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A ERA DOS ESFORÇADOS

por Washington Fazolato


O genial Tostão, craque como jogador e como comentarista, certa vez escreveu sobre a diferença entre talento e técnica no futebol.

A técnica pode ser aprendida e essa é a proposta das escolinhas e categorias de base.

Dominar a bola, cabecear, posicionamento em campo, arrematar são fundamentos que podem ser aprendidos.

O talentoso já nasceu sabendo tudo isso.

Ele citou Romário e sua aversão a treinos.

Afinal, se já sabia tudo aquilo, pra que treinar?

Para aprimorar o quê? Faz sentido.

Chegando finalmente ao tema do texto, vivemos hoje no futebol a era de mais uma categoria de jogadores.

Não prevalece nem a técnica, nem o talento, mas o esforço.

Comecei acompanhar futebol em meados da década de 70, indo frequentemente ao Maracanã (o verdadeiro, o antigo).

Garoto, me impressionava as demonstrações de habilidade ao dominar uma bola no alto, um passe de curva de lateral a lateral, com o lado externo do pé, o domínio no peito de um chute de tiro de meta e por aí vai.

E pasmem, isso era executado por jogadores sem destaque, pelos coadjuvantes dos times.

Os craques? Esses nos brindavam com jogadas que até hoje são exibidas como diamantes.

A tabelinha entre Falcão e Escurinho no gol contra o Atlético-MG; o elástico de Rivellino em Alcir; o gol de Zico contra a Rússia e por aí vai.

Tudo mudou.

Por motivos já listados – desaparecimento dos campos de futebol nós subúrbios, visão míope dos treinadores de base, excessiva ênfase na parte física e outras – nosso futebol entrou numa descendente na qual sobraram os esforçados.

De forma alguma quero estigmatizar o esforçado.

O esforço, a persistência, a perseverança são ações nobres, reveladoras de caráter.

Mas – no caso do futebol – devem vir acompanhadas de técnica ou talento.

Quem acompanha, como eu, até jogos da série C, sabe que nossos times estão povoados de jogadores meramente esforçados. E só.

Para piorar, alguns nem tão esforçados são.

E aí temos o pior dos mundos para o fã de futebol.

E assim, o Brasil caminha talvez para sua quinta Copa sem título.

GERSINHO: O HABILIDOSO MEIA QUE BARROU GEOVANI

por André Luiz Pereira Nunes


Em julho de 1985 o Vasco da Gama vivenciava a expectativa de disputar a Taça Libertadores da América. Os bastidores estavam movimentados. O período em São Januário era de intensa turbulência devido às costumeiras guerras políticas que antecedem as eleições. Em meio a essa e outras dificuldades, a diretoria capitaneada pelo saudoso Antônio Soares Calçada se aplicava para montar um elenco em condições de fazer uma boa performance no torneio sul americano. Contudo, seria em vão, pois o time foi eliminado na primeira fase.

Após frustradas as tentativas de contratação dos zagueiros De León e Delgado, respectivamente da seleção uruguaia e paraguaia, o Gigante da Colina apresentou como principal reforço para a campanha o meia Gersinho, do União Barbarense, o qual se encontrava emprestado à Ponte Preta e era um de seus principais destaques. Na ocasião, o apoiador, notabilizado pelo bigode, acabou contratado em meio a uma transação repleta de lances pitorescos e policialescos já que o time campineiro tinha a opção de compra de seu passe, mas se esqueceu do prazo de opção e acabou perdendo o jogador. 

– Tive que sair quase fugido de Campinas. Até hoje os dirigentes da Ponte me ligam dizendo que vou retornar para lá porque estão se movimentando para tornar ilegal a minha transferência para do União para o Vasco, declarou na época em entrevista.

