DAS CABEÇADAS CERTEIRAS À BATEÇÃO DE CABEÇA
Por Pedro Tomaz de Oliveira Neto
De cabeça, Vavá marca para a Seleção
Enquanto foi bem jogado e farto de excelentes lançadores e pontas habilidosos, o futebol brasileiro sempre revelou exímios cabeceadores. Pelé, Baltazar Cabecinha de Ouro, Vavá, Flávio Minuano, Dadá Maravilha, Leivinha, Serginho Chulapa e Jardel foram alguns de nossos especialistas na arte de balançar as redes com a cabeça.
Utilizando esse fundamento, o Brasil já fez 25 do total de 229 gols anotados em Copas do Mundo. O primeiro aconteceu em 1938, na França, no eletrizante duelo contra a Polônia, em que a Seleção venceu por 6 a 5, cabendo ao meia-atacante Perácio, à época jogador do Botafogo, a proeza de sua autoria.
Na Copa seguinte, em 1950, disputada em solo pátrio, o escrete brasileiro fez mais dois gols de cabeça, um contra o México, na estreia, e o outro contra a Suíça. Gols assinados por um dos melhores cabeceadores da história do futebol, Baltazar, não por acaso apelidado de Cabecinha de Ouro.
Das cinco Copas conquistadas pelo Brasil, apenas em 2002 não há registros de gols de cabeça. Em 1958, na Suécia, o inédito grito de campeão do mundo se deu logo depois de um garoto de 17 anos aproveitar o cruzamento de Zagallo para, mesmo marcado, cabecear e encobrir o goleiro sueco. Era o gol do título e o começo do reinado de Pelé, o Eterno.
Para garantir o bicampeonato mundial em 1962, no Chile, a Seleção Brasileira usou a cabeça literalmente. Dos 14 gols marcados durante a campanha, oito vieram de finalizações com essa parte do corpo. Com oportunismo e ótimo senso de colocação, Vavá fez três gols assim. Até Garrincha, o craque da Copa, acostumado a assistir seus companheiros com cruzamentos precisos, deu as suas cabeçadas, balançando as redes em duas ocasiões.
Na epopeia da conquista do tricampeonato em 1970, quase todos os gols da Seleção resultaram de jogadas bem articuladas e do excesso de genialidade em campo, tornando tudo mais simples como num passe de mágica. Nisso, o único gol de cabeça do Brasil em gramados mexicanos foi uma pintura, daqueles que não cansamos dever, rever e reviver. São impressionantes a impulsão fora dos padrões, o tempo de bola e a força com que Pelé, já do alto de seus quase 30 anos, e de olhos abertos, testou a bola para vencer o goleiro Albertosi, abrindo o placar da final contra a Itália.
Aliás, vale lembrar, que ainda na fase de grupos da Copa do México, o Rei já havia desferido contra os ingleses uma cabeçada plasticamente perfeita. Deveria ter sido um golaço, mas acabou sendo a “defesa do século” ou, para quem acredita nessas coisas do sobrenatural, num milagre do fantástico Gordon Banks.
O último gol de cabeça que se somou para mais um grito de campeão do mundo dos brasileiros foi marcado por um baixinho que se notabilizou como o rei da grande área. Na semifinal da Copa de 1994, nos Estados Unidos, Romário não se intimidou diante dos grandalhões suecos, subindo mais alto para cabecear a bola cruzada na medida por Jorginho e garantir o Brasil em mais uma final contra os italianos.
Pelo meio do caminho, algumas cabeçadas poderiam ter mudado a história da Seleção Brasileira em Copas. Uma aconteceu em 1978, na Argentina. Até hoje ninguém entendeu o que levou o árbitro galês Clive Thomas a encerrar o jogo Brasil e Suécia com a bola viajando pelo alto entre a bandeirinha do escanteio e a grande área, antes que Zico a cabeceasse para o gol. Com uma vitória na estreia, dificilmente o Brasil deixaria escapar a liderança do seu grupo, jogando a segunda fase da Copa sem cruzar com os donos da casa.
Outro lamento da torcida brasileira que, 43 anos depois, ainda se escuta, lembra a cabeçada do zagueiro Oscar nos momentos finais da batalha do Sarriá. A finalização não foi assim tão violenta, mas se deu com firmeza e bem colocada. Ah! Se essa bola entrasse… Mérito para o veterano goleiro Dino Zoff que, como um gato, fez uma defesaça sem chance de rebote, evitando o empate que eliminaria a Azurra.
