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1994: OS 30 ANOS DA COPA DO MUNDO QUE NUNCA ACABOU

por Mateus Ribeiro

Crédito: Getty Images

Introdução

Se você gosta de futebol e começou a acompanhar o esporte bretão no início da década de
1990, provavelmente se lembra com carinho da Copa de 1994. Disputado nos Estados
Unidos da América, o mundial de 1994 foi especial, não apenas pela conquista do Brasil,
mas também por jogos inesquecíveis que foram disputados por seleções (e jogadores)
muito marcantes.

A icônica Copa de 1994 está prestes a completar 30 anos. E tal marca não poderia passar
em branco. Sendo assim, resolvi fazer uma matéria especial sobre o torneio que me fez ser
apaixonado pelo futebol. Então, separe alguns minutos do seu dia e relembre grandes
momentos que foram protagonizados por Romário, Taffarel, Roberto Baggio, Gheorghe
Hagi, Hristo Stoichkov, Thomas Ravelli, Roger Milla, Rashid Yekini, Saeed Al-Owairan e
grande elenco.

https://www.youtube.com/watch?v=IK-0h4k-ogk&list=PLCGIzmTE4d0iqrjiUl4tdoMpxf-
UbqQ05&index=20

O caminho do Brasil até a Copa

Comandada por Carlos Alberto Parreira, a seleção brasileira não teve vida fácil nas
Eliminatórias, que na época, eram disputadas em um formato diferente do atual. Nove
seleções foram divididas em dois grupos, um com quatro seleções e outro com cinco. O
Brasil ficou no grupo B, ao lado de Bolívia, Uruguai, Equador e Venezuela.

O Brasil não começou bem as Eliminatórias. Um empate sem gols com o Equador e uma
derrota para a Bolívia deixaram a seleção canarinho em uma situação complicada, porém,
as coisas começaram a entrar no eixos após uma sapatada aplicada na Venezuela (5 a 1).
Na última partida do primeiro turno, o Brasil empatou com o Uruguai fora de casa (1 a 1).
No segundo turno das Eliminatórias, o Brasil acumulou vitórias, porém, a classificação só foi
confirmada no último jogo da seletiva. Em um Maracanã lotado, Romário (que estava
afastado da seleção) fez dois gols, o Brasil despachou o Uruguai e carimbou sua passagem
para a terra do Tio Sam.

Seleções participantes

A décima quinta edição da Copa do Mundo masculina de futebol foi disputada entre os
dias 17 de junho e 17 de julho de 1994, nos Estados Unidos da América. Vinte e quatro
seleções, de diferentes continentes, disputaram a Copa. Confira abaixo quais foram essas
seleções.

Europa: Alemanha, Bélgica, Bulgária, Espanha, Grécia (estreante), Irlanda, Itália, Noruega,
Holanda, Romênia, Rússia, Suécia e Suíça

América do Sul: Argentina, Bolívia, Brasil e Colômbia

América do Norte: Estados Unidos da América e México

África: Camarões, Marrocos e Nigéria (estreante)

Ásia: Arábia Saudita (estreante) e Coréia do Sul

Sedes

A Copa de 1994 foi disputada em nove estádios diferentes: Rose Bowl (Pasadena,
Califórnia), Stanford Stadium (San Francisco, Califórnia), Pontiac Silverdome (Detroit,
Michigan), Giants Stadium (Nova York, Nova York), Cotton Bowl (Dallas, Texas), Soldier
Field (Chicago, Illinois), Citrus Bowl (Orlando, Flórida), Foxboro Stadium (Boston,
Massachusetts) e Robert F. Kennedy Memorial Stadium (Washington, D.C.).

Regulamento

As 24 seleções da Copa do Mundo de 2024 foram divididas em seis grupos, cada um com
quatro equipes. As duas primeiras colocadas de cada grupo se classificaram
automaticamente para as oitavas de final. As quatro melhores terceiras colocadas também
avançaram para o mata-mata.

A vitória, pela primeira vez na história das Copas, passou a valer três pontos, enquanto o
empate continuava valendo um ponto.

Um pequeno resumo sobre a primeira fase

A fase de grupos da Copa de 1994 foi emocionante e presenteou os fãs de futebol com
grandes jogos. Neste tópico, farei um breve resumo sobre o que aconteceu em cada um
dos grupos. Vamos lá?

