EDMILSON MÃE QUERIDA
por Antonio Carlos Meninéa
Foto acervo blog Captura Real – Mãe Querida nos dias atuais e o Sul América, campeão em 1970.
Ao ler o livro “Futebol Parintinense – do sucesso ao fracasso”, e depois conversar com o autor e jornalista, José Caldeira Alves Brilhante, que me autorizou a contar as histórias do livro, descobri que o futebol brasileiro é bem mais rico que imaginamos.
Reza lenda que na cidade de Parintins, segunda mais populosa do Estado do Amazonas, não existe nada além do maior festival folclórico dos bois e duelo das tribos Caprichoso e Garantido, certo?
Errado! Dessa ilha Tupinambarana (nome de uma das Etnias indígenas que habitavam a região) onde o futebol sempre foi amador, saíram jogadores que se tornaram campeões profissionais, marcaram gols em times grandes e até se destacaram na terra do sol nascente.
Curiosamente, vamos contar a história de um jogador que não se tornou profissional, mas poderia ter sido, e num dos maiores clubes do Brasil.
O zagueiro Edmilson Mãe Querida, que atuou por 27 anos no Atlético Sul América Clube, e três anos pelo São Cristóvão, clubes amadores da cidade de Parintins, fez muito sucesso nos dois clubes. Mas poderia ter ido longe, muito mais longe…
Já que na terra do boi o futebol nunca foi profissional, jogadores tinham que trabalhar para ganhar o pão nosso de cada dia. Edmilson, mais conhecido como Edmilson Mãe Querida, ou somente Mãe Querida, foi um desses jogadores que após um árduo dia de trabalho como estivador do porto, corria para o campo de jogo. Segundo ele, só o amor por jogar explica tamanha disposição.
CONVITE PARA JOGAR NO VASCO DA GAMA
No ano de 1959, o jovem zagueiro de 19 anos era titular absoluto do Sul América. Estivador, embarcava juta em um navio que ia para o Rio de Janeiro. O comandante da embarcação era sócio proprietário do Vasco da Gama e tinha grande influência no clube. Como já havia presenciado e se encantado com o futebol talentoso do menino Edmilson, o comandante não perdeu tempo e lançou o convite proposta:
– Você quer fazer um teste no Vasco da Gama?
– Se o senhor permitir, eu quero.
– Então amanhã tu já viajas.
Dia seguinte pela manhã, Edmilson, com as malas prontas e coração acelerado, ouve o pai perguntar:
– E essa maleta?
– É para ir pro Rio de Janeiro, papai, vou fazer um teste no Vasco da Gama.
– Você não vai, não tem nada assinado.
Nesse instante acabou o sonho de Edmilson Mãe Querida em jogar num dos maiores clubes do Brasil. Obedecendo imediatamente e sem retrucar, começou a desfazer as malas. Para os dias atuais, tal decisão não se justificaria, mas na época o temor era justificável, pois se criavam lendas disseminando e atribuindo todo tipo de maldades e violência as grandes cidades, e ainda que houvesse muitas inverdades, também existiam muitas verdades.
VIDA QUE SEGUE
Com uma saúde de touro e longevidade de dar inveja a qualquer jogador de futebol amador ou profissional, o zagueiro talentoso ganhou títulos e mais títulos nos vinte e sete anos que atuou no Atlético Sul América Clube.
PENDURANDO AS CHUTEIRAS
Edmilson Mãe Querida jogou no Atlético Sul América Clube por 27 anos, ou seja, uma vida inteira, ou pelo menos, boa parte dela. Entrou garoto e saiu adulto, encerrando a carreira no São Cristóvão, onde atuou ainda por mais três anos.
Hoje, o octogenário Edmilson Mãe Querida, feliz que só, aproveita a vida na igreja, passeando pela cidade de Parintins, e batendo papo nos finais de tarde, na frente da catedral, com os amigos das antigas e de uma vida inteira.
Contudo, ao vermos a foto do Vasco da Gama e seu elenco recheado de craques, somos obrigados a fazer as perguntas que não querem calar.
