Escolha uma Página

O VERDADEIRO MOTIVO DO CORTE DE RENATO EM 1986

por Luis Filipe Chateaubriand


Antes da Copa do Mundo de 1986, o ponta direita Renato, conhecido como Renato Gaúcho, estava jogando o “fino da bola”. Mesmo assim, foi cortado pelo ranzinza Telê Santana da delegação que foi à Copa do Mundo de 1986, no México.

Muitos atribuíram o corte ao fato de, em determinado dia, ter ficado na farra com Leandro em um dia de folga e só ter aparecido na concentração, junto com o craque rubro negro, às duas horas da manhã, quando a reapresentação estava marcada para as 22h.

Alguns atribuíram a Telê um grande maquiavelismo: desistiu de cortar os dois porque queria contar com Leandro; aí, à véspera do embarque para a Copa, quando teria que cortar cinco jogadores, cortou Renato, podendo manter Leandro. 

Leandro, tendo percebido a situação, desistiu de jogar a Copa.

Mas muitos esquecem de um outro fator que, este sim, parece ter sido decisivo para o corte de Renato.

Jogo amistoso em São Luiz do Maranhão, durante a preparação para a Copa. Brasil x Peru. O Brasil ganhou de 3 x 0.

Em determinado momento do jogo, Éder agride um peruano – uma agressão absolutamente desnecessária. É expulso. Sai de campo… aplaudido por Renato.

Telê Santana, que sempre abominou violência (no que tinha toda razão…), corta Éder. E fica fulo da vida com Renato, que aplaudiu Éder pelo desatino.

Na hora de proceder os cinco cortes, pensa que Renato foi indisciplinado no episódio da chegada à concentração, pensa que Renato foi apologista da violência ao aplaudir e incentivar Éder. Corta Renato, ele é um dos cinco preteridos.

Em suma: se Renato não tivesse aplaudido Éder por ter agredido o jogador peruano, muito possivelmente não seria cortado. É o que muitos não lembram, atribuindo a exclusão do gaúcho apenas à farra com Leandro pela noite nas alterosas.

A pergunta que não quer calar é: Telê agiu certo ao cortar Renato? Na opinião deste signatário, não. 

Chegar atrasado em concentração por uma farra eventual não é motivo de gravidade que justifique um corte. 

Quanto a ter aplaudido Éder, não necessariamente estava fazendo apologia da violência. Possivelmente, não estava. Estava, tão somente, querendo dar ânimo, incentivo, a um colega que tinha acabado de fazer uma besteira.

Em outros termos: Telê, você deixou de levar para a Copa um cara que poderia fazer a diferença para a gente ganhá-la. Como fez, por exemplo, com Reinaldo, em 1982. 

Sempre isso, teimoso?

O HERÓI IMAGINÁRIO

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


(Foto: Marcelo Tabach)

Vi Pelé jogar, Garrincha, Cruyff, Maradona e é fácil se fascinar por esses personagens quando somos testemunhas de suas obras-primas. Ninguém te contou, você viu, jogou contra ou a favor, ou assistiu pela tevê ou da arquibancada. Mas o que me encanta de verdade é quando os ídolos são construídos em nossos imaginários baseados em relatos e leituras.  Evaristo de Macedo, o aniversariante de ontem, foi um desses.

Nunca vi Evaristo jogar, mas as histórias sobre ele eram fantásticas. Marinho, meu pai, sempre falava com amigos sobre seus feitos e de quando iniciou a carreira no Madureira. Sob o comando do paraguaio Fleitas Solich, o Flamengo foi tricampeão carioca, 53/54/55, e o nome de Evaristo era o mais comentado nas rodas: “Imaginem esse homem junto de Pelé”. Evaristo fez 103 gols em 190 jogos pelo Flamengo. É gol pra chuchu!!! Realmente seria mágico ver Pelé e Evaristo juntos, mas o Barcelona desfez esse sonho e o contratou.

Na seleção, não jogou muitas vezes e mesmo assim ostenta um recorde: é o único jogador a marcar cinco gols com a camisa da seleção brasileira, em 1957, Brasil 9 x 0 Colômbia. Ver Evaristo e o Rei juntos, na Copa de 58, seria mágico, mas o clube espanhol não o liberou. Também pudera, Evaristo fez chover na Espanha! Conseguiu ser ídolo de Barcelona e Real Madrid, rivais históricos. Pelo Barça, ganhou dois espanhóis e duas Copas da UEFA e está entre os três maiores artilheiros do Barcelona. Pelo Real, três espanhóis seguidos, 63/64/65.