O armador estreou justamente na abertura da Libertadores contra o Fluminense, um 3 a 3 no Maracanã, entrando no lugar de Geovani, com quem daí em diante iria sempre disputar posição na meia cancha. Por ter sido escalado de maneira atabalhoadamente irregular, o Vasco perderia o ponto daquela partida.

Gérson Sebastião Moisés surgiria como uma jóia no Guarani. Profissionalizado aos 16 anos, fez parte, como reserva de luxo, do elenco campeão brasileiro em 1978. 

– Depois dos 11 titulares daquela equipe, fui o que mais joguei naquele campeonato, relembra.

Suas ótimas atuações o levaram a vestir a camisa da Seleção Brasileira sub-20, em 1979, comandada por Mário Travaglini. Também defendeu a Seleção Paulista de profissionais dirigida por Dudu.

Após algum tempo atuando no alviverde de Campinas se tornaria ídolo da torcida. Acabou então despertando, em 1983, o interesse do Barcelona.  Parecia ser a grande oportunidade de sua carreira, mas a sua estada só duraria 3 meses. O clube catalão possuía naquele tempo dois times. O principal jogava a primeira divisão espanhola e já contava com dois estrangeiros: Diego Maradona e Bernd Schuster. O outro, intitulado Atlético Barça, atuava na divisão de acesso. O meia brasileiro integrava justamente a equipe aspirante e já havia marcado 11 gols em 7 partidas. Porém, um dia o treinador César Menotti entrou na sala da presidência e disse que não desejava mais contar com o seu futebol, preferindo um jogador argentino. Mesmo aborrecido, mas de cabeça erguida, o atleta teve seu passe comprado pela União Barbarense, cujo presidente, Manuel Soares, era muito poderoso financeiramente. Dali foi emprestado à Ponte Preta.

Pelo Vasco, em 1985, atuaria em 28 jogos, fazendo 2 gols. No ano seguinte, em 32 jogos, assinalou 5 gols. O seu primeiro foi marcado em um amistoso em São Januário contra a Seleção de Camarões. Os cruzmaltinos venceram por 5 a 0. 

Coincidência ou não, o treinador Cláudio Garcia cruzaria desastrosamente o seu caminho em duas oportunidades e em ambas o afastou do time. Primeiro, em 1979, no Guarani. “Ele não serve. Dribla muito, mas prende exageradamente a bola”, teria dito. Em 1986, o mesmo comandante o deixou no banco. Aliás, Garcia detém um dos piores retrospectos como treinador do Vasco. Sob seu comando a nau vascaína ficou 13 jogos sem vitórias, um verdadeiro fiasco. Uma de suas piores medidas foi barrar o astro ascendente Romário e colocar em seu lugar o obscuro Tuíco. O Baixinho em várias entrevistas manifestou que foi o seu pior treinador em toda a sua carreira.

A partir da chegada de Joel Santana, Gersinho acabaria voltando ao time titular aclamado pela torcida, assinalando 3 gols em 4 partidas e ajudando o Vasco a se classificar à segunda fase do Campeonato Brasileiro. Chegou até a arrancar elogios de Roberto Dinamite. 


– Ele é um exímio lançador e dá velocidade ao time, recordava na ocasião, em declaração à Placar.

Por diversas vezes barrou Geovani, que não vinha mesmo atravessando boa fase. A torcida vascaína relembra com carinho o pôster do time campeão da Taça Guanabara de 1986. Na foto vemos Gersinho, e não Geovani, posado com a equipe vencedora.

Ainda em 1986 fôra emprestado ao Sporting de Braga com o preço do passe fixado, permanecendo nessa equipe até 1988, quando foi adquirido pelo Aves, time o qual encerraria sua carreira, devido a problemas familiares, em 1991.

Já fora das quatro linhas, passou a buscar talentos pelo interior do Brasil, sendo o responsável por levar Elano, Léo e Renato para o Santos. Também foi auxiliar-técnico do falecido Oswaldo Alvarez, o Vadão.

