EU JÁ SABIA
::::::: por Paulo Cézar Caju :::::::

Quem me acompanha sabe que não é de hoje que defendo o time do Fortaleza! Depois dessa sequência de cinco vitórias, se tornou a única equipe invicta no returno e já aparecem os modinhas na mesa redonda para exaltar o trabalho. Agora é fácil, né?
Mas a verdade é que todo time tem uma fase ruim, mesmo aqueles que entraram para a história, e falo isso por experiência própria. Aquele timaço do Botafogo que eu joguei também teve uma sequência ruim, o Santos de Pelé, o Cruzeiro de Dirceu Lopes, o Palmeiras de Ademir da Guia, o Flamengo de Zico e por aí vai. O segredo é ter paciência, raridade no futebol brasileiro, para que o vento volte a soprar a favor.
Se antes o Fortaleza estava cotado para cair, agora tem gente até cogitando Libertadores e, com essa quantidade de vagas, não duvido nada! Para se ter noção, em cinco jogos, o tricolor somou o mesmo número de pontos do primeiro turno da competição e ontem comemorei muito a vitória contra o São Paulo em pleno Morumbi!
Vocês sabem que eu gosto do futebol bem jogado, independente do resultado, e vejo muita gente falando que tal time joga bonito, mas não vence. Claro que vencer é importante, mas jogar bonito não é fácil e temos que valorizar, sim!
O Palmeiras, por exemplo, tem uma defesa extremamente sólida, mas um futebol que não agrada ninguém. É só olhar as duas finais da Libertadores, quando ganharam em dois jogos sofríveis e por conta do acaso. Contra o Fluminense, no último sábado, não viram a cor da bola, levaram duas bolas na trave e deram muita sorte de sair com um pontinho do Maracanã!
Pior que ainda tem gente dizendo que Abel Ferreira é forte candidato para assumir a Seleção Brasileira quando o Tite sair. Se já estamos mal das pernas atualmente, não quero nem ver se esse português entrar mesmo!
Pérolas da Semana:
Caros geraldinos, seguimos atentos às baboseiras escritas pelos analistas de computadores!
“O atleta tem uma leitura de jogo com intensidade e consistência no último terço, para alimentar os alas pelas beiradas ou lado do campo tentando achar por dentro o atacante agudo que chapa na cara da bola em direção à bochecha da rede”.
“Rotação longa é uma característica do jogador de beirinha, que dá um tapa na bola para espetar o adversário na vertical ou horizontal, fazendo a transição na linha de cinco antes da ligação direta”.
uma previsão em meio a uma decisão
por Zé Roberto Padilha

Esse time tricolor (foto), de 1973, estava em campo jogando contra o Flamengo a decisão do estadual. Talvez tenha sido a final mais encharcada da história do Maracanã. As águas desciam com vontade.
Manfrine fez sua melhor partida e vencemos por 4×2. E o treinador Duque, que só gostava de “cobra-criada”, teve a ousadia de infiltrar Carlos Alberto Pintinho e Cléber entre nossos “cascudos”. Tinham 19 anos.
Perto do jogo acabar, com a pressão final do Flamengo, uma bola correu para perto do nosso banco de reservas. E um outro garoto rubro-negro, frágil e habilidoso, que era a aposta do outro lado, tentou alcançá-la. E escorregou na poça d’água. E levou uma vaia sem tamanho da já impaciente torcida rubro-negra.
E todos nós, reservas do time, empolgados com a proximidade do título, bicho gordo na conta, não o perdoamos. E decretamos seu futuro: “É, esse menino não vai mesmo longe!”.
Realmente ele, Arthur Antunes Coimbra, não foi longe. Nem precisou. Realizou um trabalho de reforço muscular com o Francalacci, e fez, do próprio estádio do Maracanã, o palco do seu reinado.
Quanto aos corneteiros e palpiteiros, quem foi mais longe foi o Pintinho. Substituído e torcendo no banco ao nosso lado, participou da banca examinadora que decretou o futuro do Zico no futebol. E foi parar em Sevilha.
Quanto aos demais, não sei. Sei de mim, de volta à Três Rios, e que nunca mais arriscou um palpite. Nem no jogo de bicho. Com o Galo ali à nossa frente encharcado, o embrião de uma das maiores cobras do nosso futebol, resolvemos apostar no burro.
Que acabavam de ser campeões carioca de futebol de 1973.
AQUI JAZ UM SONHO DE MENINO
por Zé Roberto Padilha