Grupo A (Estados Unidos, Romênia, Colômbia e Suíça)

Crédito da imagem: Bill Waugh/Associated Press

Encabeçado pelos donos da casa, o grupo A da Copa de 1994 também contava com a
Suíça, com a Romênia e com a Colômbia, que foi uma das grandes decepções do mundial.
O super time sul-americano, que contava com Rincón, Valderrama, Asprilla e Andrés
Escobar, somou apenas 3 pontos, foi eliminado e ficou em último lugar do grupo.

A Romênia somou seis pontos (conquistados em cima da Colômbia e dos Estados Unidos)
e ficou com o primeiro lugar. Suíça e Estados Unidos fizeram quatro pontos cada e se
classificaram, respectivamente, no segundo e no terceiro lugar do grupo A.

Vale citar que o momento mais triste da Copa aconteceu no jogo entre Estados Unidos e
Colômbia. O zagueiro colombiano Andrés Escobar fez um gol contra, que contribuiu para a
eliminação da seleção de seu país. Alguns dias após o gol, Andrés foi assassinado a tiros.
Oficialmente, não foi comprovado que o crime teve ligação com o gol contra, porém, de
acordo com matéria assinada por Rafael Reis e publicada no portal UOL
[https://www.uol.com.br/esporte/futebol/colunas/rafael-reis/2020/05/21/zagueiro-colombiano-
foi-morto-por-gol-contra-na-copa-94-verdade-ou-lenda.html
], investigações apontaram que a
morte de Escobar foi encomendada por apostadores.

Grupo B (Brasil, Rússia, Camarões e Suécia)

A seleção brasileira enfrentou russos, camaroneses e suecos na primeira fase da Copa.
Contra a Rússia e contra Camarões, o time do Brasil obteve duas vitórias relativamente
tranquilas (2 a 0 e 3 a 0). No entanto, a partida contra a Suécia foi complicada e terminou
empatada em um gol. O sempre eficiente Romário fez gol nos três jogos e mostrou que não
estava para brincadeira.

https://www.youtube.com/watch?v=n6PJMzfS1oI&list=PLCGIzmTE4d0iqrjiUl4tdoMpxf-
UbqQ05&index=8


O Brasil se classificou em primeiro lugar, enquanto o competente time sueco ficou com a
segunda vaga.

Um dos jogos mais interessantes do grupo B foi a partida que colocou frente a frente
Camarões e Rússia. Os russos venceram por 6 a 1, sendo que Oleg Salenko marcou cinco
gols. Até hoje, ele é o único jogador a anotar cinco gols em uma partida de Copa do Mundo.
No mesmo jogo, Roger Milla virou o jogador mais velho a marcar um tento em uma partida
de mundial. Quando marcou contra a Rússia, Roger Milla tinha 42 anos e 39 dias.

Grupo C (Alemanha, Bolívia, Espanha e Coréia do Sul)

Campeã em 1990, a Alemanha foi a primeira colocada do grupo C, que também contava
com Espanha, Bolívia e Coréia do Sul. A seleção espanhola, que na época passava longe
da potência que foi há alguns anos, ficou com a segunda vaga. Coréia do Sul e Bolívia
fizeram figuração e saíram da Copa na primeira fase.

O jogo mais movimentado do Grupo C colocou frente a frente Alemanha e Coréia do Sul. A
seleção alemã abriu 3 a 0, mas os valentes coreanos fizeram dois gols e diminuíram o
placar. A partida foi realizada em Dallas (Texas), sob um calor de 46 graus.

Crédito da imagem: Tony Marshall/EMPICS Sport

Grupo D (Argentina, Grécia, Nigéria e Bulgária)

Finalista da Copa de 1990, a Argentina por pouco não encerrou sua participação na Copa
de 1994 logo na primeira fase. Comandado pelo genial Diego Maradona, o selecionado sul-
americano goleou a Grécia por 4 a 0 na primeira rodada e venceu a Nigéria por 2 a 1 na
segunda rodada. Porém, uma derrota por 2 a 0 para a surpreendente Bulgária quase
complicou os hermanos, que perderam Maradona (expulso do torneio por ter sido pego no
exame antidoping) e passaram em terceiro lugar do grupo.

https://www.youtube.com/watch?v=EOgtthq5x9A&list=PLCGIzmTE4d0iqrjiUl4tdoMpxf-
UbqQ05&index=2


A primeira colocação do grupo C ficou com a Nigéria, enquanto os búlgaros ficaram com a
segunda vaga. Todas as seleções classificadas conquistaram seis pontos.

