OS VELHOS BOLEIROS DO CAXINGUELÊ
:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::
Quando escuto o locutor cogitando a possibilidade de o atacante Hulk ganhar nova chance na seleção brasileira, não tenho dúvida que enxergo o futebol com outros olhos. Nem no auge da forma física e técnica merecia. Na minha saudosa pelada do Caxinguelê tinham vários melhores que ele, Evandro Mesquita, por exemplo. Como se não bastasse, no dia seguinte, nas redes sociais, dou de cara com uma turma elogiando as atuações de Daniel Alves e pedindo “amarelinha nele!”. Esses dois casos retratam bem a pobreza de nosso futebol e a dificuldade para realizarmos uma renovação de verdade.
Há quanto tempo não surgem bons laterais? Nem falo sobre as outras posições, mas insistir em Daniel Alves é andar para trás. As bases dos clubes não conseguem mais formar jogadores. Se for grandão, fortão e correr feito um louco já garante a vaga. E essas “qualidades” justamente é que não buscávamos em nossas peladas. Vou sugerir aos velhos boleiros do Caxinguelê que voltem a treinar e aviso ao Tite para dar uma conferida na performance da turma.
Nas peladas, as posições são decididas na hora e muita gente que nunca havia jogado naquele espaço de campo acaba se adaptando. Saudade de jogar com Dadi, Vinicius Cantuária e Jorge Davidson, o Baba, amigos de 40 anos. E se falo de Dadi lembro do grupo A Cor do Som. Estava doidão nessa época e lembro das várias vezes que Vinicius Cantuária escondeu o meu próprio dinheiro para que eu não comprasse drogas. Queridos amigos! Paulinho Boca de Cantor, Charles Negrita, Luiz Melodia, Helson Gracie, Nonato Buzar, Pepeu Gomes, Augusto Casé, Maurício Krieger, Rubinho, Zeca, Chiquinho, Madalena, Rodolfo e Acácio, esse que faz chifrinho em mim.
Em foto de pelada sempre tem um engraçadinho para fazer chifrinho. Mas esse era goleiro, não o que ficou famoso no Vasco. Me vinguei disso da melhor forma possível: fazendo muito gols nele. Era uma hora de pelada, com árbitro, oito na linha, um jogo de camisa azul e o outro verde, campo de terra batida e balizas grandes, um sonho. Quando chegava a hora de terminar, Seu Joaquim mandava parar e não adiantava pedir um chorinho. Alguns anos depois, Canário, uma figuraça, comprou o bar e, ali, realizamos incontáveis resenhas.
Volta e meia apareciam Betinho Cantor, Moraes Moreira, Stepan Nercessian e Sombrinha, do Fundo de Quintal. E em pelada não tem essa de campeão do mundo e celebridades, todos são iguais. Dessa foto, Nando e Marcio já não estão mais entre nós, como também partiu o nosso verdadeiro futebol, o do improviso, do suingue, o da gingada na frente do marcador, o da caneta, o do balé.
Mas, Tite, infelizmente não poderei pedir para essa galera retornar aos treinos, pois aqueles momentos sublimes estão guardados em nossos corações. A grama sintética cobriu a terra batida e algum tempo depois o próprio Caxinguelê sucumbiu, assim como vários campinhos perderam a briga para a especulação imobiliária. E se hoje temos dificuldades em formar jogadores muito se deve ao desaparecimento desses campos, pois neles estão abrigados nossa essência, nossa verdade. A morte do Caxinguelê, podem acreditar, é a morte do futebol. Hoje somos obrigados a ouvir que o ala foi espetado na beirinha do campo após receber assistência!
WILLIAM BACANA, UM HERÓI ALVINEGRO
por Leandro Costa
Nem a geração de Didi, Nilton Santos e Garrincha, nem o timaço de Jairzinho, Roberto, Gerson e Paulo Cézar, conseguiram realizar o feito que William Bacana e seus companheiros concretizaram na noite de 30 de setembro de 1993, no estádio Maracanã: conquistar um título internacional oficial para o glorioso Botafogo de Futebol e Regatas.
