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WILLIAM BACANA, UM HERÓI ALVINEGRO

por Leandro Costa 


Nem a geração de Didi, Nilton Santos e Garrincha, nem o timaço de Jairzinho, Roberto, Gerson e Paulo Cézar, conseguiram realizar o feito que William Bacana e seus companheiros concretizaram na noite de 30 de setembro de 1993, no estádio Maracanã: conquistar um título internacional oficial para o glorioso Botafogo de Futebol e Regatas.

William Martins Sampaio, o William Bacana, chegou ao Botafogo em 1988, aos 20 anos, para se juntar ao grupo de juniores. Em 1989, já integrado ao elenco profissional, fez parte do grupo que acabou com o jejum do clube de 21 anos sem títulos, conquistando o Campeonato Carioca. No ano seguinte, foi bicampeão estadual. 

O ponto alto da carreira de William aconteceu no ano de 1993. Até então com poucas oportunidades de jogar, William recebeu a missão de substituir, no gol alvinegro, o titular Carlão, contundido, na Copa Conmebol. Com a confiança do Capita do Tri, Carlos Alberto Torres, William teve grande atuação na primeira partida das finais, contra o Peñarol, no Uruguai, garantindo o empate em 1×1. A partida de volta, no Rio de Janeiro, reservava uma noite inesquecível para William e toda a torcida Botafoguense.

Aos 34 minutos do primeiro tempo, Bengoechea abriu o placar para o time Uruguaio. O Botafogo virou no segundo tempo, com gols de Eliel e Sinval em cobranças de falta, porém ainda havia muita emoção reservada para aquela partida. Aos 45 minutos do segundo tempo, Otero empatou para o Peñarol, levando o jogo para a disputa de pênaltis. Hora de brilhar a estrela de William Bacana. 

Sinval desperdiçou a primeira cobrança do Botafogo. William defendeu a cobrança de Ferreyra. Suélio, Perivaldo e André converteram para o alvinegro. Da Silva marcou para o time Uruguaio. O zagueiro Guitierrez chutou para fora e De Los Santos cobrou o pênalti decisivo à esquerda do goleiro William, que pulou para o canto certo e sutilmente desviou a bola que ainda bateu na trave antes de colocar para sempre o nome de William Bacana e seu companheiros na rica história do Botafogo.

S.O.S GOLEIROS

por Irineu Tamanini


Hoje, dia 26 de abril é celebrado o Dia do Goleiro, uma data criada em 1976 para homenagear uma posição no futebol que, em poucos segundos, pode ir do céu ao inferno com uma defesa importante ou uma falha vexatória. A data é, simplesmente, uma reverência a um dos principais goleiros da história do futebol brasileiro: Haílton Corrêa de Arruda, o Manga. Com histórico de Seleção Brasileira e passagem marcante por Botafogo, Inter e Grêmio, ele foi campeão por todos os clubes em que passou e, já que o dia 26 de abril é seu aniversário, tornou-se o momento de todos os goleiros serem lembrados. 

A ideia de criar o Dia do Goleiro partiu de dois professores da Escola de Educação Física do Exército do Rio de Janeiro: o tenente Raul Carlesso e o capitão Reginaldo Pontes Bielinski. Carlesso, inclusive, foi um dos pioneiros no trabalho de preparação de goleiros no Brasil, tendo sido o primeiro treinador específico para a posição a atuar na comissão técnica da Seleção Brasileira em uma Copa do Mundo — durante o Mundial da Alemanha, em 1974. Inicialmente, a data era comemorada em 14 de abril. Isso porque naquele dia, em 1975, uma grande festa reuniu goleiros e ex-goleiros no Rio de Janeiro. Porém, a partir do ano seguinte, consolidou-se o dia 26 de abril.

Manga, à época, era goleiro do Inter. Havia sido campeão brasileiro em 1975 e seria, novamente, peça importante no bicampeonato em 1976. Antes disso, já havia conquistado inúmeros título com a camisa do Sport, do Botafogo e do Nacional-URU. Depois, viria a levantar taças também por Operário-MS, Coritiba, Grêmio e Barcelona-EQU. Além disso, disputou a Copa de 1966. Era reserva de Gilmar, mas foi titular na partida contra Portugal, vencida por 3 a 1 pelos europeus, que causou a eliminação do Brasil.