E se o papai de Edmilson Mãe Querida tivesse permitido que o zagueiro embarcasse rumo a cidade maravilhosa, e o mesmo fosse aprovado no teste?
Dá para imaginar como teria sido sua vida carreira profissional?
SUPER ERRO DA SUPER LEAGUE
por Idel Halfen
Durou menos de 48 horas a existência da Super League. Na verdade, a competição que reuniria quinze clubes fundadores mais cinco convidados por critérios técnicos só chegou a ser “realidade” nos noticiários e nos devaneios de alguns dirigentes, pois a avalanche de opiniões contrárias e a desistência da maioria dos clubes deram o tom do que seria o desenlace.
A causa do “fracasso”, nesse caso, é fácil de apontar: a falta de visão estratégica e, consequentemente, de planejamento.
Primeiramente deve ser registrado que é inconcebível que um produto seja lançado sem a realização de uma pesquisa bem elaborada e que contemple os principais públicos envolvidos. No caso da Super League seria fundamental entrevistar um número significativo de representantes dos seguintes segmentos: torcedores – tanto dos clubes participantes como dos “excluídos” -, patrocinadores das equipes e da modalidade, imprensa, órgãos federativos, clubes, meios de comunicação, governos, jogadores e comissões técnicas. Contudo, os responsáveis pelo “lançamento” preferiram confiar nos seus “achismos”, inebriados pelos possíveis ganhos financeiros de curto prazo e pela soberba que caracteriza os pouco afeitos a estudos.
Os que preconizam a agilidade operacional em detrimento da cadência estratégica minimizaram o ocorrido, alegando que o mesmo não trouxe grandes prejuízos, visto não ter havido investimentos substanciais e que a reversão foi rápida, o que não deixa de ser verdade. Só esqueceram, ou preferiram ignorar, os danos à imagem e a insegurança criada no meio. Isso mesmo: será que os patrocinadores irão querer investir em clubes que, independentemente de seus desempenhos técnicos, podem vir a ser alijados da competição mais importante em função de alguma decisão autoritária? E os patrocinadores da competição que será descontinuada, a Champions League, renovarão seus contratos?
O próprio critério de escolha dos participantes, sem querer entrar aqui em divagações filosóficas sobre a meritocracia e a essência do esporte, dá margem para críticas na medida em que correlacionam capacidade financeira com garantia de boa gestão e, por conseguinte, de melhores times.
Além disso, não enxergam que a audiência de um campeonato não está associada exclusivamente à participação dos melhores times, e que fatores como presença de ídolos e número de fãs precisam ser ponderados para se estabelecer quem são efetivamente “os mais atrativos”, condição, aliás, bastante dinâmica.
Na ansiedade dos ganhos rápidos, deixaram também de avaliar os riscos para a indústria, pois, na medida em que se cria uma competição tão mais importante do que as outras, essas últimas perdem a atratividade diante de patrocinadores, o que impacta na capacidade de investimento em contratação e formação de jogadores, levando ao “apequenamento” de algumas equipes. Tal cenário redunda em um menor interesse do público pela modalidade e consequentemente de menores receitas advindas com bilheteria e direitos de transmissão.
É importante deixar claro que as críticas contidas no artigo são voltadas exclusivamente à Super League, ou seja, o conceito de se criar ligas com as equipes mais representativas segundo alguns critérios não se trata de nenhum absurdo, vide, por exemplo, as ligas profissionais norte-americanas. Todavia, antes de se aventurar nesse tipo de criação, é preciso entender bem as características de cada modalidade, de cada país, da concorrência e, principalmente, da cadeia econômica envolvida, a qual comporta, entre outros, a formação e o aproveitamento dos atletas.
PERCALÇOS DE UM TIGRE
por Rodrigo Ferreira
Certa vez, os amantes do futebol soltaram a perola: “Time Grande Não Cai” para tirar um sarro do seu rival e ficar rodeando os torcedores por aí a fora quando algum time adversário está à beira de ser rebaixado de divisão. Contudo, não deixa de ser uma forma de reduzir ou negar a história do seu antagonista, sendo que os clubes, mesmo de forma indireta, cresceram juntos na rivalidade de um querer ser melhor do que o outro ou no momento do confronto o que está em baixa se recuperar diante de quem está em melhor situação.