Não tinha essa foto. A do pesadelo. Porque tenho várias que revelam o meu sonho de defender, por sete anos, o time do meu coração. O Fluminense FC.
Cheguei em 1968 nas Laranjeiras e permaneci até essa partida, contra o Internacional, em dezembro de 1975, pelas semifinais do Campeonato Brasileiro.
Meu primeiro contrato profissional foi em 1972, o técnico era o Zagalo. Era reserva do Lula e não tinha essa palhaçada de time misto.
Ele jogava, eu assistia. E o substituía quando servia à seleção brasileira.
Em 1974, Parreira assume, Lula é vendido ao Inter e assumo, depois de tanta luta e espera, a titularidade da camisa 11.
Quando entrei em campo, liderava a Bola de Prata da revista Placar, como melhor ponta esquerda, estava na lista dos pré-selecionados, de Osvaldo Brandão e nosso treinador, Didi, pedira a renovação do meu contrato. E, na partida anterior, atropelamos o Palmeiras, no Maracanã, por 4×2.
Conhecem nossos quinze minutos de fama?
Pois é, aos 23 minutos Lula abriu a contagem, e Paulo César Carpegiani fez 2×0, aos 30 minutos do segundo tempo. Aos 32 fui substituído em campo pelo Carlos Alberto Pintinho e fora dele trocado pelo Doval, do Flamengo. E nunca mais vesti a camisa do meu time de coração.
Foram duas Taças GB, 71 e 75, três títulos estaduais, 71, 73 e 75, conquistados, além do título de Campeão Juvenil, em 1970.
Permaneci em cena por mais dez anos, e encerrei minha carreira defendendo o Bonsucesso FC, pela primeira divisão carioca, de 1985.
Tenho um pequeno memorial, que montei para meus filhos e netos curtirem. Os pôsteres estão nas paredes, livros, medalhas, faixas e troféus na estante.
Faltava a foto da lápide dos meus sonhos.
Agora, não falta mais.
CARLOS ALBERTO PINTINHO, O PATRÃO DA BOLA
por Luis Filipe Chateaubriand

Quem viu Carlos Alberto Pintinho jogar bola, é um privilegiado!
Jogador de técnica e de força, defendeu o Fluminense e o Vasco da Gama, antes de ir exibir sua arte em campos espanhóis.
Era um volante clássico, daqueles que defendem sem fazer uso da violência e armam o time para o ataque.
Assim, fazia o que queria com a bola, seja para interceptá-la, seja para fazê-la correr.
Aliás, Pintinho é do tempo que quem tinha que correr era a bola, e não os jogadores.
A frustação, para Pintinho, foi não ter jogado muitas vezes na Seleção Brasileira.
A concorrência era alta: Falcão, Toninho Cerezo, Paulo Cesar Carpegiani, dentre outros.
Mas que o mancebo “tinha bola” para jogar na Seleção, não se discute. Esse era Carlos Alberto Pintinho, show de bola, literalmente.
ROMÁRIO: “MEU NEGÓCIO É FAZER GOL”
por Elso Venâncio

Fui setorista do Vasco, na Rádio Globo, durante o bicampeonato carioca de 1987/88. O senador, hoje com poucos cabelos, a maioria brancos, tinha na época uma cabeleira encaracolada e o apelido de Toddynho.
A imprensa, com acesso direto aos jogadores, ficava ao lado do campo nos treinos e com facilidade escutava o promissor talento cruzmaltino:
– Meu negócio é fazer gol! – repetia sempre.
Foi o único atacante que acompanhei que era verdadeiramente obcecado em marcar gols.
O coletivo começava e era comum os titulares entrarem com somente 10 em campo. O “Baixinho”, aos 22 anos, preferia ficar atrás do gol, onde hoje está a estátua do artilheiro Roberto Dinamite, treinando e se aperfeiçoando nas finalizações. Ademar Braga, o preparador físico, era quem o auxiliava. Trave móvel, sem goleiro, o atacante dominava de costas, virava e batia. Pelo menos, por 30 minutos. Mas diariamente.
Chutes frontais e laterais, cabeceios, piques em diagonal sempre com a bola aos pés. Batia fraco, às vezes forte, vez ou outra colocado, dava fintas com gingas de corpo, enfim, a gente percebia sua satisfação pessoal. Treinamento físico? Arrumava um jeito de escapulir, sair dessa para ficar na sua, apenas batendo para o gol.
O garoto que havia saído do Jacarezinho e morava na Vila da Penha já era folgado. Em um coletivo, o lateral-esquerdo Lira reclamou aos gritos do treinador Sebastião Lazaroni e deu um bico na bola para a arquibancada. O técnico expulsou de imediato o lateral. Romário, amigo de Lira – e que já liderava a artilharia do Carioca –, pegou outra e igualmente a isolou com força:
– Me tira também!
Lazaroni levou todos os jogadores para uma longa conversa no vestiário.
O humorista Tom Cavalcante, logo após o “Tetra” conquistado na Copa dos Estados Unidos, em 1994, lançou uma música que viralizou. O nome, ‘Treinar pra quê?’:
“Treinar pra quê, se eu já sei o que fazer…”
Nos times em que atuou desde que retornou ao Brasil, Romário sempre deixou claro aos presidentes dos clubes:
– Não bebo, mas gosto da noite. Por isso, só treino à tarde.
Os técnicos, porém, não sabiam do combinado:
– Onde está o Romário?
À tarde, assim que o craque surgia era imediatamente abordado pelo supervisor. De bate-pronto, respondia:
– Pergunta ao presidente…
Muitas vezes, nem à tarde o goleador aparecia. Júlio Leitão, diretor de futebol do Flamengo, cansou de ir até o quiosque Viajandão, na Barra da Tijuca, implorar para que ele voltasse para a Gávea:
– Estou treinando! – argumentava, bem-humorado. Na verdade, jogava futevôlei com alegria, e a cada ponto marcado parecia se lembrar das finalizações que matava todo e qualquer goleiro na área adversária.
Ah… falei sobre o tema porque ainda tento apagar da memória o chute na trave do Gabigol, após passe de Pedro, diante do Athletico Paranaense. Gol enorme! Escancarado! Se praticasse forte esse fundamento, não teria como errar…
*Elso Venancio foi setorista do Flamengo por 11 anos seguidos (de outubro de 1988 a dezembro de 1999) e cobriu a seleção brasileira em 3 Copas do Mundo (1990, 1994 e 1998)