S.O.S goleiros

Paulo Roberto Xavier, de 61 anos é goleiro desde criança em Volta Redonda (RJ), onde nasceu. Filho e irmão de craques no futebol – seu pai, Xavier foi atacante e bicampeão no Atlético Mineiro e seu irmão, Wilton, ex-ponta-direita várias vezes campeão em supertimes do Fluminense, do Rio de Janeiro, na década de 1970. Para ele, que hoje tem uma empresa especializada em treinar jovens goleiros – a PRX Goalkeeper Academy – e divide sem tempo entre Porto Alegre e Garopaba (SC), “os goleiros estão sendo cada vez mais ridicularizados pela falta de responsabilidade e teimosia dos seus treinadores e preparadores de goleiros. Se é para os goleiros atuarem fora do gol, quem joga no gol?, pergunta Paulo Roberto Xavier que atuou durante muitos anos como goleiro em clubes dos Estados Unidos. 

Para Xavier, os goleiros de hoje são bem treinados em relação ao treinamento técnico específico, porém pessimamente, e até levianamente, orientados. Parece que não existe diálogo entre preparador de goleiros e goleiros. Eu vejo goleiros mal posicionados no gol, com tempo de reação precário, sem noção de espaço ao sair em uma dividida com os atacantes, vez que outra abafa uma jogada, assim mesmo mais pela deficiência técnica do atacante que por sua habilidade de raciocínio… Dá uma forte impressão que evoluímos, mas a verdade é que nos castraram, tiraram a maior virtude do goleiro que é segurar bola, e defende a goleira como um fiel guardião. Assim como um todo, o goleiro ficou á Mercer do futebol tecnisista, o goleiro virou um robô pessimamente mal programado … 

– Sequências de mal posicionamento por partes dos goleiros. No futebol atual os goleiros se destacam mais pela falta de qualidade dos jogadores que por suas virtudes. São poucos os Messis no futebol atual, e no Brasil não temos um jogador atualmente que possa deitar e rolar na debilidade técnica dos nossos goleiros, debilidade essa, imposta por seus treinadores. Se o Pelé estivesse jogando hoje no futebol brasileiro, faria um milhão de gols ao invés de mil – conclui Paulo Roberto Xavier.

Renato, também conhecido como “Aranha Negra”, ex-goleiro da Seleção Brasileira, do Flamengo, Fluminense, Atlético Mineiro e Bahia, aos 76 anos, morando em Uberlândia (MG), lembra que “se você acha que fazer gol é emocionante é porque nunca a fez uma defesa”. Essa frase – segundo ele – é exatamente o que penso sobre o goleiro. O zagueiro pode evitar um gol mas o goleiro está lá para evitar o gol mas fazendo uma defesa. A bola tem que morrer nele. Isso quando acontece o atacante faz o maior esforço, tenta dar o chute mais forte, procura o lugar para difícil mas se você pega essa bola e fica com ela, o atacante fica desmoralizado. O pensamento do goleiro não pode ser de outra maneira. Atualmente, vejo muito goleiro que é difícil fazer gol nele. Ele evita os gols. O goleiro tem que defender a bola, acabar com a jogada.

O goleiro é muito especial. A responsabilidade dele é enorme. Dificilmente um erro dele pode ser corrigido por algum companheiro. Toda a equipe tem que ter uma confiança enorme em suas qualidades, porque sabendo que o atacante adversário vai chutar mas a equipe sabe que tem um goleiro que vai pegar a bola, o time tem certeza que isso irá acontecer. Você tem que ter sempre a ajuda dos companheiros porque você tentar agarrar, não consegue e o companheiro precisa tirar a bola do alcance do adversário. Mas, repleto: o grande objetivo do goleiro é segurar a bola e acabar com a jogada do time adversário. 

A partir daí, precisa iniciar a jogada de uma forma eficiente, boa e rápida. O goleiro é um ser completamente diferente. Ele treina separado, o treinamento dele é muito diferente do elenco. Ele se veste diferente. É o único que pode colocar as mãos na bola. Ele tem que ter muita eficiência. Na época que eu jogava aqui no Brasil nos goleiros enfrentamos os melhores atacantes do mundo. Diversas vezes fui jogar na Europa e a jogada do adversário é sempre a mesma, alçando a bola no segundo pau para o seu colega devolver de cabeça no meio da área. Na maioria das vezes podíamos cortar essa bola porque a jogada era sempre a mesma.

