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BETO PUPUNHA, UM BOLEIRO PARA CHAMAR DE SEU

por Antonio Meninéa


Hoje vamos falar sobre Pupunha. Mas não qualquer Pupunha (Árvore nativa da Amazônia), e sim de Roberto Azevedo da Gama, mais conhecido como “Beto Pupunha”. 

Filho de Parintins/AM, Beto nasceu e foi criado na terra dos bois Garantido e Caprichoso. Dessa ilha, onde até hoje o futebol é amador, saíram grandes boleiros para o futebol profissional brasileiro e até internacional.

Gerado em família de boleiros, foi o único a se profissionalizar, e olha que o tio dele, Nilo da Gama, foi fera e jogou contra e a favor de Mané Garrincha, em 1973.

Em Parintins, iniciou trajetória jogando no Futebol de Salão da Jumac e no Juvenil do Sul América.

De férias em Manaus, jogou no amador do Atlético Pipoca, do São José 1.

Como fazia muitos gols, foi convidado pelo amigo Marcelo, meia direita do Rio Negro, para um teste no Clube da Praça da Saudade, sendo aprovado pelo técnico Lula e o supervisor Carlos Souza.


No Campeonato Amazonense de Juniores, em 1995, marcou 8 gols. Com suas atuações, em 1996, um ano após sua chegada ao clube, já era forte candidato a uma vaga no time principal profissional

Aos 17 anos de idade, em 1996, se profissionalizou. A partir daí, se tornou um dos nomes mais respeitados do futebol Amazonense e Região Norte.

Em 1997, emprestado ao São Raimundo, chamou atenção do mestre Aderbal Lana. Nesse mesmo ano, fez parte do elenco Campeão Amazonense pelo Tufão da Colina. 

De volta ao Galo Carijó em 1998, foi Vice-Campeão Amazonense.

No ano de 2000, atuando pelo Libermorro, ajudou a quebrar a invencibilidade do poderoso São Raimundo em pleno estádio da Colina. Fazia 5 anos que não perdiam em casa.

Beto Pupunha ainda foi campeão roraimense pelo Rio Negro em 2000, e tricampeão pelo Atlético Roraima nos anos de 2001, 2002 e 2003.

Além dos títulos conquistados, jogou na Série C do Brasileiro e também na Copa do Brasil. 


E não parou por aí. Ao participar de uma peneira com mais de 80 atletas, consagrou-se como primeiro Parintinense a jogar no Japão, pelo Arte Takasaki. Sem dúvidas, sua mais rica experiência de vida profissional. 

Após encerrar carreira em Manaus, se tornou técnico de futebol e comanda a escolinha Show de Bola, em Parintins, revelando e encaminhando jovens talentos para os grandes clubes de Manaus.

E essa é a história de Beto Pupunha, um boleiro para chamar de seu!

MENOS, CLAUDINHO

por Zé Roberto Padilha


Você não sabe, menino, o tamanho do vazio que a camisa 10, e seus protagonistas, deixaram no imaginário da gente.

No auge do futebol-arte, nas décadas em que o mundo se colocava aos nossos pés, só tinha direito de vestir a camisa com o mesmo número de sua majestade quem era diferenciado.

Goleiros defendiam, zagueiros marcavam, o cabeça de área protegia, pontas abriam e os centroavantes definiam. Era sempre assim.

Mas quando a bola alcançava os pés do Zico, do Eduzinho, Falcão, Ademir da Guia, Roberto Rivelino, Tostão, até alcançar Ronaldinho Gaúcho, a magia surgia daquela vestimenta sagrada.

Tiravam da cartola uma cavadinha, um elástico, uma caneta, uma paradinha na cobrança do pênalti e até bicicletas. Eles garantiam as nossas gratificações porque atraiam às bilheterias milhares de torcedores.

Bons jogadores como eu, Mario Marques, Arthurzinho, Paulinho, até o Zinho, que éramos 11 ou 8, só tínhamos direito a colocar a 10 nas equipes que defenderíamos no final da carreira.

De repente, em meio à escassez, que possibilitou aos repatriados Diego, Hernandez e Nenê voltarem a vesti-la, quando desembarcaram de volta sonhando com a 8 ou 16, surge no Bragantino uma revelação.

E todos nós, as viúvas saudosas, viramos nosso olhar ansioso para vê-lo jogar. Contra o Fluminense, ajeitamos a poltrona, colocamos vinho na taça e nos preparamos para apreciar sua genialidade.

Na minha opinião, você merecia era uma coça. Se seu treinador fosse cascudo, não um inseguro Barbieri, você nem voltaria para o segundo tempo. Enquanto seus companheiros se matavam, você dava uma letra e errava. E mesmo não acertando nenhuma, dava outra letra e errava.

E aos 43 do segundo tempo, em meio a busca desesperada do Fluminense pelo empate, fez outra gracinha no meio campo, roubaram sua bola e igualaram a partida dentro de sua casa.

Menos, Claudinho, filigranas inúteis e mais jogadas talentosas eficientes à frente. E respeito pela entrega dos seus companheiros.

