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HERDEIROS

por Claudio Lovato


Airton e Ênio Rodrigues, nos anos 50 e 60, parceria longa e vitoriosa, fundamental para que uma coleção de taças tivesse como destino o Olímpico.

Ancheta e Oberdan, juntos naquele inesquecível 1977 em que o Tricolor, sob o comando de Telê Santana, abria caminhos para conquistas além-fronteiras.

Baidek e De León, a dupla que ajudou o Grêmio a conquistar a América e o Mundo, em 1983.

Rivarola e Adilson, nos anos 90, os beques sem medo de nada naquele Grêmio que ganhou tudo.

As grandes duplas de zaga são uma parte especialmente marcante da História do Grêmio. Sempre tivemos muito orgulho dos nossos guerreiros da defesa e das duplas que eles formaram.


Em sua maioria, não por acaso, capitães. Líderes. Ídolos. Lendas.     

E então chegou a hora e a vez de Pedro Geromel e Walter Kannemann. E todos nós, gremistas, agradecemos aos deuses do futebol por esse presente.

Geromel e Kannemann, o centurião paulistano, magro como espeto, vindo da Alemanha, e o viking argentino nascido em Concepción del Uruguay que estava no México no aguardo de um chamado do destino emitido de Porto Alegre.

Pedro Geromel é um só? Parece que não, a julgar pelo fato de que está em vários lugares do campo o tempo todo, sempre no lugar certo. É invariavelmente dele o pé salvador. E, volta e meia, vai pra cima, brincar (a sério) de ponta-direita. Zagueiro craque. Bola no pé.

Walter Kanemman tem noção do que seja o perigo? Parece que não, porque jamais coloca menos que 100% de vontade em qualquer disputa de bola, por baixo ou por cima, em partidas eliminatórias ou (sic) jogos amistosos. Futebol simples, essencial, sem temores, às vezes quase suicida. Bola no pé; sim, senhor, ele sabe tratá-la muito bem – à sua maneira.   


São donos da área, têm completa sintonia entre si, exercem e compartilham liderança, são referência para os companheiros e paradigma para a torcida.

Pedro e Walter, o manto Tricolor lhes cai bem. E como vocês sabem honrá-lo!

Vocês estão dando continuidade a uma lendária linhagem de heróis.

Vocês, que se imbuíram do espírito do Grêmio, são dignos herdeiros de uma nobre estirpe.

E isso é para sempre.  

 

O APAGÃO DE RONALDO

por Zico


Vocês podem me cobrar isso daqui a 30 anos: eu não estava presente quando aconteceu o problema com Ronaldo. Assim que acabou o almoço, fiquei conversando com Gilmar e Evandro. Mais ou menos por volta de 14h30, Ronaldo teve uma convulsão e saíram gritando que ele estava morrendo.

Por volta das 16h, estava indo para o meu quarto, pra me trocar, porque às 17h tinha lanche e, depois, a preleção. Wendell me chamou:

– Acho que aconteceu alguma coisa com o Ronaldo. Melhor você ir lá em cima ver.

Quando cheguei no quarto do Ronaldo, estava o Joaquim da Mata em pé, Ronaldo sentado na cama e Roberto Carlos na outra cama.

– Dr. Joaquim, o que houve?

– Ah, ele teve uma convulsão. Dr. Lídio já sabe, ele esteve aqui, passe no quarto dele pra saber o que ele acha.

– Zagallo já sabe?

– Acho que não.

Perguntei ao Ronaldo se estava tudo bem. Ele parou, me olhou e se deitou.

Dr. Joaquim sugeriu que o deixássemos descansar pelo menos uma hora. Roberto Carlos estava com os olhos arregalados de susto. Fui ao quarto do Lídio:

– Você conhece Zagallo melhor do que eu. Vamos falar pra ele agora, quando está descansando.

– Não se preocupe, vou lá no quarto dele e falo. Sei como vou dizer.

Aí fui para o meu quarto, Às 17h, fui para o refeitório com o Ronaldo andando na minha frente. Ele parou na porta e tentou fazer uns exercícios. Falei:

– Ô, Ronaldo, o jogo é às 21h e você já se aquecendo às 17h.

– Olha, acho que aconteceu alguma coisa comigo. Estou todo doído, parece que levei alguma surra! – ele disse.

Calculei que ele não sabia o que tinha acontecido. Deu 17h30, os jogadores no lanche, apreensivos, Joaquim da Mata foi caminhar com o Ronaldo, Lídio reuniu a gente:

– Aconteceu isso e isso, Ronaldo não tem a menor condição de jogar, está fora.

Às 18h, veio a preleção. Joaquim da Mata tinha conversado com Ronaldo:

 – Olha, aconteceu isso com você, vai ter que pro hospital fazer exames! – ele foi numa boa.

Zagallo fez uma ótima preleção:

– Brasil foi campeão do mundo sem o Pelé, ele se machucou, não pôde jogar, mas o time superou. Seria bom se o Ronaldo estivesse aqui, mas Edmundo está escalado.