O momento mais emocionante do grupo foi protagonizado pelo atacante nigeriano Yekini,
que se emocionou por marcar o primeiro gol da sua seleção na história dos mundiais.

https://www.youtube.com/watch?v=7usi2BMz_c4&list=PLCGIzmTE4d0iqrjiUl4tdoMpxf-
UbqQ05&index=19

Grupo E (Itália, Irlanda, Noruega e México)

Sem sombra de dúvidas, o grupo mais movimentado da Copa de 1994. Todas as seleções
participantes do grupo E terminaram a primeira fase com uma vitória, um empate e uma
derrota. Itália, Irlanda, Noruega e México também empataram no saldo de gols.

Com três gols marcados, o México passou em primeiro. Irlanda e Itália, que empataram nos
números de gols marcados e gols sofridos, se classificaram, respectivamente, em segundo
e terceiro lugar. A Noruega, que venceu o México, ficou de fora da segunda fase por ter
marcado menos gols que os adversários.


Grupo F (Bélgica, Marrocos, Holanda e Arábia Saudita)

Por fim, o grupo F, que ficou bastante embolado. Com exceção da seleção marroquina, que
perdeu todos os jogos, os outros times do grupo terminaram empatados com seis pontos.
Holanda e Arábia Saudita, que marcaram quatro gols e sofreram um, passaram
respectivamente em primeiro e segundo lugar. A Bélgica, com dois gols marcados, ficou
com a terceira vaga.

O gol mais bonito do grupo foi marcado pelo saudita Saeed Al-Owairan, que pegou a bola
atrás da linha do meio-de-campo, passou por vários adversários belgas e venceu Michel
Preud’homme, o melhor goleiro da Copa dos Estados Unidos.

https://www.youtube.com/watch?v=oQoD40d9APU&list=PLCGIzmTE4d0iqrjiUl4tdoMpxf-
UbqQ05&index=18


Oitavas de Final


O primeiro confronto do mata-mata foi protagonizado por duas seleções da Europa.
Alemanha e Bélgica fizeram um jogo muito movimentado (e polêmico). Os alemães
venceram os belgas por 3 a 2, em jogo que ficou marcado pela boa atuação do goleiro
belga Michel Preud’homme. Quando o placar marcava 3 a 1 para a Alemanha, o atacante
Weber foi derrubado dentro da área. Os belgas pediram penalidade, mas a arbitragem nada
marcou.

No mesmo dia que a Alemanha venceu a Bélgica, a Espanha enfiou 3 a 0 na Suíça e
passou para as quartas de final.

O segundo dia das oitavas de final começou com uma vitória relativamente fácil da Suécia
para cima da Arábia Saudita: 3 a 1, com Dahlin e Kennet Andersson marcando para os
suecos.

Pouco tempo depois da Suécia despachar a Arábia, foi a vez da zebra passear. A
surpreendente seleção romena, capitaneada pelo genial Gheorghe Hagi, venceu a
decadente Argentina por 3 a 2, em um dos jogos mais eletrizantes do mundial. O sonho do
tri argentino ficou para outra hora.

https://www.youtube.com/watch?v=6UYE4d2f6LA&list=PLCGIzmTE4d0iqrjiUl4tdoMpxf-
UbqQ05&index=18


A sempre perigosa Holanda encontrou a Irlanda. O selecionado neerlandês venceu por 2 a
0, gols marcados por Bergkamp e Jonk.

No dia 4 de julho, o Brasil encarou uma pedreira: a seleção dos EUA, que poderia ser uma
parada simples, se não fosse a dona da casa. Mais que isso, o jogo aconteceu na data em
que os estadunidenses comemoram a sua independência. Como se tudo isso não fosse o
bastante, a seleção canarinho jogou boa parte da partida com um atleta a menos, pois
Leonardo foi expulso de forma muito justa. Coube ao grande Bebeto fazer o gol salvador,
que colocou o Brasil nas quartas de final.