Apesar da ausência de títulos relevantes em São Januário, Gersinho é lembrado com afeto pela torcida cruzmaltina. O Vasco passava por uma difícil fase de transição. Mas os triunfos não tardariam a vir nos anos que se seguiriam.

ESSE PAÍS NÃO É PARA AMADORES

:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::


Nessa semana, Leonardo Gaciba, chefe de arbitragem da CBF, viu-se em maus lençóis, após assumir que já houve erro humano na aplicação das linhas de impedimento do VAR. Para piorar, mudou o quadro de árbitros do jogo entre São Paulo x Grêmio e está sendo metralhado pela diretoria de alguns clubes. Já era esperado, claro. A manipulação de resultados é algo que precisa ser investigado urgentemente pelo Ministério Público e Polícia Federal.

Em outubro de 82, quando eu jogava na França, a revista Placar estremeceu os pilares do futebol com uma matéria espetacular, que trazia na capa uma bomba: DESVENDAMOS A MÁFIA DA LOTERIA ESPORTIVA. Foi um trabalho criterioso, maravilhoso, do jornalista Sérgio Martins, que revelou o envolvimento de 125 pessoas, entre jogadores, dirigentes, árbitros, técnicos e personalidades no esquema de resultados. Foi estarrecedor porque havia muitos amigos envolvidos, inclusive dois campeões do mundo. Anos depois alguém duvida de uma possível manipulação de resultados? Eu, não. E falo muito sério quando peço a intervenção do Ministério Público, Polícia Federal e jornalistas investigativos.

É inadmissível que sites de apostas patrocinem clubes. Se vocês não sabem, no final do ano passado 13 clubes estampavam em suas camisas o patrocínio de empresas de apostas, incluindo gigantes, como Flamengo (Sportsbet.io), Corinthians (Major Sports), São Paulo (Betsul) e Botafogo (Casa de Apostas). Mas ainda tem Betsul, NetBet, PPPoker, Pansudo Poker e tantos outros. Antes eram proibidos, mas foram regulamentados. Vários jogadores são garotos propagandas dessas empresas de apostas, como pode isso? Como não acreditar em manipulação?


Pelo que me informei os jogos de azar já são o sexto colocado em investimento em clubes, atrás das áreas de saúde, alimentação, construtoras, instituições financeiras e material esportivo. Mas alguém vai falar que isso faz parte da modernidade do futebol, que tenho que me conformar. O futebol virou um grande balcão de negócios. Treinadores empresariam jogadores e ex-jogadores são consultores de clubes e comentaristas. Hoje, ex-jogadores são comentaristas e apóiam campanhas para presidência de clubes, tudo na maior cara de pau.

Como dizia Tim Maia aqui vale tudo. Na verdade, Tim Maia dizia que esse país não podia dar certo, afinal aqui prostituta se apaixona, cafetão tem ciúme e traficante é viciado. Ele não podia imaginar que sites de apostas patrocinariam clubes de futebol. Definitivamente, esse país não é para amadores.

LAJOS DÉTÁRI: OS LAMPEJOS DO ÚLTIMO CRAQUE HÚNGARO

por André Luiz Pereira Nunes


Em 16 de março de 1986, a Seleção Brasileira, dirigida por Telê Santana, foi derrotada pela Hungria por 3 a 0 em amistoso realizado em Budapeste. O confronto era preparatório para a Copa do Mundo. Lajos Détari, Kalman Kovacs e Marton Esterhazy marcaram os gols da vitória. A partir daí, passei a conhecer e acompanhar a carreira do destaque dessa partida: Lajos Détári, o último craque húngaro, o maestro que conduziria seu país ao último mundial.

A escola magiar sempre se notabilizou pela ofensividade. Esse princípio norteou os craques vice-campeões de 1954: Ferenc Puskas, Sándor Kocsis e Nándor Hidegkuti. É certo que as gerações posteriores não obteriam o mesmo sucesso. Porém, apesar de uma trajetória pontuada por altos e baixos, o meia-atacante Lajos Détari teria algum êxito durante a década de 90, período considerado o apogeu do Campeonato Italiano.