Aqui no Brasil era completamente diferente. Tinha um lateral-direito do Fluminense, já falecido, Oliveira que cruzava a bola de curva na área. Tinha também o Nelinho do Cruzeiro que todo cruzamento era difícil para o goleiro pegar. Felizmente o saudoso tenente Carlesso teve essa brilhante ideia de criar o Dia do Goleiro. Antigamente nos programas de televisão o goleiro somente aparecia na imagem pegando a bola no fundo da rede.

UMA GRANDE PARTIDA

por Zé Roberto Padilha


Dá gosto ver o River Plate jogar. Realizam o Tic Tac do Guardiola com talento e a criatividade sul/americana. O domínio de bola é algo para ser aplaudido de pé. Uma equipe para sentar no sofá, pegar uma taça de vinho e apreciar. Já haviam feito uma grande final contra o Flamengo, como perderam, esqueceram o tanto que jogaram.

Dá gosto torcer pelo Fluminense! Sem o entrosamento dos vice-campeões da Libertadores, o time se superou em campo. E com a entrada do Cazares, equilibrou a partida e alcançou com justiça o empate.

Valeu a pena esperar oito anos para provar, ao mundo da bola, que o Fluminense tem a camisa que combina com as competições charmosas como a Libertadores da América.

Fico pensando se nosso time tocasse a bola daquele jeito, invertesse as jogadas e desse o bote coletivo para neutralizar cada jogada. Seria até covardia. E eles viajaram pensando que se tivessem o Fred no seu ataque, sua maior posse de bola se refletiria no placar.

Eles, que rodeiam às suas vítimas, e as desnorteiam com a bola rondando de pé em pé, felizmente não têm um matador. Se tivessem, seria até covardia.

Enfim, covardia mesmo seria Fluminense e River Plate saírem derrotados enquanto nós, amantes do futebol, ganhávamos de presente um grande espetáculo.

Se até o juiz teve uma atuação de gala, restaria ao futebol, caso falasse, como esporte, arte e entretenimento, agradecer a todos pelo respeito com que o trataram.

AS DECISÕES POR PRORROGAÇÃO E PÊNALTI

por Luis Filipe Chateaubriand


Quando, em determinado certame, dois clubes disputam a mesma vaga, ou então o título, muitas vezes recorre-se a prorrogação ou pênaltis para que de desenlace a igualdade e resolva-se a situação.

Dois métodos, ao nosso ver, inadequados.

Prorrogação significa colocar atletas que estavam adequados para disputar uma partida de 90 minutos para disputarem 120 minutos.

O desgaste é inevitável e a queda de rendimento, também – acarretando acentuada queda de nível do espetáculo.

Decidir por pênaltis tem o inconveniente de criar “vilões” ao se encerrar a disputa, pois o jogador que desperdiça o pênalti decisivo não é perdoado pela torcida de seu clube – que, imediatamente, começa a lhe demonstrar desapreço.

O futebol, como esporte coletivo que é, não deve estimular essa cultura de criar culpados por desclassificações ou perdas de títulos.

Mas, sem prorrogação ou pênaltis, como decidir a classificação ou o título entre dois clubes empatados?

Basta estabelecer o seguinte: no caso de jogo único, um dos dois clubes tem a vantagem do empate; no caso de dois jogos (ida e volta), um dos dois clubes joga com a vantagem de dois empates ou de uma vitória e uma derrota pelo mesmo saldo de gols.

Em ambas as hipóteses, o clube que joga com a vantagem é ou o que fez melhor campanha na fase anterior do certame ou, se não há fase anterior do certame, o melhor colocado no ranking do certame.

Outra hipótese, em caso de jogo único, é se fazer um sorteio entre os dois clubes e o clube que ganhar o sorteio decide se quer mando de campo ou vantagem do empate, com o trunfo preterido ficando para o clube que perdeu o sorteio.

Outra hipótese, em caso de dois jogos (ida e volta), é se fazer um sorteio entre os dois clubes e o clube que ganhar o sorteio decide se quer mando de campo do segundo jogo ou vantagem de dois empates ou uma vitória e uma derrota pelo mesmo saldo de gols, com o trunfo preterido ficando para o clube que perdeu o sorteio.