William Martins Sampaio, o William Bacana, chegou ao Botafogo em 1988, aos 20 anos, para se juntar ao grupo de juniores. Em 1989, já integrado ao elenco profissional, fez parte do grupo que acabou com o jejum do clube de 21 anos sem títulos, conquistando o Campeonato Carioca. No ano seguinte, foi bicampeão estadual.
O ponto alto da carreira de William aconteceu no ano de 1993. Até então com poucas oportunidades de jogar, William recebeu a missão de substituir, no gol alvinegro, o titular Carlão, contundido, na Copa Conmebol. Com a confiança do Capita do Tri, Carlos Alberto Torres, William teve grande atuação na primeira partida das finais, contra o Peñarol, no Uruguai, garantindo o empate em 1×1. A partida de volta, no Rio de Janeiro, reservava uma noite inesquecível para William e toda a torcida Botafoguense.
Aos 34 minutos do primeiro tempo, Bengoechea abriu o placar para o time Uruguaio. O Botafogo virou no segundo tempo, com gols de Eliel e Sinval em cobranças de falta, porém ainda havia muita emoção reservada para aquela partida. Aos 45 minutos do segundo tempo, Otero empatou para o Peñarol, levando o jogo para a disputa de pênaltis. Hora de brilhar a estrela de William Bacana.
Sinval desperdiçou a primeira cobrança do Botafogo. William defendeu a cobrança de Ferreyra. Suélio, Perivaldo e André converteram para o alvinegro. Da Silva marcou para o time Uruguaio. O zagueiro Guitierrez chutou para fora e De Los Santos cobrou o pênalti decisivo à esquerda do goleiro William, que pulou para o canto certo e sutilmente desviou a bola que ainda bateu na trave antes de colocar para sempre o nome de William Bacana e seu companheiros na rica história do Botafogo.
S.O.S GOLEIROS
por Irineu Tamanini
Hoje, dia 26 de abril é celebrado o Dia do Goleiro, uma data criada em 1976 para homenagear uma posição no futebol que, em poucos segundos, pode ir do céu ao inferno com uma defesa importante ou uma falha vexatória. A data é, simplesmente, uma reverência a um dos principais goleiros da história do futebol brasileiro: Haílton Corrêa de Arruda, o Manga. Com histórico de Seleção Brasileira e passagem marcante por Botafogo, Inter e Grêmio, ele foi campeão por todos os clubes em que passou e, já que o dia 26 de abril é seu aniversário, tornou-se o momento de todos os goleiros serem lembrados.
A ideia de criar o Dia do Goleiro partiu de dois professores da Escola de Educação Física do Exército do Rio de Janeiro: o tenente Raul Carlesso e o capitão Reginaldo Pontes Bielinski. Carlesso, inclusive, foi um dos pioneiros no trabalho de preparação de goleiros no Brasil, tendo sido o primeiro treinador específico para a posição a atuar na comissão técnica da Seleção Brasileira em uma Copa do Mundo — durante o Mundial da Alemanha, em 1974. Inicialmente, a data era comemorada em 14 de abril. Isso porque naquele dia, em 1975, uma grande festa reuniu goleiros e ex-goleiros no Rio de Janeiro. Porém, a partir do ano seguinte, consolidou-se o dia 26 de abril.
Manga, à época, era goleiro do Inter. Havia sido campeão brasileiro em 1975 e seria, novamente, peça importante no bicampeonato em 1976. Antes disso, já havia conquistado inúmeros título com a camisa do Sport, do Botafogo e do Nacional-URU. Depois, viria a levantar taças também por Operário-MS, Coritiba, Grêmio e Barcelona-EQU. Além disso, disputou a Copa de 1966. Era reserva de Gilmar, mas foi titular na partida contra Portugal, vencida por 3 a 1 pelos europeus, que causou a eliminação do Brasil.