Crédito da imagem: Associated Press

A seleção italiana, que chegou capengando até as oitavas de final, encontrou a envolvente
Nigéria. E quase que a maionese italiana desandou, já que os africanos saíram na frente. A
Itália estava perdendo até os 44 do segundo tempo. Roberto Baggio salvou a pele dos
italianos com um gol no fim do tempo regulamentar e um gol de pênalti marcado na
prorrogação. Fim de jogo e Itália entre as oito melhores seleções da Copa de 1994.

O último jogo das oitavas de final foi um confronto pra lá de alternativo, que contou até
mesmo com troca de traves. México e Bulgária empataram por 1 a 1 no tempo normal e na
prorrogação. Os búlgaros se deram melhor nos pênaltis e avançaram para as quartas de
final, um feito e tanto.

Crédito da imagem: Juha Tamminen

Quartas de Final

As quartas de final começaram no dia 2 de julho, com um duelo de seleções europeias. De
um lado, a toda poderosa Itália, que estava fazendo uma campanha cheia de emoção. Do
outro, a Espanha, que havia feito uma primeira fase apenas regular e passou pelas oitavas
sem maiores problemas.

A Itália saiu na frente com um gol de Dino Baggio. Caminero empatou para a Espanha, e o
placar da partida permaneceu empatado até os 42 minutos do segundo tempo, quando
Roberto Baggio driblou Zubizarreta e colocou a Azzurra nas semifinais. Neste jogo, o
defensor italiano acertou uma cotovelada em Luís Enrique. Tassotti não foi expulso, mas
acabou banido da Copa.

Depois do jogo da Itália, foi a vez do Brasil e da Holanda entrarem em campo. Brasileiros e
holandeses protagonizaram um segundo tempo insano. O Brasil saiu na frente, com gols
marcados por Bebeto e Romário. A alegria brasileira durou menos de quinze minutos, já
que Winter e Bergkamp empataram a partida. Felizmente, cinco minutos depois do gol de
Bergkamp, Branco mandou um míssil no gol da Holanda e colocou o Brasil entre as
seleções semifinalistas da Copa de 1994.

https://www.youtube.com/watch?v=LO4bcOnnJnA

No dia 10 de julho, a Bulgária protagonizou uma das maiores zebras da história dos
mundiais. Comandados pelo craque Hristo Stoichkov, os búlgaros venceram a Alemanha de
virada por 2 a 1 e despacharam os alemães. Os gols da Bulgária foram marcados por
Stoichkov e por Lechkov. O eterno Matthäus anotou o tento germânico.

Por fim, a surpreendente Romênia encarou a Suécia, em um jogo duro, que só foi decidido
nas penalidades máximas, após um movimentado 2 a 2, construído através de empates por
1 a 1 no tempo normal e na prorrogação. Nos pênaltis, os suecos levaram a melhor e
venceram por 5 a 2.

Crédito da imagem: Stephen Dunn/Getty Images

Semifinais

Depois de muitos jogos, as semifinais foram definidas. De um lado, a Itália e a Bulgária. Do
outro, Brasil e Suécia, que já haviam se encontrado na primeira fase.
A seleção da Itália venceu a semifinal por 2 a 1, com dois gols marcados pelo grande
Roberto Baggio. Doze anos depois, a Itália estava de volta à uma final de Copa do Mundo,
muito por conta do genial Baggio, um dos craques do mundial de 1994.

https://www.youtube.com/watch?v=pIjJ9K-jorg&list=PLCGIzmTE4d0iqrjiUl4tdoMpxf-
UbqQ05&index=16


O Brasil chegou à grande final após vencer a Suécia por 1 a 0. A partida, muito difícil, foi
decidida pelo pequeno Romário, que subiu no meio da gigante defesa sueca e mandou a
bola para as redes do carismático e fanfarrão goleiro Ravelli.

Crédito da imagem: FIFA+

A grande final

Brasil e Itália, duas das maiores forças da história do futebol, foram as finalistas da Copa de 1994. Os dois selecionados encararam um sol de rachar mamonas e protagonizaram um jogo longo, estudado e morno. No final dos 90 minutos, ninguém marcou gols, e a partida foi para a prorrogação.

