DANÇA DAS CADEIRAS DE TREINADORES AGITA FUTEBOL BRASILEIRO
por André Luiz Pereira Nunes
Novamente o mercado da bola se agita com as mudanças no comando técnico dos clubes cariocas que disputam o Campeonato Nacional. O Flamengo, após a polêmica e rumorosa demissão de Rogério Ceni, encontrou em Renato Gaúcho o nome certo para a sua redenção. Já o Botafogo, em péssima fase e com elenco sofrível, dispensou Marcelo Chamusca. Joel Santana deverá ser a bola da vez, enquanto o depauperado Vasco se livrou de Marcelo Cabo e busca em Lisca a solução para o seu fraquíssimo plantel. Não será a primeira vez nessa temporada que o clube de São Januário anseia pelos seus serviços. Na lista que continha Marcelo Cabo, Lisca “Doido” era um dos nomes mais cotados pela direção vascaína.
Nas antigas histórias de investigação, à la Sherlock Holmes, o culpado é sempre o mordomo. Em se tratando de futebol brasileiro é o treinador, pejorativamente chamado de “treineiro” pelos torcedores.
Habitualmente essas mudanças costumam trazer sangue novo. Principalmente quando a relação entre técnico, elenco e torcida já não é das melhores, como ocorreu no Flamengo. Porém, quando a qualidade do time é fraca, caso de Botafogo e Vasco, provavelmente não será um novo nome que fará algum milagre.
O Brasil vivencia uma evidente entressafra de talentos dentro e fora do campo. Há quem considere que trazer treinadores de fora evidenciaria o preconceito ou desprestígio com os profissionais domésticos. Mas, por outro lado, a opção por estrangeiros poderá trazer novos padrões que sejam enriquecedores para combater a mesmice e a previsibilidade que ora assolam o nosso futebol. Afinal de contas, estamos a um ano de uma Copa do Mundo e não temos o que mostrar.
GENUÍNA PROTEÍNA, IDEAL PARA OS NOVENTA MINUTOS NA CANCHA
por PH Gomes
Na porta dos estádios, que comidas alimentam a paixão pelo futebol? Existem diversos paladares e apetites: o churrasco grego de Conselheiro Galvão, o feijão tropeiro do Mineirão, os pastéis do Couto Pereira, o podrão do Pacaembu, o sanduíche de pernil da Vila Belmiro, o bolinho de bacalhau do Canindé, entre outros quitutes que dão cor, cheiro e sabor a experiência futeboleira, seja em qual canto for.
Toda porta de estádio tem iguarias para conter a ansiedade do pré-jogo, matar a larica da vitória ou, até mesmo, para ser o combustível da alegria pelo título em final de campeonato. Existe um ritual. Faz parte da experiência do torcer. Mas, afinal, qual é a sua comida de porta de estádio?
Em terras de São Sebastião do Rio de Janeiro, das pontas de Garrincha aos gols de Romário, o quitute mais desejado é: de cinco a oito pedaços de carne bovina, de frango, de linguiça toscana e/ou de linguiça calabresa, levemente pincelada por azeite, assada na brasa ou grelhada na chapa. Todos os pedaços cuidadosamente presos num espeto de madeira. O vendedor anuncia: “é” cinco miaus! Durante a compra, ele te fará uma pergunta singela: – passa na farofa? Altamente recomendado para tornar o sabor único.
Sim, estamos falando do churrasquinho de rua, do miau espetado que animam, alimentam e fortalecem torcedores e torcedoras no canto das torcidas. Por dois, três ou cinco Miaus de Real, você estará preparado para a emoção do jogo, para a cerveja gelada, para o grito de gol.
Em homenagem às esquinas, ruas e aos ambulantes dos estádios brasileiros, daquela saudade em tempos de pandemia, a genuína proteína ganha uma homenagem na Cancha: um salve ao churrasco de gato!
FUTEBOL VIROU TRISTEZA
:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::
Não sou nostálgico e nem acho que o futebol tenha acabado após a minha geração pendurar as chuteiras. Não acho que tenha nascido fora de época porque, hoje, os salários são milionários, afinal também fiz ótimos contratos. E por já ter passado dos 70 anos e ter vivido intensamente nossa cidade, nossas praias, boates e bares posso comparar cada um desses períodos.
Já rodei o mundo, comprei brigas, me dei mal, me dei bem, fui campeão do mundo de 70 em uma seleção que tinha Pelé, Furacão, Tostão, Gerson, Rivellino, Carlos Alberto Torres e Clodoaldo. Assisti de perto a seleção de 82, testemunhei as diabruras do genial Ronaldinho Gaúcho, as canetas do Fenômeno, a arte fenomenal dos discretos Rivaldo e Alex. Fui treinado por meu pai, Marinho, por João Saldanha, Didi e Zagallo. Acompanhei a evolução física dos jogadores já na Copa de 70 e me encanta ver como os goleiros também evoluíram e se valorizaram no mercado.
Então, ninguém pode dizer que pego pesado em minhas críticas com o futebol atual porque não existe qualquer amargura, inveja ou qualquer sentimento parecido. Sinto, de verdade, uma tristeza profunda. Nesse fim de semana quando vi o meu Botafogo perder para o Brusque, o Vasco empatar com o Náutico e o Cruzeiro perder de três, em casa, para o Avaí, senti um aperto no coração porque, para mim, é ver três histórias recheadas de glórias sendo pisoteadas, humilhadas. Sozinho, sentado no sofá de casa, fechei os olhos e imaginei Garrincha, Amarildo, Quarentinha, Carlos Roberto, Afonsinho e Nei Conceição, Nilton Santos e Roberto Miranda entrando em campo. Lembrei até da irreverência de Túlio Maravilha!