S.O.S goleiros
Paulo Roberto Xavier, de 61 anos é goleiro desde criança em Volta Redonda (RJ), onde nasceu. Filho e irmão de craques no futebol – seu pai, Xavier foi atacante e bicampeão no Atlético Mineiro e seu irmão, Wilton, ex-ponta-direita várias vezes campeão em supertimes do Fluminense, do Rio de Janeiro, na década de 1970. Para ele, que hoje tem uma empresa especializada em treinar jovens goleiros – a PRX Goalkeeper Academy – e divide sem tempo entre Porto Alegre e Garopaba (SC), “os goleiros estão sendo cada vez mais ridicularizados pela falta de responsabilidade e teimosia dos seus treinadores e preparadores de goleiros. Se é para os goleiros atuarem fora do gol, quem joga no gol?, pergunta Paulo Roberto Xavier que atuou durante muitos anos como goleiro em clubes dos Estados Unidos.
Para Xavier, os goleiros de hoje são bem treinados em relação ao treinamento técnico específico, porém pessimamente, e até levianamente, orientados. Parece que não existe diálogo entre preparador de goleiros e goleiros. Eu vejo goleiros mal posicionados no gol, com tempo de reação precário, sem noção de espaço ao sair em uma dividida com os atacantes, vez que outra abafa uma jogada, assim mesmo mais pela deficiência técnica do atacante que por sua habilidade de raciocínio… Dá uma forte impressão que evoluímos, mas a verdade é que nos castraram, tiraram a maior virtude do goleiro que é segurar bola, e defende a goleira como um fiel guardião. Assim como um todo, o goleiro ficou á Mercer do futebol tecnisista, o goleiro virou um robô pessimamente mal programado …
– Sequências de mal posicionamento por partes dos goleiros. No futebol atual os goleiros se destacam mais pela falta de qualidade dos jogadores que por suas virtudes. São poucos os Messis no futebol atual, e no Brasil não temos um jogador atualmente que possa deitar e rolar na debilidade técnica dos nossos goleiros, debilidade essa, imposta por seus treinadores. Se o Pelé estivesse jogando hoje no futebol brasileiro, faria um milhão de gols ao invés de mil – conclui Paulo Roberto Xavier.
Renato, também conhecido como “Aranha Negra”, ex-goleiro da Seleção Brasileira, do Flamengo, Fluminense, Atlético Mineiro e Bahia, aos 76 anos, morando em Uberlândia (MG), lembra que “se você acha que fazer gol é emocionante é porque nunca a fez uma defesa”. Essa frase – segundo ele – é exatamente o que penso sobre o goleiro. O zagueiro pode evitar um gol mas o goleiro está lá para evitar o gol mas fazendo uma defesa. A bola tem que morrer nele. Isso quando acontece o atacante faz o maior esforço, tenta dar o chute mais forte, procura o lugar para difícil mas se você pega essa bola e fica com ela, o atacante fica desmoralizado. O pensamento do goleiro não pode ser de outra maneira. Atualmente, vejo muito goleiro que é difícil fazer gol nele. Ele evita os gols. O goleiro tem que defender a bola, acabar com a jogada.
O goleiro é muito especial. A responsabilidade dele é enorme. Dificilmente um erro dele pode ser corrigido por algum companheiro. Toda a equipe tem que ter uma confiança enorme em suas qualidades, porque sabendo que o atacante adversário vai chutar mas a equipe sabe que tem um goleiro que vai pegar a bola, o time tem certeza que isso irá acontecer. Você tem que ter sempre a ajuda dos companheiros porque você tentar agarrar, não consegue e o companheiro precisa tirar a bola do alcance do adversário. Mas, repleto: o grande objetivo do goleiro é segurar a bola e acabar com a jogada do time adversário.
A partir daí, precisa iniciar a jogada de uma forma eficiente, boa e rápida. O goleiro é um ser completamente diferente. Ele treina separado, o treinamento dele é muito diferente do elenco. Ele se veste diferente. É o único que pode colocar as mãos na bola. Ele tem que ter muita eficiência. Na época que eu jogava aqui no Brasil nos goleiros enfrentamos os melhores atacantes do mundo. Diversas vezes fui jogar na Europa e a jogada do adversário é sempre a mesma, alçando a bola no segundo pau para o seu colega devolver de cabeça no meio da área. Na maioria das vezes podíamos cortar essa bola porque a jogada era sempre a mesma.
