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VALORIZAÇÃO DA CERA

:::::::: por Paulo Cézar Caju :::::::

Sei que já abordei o tema aqui algumas vezes, mas rodada após rodada os jogadores parecem mais descarados. O tempo de bola rolando está cada vez menor e os árbitros não fazem nada para se impor. A cada falta, forma-se uma roda de reclamação, a cada defesa, são minutos perdidos de atendimento médico destinado ao goleiro. Os treinadores, que deveriam dar o exemplo, vivem xingando na beira do campo e às vezes até orientam os jogadores a caírem para ganhar tempo. O pior de tudo é que esse é um problema mundial e o futebol está cada dia mais valorizado.

Na minha época, modéstia à parte, a gente dava show de verdade, a bola rolava quase o tempo todo e o reconhecimento era mínimo. Como exemplo, posso citar o Fusquinha que ganhei de premiação após o histórico tri mundial.

Hoje, abro o jornal e leio que Mbappé renovou com o PSG por não sei quantos milhões de euros e o maior salário da história. Acho que foi a melhor decisão possível para o atacante, não só pela questão financeira, mas também por estar em seu país em ano de Copa Mundo. Além disso, ele é muito jovem e terá tempo para respirar novos ares no futuro.

Por fim, gostaria de parabenizar o Guardiola pelo título inglês. Podem falar o que quiser, que ele foi eliminado da Champions, mas é impressionante a capacidade dele de jogar um futebol coletivo, sem medo do adversário. Foi assim no Barcelona, no Bayern de Munique e agora no Manchester City.

O campeonato inglês é o mais disputado do mundo, com craques de todos os continentes, o Liverpool quase não desperdiça pontos e levantar esse caneco não é para qualquer um. Nos últimos cinco anos, foram quatro conquistas de Guardiola pelo City. Se analisar a carreira toda, foram 10 ligas conquistadas em 13 temporadas de trabalho. Precisar dizer algo mais? É hoje, sem dúvidas, o melhor treinador do mundo!

Pérolas da semana:

“Para baixar a marcação e flutuar no 4-5-1, o treinador mandou o time abrir a caixa de ferramentas, evitando o perigo, e conseguiu fazer o atacante dar uma chapada banana e guardar a bola na casinha”.

“Com leitura de posicionamento, jogando pela ala direita, o jogador de beirinha tenta uma infiltração mecânica ofensiva, mordendo o tempo inteiro e revezando com o falso 9 para aproveitar a bola espetada”.

FOTOGRAFIAS

por Claudio Lovato Filho

Retiro da parede o quadro com a foto.

Nós quatro rindo para a câmera, abraçados, vestindo nossas camisas preferidas, prontos para a festa ou para guerra. Tarde de jogo, dia de estádio. Há muito tempo.

Um de nós já se foi deste mundo. Outro foi morar longe, em outro continente. Os outros dois continuam indo juntos aos jogos do time até hoje (quando o problema de coluna de um deles não impede que isso aconteça).

O que se foi era o mais engraçado e também o mais invocado.

O que foi morar no exterior era o mais quieto, mas o mais fanático.

Os dois que ficaram assumiram o papel de guardiões das lembranças de todos eles.

Resta falar do autor da foto, aquele que um dia nos convenceu de que precisávamos nos manter sempre unidos, porque assim tinha que ser com irmãos, assim tinha que ser na família; aquele que, pouco tempo depois de fazer a foto, foi aplicar sua experiência e suas ideias de pai em outro lugar, com outra família.


Ele se jogou para trás na cadeira e ficou olhando para a tela do computador.

A foto do time parecia um quadro impressionista, com ele ocupando a terceira posição, de pé, a partir da esquerda.

Sabia que nunca iria conseguir se libertar daquela imagem, do significado daquela imagem.

Às vezes achava que sua vida havia se encerrado ali, com aquele time, naquela temporada, há mais de 30 anos.

Olhava para aqueles rostos e se lembrava de personalidades e episódios. Os líderes e os seguidores; os rebeldes e os cordatos; os gozadores e os introspectivos; os agregadores e os individualistas; os reclamões e os positivos. Seus companheiros.