Nas Copas posteriores a 1994, excetuando a jornada gloriosa de 2002, os atacantes brasileiros ainda marcaram sete gols de cabeça, porém, nada que alterasse o curso das fracas atuações da Seleção. De lá para cá, o Brasil tem se esmerado mais na bateção de cabeça dentro e fora de campo, sendo sistematicamente eliminado por seleções europeias, inclusive, com cabeçadas fatais, como as de Zidane para a França na final de 1998 e a de Sneijder para a Holanda em 2010.
A NOVA COVARDIA DE RENATO
por Marcos Eduardo Neves
Renato está com números espetaculares. É o treinador com mais vitórias na Libertadores. É o treinador brasileiro que mais disputou partidas na competição. E pelo Flamengo, em 18 apresentações, venceu 15 vezes, empatou uma e perdeu apenas dois jogos.
Só que Renato está também com jogadores espetaculares. E apesar das ausências de Filipe Luís e Arrascaeta na partida de ontem, o time sobra na América do Sul.
Por isso soa inadmissível o que se viu no segundo tempo. Aliás, no primeiro também. Não fosse Diego Alves, com intervenções incríveis ao longo dos 90 minutos, o Flamengo sofreria, em casa, gols de um adversário que está longe de competir com o Rubro-Negro de igual para igual.
Pior do que isso foi receber um presente no apagar das luzes da etapa inicial, a expulsão de um jogador do Barcelona de Guayaquil, e entrar indiferente a esse fato nos 45 minutos finais. Era para ter sacramentado a classificação para a final já na partida de ida. Na volta, quarta-feira que vem, tudo agora pode acontecer. Não se pode afirmar que o caixão do time equatoriano está fechado.
Ao ver a covardia de Renato, que só colocou Michael e Pedro no finzinho do jogo, lembrei de 2008. No comando do Fluminense, Portaluppi conseguiu reverter a desvantagem da LDU, que saltou à frente do placar no Maracanã, fazendo os três gols que garantiam ao tricolor carioca a loteria das penalidades. Ora, pois pois. Quem faz três faz quatro, faz cinco, seis… Thiago Neves empatou o jogo, em seguida virou, depois ampliou, e nisso Renato se deu por satisfeito, que nem ontem, e paralisou a equipe. Se acovardou. Preferiu garantir os penais. E perdeu a Libertadores em casa.
Claro que o Flamengo tem time até para golear o Barcelona no Equador. Mas levou sufoco no Maracanã. Isso não pode ser esquecido. Atenção total e está tudo muito bem caminhado para Renato Gaúcho disputar sua quinta final na competição mais cobiçada do continente.
Ele, que já foi campeão e vice como jogador e como técnico, tem tudo para cravar de vez seu nome na história do Flamengo. Melhor jogador de um time que tinha Zico, Renato ganhou o Brasileirão de 1987 e só não é unanimidade entre os ídolos eternos da Gávea por ter marcado de barriga um gol que estragou o centenário rubro-negro, oito anos depois. Todavia, agora, se levar o time à conquista de sua terceira Libertadores, voltará ao panteão da Gávea. E ainda poderá sonhar com o bicampeonato mundial. Tanto o seu, particular, porque ganhou com o Grêmio em 1983, quanto do Flamengo, que mandou no planeta bola em 1981.
Está nas mãos dele. E, principalmente, na sua coragem.
AH! CAZARES…
por Zé Roberto Padilha
Se você, Cazares, soubesse quantos jogadores de futebol gostariam de ter a oportunidade que você está jogando pela janela.
Se você, Cazares, assistisse seus minutos jogados contra o Cuiabá, na Arena Pantanal, e constatasse a extensão alcançada pela sua barriga, ficaria envergonhado.
Talvez na década em que cheguei ao Fluminense, anos 60, ainda fosse possível um jogador extremamente técnico, como você, e inacreditavelmente lento, atuar ao lado do Denilson, Didi e Lulinha…
Mas hoje?!
O Marcão acreditou, nos minutos finais, em quem não tinha fôlego sequer para puxar um contra-ataque.
Como um veterano de apenas 31 anos, limitou-se a tocar a bola pros lados. E pensar que deixamos o Nenê, tão profissional, fininho e focado, nos escapar entre os dedos.
Segue um conselho de quem vestiu esse manto imaculado e suou muito nos treinos para merecer ser escalado em jogos oficiais: esquece a noite, as bebidas, as baladas nas quais tem sido flagrado.