A sua estréia como atleta profissional aconteceu no tradicional Honvéd, o mesmo em que Puskas e Kocsis foram ídolos. Entre 1980 e 87, o talentoso camisa 10 seria três vezes artilheiro do campeonato, levando a sua equipe a três títulos nacionais. A reputação como grande atleta já ultrapassava os limites da Cortina de Ferro a despeito da falta de informações, visto que a nação vivia sob um regime fechado. Consequentemente, logo ganharia espaço na seleção à qual estrearia em 1984, dois anos antes da fatídica partida contra o Brasil.

Comentava-se que os magiares seriam potenciais surpresas para a Copa do México. Afinal de contas haviam vencido impiedosamente a Seleção Brasileira que vinha extremamente mal armada por Telê Santana. Porém, as expectativas não foram assim consumadas. Ainda que não atuando mal, o meia-atacante foi incapaz de evitar o vexame de cair na primeira fase. Goleados impiedosamente pela União Soviética (0 a 6) e França (0 a 3), os húngaros só conseguiriam derrotar, por 2 a 0, o fraco e inexpressivo Canadá, cujo elenco era composto por atletas amadores, e que estreava no torneio. Détari marcaria o segundo gol, o último da Nação do Leste Europeu na competição mais importante do mundo.

Em 1987, teria a sua primeira experiência em um time do exterior. O Eintracht Frankfurt montava um grande plantel e decidiu investir no ofensivo meia. E ele não decepcionou. Além de figura central, foi o autor do gol de falta contra o Bochum que concedeu aos rubro-negros o título da Copa da Alemanha, a penúlltima taça conquistada pelo clube. A última foi em 2017/18. Não demoraria um ano para o Olympiacos, da Grécia, pagar 6 milhões de libras para contar com o seu talento.

Recebido com júbilo no aeroporto de Atenas, teria durante dois anos ótimas atuações, mas devido a um escândalo de corrupção envolvendo o dono da agremiação, George Koskotas, acabaria novamente negociado em 1990. Por cerca de 5 bilhões de liras, assinou com o Bologna, que retornara, em 1988, à Série A do Campeonato Italiano após sete anos de ausência. A equipe emiliana contava que Détari seria a grande atração. Os coadjuvantes eram Antonio Cabrini, Roberto Tricella e Massimo Bonini, além do atacante suíço de ascendência turca Kubilay Türkyilmaz. 


No entanto, nada ocorreria da maneira planejada, pois o húngaro passaria boa parte da temporada afastado por conta de problemas físicos. Chegou mesmo a ficar fora de jogo por quatro meses devido a uma grave lesão no joelho. Enquanto esteve em campo foi determinante, sobretudo durante a campanha na Copa UEFA. O Bologna acabaria eliminado apenas nas quartas de final pelo Sporting de Lisboa.

A sua ausência, porém, seria fundamental para que a equipe, lanterna da competição, fosse rebaixada ao fim da temporada. O craque jogaria somente 16 partidas, assinalando 5 gols, ainda que vice-artilheiro do time. Na disputa da Série B, jogou 27 partidas e marcou 9 gols. O Bologna terminaria na décima-terceira posição, se salvando por um ponto da zona de descenso. A crise era tão grande que após a sua saída, em 1992, ocorreria inevitavelmente a queda para a terceira divisão.

O atleta, todavia, voltaria à primeira divisão, dessa vez pelo Ancona, o qual conseguira o inédito acesso à Serie A, na temporada 1992-93. Finalmente, em plena forma física, assumiria a camisa 10, atuando em 34 partidas e marcando 10 gols. Seu primeiro turno foi pontuado por atuações acima da média. O meia protagonizaria um repertório de golaços, dribles desconcertantes e belíssimos arremates de fora da área. Porém, após a virada do ano, o seu nível técnico caiu vertiginosamente e, consequentemente, a equipe terminaria rebaixada.