No canto direito, de pé, sério como sempre, o velho dava a impressão de que tinha sido forçado a participar da foto. Não que se sentisse desconfortável entre os jogadores. Ao contrário. Ele apenas achava que os jogadores deveriam ser os protagonistas, e somente os jogadores. Seu papel, ele dizia, era indicar caminhos e, quando preciso, assumir culpas. O velho defendia seus jogadores como se aquilo sempre envolvesse o que ele possuía de mais valioso: honradez e integridade, coisas que definem uma existência e não cabem numa foto.


A mãe do jovem torcedor tem muito bom humor, mas quando é dia de jogo fica preocupada.

Hoje é dia de jogo e ela olha para a foto do filho no porta-retratos sobre a mesinha de centro.

É um menino tranquilo, mas ela ficou sabendo – por uma vizinha, mãe de um amigo do filho – de algumas coisas que ele andou aprontando no estádio. Ficou sabendo de algumas, imaginou outras e viu outras, viu marcas nas costas dele, vergões.

Nos pesadelos dela há cassetetes, correntes e facas.

Cada vez que ele sai para o estádio, ela diz: “Juízo, meu filho. Vai com Deus”.

E, como hoje não é um jogo comum, mas um clássico, ela está mais nervosa. Não acompanha de perto o futebol, mas não é uma alienada e sabe o que significa um clássico na cidade onde vivem. Sabe também o que significa “torcida organizada”, que ela lê em todas as camisas que ele usa quando vai aos jogos.

Então ela resolve fazer as únicas duas coisas que parecem sensatas naquele momento: enviar uma mensagem para o filho perguntando se está tudo bem e rezar para que Nossa Senhora Aparecida interceda junto a Deus Pai Todo-Poderoso para que proteja seu menino.

Esses dois atos serão repetidos várias vezes, durante toda a tarde e parte da noite, até que o filho volte para casa, são e salvo, e então, finalmente, ela possa desviar os olhos da imagem no porta-retratos e descansá-los no rosto dele, iluminado sob a luz fraca da entrada da casa.

ANDRADE, TALENTOSO ESPANTOSO

por Luis Filipe Chateaubriand

Quando se pensa em um volante que jogava com classe, se pensa em Andrade.

O ex-volante de Flamengo, Roma e Vasco da Gama tinha uma categoria ímpar, como se diz por aí, “parece que jogava futebol de terno”.

Se destacava pelo posicionamento em campo, um volante que sabia fazer perfeitamente a cobertura dos laterais, quando estes avançavam.

Se destacava pelo refinado toque de bola, o passe preciso, o lançamento perfeito, batia na bola com perfeição.

Se destacava pelo drible, a arte de enganar o opositor, que não sabia onde e como ele “escondia” a bola.

Certa vez, em 1988, um amistoso Vienna, Áustria x Brasil, a Seleção Brasileira venceu o cotejo por 2 x 0.

O segundo gol, de Andrade, foi uma pintura: saiu driblando quase do meio de campo até o fundo das redes.

Indagado sobre o gol, Zico não titubeou: “Estão espantados com o quê? Lá na Gávea, ele faz gols desse tipo toda hora!”.

Andrade, classe em forma de jogador de futebol!

O CRAQUE DO BRASIL EM 2014

por Luis Filipe Chateaubriand

Em 2013, o Cruzeiro foi campeão brasileiro.

Teve como destaque a dupla Everton Ribeiro e Ricardo Goulart.

Everton Ribeiro, jogando muita bola, foi eleito o craque do Campeonato Brasileiro – só não foi o craque do ano no futebol brasileiro porque Ronaldinho Gaúcho “arrebentou a boca do balão” jogando pelo Atlético Mineiro, na Copa Libertadores da América.

Com o sucesso, Everton Ribeiro foi negociado com o futebol árabe em 2014.

E Ricardo Goulart ficou no Cruzeiro, sem o parceiro.