A noite de 21 de abril de 2021 vai ficar na história, não somente pelos 229 anos do falecimento do líder da Inconfidência Mineira, Joaquim José da Silva Xavier, mas para os torcedores do Criciúma Esporte Clube vai ser uma noite de tristeza: o tricolor catarinense foi rebaixado pela primeira vez para a segunda divisão do campeonato catarinense.
Na última rodada do estadual, o Tigre precisava vencer o clássico contra o Avaí em casa e contar com uma combinação de resultados. No entanto, os concorrentes diretos estavam pressionados: no estádio Aníbal Costa, em Tubarão, o Hercílio Luz fez a sua parte venceu o Joinville por 4 x 3 e mesmo com a derrota do Concórdia por 2 x 1 diante do Juventus no estádio João Marcatto, em Jaraguá do Sul, o Criciúma não fez a parte dele e foi derrotado por um a zero. O gol foi do lateral-esquerdo Diego Renan que em 2012/2013 atuou no Criciúma e nesta noite decretou o rebaixamento de um dos gigantes do futebol catarinense.
O único clube de Santa Catarina campeão da Copa do Brasil em 1991; Campeão brasileiro da Série B em 2002 e Série C em 2006; Dez vezes campeão catarinense; Ídolos dentro das quatro linhas como Jairo Lenzi, Paulo Baier, Zé Carlos e entre tantos outros craques que vestiram a camisa do Tigre. Além disso, no banco de reservas do estádio Heriberto Hülse, o treinador Luiz Felipe Scolari, pentacampeão mundial com a seleção brasileira, já esteve posicionado no comando da equipe nos anos 90. Não, jamais a atual situação representa de forma alguma a história construída pelo tricolor do sul catarinense para o futebol de Santa Catarina.
Torcedor do Criciúma, momento de caça às bruxas para achar os culpados: diretoria, comissão técnica, jogadores ou foi o conjunto da obra. Difícil saber quem foi o(s) culpado(s) pela situação da equipe, mas a instituição Criciúma Esporte Clube vai ficar e precisar de vocês, os fiéis torcedores carvoeiros e lembrem-se da estrofe do samba que foi eternizado pela voz da madrinha Beth Carvalho: “Levanta sacode a poeira, dá a volta por cima / Levanta sacode a poeira, dá volta por cima”.
OS VELHOS BOLEIROS DO CAXINGUELÊ
:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::
Quando escuto o locutor cogitando a possibilidade de o atacante Hulk ganhar nova chance na seleção brasileira, não tenho dúvida que enxergo o futebol com outros olhos. Nem no auge da forma física e técnica merecia. Na minha saudosa pelada do Caxinguelê tinham vários melhores que ele, Evandro Mesquita, por exemplo. Como se não bastasse, no dia seguinte, nas redes sociais, dou de cara com uma turma elogiando as atuações de Daniel Alves e pedindo “amarelinha nele!”. Esses dois casos retratam bem a pobreza de nosso futebol e a dificuldade para realizarmos uma renovação de verdade.
Há quanto tempo não surgem bons laterais? Nem falo sobre as outras posições, mas insistir em Daniel Alves é andar para trás. As bases dos clubes não conseguem mais formar jogadores. Se for grandão, fortão e correr feito um louco já garante a vaga. E essas “qualidades” justamente é que não buscávamos em nossas peladas. Vou sugerir aos velhos boleiros do Caxinguelê que voltem a treinar e aviso ao Tite para dar uma conferida na performance da turma.
Nas peladas, as posições são decididas na hora e muita gente que nunca havia jogado naquele espaço de campo acaba se adaptando. Saudade de jogar com Dadi, Vinicius Cantuária e Jorge Davidson, o Baba, amigos de 40 anos. E se falo de Dadi lembro do grupo A Cor do Som. Estava doidão nessa época e lembro das várias vezes que Vinicius Cantuária escondeu o meu próprio dinheiro para que eu não comprasse drogas. Queridos amigos! Paulinho Boca de Cantor, Charles Negrita, Luiz Melodia, Helson Gracie, Nonato Buzar, Pepeu Gomes, Augusto Casé, Maurício Krieger, Rubinho, Zeca, Chiquinho, Madalena, Rodolfo e Acácio, esse que faz chifrinho em mim.
