ONDE VOCÊ ESTAVA?
por Paulo Roberto Melo
Onde você estava, em 25 de novembro de 1971, quando o Roberto Dinamite explodiu as redes do Maracanã, fazendo seu primeiro gol como profissional do Vasco, contra o Internacional? Primeiro gol dos mais de setecentos, ao longo de mais de vinte anos de carreira. Eu, com cinco anos de idade, provavelmente estava presenciando uma comemoração dupla: pelo gol do Roberto e pelo aniversário do meu saudoso pai.
Onde você estava, em 9 de maio de 1976, quando o Roberto Dinamite encobriu o zagueiro Osmar, do Botafogo e emendou de voleio, fazendo um dos gols mais bonitos da história do Maracanã? Eu, com 10 anos de idade, estava saindo da missa e correndo para falar com o Irmão Josafá, da Paróquia Santo Afonso, que com seu radinho de pilha, acompanhava todos os jogos do Vasco e gostava de me perguntar no final de cada missa: “rezou pro Vasco ganhar?”
Onde você estava, em 11 de junho de 1978, quando o Roberto Dinamite acertou o ângulo do bom goleiro Koncilia, da Áustria, na Copa da Argentina? Gol salvador, que classificou o Brasil e evitou o vexame de uma volta antecipada para casa. Eu, com 12 anos de idade, de frente para a primeira TV em cores da nossa casa, pulava de alegria pelo sucesso do meu ídolo.
Onde você estava, em 9 de agosto de 1987, quando o Roberto Dinamite, depois de matar a bola no peito, rolou-a suavemente para a bomba do Tita, dando, assim, o título carioca daquele ano ao Vasco? Eu, com 21 anos de idade, estava na arquibancada do Maracanã, vibrando como um louco, a vitória de um grande time, cujo astro era o Roberto.
Onde você estava, em 24 de março de 1993, quando o Roberto Dinamite deu uma volta olímpica pelo gramado do Maracanã, acenando para a torcida e se despedindo do futebol? Eu, com 27 anos de idade, na arquibancada do Maracanã, via uma linda parte da minha vida se despedindo junto.
Onde você estava, em 8 de junho de 2011, quando o Roberto Dinamite, presidente do Vasco, comemorava com os jogadores o último título nacional de relevância do clube da Colina? Eu, com 45 anos de idade, estava abraçado à minha esposa, de frente para a TV, vibrando em silêncio, para não acordar a nossa filha.
Onde você estava, em 26 de outubro de 2021, quando o Roberto Dinamite abriu a porta da sua casa para me receber com o mesmo sorriso de sempre? Eu, com 55 anos de idade, conversei alguns minutos com meu ídolo, entreguei a ele o projeto de um livro, tirei uma foto e me despedi com a vida zerada.
Onde você estava, em 9 de janeiro de 2022, quando o Roberto Dinamite revelou que começaria o tratamento para combater determinados tumores que haviam aparecido? Eu, com 55 anos de idade, demorei alguns dias para absorver o impacto da notícia e corri para rezar por ele e enviar pensamentos de cura e restauração.
Onde você estará, quando, em nova revelação, o Roberto Dinamite afirmar que venceu mais essa luta? Eu, com qualquer idade, estarei onde e como sempre estive: distante, mas junto dele.
ELE PODE SER ÚTIL
por Rubens Lemos
Você confiaria em Daniel Alves – convocado quinta-feira à seleção aos 38 anos de idade? Eu sim. Quem escolheu tirá-lo do pijama devolvendo-lhe as chuteiras o conhece de dividir campo e espetáculos de toque de bola. Xavi Hernandez sabe que Daniel Alves pode ser útil!
Também seria um dos meus primeiros nomes. Tite não pode abrir mão dele. Daniel Alves, com sua experiência e a sua técnica, injetou ânimo ao time bicampeão olímpico. Daniel Alves, com 38 ou 46 anos de idade, é melhor até que todos os meio-campistas de Tite. Na lateral, é único. Pode lhe faltar gás. Compensa usando atalhos.
Com ele, a seleção olímpica tomou gosto e perdeu o medo de qualquer adversário. A Alemanha foi vencida como o antigo Rosita Sofia, amontoado de cabeças de bagre de subúrbio no Rio de Janeiro.
Alemanha não era a principal? Menos. A Alemanha só vale quando enfia 7×1 numa seleção de fundo de barraco? Não. Pronuncie Alemanha e verás a força da potência esportiva e em qualquer lugar da vida.
Com Daniel Alves, foram liberados os garotos. O melhor deles na teoria, Claudinho, meia-esquerda e também convocado, acabou vendido ao Zenit, da Rússia, por 15 milhões de euros ou R$ 92 milhões, quando o negócio foi anunciado pela internet e à mídia tradicional. Dinheiro demais como fantasia de Walt Disney.
