvias. Se técnico, faz um gol e recua o time. Os erros são muito maiores, mas simbolizo nessas duas características. Um dia volto ao tema. 

Voltando às minhas ponderações sobre o VAR, vemos que algumas de suas limitações estatutárias não fazem sentido. Por exemplo: o VAR pode chamar o juiz no caso de achar que um atleta mereça ser expulso, mas não para um cartão amarelo. Porém, se o jogador faz algo que mereça um SEGUNDO amarelo, e consequentemente, a expulsão, o VAR nada pode fazer… 

Algumas pessoas, cujo raciocínio não alcanço, dizem gostar dos erros de arbitragem, pois dariam “sabor” ao jogo. Imagino que torçam para algum hipotético time que, ano após ano, receba ajuda da arbitragem. De minha parte, quero que o resultado seja sempre cristalino. 

Outro uso para o VAR é ouvir o que é dito no campo. Alguns juízes, portadores de enormes tuberosidades isquiáticas (também conhecidos como “bundões”) aceitam tudo que lhes é dito, e não fazem nada para proteger os auxiliares, os “bandeirinhas”. Simples: o VAR, ouvindo ofensas, aplica o cartão devido, no mínimo o amarelo. 

-Mas Ricardo, isso tira a autoridade do juiz de campo!

-QUE autoridade? Se o cara não toma nenhuma atitude, alguém tem que tomar. E vale para qualquer erro flagrante do juiz, em que não caiba interpretação. 

Também poderia caber ao VAR corrigir marcações erradas, como corneres ao invés de tiro de meta e vice-versa, ou laterais invertidos. Não demanda tempo, viu, marcou, acabou o assunto. Outra coisa que facilitaria a arbitragem seria acabar de vez com o carrinho. O jogador pode até deslizar para pegar a bola, mas se em qualquer momento atingir o adversário, falta. Sola, idem, é falta e sem interpretação. Isso tudo protege o craque (supondo que ainda tenhamos algum jogando por aqui), e deixa o jogo mais limpo. Cera, também, caberia a um cronometrador na cabine, incluindo os sempre ignorados 6 segundos que o goleiro tem para repor a bola. Também poderiam manter os 5 minutos de parada técnica em todos os jogos. É sempre importante dar chances ao técnico de fazer bobagem!

Profissionais poderão ponderar, porém, pontuando a pouca possibilidade de percepção de problemas presencialmente, que pode a peleja passar a pobre em pelintragens. Alguns acham que malandragem é bom. Já foi, é de uma outra época, quando piadas com pretos e gays não eram problema, quando o machismo imperava – ok, ainda impera – e os dinossauros dominavam a Terra. Precisamos de um esporte limpo, bonito, que valorize a arte e proteja o craque. E os erros vão continuar acontecendo, para os doidos que gostam deles;   nada é perfeito. 

Alguém aí tem o zap do International Board para eu enviar essa crônica para eles? E estão todos convidados para a solenidade em que eu serei reconhecido como o salvador do futebol. Vou só precisar de um fraque emprestado.