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LEMBRANÇAS DO SAMPAIO

por Zé Carlos Conte

Há quarenta e sete (47!) anos era difícil trabalhar com futebol e mais ainda no Maranhão.

Paulistano, fui pra lá me aventurar por um projeto e deu outro. Tornei-me supervisor e preparador físico do Sampaio Corrêa, clube que não tinha praticamente nada na época, exceto o médico-torcedor-milagroso Cassas de Lima.

Milagre também na minha vida: Djalma Santos chegou como técnico e nos tornamos amicíssimos. Aos domingos, na casa que servia de concentração, ele que me chamava de “professor”, fazia um maravilhoso frango ao forno, temperado supimpamente com óleo Mazola.

Na foto de arquivo, o jornal “O Imparcial”, de domingo, 12/09/1976, vemos Lima, Ferraz, eu, Djalma e o massagista Ludovico, no banco. Era anúncio da partida contra o Volta Redonda, que viríamos a perder por 2×0.

Na quarta-feira, 15, aproveitamos a viagem e encontramos no Maracanã o desastre: levamos de 8×1 contra o Flamengo, que jogou de calções pretos em homenagem/memória ao Geraldo, que havia falecido.

Djalma não foi ao estádio porque fora demitido ainda na concentração do hotel Plaza, na av. Princesa Izabel.

Memórias e abraços, ZCC

AS FINAIS DO CAMPEONATO BRASILEIRO DE 1999

por Luis Filipe Chateaubriand

Em 1999, Atlético Mineiro e Corinthians chegavam às finais do Campeonato Brasileiro.

O Atlético Mineiro chegou às finais ao superar o Vitória, que fez excelente campanha, por sinal.

O Corinthians chegou às finais ao superar o grande rival São Paulo, em jogos muito emocionantes.

A primeira partida das finais foi realizada no Estádio do Mineirão, em Belo Horizonte, com mando de campo para o Atlético Mineiro.

O “Galo” venceu o jogo por 3 x 2, com três gols de Guilherme no primeiro tempo, com Vampeta e Luizão “descontando” no segundo tempo.

A segunda partida das finais foi realizada no Estádio do Morumbi, em São Paulo, com mando de campo do Corinthians.

O “Timão” venceu por 2 x 0, dois gols de Luizão, um em cada tempo de jogo.

Finalmente, a terceira partida das finais também foi realizada no Morumbi, com mando de campo para o Corinthians.

Houve um empate em 0 x 0, um jogo sem gols.
Com o resultado, a Fiel pode comemorar o seu terceiro título do Campeonato Brasileiro!

A DÚVIDA DO ÍDOLO

por Elso Venâncio

Neymar decidiu que no ano que vem voltará ao futebol brasileiro. Hoje, de um modo geral, o jogador tem um enorme peso para definir o clube pelo qual vai atuar.

Após a séria contusão que o fez romper o ligamento e o menisco do joelho esquerdo, o craque perderá a Copa América, mas a previsão é que retorne aos campos entre agosto e setembro, defendendo o Al-Hilal do técnico português Jorge Jesus. Neymar Pai vai tentar junto ao ‘Clube dos Príncipes’ o empréstimo do atacante por uma temporada, com o objetivo de reaproximá-lo da torcida brasileira e, consequentemente, da seleção brasileira, visando garantir o jogador na Copa do Mundo de 2026, que será disputada nos Estados Unidos, Canadá e México.

Voltar ao Santos seria a decisão natural, mas o gigante Flamengo, cujo orçamento chega a R$ 1,5 bi, mexe com o atleta. Dinheiro? Patrocínios? Não, essas questões não seriam obstáculos… Até porque Neymar Jr. é, por si só, uma grande empresa: vale e movimenta milhões de euros. Desperta ciúmes em muita gente, até entre os nossos campeões do mundo, que sabem seu tamanho e até onde pode chegar.

Os críticos de Neymar alegam que ele vive como um ‘pop star’. Que joga mais fora de campo do que nas quatro linhas. Romário, Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho, Maradona, enfim, os maiores, não eram assim? Sim, claro que sim. Com uma única diferença. As redes sociais não existiam. A exposição massiva escraviza as pessoas públicas e sufoca um Ídolo. Neymar impressiona, com os mais de 215 milhões de seguidores. David Brasil, onipresente entre as personalidades, passou a ser uma delas. Léo Pereira, de repente, virou ‘Karolino’, ao namorar Karoline Lima.

O técnico Dorival Júnior teve mérito e coragem em escalar jovens e vai saber encaixar Neymar ao lado de Vini Jr., Endrick e Rodrygo. O polêmico cartola Ricardo Teixeira alcançou títulos expressivos ao saber bem exercer o poder. De cara, avisava ao treinador:

“Renova, porque se perder está mantido. Se for derrotado com veteranos, te demito.”