Dos 72 anos, que estão na sua cota segundo a atual expectativa de vida, apenas 15 anos, ou seja, nem 1/3 dela, você irá abrir mão para exercer com dignidade o dom que Deus lhe concedeu.
Se cuida. Treine mais. Faça por merecer usar uma camisa tão gloriosa que seus quilos a mais não estão alcançando o seu real valor de usar.
Nem defender. Mal atacar. Muito menos, a dignificar.
ASSIS, O CARRASCO DO FLAMENGO – PARTE I
por Luis Filipe Chateaubriand
O ano era o de 1983.
Aquele Fla x Flu era o segundo jogo do triangular final do Campeonato Carioca – o primeiro jogo apontava Bangu 1 x 1 Fluminense.
Jogo truncado, aguerrido, sem muita técnica – o gramado encharcado do Maracanã não o permitia, pois chovia bastante.
Tudo levava a crer que teríamos um 0 x 0, que eliminaria o Fluminense e encaminharia o título para o jogo entre Flamengo x Bangu.
Mas eis que de repente, não mais que de repente, um impedimento de Adílio, inexistente, é marcado, aos 45 minutos do segundo tempo.
O Neguinho ia parar com a bola no fundo do gol, mas “tiraram o doce da boca da criança”.
Na reposição de bola, Deley, no meio de campo, vê Assis correndo pela direita, e pensa rápido: “tenho que meter essa bola para o Assis, ali entre o Júnior e o Mozer”.
Deley lança, preciosamente… entre o Júnior e o Mozer!
Assis sai com a bola dominada na cara do gol, frente a frente com Raul, toca por baixo do goleiro, e faz o gol redentor.
Era o gol do jogo, que acabou logo depois com a vitória do Fluminense por 1 x 0, e o gol do título, de Campeão Carioca de 1983!
A partir dali, Assis ficou conhecido como o carrasco do rubro negro.
Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!
MESTRE ZIZA, O ÍDOLO DE PELÉ
por Elso Venâncio
Nascido em São Gonçalo, Thomaz Soares da Silva, o Zizinho, craque do Flamengo, do São Paulo, do Bangu e da seleção brasileira, caso estivesse vivo teria completado 100 anos de idade no último dia 14 de setembro.
Segundo João Máximo, nosso grande nome do Jornalismo Esportivo, Zizinho, vice-campeão do mundo em 1950, influenciou não apenas Pelé, mas toda uma geração.
No fim da década de 50, já campeão do mundo e principal jogador do país, Pelé veio com o Santos jogar no Maracanã e bateu de frente com Zizinho. Ato contínuo, aproximou-se de seu ídolo e disse, emocionado:
– Mestre, aprendi tudo com você…
Resposta do Zizinho:
– Aprendeu de mais, hein, garoto!
O técnico do Flamengo Flávio Costa lançou Zizinho, então com 19 anos de idade, com a missão de substituir ninguém menos do que Leônidas da Silva, outro ícone nacional. Zizinho lideraria o Rubro-Negro na conquista de seu primeiro tricampeonato carioca: 1942, 1943 e 1944!
Nessa época, o Brasil tinha três ídolos nacionais: o Presidente Getúlio Vargas; Orlando Silva, o “Cantor das Multidões”; e Leônidas da Silva, o “Diamante Negro”, nome até hoje de chocolate.
Eis que surgia, então, um novo mito: Zizinho.
Na Copa de 50, se houvesse eleição da FIFA, ele certamente seria apontado como o melhor jogador do planeta. Foi o grande nome do Mundial.
“O futebol de Zizinho me faz lembrar Da Vinci pintando uma obra rara” escreveu o jornalista italiano Giordano Fatori, da Gazzetta dello Sport.
No começo dos anos 2000, reuni no “Enquanto A Bola Não Rola”, programa de debates que eu apresentava aos domingos na Rádio Globo, os maiores armadores do nosso futebol: Didi, Gerson, Rivellino e Paulo Cézar Caju. Liguei para Niterói para avisar que um carro estava à disposição para buscar Zizinho, presença que todos ansiávamos, mas ele não pôde comparecer por já estar sem forças. Percebi que ele queria realmente participar, rever os antigos companheiros e conhecer os novos ídolos, mas não deu.
Seria a última grande lição do Mestre Ziza! Mestre não só de Pelé, mas de todo o futebol.