Nos 30 minutos de prorrogação, apesar das tentativas de ambos os lados, ninguém chacoalhou a rede adversária. Romário ainda perdeu um gol inacreditável no início do segundo período do tempo extra.
A final da Copa seria decidida nos pênaltis pela primeira vez na história. E o mundo iria conhecer a primeira seleção tetracampeã mundial de futebol.

O veterano Franco Baresi abriu as cobranças, e mandou a bola longe do gol. O defensor
Márcio Santos bateu muito mal sua penalidade, Pagliuca defendeu e salvou a Itália.
Albertini colocou os italianos na frente. Romário converteu sua cobrança e empatou a
disputa. Evani soltou uma cacetada no meio do gol e desempatou. Branco, herói das quartas, marcou e empatou. Massaro foi bloqueado por Taffarel. Então, o capitão Dunga
colocou a bola na rede.

O Brasil estava na frente. Roberto Baggio, craque da Itália, foi para a bola. Se Baggio
convertesse sua cobrança, empataria a disputa. Se Taffarel defendesse a cobrança ou a
bola fosse para fora, a seleção canarinho seria campeã. Baggio mandou a bola para cima
do gol e protagonizou um momento eterno (e muito triste para os italianos).

https://www.youtube.com/watch?v=pLPM_JSbGvI&t=1s

A outrora desacreditada seleção brasileira, que não era campeã da Copa desde 1970, se
sagrou tetracampeã do mundo em 1994. Trinta anos depois, o tetra continua vivo no
coração e na memória de milhões de brasileiros.

Crédito da imagem: Getty Images

Artilheiros

A artilharia da Copa do Mundo de 1994 ficou dividida entre Hristo Stoichkov (Bulgária) e
Oleg Salenko (Rússia), que marcaram 6 gols cada. Jürgen Klinsmann (Alemanha), Romário
(Brasil), Roberto Baggio (Itália) e Kennet Andersson (Suécia) marcaram 5 gols e ficaram
empatados no segundo lugar.

Romário, peça fundamental para a conquista do título brasileiro, foi eleito o melhor jogador
do torneio.

Crédito da imagem: Facebook oficial da FIFA World Cup

Classificação final
1 – Brasil
2 – Itália
3 – Suécia
4 – Bulgária
5 – Alemanha
6 – Romênia
7 – Holanda
8 – Espanha
9 – Nigéria
10 – Argentina
11 – Bélgica
12 – Arábia Saudita
13 – México
14 – Estados Unidos da América
15 – Suíça
16 – Irlanda
17 – Noruega
18 – Rússia
19 – Colômbia
20 – Coréia do Sul
21 – Bolívia
22 – Camarões
23 – Marrocos
24 – Grécia

AOS MESTRES, COM CARINHO

por Zé Roberto Padilha

Estrada das Paineiras, 1971, Rio de Janeiro. Toninho, Silveira, Sérgio Cosme, Wilton, Paulo Lumumba, Denilson, Ivair, “O Príncipe”, Geraldo, eu e Cafuringa.

Sob os braços do Redentor, recebíamos uma benção em forma de preleção: Zagallo e Parreira.

Nada de fisiologismo, pai empregando filhos, era um que sabia tudo de bola com outro que estudou para aprimorar nosso desempenho.

Sabe daqueles momentos em que vale a pena viver uma profissão, mesmo tendo que subir e descer, por 10 km, aquela estrada com tênis Rainha que não conhecia amortecimento?

Um desses momentos foi registrado. E eu estava lá para mostrar a vocês.

O MEDO DE TOMAR GOLS

por Marinho Picorelli

Meu amigo, não vejo o time do Vasco, em termos de grupo, muito pior do que 7 ou 8 equipes desse Brasileiro. Na minha visão, baseado em experiências vividas e vivenciadas, o time do Vasco perdeu totalmente a confiança. NENHUM jogador (raríssimas exceções) quer a bola; quanto mais longe ela estiver, mais aliviado fico.