Mas o destino é imprevisível e sabem em quais circunstâncias vi, pela primeira vez, meu “herói imaginário”? Aos 17 anos, em minha estreia como profissional, pelo Botafogo, no Maracanã, contra o América, decisão da Taça Guanabara, de 67. Meu técnico, Zagallo, o do América, Evaristo. Resultado final: Botafogo 3×2, três gols meus. E como imaginar que Zagallo me convocaria para a Copa de 70 e seríamos tricampeões mundiais? A partir desse jogo comecei a acompanhar a carreira de Evaristo como técnico. Por pouco, muito foi pouco, não foi o treinador da seleção brasileira, na Copa de 86. A imprensa paulista batia de frente com ele. Pelo que me lembro, exigiam a convocação de Sócrates e ele resistia. Entrou Telê. Quem garante que Evaristo não seria campeão? Nessa mesma Copa, Evaristo treinou a seleção do Iraque.

Mas foi campeão brasileiro pelo Bahia, em 88, e pelo Grêmio, na Copa do Brasil, em 97. É considerado o maior técnico da história do Santa Cruz, rodou o Brasil, o mundo, papou títulos por onde passou e é um dos grandes contadores de histórias do futebol. Em uma delas barrou Cláudio Adão, no Bahia, que ficou na bronca e prometeu forra. Tempo depois, em Ipanema, Evaristo olha para frente e vê Claudio Adão vindo em sua direção. Mudou de calçada rápido, afinal encarar Cláudio Adão não seria bom negócio, mas tudo terminou em boas gargalhadas.

Uma das grandes felicidades que o futebol me proporcionou foi a de conhecer pessoalmente um  “ herói imaginário” da minha infância, Evaristo de Macedo, uma lenda em carne, osso e um coração gigante. Mudando o assunto, assisti ao jogo do Real Madrid ontem e fui obrigado a ouvir o comentarista falando de “leitura de jogo”. Até quando? Futebol não se lê, se joga!

THE ENGLISH GAME, A SÉRIE PARA QUEM GOSTA DE FUTEBOL

por André Luiz Pereira Nunes


Uma boa dica para quem está sofrendo com a abstinência de futebol em tempos de pandemia é The English Game, uma produção original do Netflix. Idealizada por Julian Fellowes, mesmo autor de Downton Abbey, a trama promove uma eficiente mescla entre luta de classes e os primórdios do popular esporte bretão. 

Dividida em seis episódios de cerca de 50 minutos, a série aborda o embrionário crescimento do futebol em meio ao conflito entre clubes da elite e agremiações operárias. O enredo tem início em 1879 e se centra na rivalidade de Fergus (Kevin Guthrie), um pobre operário nascido em Glasgow, e Arthur Kinnaird (Edward Holcroft), abastado lorde do sul da Inglaterra. 

Para quem é apaixonado por futebol, é interessante constatar como eram os jogos naqueles tempos. Os uniformes não tinham numeração, a bola de capotão era pesada e a ausência de regras, redes e organização tornavam as partidas muito similares às peladas de rua atuais. Nesse ínterim, recheado de dramas pessoais, surgem os dois primeiros atletas profissionais, cujos talentos estarão a serviço de quem se dispuser a pagar por eles, fato que gerará intenso conflito em meio a abastados que jogavam por prazer e humildes que atuavam por paixão. Para disputar as quartas de final da Football Association Challenge Cup, James Walsh, proprietário do Darwen FC, agremiação composta por operários, resolve contratar profissionalmente dois reforços, medida que irá contra as regras da Copa e enfurecerá os Old Etonians, time adversário composto por integrantes da alta sociedade.

Apesar da narrativa girar em torno do futebol, The English Game reúne características de drama histórico com algumas pinceladas de ficção, permeado pela conjuntura histórica de uma Inglaterra duramente dividida entre classes no final do século dezenove.

A POESIA NO RISO DE ISABELA E O FUTEBOL EM TEMPOS DE COVID

por Marcelo Mendez


WhatsApp Image 2020-06-21 at 23.01.17.jpeg

Alguma coisa acontece no peito do velho torcedor.

Não tão velho assim, dirão alguns mais gentis, de trecho rodado dirão os abusados e de pneu gasto de tanta estrada, falarão só que sabem de mim. Fato é que algo tem mudado na minha vida quando o assunto é futebol.

Dia desses vi uma amiga, uma menina, Isabela Soares, jornalista recém-formada, lutadora, apaixonada tanto pelo ofício, quanto pelo nosso Palmeiras (meu e dela…) lamentando a falta de futebol, sentindo saudades do Palmeiras, das arquibancadas da Arena dela, do Parque Antártica meu e isso me fez ver algo que me preocupou bastante.

