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MARINHO SETENTÃO

7 / fevereiro / 2022

por Rubens Lemos


Nesta terça, dia 8, a maior glória esportiva do Rio Grande do Norte faria 70 anos. Da eternidade a fotografia de Marinho Chagas com a camisa do Cosmos de Nova York, o time mais badalado do mundo nos anos 1970, desde quando Pelé tirou as chuteiras detrás da porta para ensinar o Soccer aos norte-americanos e fazer sua merecida fortuna.

Marinho Chagas poucas vezes esteve tão pleno na junção espírito e estética. Sua risada é do moleque irreverente das Salgadeiras em Natal, indomável em pleno centro do planeta.

A imagem de Marinho Chagas no Cosmos é como uma resposta definitiva, sem direito a recurso, aos que ainda lhe torcem o nariz.

Marinho Chagas foi comprado ao Fluminense (RJ) e chegou chegando ao time-constelação. Convenceu Beckenbauer, a estrela principal, a lhe ceder a camisa 3 e a posição de meia-armador. Marinho Chagas encantou os States.

Foram 70 mil pessoas pagando ingresso para ver a magia subversiva do loiro irreverente e craque. Marinho Chagas estreou contra o Fort Lauderdale na vitória por 3×2 na primeira rodada da Liga dos EUA. Solto, passarinho voando pelos céus e chãos do meio-campo, levou incrédulos sardentos ao delírio. Marcou os três gols.

Marinho Chagas virava astro num time que, além do mitológico Beckenbauer da Alemanha, contava com o espetacular holandês Neeskens, o brasileiro Oscar, na defesa, o paraguaio Romerito, futuro campeão brasileiro pelo Fluminense e o italiano Chinaglia. A luz loira criava o refletor solar nas suas incursões missionárias ao ataque. A liberdade como filosofia de jogo e de vida.

Quando deixou o Fluminense (RJ) para seguir ao Cosmos, Marinho Chagas estava às turras com diretoria e torcida tricolores, inconformadas com seu desempenho bem abaixo do furor botafoguense que o fez melhor lateral-esquerdo do clube, com a Enciclopédia Nilton Santos deslocada para a quarta-zaga.

A ausência na Copa do Mundo da Argentina foi pior para o Brasil. Marinho Chagas, Paulo Cézar Caju e Paulo Roberto Falcão, os preteridos por Cláudio Coutinho, dividiriam por três a exuberância e a malandragem que faltaram a um time tosco e aquartelado em campo, sem inspiração, entregue à correria do bom e sem magia Dirceuzinho.

Natal, lembro bem pelos jornais, repercutiu a falta de Marinho Chagas na lista do capitão Cláudio Coutinho, que preferiu, primeiro, improvisar o beque Edinho na lateral-esquerda e, depois, entregar a camisa ao sóbrio Rodrigues Neto, envelhecido, mas de bom desempenho no mundial.

Marinho Chagas não agradava ao status quo, ao poder vigente, era acusado de indisciplinas, ele que traçava duas chacretes, bailarinas do Programa do Chacrinha, a cada três dias.

A contratação pelo Cosmos teve o devido aval de Pelé, que, em 1972, Marinho Chagas estreando pelo Botafogo contra o Santos, levou um lençol que gerou espanto e revolta diante da insolência do menino de 20 anos, abusado e confiante no seu brilho incandescente.


Marinho Chagas deixava o calor e a badalação do Rio de Janeiro, onde mandava do Baixo Gávea à barra-pesada da Lapa ou da Praça Mauá, pelos agitos de Manhattan, frequentando discotecas, dançando à John Travolta e colecionando beldades cintilantes que pareciam saídas da forma do paraíso.

Reparem bem no rosto de Marinho Chagas, maior expressão esportiva do Rio Grande do Norte em qualquer tempo. Há o olhar do menino de rua tramando presepadas, há a autoconfiança do gênio de personalidade firme. Há o solitário saindo do casulo no formigueiro do universo.

Sempre será dono do espaço que houve ou no mistério do pós-morte. Marinho Chagas é maior – bem superior – aos corvos que vibravam no seu final melancólico, driblado e dominado pelo álcool. Não é o meu caso.