Aqui no Brasil era completamente diferente. Tinha um lateral-direito do Fluminense, já falecido, Oliveira que cruzava a bola de curva na área. Tinha também o Nelinho do Cruzeiro que todo cruzamento era difícil para o goleiro pegar. Felizmente o saudoso tenente Carlesso teve essa brilhante ideia de criar o Dia do Goleiro. Antigamente nos programas de televisão o goleiro somente aparecia na imagem pegando a bola no fundo da rede.
UMA GRANDE PARTIDA
por Zé Roberto Padilha
Dá gosto ver o River Plate jogar. Realizam o Tic Tac do Guardiola com talento e a criatividade sul/americana. O domínio de bola é algo para ser aplaudido de pé. Uma equipe para sentar no sofá, pegar uma taça de vinho e apreciar. Já haviam feito uma grande final contra o Flamengo, como perderam, esqueceram o tanto que jogaram.
Dá gosto torcer pelo Fluminense! Sem o entrosamento dos vice-campeões da Libertadores, o time se superou em campo. E com a entrada do Cazares, equilibrou a partida e alcançou com justiça o empate.
Valeu a pena esperar oito anos para provar, ao mundo da bola, que o Fluminense tem a camisa que combina com as competições charmosas como a Libertadores da América.
Fico pensando se nosso time tocasse a bola daquele jeito, invertesse as jogadas e desse o bote coletivo para neutralizar cada jogada. Seria até covardia. E eles viajaram pensando que se tivessem o Fred no seu ataque, sua maior posse de bola se refletiria no placar.
Eles, que rodeiam às suas vítimas, e as desnorteiam com a bola rondando de pé em pé, felizmente não têm um matador. Se tivessem, seria até covardia.
Enfim, covardia mesmo seria Fluminense e River Plate saírem derrotados enquanto nós, amantes do futebol, ganhávamos de presente um grande espetáculo.
Se até o juiz teve uma atuação de gala, restaria ao futebol, caso falasse, como esporte, arte e entretenimento, agradecer a todos pelo respeito com que o trataram.
AS DECISÕES POR PRORROGAÇÃO E PÊNALTI
por Luis Filipe Chateaubriand
Quando, em determinado certame, dois clubes disputam a mesma vaga, ou então o título, muitas vezes recorre-se a prorrogação ou pênaltis para que de desenlace a igualdade e resolva-se a situação.
Dois métodos, ao nosso ver, inadequados.
Prorrogação significa colocar atletas que estavam adequados para disputar uma partida de 90 minutos para disputarem 120 minutos.
O desgaste é inevitável e a queda de rendimento, também – acarretando acentuada queda de nível do espetáculo.
Decidir por pênaltis tem o inconveniente de criar “vilões” ao se encerrar a disputa, pois o jogador que desperdiça o pênalti decisivo não é perdoado pela torcida de seu clube – que, imediatamente, começa a lhe demonstrar desapreço.
O futebol, como esporte coletivo que é, não deve estimular essa cultura de criar culpados por desclassificações ou perdas de títulos.
Mas, sem prorrogação ou pênaltis, como decidir a classificação ou o título entre dois clubes empatados?
Basta estabelecer o seguinte: no caso de jogo único, um dos dois clubes tem a vantagem do empate; no caso de dois jogos (ida e volta), um dos dois clubes joga com a vantagem de dois empates ou de uma vitória e uma derrota pelo mesmo saldo de gols.
Em ambas as hipóteses, o clube que joga com a vantagem é ou o que fez melhor campanha na fase anterior do certame ou, se não há fase anterior do certame, o melhor colocado no ranking do certame.
Outra hipótese, em caso de jogo único, é se fazer um sorteio entre os dois clubes e o clube que ganhar o sorteio decide se quer mando de campo ou vantagem do empate, com o trunfo preterido ficando para o clube que perdeu o sorteio.
Outra hipótese, em caso de dois jogos (ida e volta), é se fazer um sorteio entre os dois clubes e o clube que ganhar o sorteio decide se quer mando de campo do segundo jogo ou vantagem de dois empates ou uma vitória e uma derrota pelo mesmo saldo de gols, com o trunfo preterido ficando para o clube que perdeu o sorteio.
Há metodologias, portanto, que podem ser substitutivas às cansativas prorrogações e às afeitas a gerar “vilões” cobranças de pênaltis!