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NOEL ROSA, SAMBA COMO TESTEMUNHA E VASCO NO CORAÇÃO

por André Felipe de Lima


Quando o craque José Monteiro, talvez o maior da história do Andarahy e tão elogiado por Mario Filho no livro “O negro no futebol brasileiro”, morreu em 1919, o menino Noel Rosa, nascido em Vila Isabel, bairro vizinho ao do charmoso clube alviverde, era apenas um menino de nove anos. Certamente ouvia o pai e muitos outros falarem das bravuras do Monteiro. Sem dúvida, Noel Rosa cresceu com uma quedinha pelo Andarahy, um clube que encarava sem temor os adversários endinheirados da zonal sul. Falo de Fluminense, Botafogo e Flamengo, além do tijucano América, o então mais forte e rico da zona norte. O Vasco viria somente na década seguinte. Não deu tempo do Monteiro enfrentar aquele timaço com feras vindas do Bangu, e a lista era recheada delas. Havia Bolão, Itália e, sobretudo, Fausto dos Santos, que cresceu bem pertinho do Noel Rosa, na Aldeia Campista, um pedaço de chão que cobre parte da Tijuca e de Vila Isabel.

Não há, contudo, registros se os dois se conheceram ainda adolescentes. Mas é bem possível, afinal Noel Rosa e Fausto eram assíduos frequentadores de rodas de samba em Vila Isabel e dos empolgantes botequins nas concorridas esquinas do Boulevard 28 de Setembro e adjacências. Esbarrarem-se neles era pule de dez. Tornaram-se amigos, de fato.

Noel Rosa, no começo dos anos de 1930, já se revelava como um dos principais nomes do samba na cidade. Fausto simplesmente era o “Maravilha negra”, melhor jogador do país e único a se salvar do “naufrágio” da seleção brasileira na primeira edição de uma Copa do Mundo, em 1930, no Uruguai.

“Noel Rosa gosta de passear na chuva sem qualquer agasalho e chapéu. É torcedor de futebol, assistindo os jogos noturnos e preferindo, como jogador, Fausto.”

Essa simples nota jornalística perdida em uma página de uma edição da revista Carioca, de 1936, pode ser (acredite) o registro mais assertivo de que Noel Rosa gostava de futebol e era vascaíno de — recorrendo à tradicionalíssima expressão portuguesa — quatro costados. A aparentemente inexpressiva nota pode ter dito muito mais do que se imagina sobre o que poderia acontecer com Noel Rosa no ano seguinte.

Tanto ele quanto Fausto tiveram destinos idênticos. As trajetórias, idem. Além de crescerem na mesma região, ambos amavam o samba. Enquanto um, o Fausto — diziam —, era um “pé de valsa” e bamba de bola inconteste, falavam de Noel que no violão e nas linhas musicais, entre pandeiros e surdos, era um sem igual. Mas os dois eram amigos, o que, lamentavelmente, poucos (ou praticamente nenhum) registros podem confirmar. Mas os indícios nos induzem a crer que eram parceiros nas etílicas rodas de samba da Vila, e sempre abraçados a muitas mulheres. Mas apenas uma parecia ser a companheira de ambos: a lua, a mais genuína “dama da noite”. Os três eram indefectíveis notívagos. Portanto o ocaso das duas legendas culturais daquela década só poderia ser mesmo traduzido por noites enluaradas e românticas sob o fundo musical do samba. A tuberculose acometeu os dois vascaínos. Noel morreria em maio de 1937. Fausto, no ano seguinte.

O Vasco foi — ao menos uma vez — cantado por Noel Rosa. O curioso é que o jogador citado na letra do samba “Quem dá mais?” não foi o amigo Fausto e sim o Russinho, o artilheiro das madeixas louras e olhos claros que começou a carreira (olhe ele aí de novo…) no Andarahy:

“Ninguém dá mais de um conto de réis?/ O Vasco paga o lote na batata/ E em vez de barata/ Oferece ao Russinho uma mulata.”

A “barata” citada no samba era um carro Chrysler que Russinho ganhou após vencer um concurso de jogador mais popular do país promovido pelos cigarros Veado.

Será que depois dessa despretensiosa crônica há ainda alguma dúvida da paixão de Noel Rosa pelo Vasco? O rubro-negro e também genial sambista Wilson Baptista, rival eterno do velho “Queixinho”, que o diga. O “Clássico dos milhões” entre ambos parece mesmo eternizado.