Eu não senti falta alguma do futebol, nem do Palmeiras.

Me lembrei que ao ver o Palmeiras perder uma vaga para decisão da Libertadores para o Boca Juniors eu não senti absolutamente nada e voltei para casa, com a mesma fleuma e preocupações dos comuns que ao término dos 90 minutos imediatamente passam a ter como prioridade o dia seguinte, e a necessidade de passar no sacolão para comprar a acelga, ou alface do dia, ou o pagamento da conta de gás. A derrota já não me causava a catarse de uma perda retumbante.

Eu sei que isso se deve também ao fato de o futebol não ter mais essa retumbância toda, mas me assusta a calma britânica que os anos e a idade me trazem. Acontece que o futebol sempre funcionou para eu perder esse juízo toda no concreto das arquibancadas que vivi. Eu já amei desesperadamente por futebol, assim como já odiei com a fúria de um milhão de adolescentes virgens em busca do primeiro beijo. Mas hoje, além de uma indiferença contumaz, o que mais sinto é uma calma irritante.

Me falta o choro, a raiva, a briga de boteco, as discussões intermináveis regadas à cerveja e moela na farinha do Bar do Ivo no Parque Novo Oratório. Me tiraram tudo isso.

Agora, o futebol é uma guerra de liminares, costurada por cartolas teimosos e insensíveis que querem a todo custo ver seus times ricos em campo. Que se dane as mortes no hospital de campanha ao lado, o que importa é a rede balançar no Maracanã. Esses caras tão pouco se lascando se o torcedor que sofre e que mantém a magia do futebol viva, não tem condição de fazer os testes que os jogadores fazem para detectar o Covid.

Dirão que os dramas do SUS não é problema deles, cartolas, e eu concordo; Não é mesmo. Mas será que é difícil entender que o problema que se tem para resolver é tão grande que tem sufocado até as coisas da paixão que sempre nortearam o futebol? Não dá para sacar que esse comportamento antipático afastará em breve todos os apaixonados torcedores de suas equipes?

Que tristeza.

Enquanto torcedor, sei que preciso olhar para o sorriso de Isabela e encontrar a paixão que um dia foi tão latente pelo clube. Ali naquela imensidão de encanto, sei que encontrarei o verso da poesia perdida que um dia foi tão presente em mim. E os cartolas?

Encontrarão aonde, o bom senso que nunca tiveram? Pois é. Enquanto isso, segue o Covid na vida nossa.

Ao invés dos gols, aguardemos as próximas liminares.

Heróis do Tri

OS HERÓIS DO TRI

Se tem uma seleção que entrou para a história, essa é o Brasil de 1970! Com uma “coleção” de camisas 10 no elenco, Zagallo teve que se virar para encaixar tantos craques juntos e o resultado não poderia ser melhor: 17 dos 19 gols foram marcados por integrantes do histórico quinteto (Pelé, Gerson, Tostão, Rivellino e Jairzinho) e o desfecho foi uma sonora goleada na decisão contra a Itália.

Não por acaso, é considerada por muitos a maior de todos os tempos e, como hoje é aniversário de 50 anos da conquista do tricampeonato mundial, a equipe do Museu da Pelada reuniu as principais resenhas com os campeões para celebrar a data em grande estilo! Com detalhes minuciosos daquela conquista, as feras fizeram a galera viajar no tempo relembrando lances, bastidores e muito mais!

Se tratando de uma seleção com tantos ídolos, nem precisa dizer que, para a equipe do Museu, foi muito prazeroso rever as entrevistas para produzir essa coletânea! Com a certeza de que tudo ficará bem, estamos ansiosos para reunir esses craques novamente e colocar o papo em dia!

Heróis do Tri: Félix, Ado e Leão; Carlos Alberto, Zé Maria, Marco Antônio e Everaldo; Brito, Baldocchi, Fontana e Joel Camargo; Piazza, Clodoaldo, Gérson, Rivellino, PC Caju; Jairzinho, Tostão, Pelé, Roberto, Edu, Dario, (Rogério). Técnico: Zagallo

Relembre a campanha:

Brasil 4 x 1 Tchecoslováquia (03/06/1970)

Brasil 1 x 0 Inglaterra (07/06/1970)

Brasil 3 x 2 Romenia (10/06/1970)

Brasil 4 x 2 Peru (14/06/1970)

Brasil 3 x 1 Uruguai (17/06/1970)

Brasil 4 x 1 Itália (21/06/1970)