Em foto de pelada sempre tem um engraçadinho para fazer chifrinho. Mas esse era goleiro, não o que ficou famoso no Vasco. Me vinguei disso da melhor forma possível: fazendo muito gols nele. Era uma hora de pelada, com árbitro, oito na linha, um jogo de camisa azul e o outro verde, campo de terra batida e balizas grandes, um sonho. Quando chegava a hora de terminar, Seu Joaquim mandava parar e não adiantava pedir um chorinho. Alguns anos depois, Canário, uma figuraça, comprou o bar e, ali, realizamos incontáveis resenhas.
Volta e meia apareciam Betinho Cantor, Moraes Moreira, Stepan Nercessian e Sombrinha, do Fundo de Quintal. E em pelada não tem essa de campeão do mundo e celebridades, todos são iguais. Dessa foto, Nando e Marcio já não estão mais entre nós, como também partiu o nosso verdadeiro futebol, o do improviso, do suingue, o da gingada na frente do marcador, o da caneta, o do balé.
Mas, Tite, infelizmente não poderei pedir para essa galera retornar aos treinos, pois aqueles momentos sublimes estão guardados em nossos corações. A grama sintética cobriu a terra batida e algum tempo depois o próprio Caxinguelê sucumbiu, assim como vários campinhos perderam a briga para a especulação imobiliária. E se hoje temos dificuldades em formar jogadores muito se deve ao desaparecimento desses campos, pois neles estão abrigados nossa essência, nossa verdade. A morte do Caxinguelê, podem acreditar, é a morte do futebol. Hoje somos obrigados a ouvir que o ala foi espetado na beirinha do campo após receber assistência!
WILLIAM BACANA, UM HERÓI ALVINEGRO
por Leandro Costa
Nem a geração de Didi, Nilton Santos e Garrincha, nem o timaço de Jairzinho, Roberto, Gerson e Paulo Cézar, conseguiram realizar o feito que William Bacana e seus companheiros concretizaram na noite de 30 de setembro de 1993, no estádio Maracanã: conquistar um título internacional oficial para o glorioso Botafogo de Futebol e Regatas.
William Martins Sampaio, o William Bacana, chegou ao Botafogo em 1988, aos 20 anos, para se juntar ao grupo de juniores. Em 1989, já integrado ao elenco profissional, fez parte do grupo que acabou com o jejum do clube de 21 anos sem títulos, conquistando o Campeonato Carioca. No ano seguinte, foi bicampeão estadual.
O ponto alto da carreira de William aconteceu no ano de 1993. Até então com poucas oportunidades de jogar, William recebeu a missão de substituir, no gol alvinegro, o titular Carlão, contundido, na Copa Conmebol. Com a confiança do Capita do Tri, Carlos Alberto Torres, William teve grande atuação na primeira partida das finais, contra o Peñarol, no Uruguai, garantindo o empate em 1×1. A partida de volta, no Rio de Janeiro, reservava uma noite inesquecível para William e toda a torcida Botafoguense.
Aos 34 minutos do primeiro tempo, Bengoechea abriu o placar para o time Uruguaio. O Botafogo virou no segundo tempo, com gols de Eliel e Sinval em cobranças de falta, porém ainda havia muita emoção reservada para aquela partida. Aos 45 minutos do segundo tempo, Otero empatou para o Peñarol, levando o jogo para a disputa de pênaltis. Hora de brilhar a estrela de William Bacana.
Sinval desperdiçou a primeira cobrança do Botafogo. William defendeu a cobrança de Ferreyra. Suélio, Perivaldo e André converteram para o alvinegro. Da Silva marcou para o time Uruguaio. O zagueiro Guitierrez chutou para fora e De Los Santos cobrou o pênalti decisivo à esquerda do goleiro William, que pulou para o canto certo e sutilmente desviou a bola que ainda bateu na trave antes de colocar para sempre o nome de William Bacana e seu companheiros na rica história do Botafogo.