O BALANÇÃO DO CAJU

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Chego ao fim do Brasileirão muito feliz pela derrota inapelável sofrida pelos retranqueiros, mas frustrado com o nível técnico baixíssimo do campeonato.

De qualquer forma, também estou contente por minha lista de preferidos não ter me decepcionado: Jorge Jesus, Sampaoli, Rogério Ceni, Luxemburgo, Roger e Fernando Diniz. Os dois primeiros, estrangeiros, devolveram a nós, torcedores, o futebol ofensivo que tanto prezamos, e ambos são disciplinadores. Ou seja, colocaram os times para treinar, não deixaram panelinhas serem criadas e acabaram com essa bobagem de poupar jogadores. Plantaram e colheram!

Luxemburgo voltou ao mercado e fez milagre com um limitado Vasco, Roger e Rogério Ceni fizeram brilhar o Nordeste, e Fernando Diniz não desistiu de sua filosofia, apesar da torcida contra dos jornalistas. Se o Athletico Paranaense e o Fluminense tem essa saída de bola sem chutões, com troca de passes, muito deve-se a ele. Os times ficam com sua marca registrada e isso é ótimo!

E o Cruzeiro? Esse abusou no direito de errar. Ouvi na CBN que a folha salarial do clube é mais alta que a do Flamengo!!! E sem o Arrascaeta, Kkkk, só podem estar brincando!!

Salários milionários para Fred, Thiago Neves e Edílson, uma folha indecente! Soma-se a isso dirigentes corruptos e técnicos retranqueiros, Mano o principal deles. A torcida não merece essa falta de respeito com um clube que já teve Tostão, Dirceu Lopes, Piazza, Evaldo, Natal, Procópio, Raul e tantos outros ídolos. E se não se organizar, sanar as dívidas, vai ser difícil retornar para a Primeira.

“Mas, PC, o Rogério Ceni esteve lá e pulou fora”, me alertou um jovem durante um encontro de ex-jogadores do Botafogo. Mas para mim o Ceni também errou ao deixar o Fortaleza. Deu sorte porque os dirigentes do clube cearense não foram orgulhosos e ele fez um excelente final de campeonato. Meu Botafogo não caiu por pouco e vai precisar de muito trabalho e investimento para dar a volta por cima.

Vi Argel, outro representante da escola defensiva, vibrando por não ter deixado o Ceará cair. Ficou lá três jogos e comemora por algo que não foi construído por ele. Disse que já salvou outros tantos times de não ter caído. Ou seja, é contratado para construir uma barreira intransponível anti-futebol. E vibra por isso. É o fim dos tempos!

Coelho de interino não tirou nenhuma surpresa da cartola e Tiago Nunes vai assumir um Corinthians desfigurado. Gostei de Marcão por ter apostado nos jovens talentos. No mais, foi ouvir dos comentaristas que os jogadores precisam ser catequisados, mecanismo de jogo, time desconfortável, conceito….com certeza, os comentaristas contribuíram com seu vocabulário “a la Tite” para o nível do futebol ficar pior ainda.

E o milionário Mengão recorreu para não pagar a indenização aos familiares das vítimas do CT. Mas para negociar valores milionários de jogadores não há qualquer limite. Que 2020 ilumine a consciência desses dirigentes!

O TIME QUE NUNCA PERDEU

por Luis Filipe Chateaubriand


Há 40 anos, direto do túnel do tempo, conhecemos o time que nunca perdeu.

Era o ano de 1979. 

O Internacional de Porto Alegre sagrava-se, de forma invicta, campeão brasileiro. 

O time era tão bom que não perdeu para ninguém!

Benitez; João Carlos, Mauro Pastor, Mauro Galvão e Cláudio Mineiro; Batista, Falcão e Jair; Valdomiro, Bira Burro e Mário Sérgio. 

Chico Espina funcionava como uma espécie de “décimo segundo titular”.

Timaço que era, o Colorado foi passando pelas fases de forma imponente: primeiro colocado de seu grupo na primeira fase, à frente do rival Grêmio, do Atlético Paranaense, do Coritiba e do Sport, entre outros; primeiro colocado de seu grupo na segunda fase, à frente de Atlético Paranaense novamente, Desportiva Ferroviária e Internacional de Limeira, dentre outros; primeiro colocado de seu grupo na terceira fase, à frente de Goiás, Cruzeiro e Atlético Mineiro.