Há metodologias, portanto, que podem ser substitutivas às cansativas prorrogações e às afeitas a gerar “vilões” cobranças de pênaltis!

SAMBAS E ADÃO

por Rubens Lemos


Ser filho de boêmio idealista me fez bem e mal. O lado ruim é a eterna crença na espécie humana que acabou com a vida de quem herdei o sentimentalismo. A boa é gostar de futebol e samba.

Adoro samba! Samba de verdade, samba de quintal, de raiz, de versejadores, de quem produz aos repiques e tamborins soando, melodias e não ladainhas dos caipiras que fingem fazer música para quem ouve com controle de qualidade abaixo de zero. Tipo madame de salto alto.

O samba é povão, é intuição, é suavidade, é adoração. O repertório que conheci nas mesas de um velho bar de Natal, que já não existe, o Café Nice.

Aprendi a gostar de Paulinho da Viola, com o Pagode do Vavá, onde a plebe prova do feijão da Vicentina e sabe que a coisa é divina!

Onde me apresentaram à obra de Martinho da Vila para dela nunca mais me separar. Há um samba-enredo, chamado Gbala, no Templo da Criação que se fez hino em minhas idas ao estádio Castelão para ver jogar o ABC, meu time no Rio Grande do Norte.

A batucada apitava e eu entrava, cheio de cerveja, no trecho especial da letra, motivador da vitória do meu time: “Gbala, resgatar, salvar, e a criança, é a esperança de Oxalá, Gbala, resgatar salvar, a criança é a esperança, de Oxalá, vamos sonhar”.

Martinho da Vila e Paulinho da Viola, por absoluto bom gosto, são ilustres vascaínos. Martinho da Vila cantando Pequeno Burguês e meu coração saltitando na bateria dos clássicos contra o Flamengo.

A delicadeza de Paulinho da Viola confessava seu amor que determinei ser pelo Vasco: “Meu coração tem manias de amor, amor não é fácil de achar, a marca dos meus desenganos ficou, ficou, só um amor pode apagar”. O Castelão foi um estádio que passou em minha vida, cometo o plágio, cheio de nostalgia.

Dou pausa no teclado. Dou uma tamborilada na mesa porque é hora de me emocionar, mesmo e bastante. É quando o bafo da massa batia no meu rosto magro enquanto Dudé, nosso cheiroso Rei da Bateria, puxava Simone em O Amanhã, nada mais lindo na minha relação bola e pagode.

Cinco cervejas depois, repetia que a cigana leu o meu destino, eu sonhei, bola de cristal, jogo de búzios, cartomante eu sempre perguntei (nunca obtive resposta), o que será o amanhã? Como vai ser o meu destino? Já desfolhei (nunca desfiz uma flor), o malmequer, primeiro amor, de um menino”.

O meu destino, já dizia Simone para eu aprender, será como Deus quiser. Uma tarde, meu destino foi vibrar com um gol de Sérgio China (ABC), no minuto final da prorrogação em 1993.

Numa festinha de interior, perguntei a uma mocinha quem ela apreciava cantando: “Fabio Júino”. Assim mesmo, Júino. Antes que ela puxasse o assunto da novela mexicana do SBT, encerrei o papo. A única produção de primeira linhagem de Fábio Júnior foi a estonteante filha Cléo Pires.

Chato, sempre, aos acordes sambistas, preferi jogadores de classe, de ginga de passarela de carnaval de escola carioca. Meus centroavantes preferidos eram Roberto Dinamite, que, na área era um Coutinho do Santos. Reinaldo do Galo, Careca, Tostão, Bebeto e o melhor da eternidade, Romário.

O mais injustiçado entre todos os atacantes do meu tempo: o negro elegante Cláudio Adão, estrofe de categoria acompanhada por um bom violão.

Porte majestoso, Cláudio Adão jogou com Pelé, Zico, Roberto Dinamite, fez carreira-solo e era magnífico. Jamais convocado para a seleção brasileira. Nível Copa do Mundo.

Seleção que recebeu Casagrande Serginho Chulapa, Nunes, Hulk, Jô e Grafite, aberrações iguais às bandas de forró de obtusas e indistintas classes. Cláudio Adão merece Cartola. Deixe-o ir andar, procurar, rir para não chorar.