Após mais um revés, Détári, então com 30 anos, voltaria, por empréstimo, a seu país para uma curta passagem pelo Ferencváros. Em novembro de 1993, receberia uma proposta do Genoa e acabaria vendido pelo Ancona à equipe lígure. Novamente não engrenaria, assinalando apenas um gol em oito partidas. Depois de amargar a reserva, assinaria no final da temporada com o Neuchâtel Xamax, da Suíça. Nos Alpes, teria o grande último momento da carreira. Contudo, apesar de considerado um dos melhores jogadores da competição, não se sagrou campeão e ainda teve atritos com o treinador. A essa altura, já aposentado da seleção húngara, pela qual marcara 13 gols em 61 partidas, passou a não estar mais em evidência e, após um ano longe dos gramados, transitaria pela segunda divisão da Áustria e por times menores da Hungria.

Em 2000, decidiria finalmente pendurar as chuteiras. Logo após retirar-se, tentaria a carreira de treinador. Porém, em 12 anos de atividade, a sua carreira não teria continuidade e tampouco conquistas, ainda que tenha transitado por diferentes países como Romênia, Vietnã, Grécia e Hungria. Chegaria até a dirigir alguns dos grandes times do país, como Honvéd, Haladás e Ferencváros, mas sem qualquer destaque.

UM PONTA ARRETADO

por Valdir Appel 


As manhãs ensolaradas de sábado atraíam dezenas de curiosos aos campos de areia, próximos dos arrecifes das praias de Olinda, para ver um menino franzino e habilidoso partir para cima dos laterais adversários levando, com toques curtos e velocidade, a bola grudada aos pés descalços (característica que levaria para os gramados), gingando e driblando, saindo ora pela direita ora pela esquerda, e desnorteando os marcadores.

Nado chutava bem com ambas as pernas, o que lhe permitia alçar precisos cruzamentos que deixavam o centroavante do seu time na cara do gol.

No Náutico, jogou durante alguns anos ao lado de craques como Salomão, Bita, Nino, Lala, Rinaldo, Lula e Ivan, e se eternizou na memória timbu, conquistando títulos em todas as categorias. 

Uma partida contra o Vasco da Gama no Maracanã, em 1965, despertou o interesse do clube carioca pelo seu futebol, que o contratou pagando uma soma milionária pelo seu passe, no inicio de 1966. 

Integrou-se à equipe vascaína que excursionava pela Europa, estreando em Nápoles, depois de servir à Seleção Brasileira, convocado para definir o grupo que disputaria a Copa do Mundo.

O mineiro Tostão, o gaúcho Alcindo e o pernambucano Nado eram chamados de “os estranhos” porque não jogavam no eixo Rio-São Paulo.

Os estranhos se destacaram nos treinos, e Nado foi injustamente cortado daquela seleção política e saudosista que fez um enorme fiasco na Inglaterra.

Na fala mansa, Nado revelava um humor afiado e inteligente. De hábitos simples, era tolerante e de uma aparente timidez que, às vezes, era confundida com uma passividade que não possuía.

Foi durante três anos meu melhor amigo. Concentrávamos juntos e tínhamos as mesmas amizades no clube: Acilino, Joel, Buglê, Celso, Alcir, Moacir, Valinhos, Beneti e os seus conterrâneos Pedro Paulo e Adilson. Este grupo acostumou-se a tratar um ao outro como conterra (abreviação de conterrâneo), que Adilson, independentemente das origens de cada um, chamava os amigos.

Nado teve dias difíceis até superar uma marcação serrada por parte da imprensa, que lhe dava notas baixas mesmo naqueles jogos em que atuava bem. Nós tínhamos consciência de que o problema a ser superado era a má fase vascaína. 


