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VIRADA DO SÉCULO

22 / outubro / 2024

por Elso Venâncio

O jogo decisivo da Copa Mercosul de 2000 é considerado por muitos o maior da história entre os grandes clubes brasileiros. Por sua importância e pelo grau de emoção despertada, aquela final recebeu o apelido de Virada do Século.

O Palmeiras “só” precisava do empate, jogando no Estádio Palestra Itália, e fez muito mais do que isso no primeiro tempo. Foram três gols da equipe paulista num intervalo de nove minutos: com Arce, aos 36; Magrão, aos 37; e Tuta, aos 45. Logo, os torcedores começaram a gritar “É campeão… É campeão”. 

Quatro dias antes, o vice-presidente de futebol do Vasco, Eurico Miranda, havia demitido o treinador Oswaldo de Oliveira. Tudo ocorreu depois de um empate por 2 a 2 com o Cruzeiro, num sábado, em São Januário. Eurico ficou intrigado ao ver um apressado Júnior Baiano apanhar no chão um bilhete de passagem aérea para Salvador, que tinha caído da mochila. Ao conferir a programação, o dirigente perguntou ao supervisor, Isaías Tinoco, por que motivo a apresentação seria na segunda-feira à tarde, se tinha decisão na quarta-feira.

— Passa para amanhã à tarde — ordenou Eurico.

Oswaldo de Oliveira ouviu e disse que a determinação da reapresentação na segunda-feira era dele.

— Tá demitido! — rebateu o dirigente, sem levantar a voz. 

Alguns jogadores até pediram para que Eurico reconsiderasse a sua posição, mas a resposta foi a mesma: “Tá demitido!”, desta vez em alto e bom som.

Minutos depois, Romário estava a caminho da Barra da Tijuca quando atendeu o celular. 

— Romário… (pausa).

— Fala, doutor!

— Liga para o Joel!

Na tarde do dia seguinte, domingo, Joel Santana já comandava o treino cruzmaltino.

Voltando à decisão em São Paulo… No intervalo, a comissão técnica e os jogadores do Vasco ficaram surpresos com a presença de Eurico Miranda no vestiário. Reza a lenda de que ele chamou Viola para uma conversa:

— Te contratei a peso de ouro. Você vai entrar e mudar o jogo.

Eis que Viola surge no lugar de Nasa para o segundo tempo. O atacante não fez gol, mas sua garra contagiou os companheiros.

De dominado, o Vasco passou a dominar. Aos 13 minutos, Romário descontou batendo pênalti. Logo em seguida, outra penalidade e novo gol do Baixinho. Um baque poderia ter ocorrido aos 32 minutos, quando Júnior Baiano foi expulso por jogo violento. Porém, a pressão continuou mesmo com 10 em campo, resultando no empate com Juninho Paulista, aos 40. E o que parecia impossível aconteceu aos 48. Foi Viola quem começou a jogada, antes do chute de Juninho Paulista sobrar para Romário. Coube ao Baixinho virar o jogo, concretizando a sua maior atuação com a camisa do Vasco, jamais igualada nos outros clubes em que passou.

Após a heroica vitória por 4 a 3, os telefones do estúdio da Rádio Globo AM-RJ não paravam de tocar. Eu ancorava a “Jornada Esportiva”, acionando Gérson, Luiz Mendes, repórteres e convidados. O botafoguense Agnaldo Timóteo gritou empolgado: “Que jogo é esse?! Histórico!”. Dona Marlene, esposa do lendário Antônio Soares Calçada, avisou que ele gostaria de entrar no ar. O presidente do Vasco chorou de emoção, a ponto de não conseguir falar. Quase no mesmo instante, alguém já avisava sobre um carnaval improvisado no bairro de São Cristóvão. Vários taxistas deixaram o ponto da Rua do Russel, na Glória, e se juntaram em uma carreata que não deixou a cidade dormir. 

Lembrando de momentos como esse, chega-se à conclusão de que os torcedores vascaínos merecem uma nova grande conquista. E não tenham dúvidas: farão outra comemoração inesquecível, sem hora nem dia para acabar.

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