Palavras de quem torce para que você jogue tudo o que disseram. Palavras de quem jogou ao lado do Gerson, do Zico e do Rivelino e aprendeu de perto uma máxima:

A arte é tão simples quanto sublime. Mas a ela só terão acesso os humildes.

MARACANÃ, 71 ANOS

por Paulo-Roberto Andel


A primeira cena que me lembro de estar no Maracanã foi em 1974. Era o fim do jogo, à noite e olhei fixamente para o antigo placar em 0 x 0. Não lembro do jogo, mas muito provavelmente era o meu Fluminense contra alguém.

Pelas décadas seguintes, ele foi minha casa, meu pedaço de felicidade, minha sensação de cidadania. Eu acreditava num Brasil feito o Maracanã, onde o pobre e o rico podiam se abraçar para comemorar um golaço.

Vi alguns de seus maiores jogos, na verdade muitos. Vários com bem mais do que 100 mil pessoas. O Maracanã já foi o lugar onde o povo carioca se encontrava.

É claro que quando você vai a centenas de jogos, verá seu time ganhar e perder muito. O futebol é assim. Eu ainda via os times dos outros: quando descobri que a geral era baratinha, tripliquei o número de jogos no estádio. America e Bangu? Eu estava lá.

Depois de 2010, tudo mudou. Colocaram um outro estádio no lugar do Maracanã, gourmet, para selfies e deslumbrados em busca de fama. Só que você não frequenta uma casa por quarenta anos à toa, e a força daquele lugar é tão grande que nem os inimigos do chamado “futebol moderno” resistem.

Nos últimos tempos, só as ornamentações cabem na arquibancada. Vivemos tempos de guerra com a pandemia. O Maracanã virou uma sessão de TV, quando ela transmite. Mas ainda há o que procurar em meio aos escombros retrofitados da história.

Como se fosse num sebo, procuramos velhos craques, histórias inesquecíveis, bordões de rádio, vozes impressionantes e bandeiras, fogos, pó de arroz, papel higiênico, sinalizadores. Procuramos jogos de meio século que parecem ter sido ontem. Procuramos heróis permanentes e anônimos, restinhos de glória, apoteoses da pequenina felicidade.

O Maracanã das preliminares, da rodada dupla, do eco nos alto-falantes com Victorio Gutemberg dizendo “SU-DERJ IN-FORMA”. Dos gols apoteóticos, dos títulos imortais, do drama e da morte, mas também da vida.

Tomara que um dia o Maracanã volte de verdade. Para muitos de nós, ricos ou pobres, brancos ou pretos, gordos ou magros, velhos e jovens, ele foi o grande rio que passou em nossas vidas. O Rio.

@pauloandel

VIVA A HOLANDA

:::::::: por Paulo Cezar Caju :::::::


A crise é mundial e afirmo isso após assistir alguns jogos da Eurocopa. Falo com tristeza, afinal é na Europa que meu controle remoto vem estacionando há alguns anos, uma forma de fugir da mediocridade em que se transformou o futebol brasileiro. Mas a notícia não é 100% ruim porque as minhas seleções favoritas, Holanda e Bélgica, continuam me agradando muito. Treinada por De Boer, a Holanda, ao contrário do Brasil, nunca abandonou sua essência mesmo após não se classificar para uma Copa do Mundo. Sou fã de Rinus Michels, que criou essa forma de jogar, chamada por muitos de “Futebol total”.

Na verdade, eu deveria ter trauma dessa seleção holandesa, de 74, pois nessa Copa do Mundo perdi um gol contra eles que poderia ter mudado nosso destino. Mas perdemos para um grande time, como Rensenbrink, Neeskens e o genial Cruyff, sucessor de Rinus. Na Euro, de 1988, Rinus foi eleito pela FIFA como o melhor treinador do mundo e brindado com o título comandando um grupo espetacular, com Rijkaard, Van Basten E Gullit. Seguirei torcendo por eles e pela Bélgica. Também acredito na Itália de Mancini, bem mais leve e ofensiva, na França de Didier Deschamps e tenho que parabenizar a Ucrânia de Shevchenko, mas a Inglaterra me decepcionou.

Mas, na verdade, o grande show que a Eurocopa vem dando é na educação e civilidade. Não se ouvem gritos da área técnica, xingamento aos árbitros, simulações e violência em campo. No Brasil, a ausência de público expôs a qualidade das comissões técnicas, uma vergonha. No fim da partida entre Vasco x Brasil, os técnicos quase saem no tapa. Mas alguém vai dizer que na Segundona só se salvam os bons de briga, os que não se intimidam. Também falam isso da Libertadores. E é por conta dessa filosofia que nos afundamos cada vez mais. Tem que vencer o que jogar mais bola!