O Vasco tinha um elenco forte, que não ganhava um título a mais de 10 anos, desunido e cheio de vaidades injustificadas, onde muitos se apegavam a umbanda para tentar derrubar o colega de posição, enquanto a torcida sofria e se desesperava nas arquibancadas com a falta de conquistas.

Uma historinha interessante aconteceu em 1967, e ilustra bem os momentos difíceis do pernambucano em São Januário. Nado contundiu-se às vésperas do embarque do time para uma excursão. Fez tratamento no joelho e conseguiu uma recuperação mais rápida do que a prevista. Já estava com fome de bola e pediu ao doutor Nicolau que o liberasse para treinar entre os aspirantes, e assim recuperar a forma mais rapidamente.

Célio de Souza, treinador dos aspirantes, colocou Nado no coletivo contra os juniores. Como sempre, a arquibancada do Vasco atraía vários sócios torcedores e alguns portugueses conselheiros, que gostavam de cornetear.

Nado simplesmente fez grandes jogadas, driblou, passou, cruzou e fez um gol. Ao término da prática, o baixinho saiu sorridente com aquela cara de menino que Deus lhe deu.

Um bigodudo senhor português virou-se para outro que estava ao seu lado na tribuna, e comentou:

– Veja lá, ó Pá! O nosso Vasco não toma jeito, gasta lá uns 100 milhões com um tal de Nado, e nós temos este gajo aí nos juvenis, que é bem melhor!

– Senhor, este gajo aí é o tal de Nado!

O ano de 1967 terminou de forma sombria para Nado, Oldair, Fontana e Brito, todos jogadores de seleção, barrados pelo Ademir Menezes. Nado era o mais decepcionado porque o técnico era seu conterrâneo.

Felizmente para todos, o ano de 1968 trouxe Paulinho de Almeida para comandar o Vasco. Fora o fato de ter sido um dos maiores ídolos da história do clube, agora tinha a oportunidade de fazer carreira como técnico.

Paulinho soube (como poucos!) unir o grupo e fazê-lo vencedor. Conquistou naquele ano o título de vice-campeão carioca numa campanha excelente e fez um ótimo campeonato brasileiro, chegando em terceiro lugar.

E Nado foi peça fundamental neste ano de muitas vitórias. Mostrou todo o seu futebol sob o comando de Paulinho e foi convocado três vezes para amistosos da Seleção Brasileira e uma vez pela Seleção Carioca que enfrentou a Paulista, perdendo por 3 a 2 em jogo de gala do Rei Pelé. Este jogo homenageou a Rainha Elisabeth, em visita ao Brasil.

E foi em um jogo pela Seleção Brasileira, formada por um time integrado praticamente por jogadores botafoguenses, que Nado recebeu sua consagração no maior estádio do mundo. 

A partida foi contra a Argentina, o Brasil venceu por 4 a 1. Nado deu tantos dribles nos defensores argentinos, que o Maracanã lotado se rendeu ao que parecia um Mané Garrincha ressuscitado. Foi convocado também para jogos da seleção oficial contra Alemanha e Iugoslávia.

Em 1969 sucumbiu sob o poder de Evaristo e padeceu até ser liberado pelo presidente João Silva, que lhe deu o passe pelos bons serviços prestados ao clube. 

Transferiu-se para o Olaria, onde teve a oportunidade de pregar uma peça na Seleção Brasileira que se preparava para a Copa do México, fazendo o gol que deu a vitória ao Olaria por 1 a 0 sobre os canarinhos B em pleno Maracanã, enfileirando Everaldo e Joel e tocando por baixo de Leão.

Conquistaria novos títulos no Fortaleza e no Ceará nos anos 1970 e 1974. 

 

José Rinaldo Tasso Lassálvia (Nado), nasceu em 15 de novembro de 1938 em Olinda PE.

Faleceu dia: 03.05.2013 (†74)