Nas peladas, a gente costuma dizer para os zagueiros “tirarem a bunda de dentro do gol”. É, exatamente, isso que está acontecendo com o Vasco. O medo de tomar gols é tanto que ninguém quer saber de avançar, muito menos marcar o adversário; o negócio é correr todo mundo pra dentro da área pra tentar evitar que a bola chegue no gol. Só que, com isso, deixam a bola chegar nos adversários, que são quem fazem os gols.

Isso talvez seja o pior sintoma para um time de futebol. Jogadores ruins atrapalham muito o desenvolvimento de um time, mas se esses têm consciências de que são ruins, reconhecem suas limitações e se doam no que podem, sem medo “de ser feliz”, os prejuízos são menores do que quando você tem um grupo de uns poucos jogadores bons, alguns bem medianos e um tanto de fracos, onde TODOS perderam a confiança, a alegria de jogar. A impressão que passa é que para esse grupo do Vasco, jogar futebol é um estorvo, um castigo, uma penitência.

Tirar isso vai ser difícil pra c******!

“UMA COISA JOGADA COM MÚSICA” – CAPÍTULO 66

por Eduardo Lamas Neiva

Logo ao fim da música dos irmãos Valle, Idiota da Objetividade, como um coelhinho de desenho animado, antecipou-se a qualquer jogada e partiu em frente com as informações sobre o jogo seguinte ao clássico entre as duas seleções que haviam ganho os três mundiais anteriores a 70.

Idiota da Objetividade: – Com essa vitória sobre a Inglaterra, o Brasil foi para o último jogo da primeira fase podendo perder por até dois gols de diferença para a Romênia, que precisava pelo menos ganhar para manter suas chances, dependendo do resultado da Inglaterra contra a Tchecoslováquia. Mas a seleção brasileira venceu por 3 a 2, com dois gols de Pelé e um de Jairzinho.

Sobrenatural de Almeida: – Zagallo naquela partida escalou Fontana na zaga ao lado de Brito e deslocou Piazza para o meio de campo.

João Sem Medo: – Rivelino havia se machucado no jogo com os ingleses e ficou fora. Paulo Cesar continuou no lugar de Gérson, que estava machucado e só voltaria contra o Peru, nas quartas de final.

Idiota da Objetividade: – No segundo tempo, Zagallo tirou Everaldo e pôs Marco Antônio e depois substituiu Clodoaldo por Edu.

João Sem Medo: – Fiquei feliz com a vitória. O Brasil mereceu ganhar, apesar de cometer erros muito infantis naquele jogo. O problema estava no banco de reservas, pois uma substituição que precisava ser feita, a saída de Clodoaldo, mexeu em três posições do time, com a entrada de Edu. Faltavam jogadores de meio-campo no banco. Se Clodoaldo tivesse um problema sério, teríamos dificuldades pra organizar a parte mais importante do campo.

Sobrenatural de Almeida: – Com você iriam Zé Carlos e Dirceu Lopes, dois meias do Cruzeiro.

João Sem Medo: – Mas já tinha ficado muito feliz com as três vitórias nos três primeiros jogos.

Ceguinho Torcedor: – Amigos, os 25 minutos iniciais contra a Romênia mostraram um futebol jamais atingido, em qualquer Copa até ali, seja na terra, seja no céu. O nosso adversário sofreu um massacre inédito.

João Sem Medo: – Não eram passados dezoito minutos e o ataque brasileiro havia desferido dezoito chutes contra a meta da Romênia. Aos 20, marcou seu gol e logo depois ampliou.

Ceguinho Torcedor: – Depois de 2 a 0 paramos um pouco. Os gols da Romênia aconteceram por causa da facilidade da partida. Alguns brasileiros rebolaram, evidentemente. O Brito enfeitou. Fontana um pouco. Marco Antônio também. Mas nossos jogadores aprenderam naquele jogo esta verdade absoluta: só se ganha uma Copa do Mundo de cara amarrada. Basta um segundo, não mais, um único segundo de máscara, de indolência, distração, para que um abismo se cave aos nossos pés. Mas feita esta advertência, ficou patente ali nos 25 minutos iniciais que naquele campeonato não havia uma equipe com o nosso talento, a nossa imaginação, o nosso virtuosismo, a nossa magia. Após o jogo, a Jules Rimet, loura como nunca, perguntava: “onde é que esses brasileiros foram arranjar tanto futebol?”

