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VALE TUDO PELO CONTEÚDO?

5 / outubro / 2022

por Idel Halfen

A busca por fazer das competições esportivas um gerador de conteúdo tem levado a alguns exageros definitivamente inaceitáveis.

Como forma de justificativa para atos que descaracterizam o esporte, abusam do termo “sports entertainment” – entretenimento esportivo -, sem nem procurarem entender o que isso efetivamente significa.
Para melhor explicar, vamos à origem do termo, que foi cunhado na década de 1980 pelo presidente da WWF (World Wrestling Federation) – agora WWE – com o intuito de descrever a modalidade sob o prisma de marketing e assim aumentar a atratividade junto aos potenciais patrocinadores.

Podemos ainda enquadrar nessa categoria os Harlem Globetrotters que, de forma divertida, demonstra a habilidade dos jogadores de basquetebol em um ambiente de descontração.

No próprio ambiente mais competitivo, vemos algumas modalidades mudando regras para deixar as disputas mais atrativas. Isso sem falar nas inúmeras ações destinadas à melhoria da experiência de assistir os eventos nas arenas.

Tudo isso é válido, pois, através da busca por mais fãs, se consegue maiores receitas.

Reparem, no entanto, que nenhuma das ações voltadas a deixar a competição com mais cara de entretenimento, abdica da parte mais importante do evento: o esporte.
Esse movimento do “esporte-entretenimento” lembra um pouco, guardadas as devidas proporções, a popularização da expressão marketing esportivo, na qual pessoas que gostam e vivem no esporte, acrescentam o termo marketing, pouco entendendo o que ele significa.

Assim como o esporte é a parte fundamental do sports entertainment, o marketing o é no marketing esportivo.
Não deve haver espaço em hipótese alguma para que competições esportivas sejam vilipendiadas em nome da criação de conteúdo.

O esporte é o negócio fim da atividade, fazê-lo se tornar um entretenimento é o diferencial. Analogamente, podemos citar os supermercados que, com o intuito de ficarem mais atrativos, colocam restaurantes em suas áreas de vendas, porém, o negócio fim continua sendo a comercialização dos itens e não os pratos oferecidos.
Para a defesa do esporte, as federações, confederações e ligas têm papel fundamental. Aqui abrimos um parêntesis para elogiar a Conmebol que, em um jogo da Libertadores, notificou o Facebook por ter colocado “influenciadores digitais” no gramado, sendo que um deles acabou comemorando um gol junto aos jogadores.
Imaginem se os repórteres de campo, em busca de um conteúdo melhor para seus veículos, comecem a ter uma interatividade maior durante o jogo?

A linha que separa a atratividade da seriedade das competições, de fato, é tênue, por isso, antes de se adotar medidas para a busca de conteúdo, é necessário avaliar de forma criteriosa as possíveis consequências tendo sempre em mente que tal busca, jamais, pode chegar às raias de distorcer o esporte.

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