No ônibus, todo mundo preocupado, principalmente o Leonardo, que a cada dez minutos perguntava:

– Ele corre risco de vida? Esse problema tem alguma consequência?

Nós, da Comissão Técnica, não sabíamos que César Sampaio tinha ido ao quarto do Ronaldo, que tinha puxado a língua dele, que Edmundo saíra gritando “Ronaldo está morrendo”. Só soube disso pelas entrevistas dos jogadores. O grande erro foi esse. Eu, pessoalmente, acho que às 14h todo mundo deveria ter sido chamado, inclusive Ricardo Teixeira, e tudo esclarecido.

Às 20h, eu estava no campo, vendo o desfile e os jogadores trocando de roupa, quando me avisaram de uma reunião. Agora, 20h?

Lá estavam Ricardo Teixeira, Zagallo, Ronaldo de frente para o médico, de short, meia, com a camisa de aquecimento:

– Olha, estou bom, meus exames não deram nada, quero jogar.

O Lídio insistia:

– Você está bom mesmo? Não sente nada?

– Estou bom, estou legal!

Aí, Zagallo falou:

– Então, vai aquecer e jogar.

Assim foi decidido.


Quando Ronaldo levou aquela trombada em campo, e caiu, eu fiquei preocupado. E todos os jogadores que sabiam do que tinha acontecido também se assustaram, principalmente o Cafu.

Conclusão: O Ronaldo deveria ter ficado internado no hospital. Todo mundo foi testemunha do que aconteceu com ele, e todos os médicos declararam que quando você tem uma convulsão, grave do jeito que nos foi passado, você tem que ficar 24 horas em observação. Mas imagina o que aconteceria se o Zagallo tirasse um jogador do quilate de Ronaldo da decisão, e o Brasil perdesse de 3 x 0. Só a autoridade médica evitaria que as coisas chegassem ao ponto que chegou.

O Lídio teve lá suas razões para liberar.

 

Texto publicado originalmente no livro Paixão e Ficção: contos e causos de futebol.

DE SORDI FOI TITULAR DA LATERAL-DIREITA EM 58. RECONHEÇAM OU NÃO

por André Felipe de Lima


A entrevista foi realizada em 1959, há exatamente um pouco mais de um ano após o Brasil conquistar a Copa do Mundo de 1958, na Suécia. O repórter, mal intencionado, pergunta: “De Sordi, qual a sua maior emoção no futebol fora a conquista da Copa do Mundo de 1958?”. De Sordi responde: “Foi no jogo contra a França. após o hino nacional brasileiro. A orquestra executou a Marselhesa e o povo cantou, acompanhando-a. Quando findou, eu estava com os olhos cheios d’água”.

“Alguma decepção?”, destila o venenoso repórter. De Sordi desvia a conversa. A memória não lhe faz bem. Não pela conquista da Copa. Isso, sempre deixou claro ter sido sua maior alegria, mas os comentários injustos de parte da imprensa, não. Sua resposta às indagações de que era um covarde ou de que se recusara a entrar em campo na final era o silêncio.

Naquele dia da emocionante Marselhesa ecoando em todo o estádio, o Brasil derrotaria a França pelo placar de 5 a 2 e iria à final da Copa. Já De Sordi, lateral-direito titular absoluto, ficaria na reserva, cedendo a vaga para Djalma Santos, que apenas com o jogo contra os suecos sairia consagrado do mundial como o melhor lateral-direito da competição. Quanto ao De Sordi, restou a inexplicável perseguição de parte da imprensa com a estapafúrdia tese de que se acovardara após uma crise nervosa que, supostamente, teria sido diagnosticada pelo médico da delegação Hilton Gosling . Uma balela que durante décadas a imprensa acolheu como “verdade”. De Sordi sempre se sentiu incomodado com a acusação, mas preferiu uma — recorrendo ao estilo nelsonrodrigueano — eloquente indignação silenciosa.


Bellini, companheiro de De Sordi no escrete de 58, saiu — duas décadas após o título da Copa — em defesa do lateral: “De Sordi, machucado, chegou a ser deslocado para ponta, mas terminou a partida como lateral-direito porque a França também teve o zagueiro Jonquet machucado, que acabou na ponta-esquerda. Daí De Sordi ter voltado à lateral”.

Sacrificado pelo esquema de Feola contra os franceses, De Sordi agravou a contusão, logo não teve a menor chance de entrar em campo na final. Quando perguntavam se o laudo do médico Gosling era verdadeiro, sabiamente se calava.

O ídolo estava acima de qualquer dúvida sobre sua moral como jogador e craque, que foi com sobras. A ponto de cronistas esportivos, torcedores ilustres e ex-jogadores do São Paulo o escalarem como lateral-direito do “time dos sonhos” da história do Tricolor Paulista, após uma enquete realizada pela revista Placar em 1982.