Claudinho, o camisa 20, entrou na Olimpíada com pinta de supercraque, alguém que pudesse repetir o desempenho de Geovani do Vasco em 1988 (sinceramente, impossível), de Gilmar Popoca do Flamengo em 1984, de Juninho Paulista em 1996 ou de Alex do Palmeiras no ano 2000. O cara da meiúca, o homem capaz de resolver a partida num lançamento, drible ou sacanagem peladeira de efeito.
Com toda boa vontade, Claudinho rendeu em torno de 35,77% do que mostrou no Campeonato Brasileiro do ano passado, um Orós em meio ao deserto de qualidade no setor mais nobre de qualquer time que se dê a respeito: o meio-campo.
Insistindo em Daniel Alves, basta situá-lo à função correta. O Brasil joga com Casemiro, miniatura de Dunga, e com Fred. Cada vez que leio antes de um jogo da seleção o nome de Fred designando o camisa 8, jaqueta que foi de Zizinho, Didi, Gerson, Canhotinha de Ouro, Sócrates e Zico, que ela vestia quando a 10 era de Rivelino, me dá o prazer paradisíaco de uma unha encravada. Depois de levar o chute de um gordo de 129 quilos.
Tite adotou Fred. Não sabe marcar, desarma apenas com faltas, é incapaz de um passe de cinco metros. Não dribla a sombra (dele). Uma peça de abominável nulidade.
Casemiro até pode ficar no time, o ABC teve Arandir para deixar Alberi livre a fazer arte, mas os outros três do meio precisam de o mínimo de flerte com a redondinha.
Casemiro, Daniel Alves, Bruno Guimarães (começou ótimo, caiu) e Neymar soltinho da silva, formariam um bom quadrado. Com Gerson descansando Daniel Alves e Claudinho entrando com Gerson em situações emergenciais de necessidade de gols.
Richarlison relembrou, com a medalha de ouro, cada ano desperdiçado com Roberto Firmino ou o abominável Hulk, ideal para luta greco-romana.
Antes dos Jogos Olímpicos e com base apenas na desimportante Copa América, era difícil prever algo agradável para o Brasil, além da eliminação na primeira fase da Copa do Mundo.
Um time que joga feio, cheio de boçais incorrigíveis. Agora, é possível imaginar o trecho das quartas, limite brasileiro dos mundiais recentes. Com Daniel Alves, Gerson, Everton Ribeiro. Houve discreta guinada à criatividade. Gerson.
Em Tocantins, é possível achar laterais melhores do que Danilo e o pavoroso Renan Lodi. Daniel Alves é velho? Nilton Santos, numa passada maliciosa após cometer pênalti num espanhol, ajudou o Brasil a ser bicampeão em 1962. Tinha 37 anos.
Daniel Alves não é Nilton Santos, mas ninguém cola nele no futebol patropi. Xavi tem projetos especiais para ele no Barça. Só há um problema: a frescura de ser chamado de Dani. Jogador cascudo é apelido. Dani. “Fofo demais”..
O FLAMENGO PERDEU O NORTE
por Zé Roberto Padilha
Tinha muita gente no barzinho assistindo Flamengo X Oeste, pela Copinha. Pouco importa onde seja, com quem joga, vestiu rubro-negro e entrou em campo, a maioria se acomoda. E se inquieta. E vira festa!
Como tricolores, eu e a Maris ficamos de longe observando essa admirável paixão e o tamanho da frustração ocorrida após o resultado final: Oeste 2×0 Flamengo. Esse resultado eliminou o clube da mais importante competição sub-20 do país.
Não se esqueça aquele recadinho de Antoine Saint-Exupéry: tu és responsável, Flamengo, por tudo aquilo que cativas.
O Flamengo não perdeu do Oeste. Perdeu o norte.
Se sentindo o Barcelona, resolveu desvalorizar as competições em que participa deixando seus craques expostos na sala de troféus. Em campo, como nenhum adversário está à altura do que imagina ser, só os reservas.
Na Copinha foi de Sub-17, no Campeonato Carioca vai colocar o Sub-20 para jogar. No máximo, após tomar as porradas que vai tomar, vai escalar um time misto.
Somos do tempo em que o Carioca valia mais do que o Brasileiro. Perder do Inter, sem problemas. Seu torcedor está lá na fronteira com a Argentina. Mas perder do Vasco, o rubro-negro da padaria vai ter que aguentar o Arquimedes. A chegada do Roberto Lavinas. E aturar o Vlamir.
Uma falta de respeito não só com seus torcedores, mas com o futebol brasileiro em si. Dá saudades do tempo em que Romário entrava em campo todo jogo em busca do seu milésimo gol. Tulio também. Eram pagos para jogar e faziam questão de ir a campo.