Sobre a seleção, sem comentários, ruim de doer, mas a mídia prefere dizer que Tite segue com 100% de aproveitamento, como se isso fosse um feito extraordinário, nenhuma crítica, só afagos. Pelo menos os times do Nordeste seguem bem na Copa do Brasil e no Brasileirão. Se o campeonato terminasse hoje o Fortaleza seria o campeão! Tenho sonhado com um time do Nordeste vencendo o Brasileiro e um africano levando a Copa do Mundo. Acorda, PC!!! Pior que acordei e dei de cara com Palmeiras x Corinthians. Santos x Juventude também foi de doer e não vou nem comentar de Cruzeiro x Goiás…meu Deus, onde está esse maldito controle remoto? Por falar em comentar, tive que ouvir um dos “analistas” dizer que a Holanda tinha perdido a intensidade, mas seguia tentando fazer a leitura do jogo, entrando pela diagonal. Deixa pra lá!!

PRA QUE COPA AMÉRICA?

por Marcelo Mendez e Paulo Escobar


Canto Torto 1

A América do Sul nunca foi longe demais pra mim.

Os amigos do Pai, os livros, as músicas e nossa puta vida de sofrimentos mútuos. Mas desde sempre, Sudaca. No futebol tambem foi assim.

A minha mais tenra lembrança de nossos embates vai para 1979. O Brasil foi a Assunção pra enfrentar o Paraguai naquela que ficou conhecida como “A Batalha do Chaco”. O Paraguai, liderado por Romerito, Nuñes, Cabañas enfrentaria nosso time precisando vencer pra seguir na Copa América. 

Outros tempos.

Ligado na tv, naqueles tempos, em transmissões internacionais, antes dos times, a gente torcia para o sinal de tv. Fazer uma transmissão do Paraguai para o Brasil era uma aventura. Às vezes o sinal vinha, às vezes chegava atrasado, às vezes não vinha! Naquela noite, em preto e branco, veio. O ótimo time Paraguaio nos venceu por 2×1. Eu tinha 9 anos.

Vendo a festa do povo Paraguaio não fiquei triste. Vi muito. Poderia falar de dezenas de confrontos épicos dessa competição que sempre foi ignorada por aqui. Poderia falar de Mar del Plata 1987 na noite que o Chile de Letellier, Basay e Pato Yanez nos meteu um 4×0. Ou da amassada que o Brasil deu na Argentina em 1989 com Maradona e tudo. Mas não…

O assunto agora é outro, porque tem que ser outro. Porque somos a América do Sul e aqui, as coisas da nossa puta vida se dão dessa forma, donde a normatividade muitas vezes não explica as coisas. Ou talvez eu não saiba explicar, não sei. Dessa parte em diante vem a outra ponta da Sul América pra falar pra vocês. Para cantar a PaloSeco, o canto torto do velho poeta que por aqui passou, então fiquem atentos: 

O canto torto pode cortar a carne de voces…

Canto Torto 2

Como dizia Eduardo Galeano, que talvez sempre escreveu tão bem quem somos como latinos, que o europeu nos olha e não consegue nos entender. Por conta de nossa diversidade, pluralidade, intensidade e como sabemos nos levantar e sobreviver a tanta desgraça que nos assola.

O futebol não pode ser desligado do meio que o cerca, não pode ser indiferente, ou alheio ao que acontece. Essa bolha que muitos jogadores vivem ou essa amnésia que sofrem muitos depois de saírem dos meios onde cresceram, não pode ser parte do cotidiano do esporte.

O país beira as 500 mil mortes, sim o meio milhão de pessoas que morreram vitimas da covid no último ano e meio quase. O futebol não é serviço essencial e mesmo assim a bola não parou.

E uma Copa América não é necessária, não é importante, e não pode ser um espetáculo que busca acobertar o genocídio patrocinado pelo presidente. Mas é isso que vemos de novo, o futebol a serviço do acobertamento político, não é fato novo na América Latina, vide o serviço prestado pelo futebol em ditaduras.

A seleção brasileira perdeu a chance histórica de se colocar do lado do seu povo, de tomar posição diante das mortes e misérias que vivemos. E não é somente o assediador do presidente da CBF o problema, mas a estrutura política e do futebol como um todo.

Jogadores perderam mais uma vez a oportunidade de saírem da alienação, e talvez com sua posição colocar em xeque a estrutura do futebol brasileiro. Mas não podíamos esperar algo diferente, de pessoas que acham que futebol e política não se misturam, sendo que a posição indiferente e de covardia que tiveram foi política também.

A Copa América que foi já tão esperada por nós em tempos anteriores, hoje é motivo de desgosto, não deveria de ter acontecido, não há necessidade dela neste momento. O futebol não pode desfilar encima dos corpos daqueles que se foram, e não pode achar que está acima da sociedade e suas questões. 

Quantos corpos ainda terão que ser enterrados para que alguns se indignem ou se revoltem com a situação? Quantos ainda veremos partir para que estes jogadores pensem e sejam mais humanos e menos produtos? Como querem a simpatia de um povo que não representam? 

Esta Copa América será lembrada por ter sido jogada em um país onde as 500 mil mortes estarão sendo uma realidade enquanto a bola rola, sem vacinas para todos, sem um auxílio digno, e onde os jogadores serão os palhaços do circo político montado por um presidente que despreza a vida.