Nas semifinais, um primeiro jogo sensacional com o Palmeiras, em São Paulo: os gaúchos saem perdendo por 1 x 0, empatam o jogo em 1 x 1, ficam novamente em desvantagem por 2 x 1, novamente empatam em 2 x 2 e, finalmente, viram o marcador para 3 x 2 – com direito a atuação de gala de Paulo Roberto Falcão.

No segundo jogo, um empate em 1 x 1, no Gigante da Beira Rio, garante a classificação para a final, contra o Vasco da Gama.

No primeiro jogo da final, no Maracanã, a inteligência tática do técnico Ênio Andrade coloca a equipe cruz maltina na roda, e o gigante gaúcho vence por 2 x 0, gols do reserva Chico Espina, nos domínios adversários.

No domingo a seguir, nova vitória sobre o heroico português, desta vez por 2 x 1. 

Título garantido, invicto.

Um time fora de série, que teve seus pilares na segurança do goleiro Benitez, na classe do jovem zagueiro Mauro Galvão, na intensidade do volante Batista, na lucidez do ponta esquerda Mário Sérgio e no toque refinado do príncipe Jair.

Mas, acima de todos, Paulo Roberto Falcão, o futebol cerebral, a classe no modo de jogar, a genialidade infinita. 

O cara que, a partir do ano seguinte, seria coroado “Rei de Roma”, simplesmente estraçalhou não apenas no jogo final, mas ao longo de toda a temporada.

E foi assim que o Internacional de Porto Alegre conquistou seu terceiro Campeonato Brasileiro em cinco temporadas, invencível, triunfante, altivo, o retrato da valente gente do sul de nosso país! 

Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há mais de 40 anos e é autor de vários livros sobre o calendário do futebol brasileiro.

O LIVRO SAGRADO DE 70

Quem nos acompanha desde o início já deve ter percebido que a nossa relação com PC Caju ultrapassou o nível de amizade faz tempo. Não por acaso, o craque topou ser nosso padrinho e vive abrilhantando nossas resenhas sem papas na língua!

Com o intuito de retribuir um pouco do carinho que o craque tem por nós, a equipe do Museu preparou uma surpresa emocionante para o campeão mundial, com a ajuda de Iafa Britz.

Para contextualizar a rapaziada, vale lembrar que depois do sucesso dentro das quatro linhas, PC Caju passou por um período difícil da sua vida. Foram 17 anos de dependência química que, por pouco, não custaram a sua vida. Durante esse período, revelou que vendeu muitos bens para sustentar o vício. Dentre eles, uma relíquia: um álbum intitulado “Os Mais Belos Momentos do Tri” com autógrafo e dedicatória de craques que vestiram a amarelinha na Copa do Mundo de 70.

– Vendi quatro imóveis na Zona Sul. A droga me levou uns 10 milhões de reais! – disse em um dos nossos muitos encontros.

Dessa vez, no entanto, era um momento de alegria e de viagem no tempo. A relíquia, muito bem conservada, foi recebida com muita surpresa pelo craque.

“Ao meu irmão Paulo César, com amizade, Pelé”. Dizia o autógrafo do Rei do Futebol.

– Olha isso, cara! Olha essa assinatura! Como pode isso? – questionou PC!

Visionária, Iafa Britz sabia que o campeão mundial de 70 daria a volta por cima e, por isso, guardou o álbum com carinho para o momento da devolução. Foi emocionante demais!

ATENÇÃO, VASCAÍNOS

Foi com muita honra que a equipe do Museu, representada por Sergio Pugliese, recebeu o convite para participar da live do programa “Atenção, Vascaínos”, ao lado das feras Roberto Dinamite, Bismarck e Flávio Dias.

Durante a transmissão, tivemos a oportunidade de apresentar o nosso trabalho, bater uma resenha especial com craques que fizeram história pelo Vasco e saber mais sobre esse canal que cresce diariamente, encantando, sobretudo, os vascaínos.

– É um canal apolítico! Não falamos de política em momento algum, porque é o que vem atrapalhando o Vasco. Fala somente de bola, que é o que a galera gosta!

Comandado por Flávio Dias, o canal “Atenção Vascaínos” tem vídeos diários e transmissões semanais. Quem quiser entrar em contato ou mandar sugestões, basta enviar um e-mail para atencaovascainos@gmail.com.