Pagar R$ 1,5 milhão para deixar o Gabigol treinando, R$ 1,2 milhão para poupar o Bruno Henrique de justificar seu salário é uma desmoralização para todos os que amam o futebol.
Ja pensou ir ao teatro assistir “Nelson Rodrigues por ele mesmo” e deparar no palco com Fernanda Montenegro sem ela mesmo?
Mais ou menos por aí. O culpado foi quem inventou o tal patamar, aquele que foi subindo com os resultados ao mesmo tempo em que descia com a humildade.
O CRAQUE DO BRASIL EM 2009
por Luis Filipe Chateaubriand
Em 2009, Petkovic estava de volta ao Flamengo, fruto de negociações de dívidas antigas com a diretoria rubro negra.
A novidade não fez sucesso com a torcida, que achava que oito anos mais velho do que quando fez o golaço de falta do tricampeonato contra o Vasco da Gama, o gringo não era mais o mesmo.
Ademais, depois de ter saído do Flamengo, Pet jogou no Vasco da Gama e no Fluminense, e o torcedor rubro negro não perdoava.
Mas Pet veio.
E veio para fazer um Campeonato Brasileiro soberbo, com passes longos, passes curtos, lançamentos, cobranças de faltas, assistências e gols – sejam dele, mesmo, sejam os que propiciou aos colegas de time, especialmente Adriano, o Imperador.
O gringo fez barba, cabelo e bigode e, por isso, foi o grande jogador do Brasil em 2009!
Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!
PINHEIRO, O MAIS TRICOLOR DOS ZAGUEIROS TRICOLORES
por André Felipe de Lima
Caso escale um hipotético “time dos sonhos” do Fluminense e ouse vetar o nome do zagueiro Pinheiro da “súmula”, o torcedor tricolor, este nobre lustrado da arquibancada, estará cometendo um sacrilégio que o levará às chamas infernais, e sem caminho de volta e muito menos sem a ajuda de arcanjos e querubins que possam reconduzi-lo ao céu. Talvez o mágico cronista de indissolúvel e eterno amor pelo Fluminense, o nosso e de mais ninguém Nelson Rodrigues, diria algo assim. Pinheiro é o mais sublime dos beques que apareceram nas Laranjeiras, onde aportou com 17 anos contados de vida. Sim, João Carlos Batista Pinheiro chegou ao Fluminense em 1948. Antes disso, apanhou de cipó do pai porque este não o queria como jogador de futebol. O garoto era duro na queda e frequentava as peladas quase que diariamente e sem medo das palmadas e cipoadas do progenitor intolerante. Foi goleiro, centroavante, mas era mesmo a zaga de área a sua vocação. Ainda bem. Foi ali, defendendo a meta do goleiro Castilho (outro imortal tricolor) que Pinheiro tornou-se sublime. Não havia treinador que o ignorasse. Zezé Moreira, por exemplo, foi certamente o que mais o amava. No memorável título carioca de 1951, Pinheiro foi sua voz em campo. O zagueiro mandava e desmandava, comandava e ditava tudo o que deveria fazer o “onze” tricolor. Resultado: um troféu atrás do outro. Pelo Fluminense, Pinheiro conquistou o Pan-Americano e a Taça Rio de 1952, o Torneio Rio-São Paulo de 1957 e o de 1960. Além do campeonato carioca de 1951, Pinheiro também conduziu o Fluminense ao título em 1959. Com a seleção brasileira, foi titular na Copa do Mundo de 1954, na Suíça. Tornou-se treinador, e dos bons. Na decisão da outrora charmosa Taça Guanabara, na edição de 1973, recebeu um bilhete desaforado de um cartola dizendo quem deveria escalar. Pinheiro, obviamente, ficou injuriado. “P” da vida, ele mandou ao gramado o time que tinha em mente e mandou às favas o tal dirigente. O Fluminense bateu o Flamengo por 3 a 0, mas Pinheiro alertou aos bravos comandados: “Ganhamos o título, mas perdi meu emprego”. E foi isso o que aconteceria logo no dia seguinte, com o maior zagueiro tricolor da história cedendo o lugar para Duque.
Pinheiro estaria completando 90 anos neste 13 de janeiro de 2022. O bravo morreu no dia 30 de agosto de 2011, no Hospital Pan-Americano, na Tijuca, onde esteva internado durante dias. O câncer o derrotou. O atual treinador do Fluminense, Abel, foi zagueiro como ele e também treinado pelo Pinheiro no passado já bem remoto. “Foi um dos grandes homens que conheci e meu mestre no futebol. Devo tudo ao Pinheiro”, disse Abel logo que soube da morte do ídolo, cujo legado esta aí, para crédulos e incrédulos, mostrando que a bola de futebol tem o poder de tornar homens mais dignos na vida, como foi o Pinheiro do Nelson, do Chico, do João. De você, afortunado tricolor.