A fotografia de Marinho Chagas no Cosmos, no Cosmos do planeta da bola, cobiçado por 11 entre 10 bons de molejo do tempo de beleza em quatro linhas, me joga na varanda do orgulho e na tristeza da saudade. Marinho Chagas, o do Cosmos, nunca vai combinar com morte. Anjo setentão.

Na seleção

A primeira partida oficial de Marinho Chagas na seleção brasileira aconteceu na derrota para a Suécia (0x1) durante excursão para a Europa em 1973.

Titular

Marinho Chagas ganhou em seguida a posição de Marco Antônio nos amistosos preparatórios para a Copa do Mundo de 1974, da qual foi o melhor lateral-esquerdo.

Números

Segundo o Almanaque da Seleção Brasileira, de Roberto Assaf e Antônio Carlos Napoleão, Marinho Chagas fez 36 jogos com a camisa do Brasil, ganhando 24, empatando nove, perdendo três e marcando quatro gols.

Títulos

Marinho Chagas ganhou dois títulos estaduais: pelo ABC em 1970 e pelo São Paulo em 1981. Na seleção brasileira, ganhou o Bicentenário dos Estados Unidos em 1976.

Melhor Botafogo

Na seleção do Botafogo(RJ) de todos os tempos, Marinho Chagas ocupa a lateral-esquerda com o deslocamento de Nilton Santos à quarta-zaga.

Time

É Manga ; Carlos Alberto Torres, Leônidas(ex-técnico do América de Natal), Nilton Santos e Marinho Chagas; Gerson e Didi; Garrincha, Jairzinho, Heleno de Freitas e Paulo Cézar Caju.

4 Comentários

  1. Rui

    Jogou. No náutico 1974.

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  2. Constantino Francisco Pereira da Silva

    Esse é o cara responsável por eu ser Botafoguense. Jogava muito. Deus o guarde em bom lugar.

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  3. Antonio Avellar Moraes

    Marinho, a bomba do nordeste! Vi, na tv, sua estréia, na Vila mais famosa do mundo: a vila Belmiro, casa de um Rei. Rei Pelé. Foi num sábado, noite, em 1972. E, nessa casa famosa, me lembro de uma falta contra o Santos, com o Rei em campo. O ainda desconhecido Marinho, ajeita a bola, com personalidade, e solta uma bomba e estufa as redes do time santista. Pra mim, alí, naquele momento, nascia um dos maiores laterais esquerdo do país. O jogo terminou empatado em 1 x 1. E Marinho despontou como um meteoro loiro, tomando seu lugar eterno no Botafogo e na Seleção. Sorte do Botafogo, que pode colocar o grande Nilton Santos, a enciclopédia do futebol, para a quarta zaga, na formação hipotética do melhor Botafogo de todos os tempos. Efetivamente, Nilton Santos terminouva sua brilhante trajetória na quarta zaga. Parecia uma premonição da chegada de um jovem de talento ímpar para a lateral esquerda. Subia ao ataque, com ímpeto de atacante, driblando em velocidade e técnica, e, nao raro, desferia um potente chute de perna direita. Encantou o mundo na copa de 1974. Mistura de técnica apurada, coragem, personalidade e raça!’Saudoso Francisco das Chagas Marinho, o bruxa, que assustou goleiros adversários e virou uma estrela no céu do Botafogo!!

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  4. Anderson Amorim

    Sou rubro-negro, filho de um vascaíno e ex-jogador do Vasco. Portanto, nenhuma ligação afetiva com um jogador que, aqui no Rio, jogou no Botafogo e no Fluminense.

    Mas, meu pai sempre falava do Marinho!

    Anos depois, meu pai foi trabalhar com vendas no nordeste e lá, se encantou por Natal-RN. Fez amizades e uma delas (seu Wilson) o apresentou ao Marinho, que já havia deixado o futebol e voltar pra sua terra. Nasceu uma boa amizade entre eles. Quando meu pai estava em Natal, os três (meu pai, seu Wilson e Marinho) costumavam ir juntos pra pra de Ponta Negra, andar de bugre e curtir.

    Hoje, assim como meu pai, Marinho não está mais entre nós. Talvez estejam lá de cima, “aprontando”, se divertindo e tornando o céu mais bem humorado.

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