E mais uma vez o Ceguinho Torcedor arranca risadas da plateia.

Sobrenatural de Almeida: – Ela foi conquistada e depois derretida. Assombroso!

Músico: – Assombroso mesmo, Seu Almeida. Mas aqui no Brasil até notícia ruim vira samba.

Sobrenatural de Almeida: – E isso também é assombroso!

Músico: – Verdade. Em 1985, a Caprichosos de Pilares cantou o samba de enredo “E por falar em Saudade…” na Marquês de Sapucaí a plenos pulmões com o público presente.

Garçom: – Aquele foi um dos maiores sucessos daquele ano antes, durante e até depois do carnaval.

Músico: – Isso mesmo, e a letra fala da Jules Rimet derretida.

Garçom: – Vamos ouvir, então?

Músico: – Vamos nessa! Só pra matar as saudades.

Depois do povo do bar Além da Imaginação se esbaldar com o sambão de Pilares, composto por Almir de Araújo, Balinha, Marquinhos Lessa, Hércules e Carlinhos de Pilares, Idiota da Objetividade foi mais uma vez mais rápido.

Idiota da Objetividade: – Naquele mesmo dia, por outro grupo, o Uruguai jogou sob protesto contra a Suécia. Tudo porque a Comissão de Arbitragem da Fifa resolveu trocar o árbitro brasileiro Airton Vieira de Moraes, o Sansão, pelo americano Henry Landauer, que apitaria Itália e Israel, no dia seguinte, jogo que acabou tendo Sansão como árbitro. A alegação, de acordo com os próprios uruguaios, é que a Comissão teria recebido uma denúncia de que o árbitro brasileiro teria sido subornado por alguém do Uruguai.

João Sem Medo: – Os dirigentes uruguaios ficaram revoltados e disseram que não passava de mais uma armação europeia pra derrubar os sul-americanos, como já havia ocorrido na Inglaterra, quatro anos antes.

Idiota da Objetividade: – Além disso, os italianos reclamaram que Landauer era de família judia e poderia favorecer Israel. Assim, a comissão de arbitragem da Fifa achou melhor trocar os árbitros das partidas.

João Sem Medo: – O árbitro de Brasil e Romênia foi o austríaco Ferdinand Marschall, que era romeno de nascimento, e apesar de pouco enérgico, foi bem na partida.

Ceguinho Torcedor: – A Romênia, com uma brutalidade e uma deslealdade inominável, mandou pro estaleiro o Clodoaldo e o Everaldo. Sofremos uma caçada humana. Eu estava vendo a hora que ia aparecer, com a camisa romena, o Zaroff, o Caçador de Cabeças.

João Sem Medo: – Mas sobre o suborno, não houve comprovação. Sansão sofreu o mesmo tipo de acusação na final entre Flamengo e Bangu, em 66. Mas pra mim ele teve uma atuação perfeita naquela final carioca.

Idiota da Objetividade: – No fim, após a troca de árbitros, os uruguaios foram derrotados por 1 a 0, mas acabaram se classificando, enquanto os suecos foram eliminados com o empate sem gols entre Itália e Israel no dia seguinte.

Garçom: – E acabou que a semifinal foi entre Brasil e Uruguai.

Idiota da Objetividade: – Sim, mas antes, o Brasil passou pelo Peru, com uma vitória de 4 a 2. Os gols brasileiros foram marcados por Tostão, duas vezes, Jairzinho e Rivelino.

João Sem Medo: – Foi uma vitória merecida em uma partida relativamente fácil para o Brasil, que apesar disso andou levando um susto.

Ceguinho Torcedor: – Os gols que perdemos são incontáveis. Dois lances geniais de Pelé explodiram na trave. Tostão, que fez dois gols, perdeu uns três.