Pois, em 2014, o Cruzeiro foi campeão brasileiro novamente e, desta vez, Ricardo Goulart assumiu o protagonismo.

Jogou muito, jogou bastante, jogou “o fino”.

Por assim dizer, jogou por ele e por Everton Ribeiro.

E, com isso, Ricardo Goulart foi o craque do Brasil em 2014! 

DOM EVARISTO – LENDA VIVA DO FUTEBOL

por Elso Venâncio

Evaristo de Macedo é uma das lendas vivas do futebol. Foi o primeiro brasileiro a ter superdestaque na Espanha. Jogou com craques antológicos. Idolatrado pela torcida e pela imprensa do Velho Mundo, sagrou-se bicampeão da Liga de Futebol Profissional pelo Barcelona (1959/1960). Nas decisões, enfrentava o poderoso Real Madrid de Di Stéfano, Kopa, Didi, Puskas e Santamaria.

Pouco depois, pelo próprio Real, entre 1962 e 1964, teve a seu lado algumas dessas feras, como Di Stéfano e Puskas, além do ponta-esquerda Gento. A grande fase desse ídolo, contudo, deu-se mesmo no Barça. No time da Catalunha, estreou ganhando a Taça do Mundo de Caracas, em 1957, com direito a dois gols sobre o Botafogo de Garrincha, Nilton Santos e Cia, na decisão. Além do bi conquistado em 1959/60, faturou outro: o da Taça da Cidade de Feiras, que corresponde à Liga da Europa.

Dois times, porém, marcaram a trajetória de Evaristo. O Flamengo tricampeão carioca e o Barcelona do final dos anos 50 e começo dos 60. No Rubro-Negro, jogou com Rubens e Dequinha, além do grande Dida, e também com Índio, Paulinho de Almeida e Zagallo. Sem falar dos paraguaios García, um gigante no gol, e o artilheiro Benítez. Com esses craques nasceu o histórico tricampeonato de 1953/54/55, que representou a maior façanha de um clube nos primeiros anos de vida do Maracanã.

Nosso personagem foi também o único de toda a História a marcar 5 gols com a camisa da seleção brasileira em um único jogo, e gosta de contar que, se não fosse vendido para o exterior, Pelé não jogaria em 1958 pois ele seria o titular. Na época, eram convocados apenas jogadores que atuavam no país, ao passo que Evaristo já brilhava no Velho Continente.

Treinador por mais de três décadas, pude acompanhá-lo de perto em suas três passagens pelo Flamengo. E também em 1985, quando dirigiu a seleção pouco antes das Eliminatórias para a Copa do Mundo do México. Campeão Brasileiro pelo Bahia em 1988, e da Copa do Brasil pelo Grêmio nove anos depois, em relação a Estaduais faturou títulos com os mesmos Grêmio e Bahia, além de quatro canecos pernambucanos com o Santa Cruz, de Recife.

Nessa função, ganhou seu primeiro troféu comandando o América, em 1967. O time rubro ganhou do campeão uruguaio Nacional, de Montevidéu, por 1 a 0 – gol do craque Edu, irmão do Zico. O jogo valeu pela decisão do Torneio Internacional Negrão de Lima, que o próprio Negrão, então prefeito do Distrito Federal, fez questão de entregar pessoalmente o troféu ao capitão Alex.

Evaristo de Macedo Filho nasceu em 22 de junho de 1933. Prestes a completar 89 anos, em suas caminhadas matutinas por Ipanema é sempre parado por amigos e torcedores, para falar de futebol. Iniciou sua carreira no Madureira, onde ficou de 1950 a 1952. No Flamengo foram quatro anos – de 1953 a 1957. Vendido ao Barcelona, jogou meia década pelo clube catalão (1957/62). Nos seus últimos tempos na Espanha, honrou a camisa do Real Madrid entre 1962 e 1964). Na volta, quis encerrar a carreira no seu clube do coração, o Flamengo, onde atuou de 1964 ao começo de 1966.

  • Colaborou Péris Ribeiro (escritor)