Nilton De Sordi é um dos mais importantes jogadores da história do São Paulo FC. É o terceiro jogador que mais vezes vestiu a camisa tricolor, ficando atrás apenas dos goleiros Rogério Ceni e Waldir Peres.

Hoje, dia 14, o grande ídolo faria anos.

A MAGNÉTICA

por Serginho 5Bocas


Jorge Ben (ou Benjor) soube definir com precisão cirúrgica o apelido da torcida do Flamengo. O maior e mais carismático clube do Brasil tinha que ter uma torcida à altura, com vontade própria, com magnetismo, que fosse capaz de magnetizar os jogadores dentro do campo, empurrando-os para as vitórias, um décimo-segundo jogador.

A torcida do Flamengo sempre lançou moda e tendências no futebol brasileiro, ou algum flamenguista de carteirinha já se esqueceu quem foi a primeira torcida organizada deste país? Isso mesmo, a Charanga de Jayme de Carvalho, criada em 1942 e que animava os jogos com sua famosa bandinha.


Depois, em 1978, esta torcida maravilhosa criou uma versão de uma marcha ufanista do governo militar que caiu nas graças da galera e é repetida até hoje: “Conte comigo Mengão, acima de tudo rubro-negro, Oh meu Mengão, eu gosto de você…”.


E quando se ouviu pela primeira vez a torcida gritando o nome de cada jogador da escalação, do goleiro ao ponta-esquerda, com uma pequena alteração na ordem numérica, é que nesta homenagem o 10 sempre vinha depois do 11. Aquele era um momento solene, era a hora de enchermos os pulmões e gritarmos o quanto amávamos o nosso deus: “Zico, Zico, Zico…”.

Depois veio a década de 90 e trouxemos da Argentina, de um jogo contra o Boca Juniors, a batida de palma de mão espalmada, que na versão rubro-negra foi um espetáculo em preto e vermelho, principalmente na trajetória do “penta” comandado pelo maestro Junior, o famoso “chama o velho”.

E mais recentemente teve o grito de “poeira, poeira, levantou poeira…”, a música de Ivete Sangalo embalou os dribles de Felipe na condução de mais um carioca para a Gávea, e ainda sobrou espaço para homenagear Ayrton Senna com o “tema da vitória” adaptado para o universo rubro-negro.

Realmente esta torcida é um capítulo à parte na história deste clube e do futebol brasileiro, e eu teria um desgosto profundo se faltasse o Flamengo e a torcida do Flamengo no mundo.

 

 

A PRIORIDADE

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


(Foto: Nana Moraes)

No aeroporto, na fila para embarcar, a jovem avisa que passageiros com cartões Gold, Diamante, Star e outros vitaminados têm prioridade. Em seguida, as poltronas traseiras, depois as dianteiras.

De cara, parece organizado mas quando você entra no avião o corredor está sempre congestionado porque quem já acomodou-se ao fundo volta no contra fluxo para ir ao banheiro ou pedir uma água para a aeromoça ou pegar um livro esquecido no compartimento dianteiro, afinal sua poltrona estar marcada no início da aeronave não significa que a sua bagagem também estará.

Nem sempre há vagas. Do avião para o Metrô. O trem estaciona na estação e quando as portas abrem-se é um salve-se quem puder. Sobra cotovelo e falta educação. Do lado de dentro, uma jovem sentada em um assento destinado aos idosos nem se importa com uma senhora, em pé, com um bebê no colo.

Eu reclamo e digo que a prioridade é da senhorinha. Mas ela age como os jogadores de futebol: coloca os fones no ouvido e liga o dane-se. Paro na Igreja do Rosário. Preciso rezar, entender esse mundo tão estranho.

Na saída, sou abordado pelo coroinha, que pede uma selfie: “Meu pai te ama!”. Volta correndo para missa e só reforça a minha tese de que o mundo anda muito estranho!

Em casa, à noite, ligo a tevê e vejo um jogador do Vasco, rosto feliz, dizendo que a desclassificação da Taça Guanabara não foi ruim porque o foco, a prioridade, olha ela aí de novo, é a pré-Libertadores.

Isso é sério?


Na minha época eu queria ganhar tudo, até amistoso contra time de farmacêuticos. E o torcedor, como fica, não é mais prioridade???

Campeonato Carioca virou laboratório?

É sério que seremos obrigados a continuar vendo esse festival de horrores?

É sério que ninguém vai tomar uma atitude para o esvaziamento dos estádios?

É sério que o Flamengo contratou Ceifador e Júlio César e tirou a chance de garotos?


Sinceramente, apostaria mais na garotada. A diretoria do Flamengo precisa entender que no futebol nem sempre a prioridade é dos mais velhos. Mais ainda, precisa entender que o slogan certo não é “craque se faz em casa”, mas “craque se mantém em casa”.

E para finalizar o meu querido Botafogo também priorizou a Copa do Brasil ao Estadual…….. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!