Lembrei de Dirceu Lopes, Natal, Evaldo, Nelinho, Piazza, Procópio, Ozires, Zé Carlos, Tostão e Raul Plassmann com o manto azul encantando os torcedores. Do Vasco, lembrei de Ademir Menezes, Almir Pernambuquinho, Juninho, do meio-campo que formei com Guina e Pintinho, e de Dinamite, centroavante raro. Agora, me respondam sinceramente se isso é inveja, nostalgia, rancor ou tristeza pura e verdadeira por termos chegado aonde chegamos? Nenhum especialista vai me convencer que evoluímos.
No Brasil, hoje, temos dois clubes milionários que vencem adversários medíocres e se acham fantásticos. O time do Náutico, invicto na Segundona e treinado por Hélio dos Anjos, é fraquíssimo, Felipão está de volta com a velha estratégia de sempre de vencer por um gol e desse jeito vamos nos afundando cada vez nessa areia movediça. Preocupado com o pior dos piores, pedi auxílio ao Google para saber quais são os clubes da Terceira Divisão: Paraná, Figueirense, Oeste, Altos, Novo Horizontino, Floresta, Mirassol, Jacuipense, Santa Cruz, Ituano, Ypiranga (RS), Paysandu, Manaus, Ferroviário, Tombense, Volta Redonda, São José (RS) e……meu Deus, dois Botafogos, o de Ribeirão Preto e o da Paraíba!!! Será isso um sinal?
Depois dessa só me resta deitar e sonhar com a magia que um dia foi nossa. Já ia me esquecendo de mais uma pérola que ouvi dos analistas de computadores: “O time joga com três linhas compactadas para aumentar a intensidade nas jogadas por dentro”.
OBRIGADO, NÁUTICO
por Zé Roberto Padilha
Amamos o futebol mesmo antes de escolher o clube do nosso coração. E seja na alta ou na baixa estação, safra ou entressafra de grandes craques, corremos para a tevê em busca da nossa maior paixão.
Mesmo pessimistas diante do atual momento do futebol brasileiro, em que as equipes que nos concedem prazer de ver jogar precisam vender um Gerson para fechar o balanço, outras se desfazem de suas jóias lapidadas em Xerém para colocar a folha em dia, aceitamos o convite da Globo e fomos assistir Vasco x Náutico.
E acabamos surpeendidos com uma exibição de gala da equipe pernambucana. O primeiro tempo do Náutico, impecável em todos os aspectos, deve ser gravado e exibido em cada escolinha de futebol do país.
Não por acaso, está invicto há muitos jogos e lidera com folgas a Série B. Um time formado por bons e experientes jogadores, comandado por um treinador cascudo, que se encaixaram como uma luva num sistema de jogo veloz, intenso e audacioso. Mesmo em São Januário, nem tomaram conhecimento do tamanho do Vasco.
E estão com prazer de jogar.
Acontece a cada passagem do cometa Halley a aparição de um time assim. O São Paulo, de Rai, Silas e Muller, o Flamengo, de 81, a Academia do Palmeiras, de Dudu e Ademir da Guia, a Maquina Tricolor, de Roberto Rivelino, foram equipes que deixaram um rastro de brilho pelos gramados.
Sem exageros, o Náutico tranquilamente poderia estar na primeira divisão e disputando a Libertadores.
Não é fácil alcançar um nível de entrosamento assim. Que seus dirigentes consigam manter o elenco, prestigiar seu treinador, para que outras exibições como a do fim de semana nos façam readquirir a confiança no futebol brasileiro.
Parabéns, Náutico, e obrigado por nos oferecer o melhor programa e a maior surpresa do domingo.
O FIM DE 21 ANOS DE ESCURIDÃO
por Luis Filipe Chateaubriand
Naquela noite de quarta-feira de 1989, Flamengo e Botafogo adentravam o campo do Maracanã para fazer um jogo singular.
Se desse empate ou o Flamengo vencesse, haveria uma nova partida no domingo, para se decidir o título.
Se o Botafogo vencesse, seria campeão naquela noite.
Havia 21 anos que o Botafogo não conquistava o título de Campeão Carioca, o clube de General Severiano buscava interromper a fila.
No papel, o time do Flamengo era melhor, bons jogadores, liderados pelos craques Zico e Bebeto.
O Botafogo tinha um time mais limitado, porém bastante aguerrido e organizado taticamente.
Começa o jogo, e se vê um amplo domínio do Flamengo, mas sem chances de gol significativas.
Assim, o primeiro tempo terminou, mesmo, em 0 x 0.
Começa o segundo tempo, e o Flamengo continua melhor.
Mas Zico, já veterano, sente o esforço, e é obrigado a sair do jogo.
Bate uma falta com perigo, rente ao gol, e em seguida é substituído.
A saída do maior craque parecia um mau presságio para o rubro negro.
Eis que, logo após a saída de Zico, o Botafogo ataca pela esquerda, Mazolinha cruza a bola para a área de pé trocado e Maurício, o ponta direita, emenda para o gol.
Botafogo 1 x 0.
Daí em diante, os jogadores botafoguenses “amarraram” o jogo, o Flamengo não conseguiu criar mais nada, e o Botafogo venceu!
Depois de 21 anos, o Clube da Estrela Solitária conquistava, epicamente, o Campeonato Carioca!
Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!