Sobrenatural de Almeida: – Mas a defesa do Brasil andou facilitando de novo…

João Sem Medo: – É um erro acusarem aquela defesa brasileira de débil. Era composta de excelentes jogadores e Zagallo armou bem o sistema defensivo, principalmente com a magnífica ajuda que Jair dava a Carlos Alberto. Além do recuo de Jair e Paulo César ou Rivelino, Pelé também voltava bastante e, quando isso era impossível, Tostão aparecia defendendo. O defeito é que os nossos atacantes quando recuavam para defender se colocavam bem, mas não atuavam como defensores. Quero dizer que não combatiam com vigor como se fossem defensores. Desta maneira ficava relativamente fácil para o adversário passar pela primeira linha e avançar contra a segunda. Erradamente a última linha é que é chamada de defesa quando na verdade todos seriam defesa e não apenas os últimos quatro ou cinco.

Garçom: – Por isso, tanto a Romênia, como o Peru conseguiram fazer dois gols no Brasil?

João Sem Medo: – Sim, este fato é que permitiu aos peruanos, por exemplo, assustarem, pois penso que um primeiro combate mais rígido faria o Brasil ganhar mais fácil ainda aquele jogo.

Ceguinho Torcedor: – Amigos, sei que ninguém se ruboriza mais. Nem mesmo naquela época. O último rubor que se conhece ocorreu num baile da Ilha Fiscal. Mas a Copa de 70 foi uma experiência fabulosa pra nós brasileiros.  Vocês sabem o que diziam os jornais ingleses do nosso futebol? Diziam apenas e textualmente o seguinte: “Devia ser proibido jogar tão bonito”.

Garçom: – E um futebol tão bonito merece ser sempre louvado com música, né? Vamos chamar novamente ao palco Paulinho Nogueira.

Paulinho Nogueira é muito aplaudido novamente e vai ao palco.

Paulinho Nogueira: – Muito obrigado. Bom, aquela inesquecível seleção do tri era formada por gente grande que jogava com a alegria de verdadeiros meninos, concordam?

Todos dizem sim, com a voz ou a cabeça.

Paulinho Nogueira: – Então, em 1970, gravei um disco pela Som Livre chamado “Paulinho Nogueira canta suas composições”, e uma delas era “Menino jogando bola”, que vou cantar aqui, mais uma vez em homenagem aos heróis do tri.

Ao fim da apresentação, Paulinho Nogueira é muito aplaudido. O músico Angenor Rosa não se conteve e foi dar um abraço em Paulinho Nogueira.

Músico: – Que maravilha! Aprendi a tocar violão pelo seu método, mestre. Gente, muitos provavelmente não sabem, por isso faço questão de contar: eis aqui o inventor da craviola, instrumento de 12 cordas que foi, inclusive  usado por um inglês famoso, Jimmy Page, guitarrista da banda de rock Led Zeppelin.

Paulinho Nogueira ganha mais aplausos.

João Sem Medo: – Apesar de toda fleugma britânica, os ingleses sempre souberam que o brasileiro é um monstro quando o assunto é bola ou música. 

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Um gol desse não se perde!

O FLUMINENSE TAMBÉM ERA UMA MERCEDES

por Zé Roberto Padilha

Ano passado só dava Mercedes. E Fluminense também. O carro de Louis Hamilton e a máquina de Fernando Diniz desfilavam soberanos nas pistas e gramados.

Ontem, no Autódromo do Engenhão, a RBR do Botafogo, mostrou que os tempos mudaram. E atropelou a Mercedes Tricolor.

Com motores novos e potentes, o Botafogo não tomou conhecimento de um carro com equipamentos ultrapassados e envelhecidos. E alcançou a linha de chegada com uma volta de antecedência. E é o novo líder do campeonato.

No boxes da Mercedes, mecânicos desolados lamentável a perda de peças fundamentais de sua antiga suspensão. Perderam o Nino, o André machucou, Arias foi correr pela Colômbia, Keno se lesionou e o botão de ultrapassagem por cima dos atacantes, Felipe Melo, não pode ser acionado.

Em seus lugares, peças de segunda mão, como Renato Augusto, Douglas Costas, fizeram o rendimento do carro cair. Que tem rateado na largada da bola. E ainda tem problemas no Cano que, se antes era uma descarga de gols, tem andado entupido.

Lewis Hamilton deixou a liderança do mundial e o Fluminense, bem próximo de largar, já na próxima etapa, entre os quatro últimos, acaba de contratar Thiago Silva para reforçar a asa traseira.

Definitivamente, Mercedes e Fluminense não são as mesmas máquinas que encantaram o mundo esportivo no ano passado.