Bento, Fabrício Bruno, Beraldo, Wendell e João Gomes, chamados pela primeira vez, foram titulares contra a Inglaterra.

Nos últimos anos, Neymar fez o que pôde, na seleção do Tite. A comissão técnica, em seis anos, não renovou as ideias e nem o grupo, carente de craques, carisma e sorte para as conquistas. O desejo de voltar ao país passa pela disposição de se preparar para, enfim, ser protagonista de uma Copa. Não há dúvidas de que, com um título mundial, Neymar seria imediatamente eleito o melhor jogador do mundo, reparando uma das maiores injustiças do futebol.

O ÚLTIMO ROMÂNTICO

por Zé Roberto Padilha

Se tem um clube que representa a fase mais romântica do nosso futebol, onde o patrocínio não chegou ao peito porque o coração era maior que a ambição, esse era o América FC.

O original. O que deu origem a série que inaugurou país afora franquias por amor à camisa.

Ele foi o mais amador dos nossos clubes profissionais.

Foi desaparecendo em pé, orgulhoso e ferido, na medida que insistia, diante das casas de apostas que o futebol perigosamente atraía, em ser fiel às suas origens. Em sua lenta e comovida extinção, despencando de série e divisões, não teve sócio-torcedor, resistiu às SAFs, muito menos lhe concederam uma concessão de TV América para transmitir seus derradeiros suspiros.

Apenas deixou a aristocracia do bairro de Noel Rosa, em Vila Isabel, e comprou uma casa de campo em Edson Passos. Foi seu mais ousado passo. Era, porém, nobre e curto diante da gula do capital que exigia, no mínimo, um CT.

Seus torcedores, entre eles meu pai, foram diminuíndo na medida que os seus filhos buscavam torcer pelos outros, os chamados grandes, que lhes dessem títulos. Não vivessem de memória.

Uma pena. Quando entrava em campo, a força do vermelho realçava, como nenhuma outra, o verde do gramado. Era bonito ver essa transfusão de sangue ocorrer na abertura dos espetáculos.

Em campo, antes de deixar o quarto e ser encaminhado ao CTI, o País era sua grande muralha. Alex, o guardião da zaga que Badeco protegia ao lado de Ivo. E Bráulio dava brilho às jogadas que Eduzinho transformava em obra de arte. E tinha o Jeremias. Ninguém foi mais nobre e digno com a bola nos pés do que ele.

O América FC, mesmo perdendo seu brilho no cenário esportivo nacional, jamais deixou de vestir seu terno de linho, colocar uma flor na lapela e, sob os acordes da Orquestra Tabajara, convidar a bola, sua amada, para jantar à luz de velas.

Sucumbiu de cabeça em pé, sem dar um só carrinho na sua impecável história, deixando em todos nós, amantes do futebol, com uma saudade danada dos tempos em que Dondon jogava no Andarai.

A vida, e o futebol, era mais bonito de se ver quando o América nos dava o prazer de vê-lo jogar.

ZIRALDO O CRIOU SEM SABER QUE JEREMIAS EXISTIA

por Zé Roberto Padilha

Nosso grande escritor, Ziraldo, que acaba de nos deixar, foi um dos maiores colaboradores do jornal que mudou a vida da minha geração : O Pasquim.

Em meio à repressão e à censura, ele, Ivan Lessa, Henfil, entre outros, conseguiram, com o mais fino humor, debochar e combater o regime militar. Bancas de jornal receberam atentados à bomba para que sua circulação fosse interrompida.

Nada foi igual ao Pasquim.

Em 1969, no Jornal do Brasil, ele criou um personagem chamado Jeremias, o Bom. Sempre bem vestido, portador de boas ações e educado, Jeremias era o contraponto do estressado e impaciente cidadão brasileiro.

O que Ziraldo não sabia é que o personagem que ele criou na ficção se apresentaria com as chuteiras debaixo do braço, no Andaraí, para treinar no América FC.

Para mim, que lia sua coluna e enfrentava em campo o Jeremias de verdade, ficava impressionado como a ficção se aproximava da realidade. Ziraldo escrevia sem saber os atos de nobreza que ele também cometia.

E se Jeremias não foi o herói do sertão,que Gerônimo ocupou nas radionovelas, era o herói nosso das bancas de jornais e vestiários de cada dia.

Jeremias, o bom de bola, nos chamava a atenção pela elegância com que atuava. Depois foi para o Fluminense jogar ao nosso lado. Parecia que jogava de terno, não dava carrinhos. Educado, levantava seus adversários quando recebiam faltas e jamais foi expulso de campo.

Nesse momento de sua partida, podemos entender melhor sua importância entre nós. Ziraldo nos deixou Flics, uma cor neutra, um bege sofrido por ser excluída do arco-íris. E Jeremias, o bom, que criou no papel e nem sabia que existia.

Um personagem tão legal que ele nunca imaginou que o futebol, uma paixão nacional, revelaria um Jeremias de verdade.