GANGUES ORGANIZADAS
:::::::: por Paulo Cézar Caju :::::::

Critico, falo que não vou mais assistir, mas a verdade é que não consigo ficar muito tempo sem futebol. Nunca parei pra contar, mas devo ter mais de mil motivos pra desligar a TV ou mudar o canal.
Neste fim de semana, por exemplo, o ônibus do Fluminense foi covardemente apedrejado pela torcida do Botafogo na chegada ao Engenhão. O que falta para as autoridades exercerem seu papel, aplicando punições severas aos clubes? Estão esperando algum jogador ser morto?
A rivalidade faz parte do futebol e sempre existiu, mas o que estamos vendo hoje é surreal. Fico imaginando o que os torcedores – se é que podemos denominar assim – do Flamengo fariam com o Manga, quando o goleiro falasse que “faz a feira sexta porque o bicho no domingo é certo”.
Perdi a conta de quantas vezes fui vaiado e xingado nos estádios, sobretudo pela minha ousadia dentro de campo, que muitos confundiam com a marra. Contudo, saia na rua no dia seguinte, ia para as boates e nunca fui agredido ou xingado por aí!
A realidade é que o futebol se tornou um entretenimento perigoso e mortal, e o que temos hoje são gangues organizadas que vivem em função do clube. Vale destacar que não se trata de um problema exclusivo do Brasil.
Quem se lembra da final da Libertadores entre Boca Juniors e River Plate que teve que ser disputada no Santiago Bernabéu, em Madrid, por problemas de segurança? Na ocasião, o ônibus do Boca foi atacado com garrafas e pedras por torcedores do rival e um dos jogadores chegou a ter uma lesão no olho por conta dos estilhaços de vidro. O pior é que os jogadores também não se posicionam e parecem fechar os olhos para esse tipo de situação.
Para não falarem que eu só reclamo, tem sido lindo ver a torcida do Vasco lotando os estádios e apoiando o time do início ao fim. Já joguei contra e a favor e posso afirmar com todas as letras que São Januário lotado é um verdadeiro caldeirão! Apesar da derrota e do episódio dos vândalos, a torcida de verdade do Botafogo também fez uma festa bonita no Engenhão! Seria muito pedir para os torcedores apenas torcerem?
Pérolas da semana:
“Com uma leitura diferente, o zagueiro joga centralizado por trás das linhas de cinco e de quatro, frequentando o elevador de cima, para ajudar o time a subir as suas linhas e para que o lateral suba com lateralidade”.
“Nos dias atuais, é fundamental mapear por dentro no campo para subir a intensidade de um time encaixado na dinamica consistente. Além disso, é preciso ganhar moldura com quilometragem alta e meio preenchido por pitbulls que chapam a bola para o falso 9”.
1958 – CAMPEÃO NO FUTEBOL, O BRASIL REINVENTA A PRÓPRIA HISTÓRIA
por Péris Ribeiro

A cena é inesquecível – e sempre emociona. Aos quatro minutos da partida final, os donos da casa já vencem por 1 a 0, o que faz Didi ir buscar a bola nos fundos das redes brasileiras. Só que, na volta, levando-a de cabeça erguida até o centro do campo, sai falando duramente com o time inteiro. Até que, para encurtar a conversa, define de vez a questão:
– Acabou! A sopa deles acabou! Vamos encher a caçapa desses gringos de gols. Aqui dentro da casa deles mesmo!
O final da história, ninguém desconhece! O Brasil enfiou 5 a 2 numa espantada Suécia, na memorável tarde de 29 de junho de 1958, sagrando-se campeão do mundo pela primeira vez. E Didi saiu dali, do Estádio Rasunda, definitivamente consagrado. Ainda mais depois de ser apontado, pela maioria absoluta de votos da crônica esportiva internacional, como o Maior Jogador daquela Copa disputada nos atapetados gramados escandinavos.
Mesmo assim, o que bem poucos tiveram a sensibilidade de vislumbrar naquele gesto – ainda mais, com a alegria sem tamanho vivida logo depois -, foi que a atitude altiva e determinada do Mestre Didi revestiu-se de uma magnitude e um simbolismo profundamente emblemáticos. Particularmente porque, a partir daquele gesto, caíram de vez tabus que pareciam se eternizar. Dogmas que aprisionavam o jeito de pensar e agir de todo um povo – uma gente, no mínimo, diferente. Na maneira de ser. De encarar a vida.
O mais inacreditável é que, pouco antes da convocação para o Mundial, um fato, no mínimo, intrigante – e, pior: altamente sigiloso – havia ocorrido nos bastidores. É que um relatório tendencioso – quando não, discriminatório. Com um ranço profundamente “nazista” – chegara às mãos do presidente da CBD – hoje, CBF -, João Havelange.
Nele, os negros eram abertamente acusados de tudo. E, o mínimo que se dizia deles, era que tremiam sempre nos momentos decisivos. Que não sabiam se comportar socialmente. E que, longe daqui, viviam na mais cava depressão, “morrendo de saudades da família, do sol tropical e do popular feijão preto”. Ou seja: não eram realmente capazes de ganhar uma competição da importância de uma Copa do Mundo.
Estranhamente, no dia da estreia contra a Áustria, na cidadezinha de Udevalla, só quando o Brasil posou para um batalhão de fotógrafos, é que se pôde perceber: havia apenas um negro no time. Assim mesmo, por motivos imperiosos. Afinal, Didi era não só o maior, mas o mais caro e famoso jogador de futebol do país. E o seu reserva imediato, Moacir, era mais negro ainda. Ou seja: era um típico “ preto retinto”.
A sorte é que, depois de aparadas algumas delicadas arestas – e de, por fim, haver prevalecido o tão esperado bom senso, com Garrincha, Zito e Pelé entrando no time, a partir do jogo com a Rússia -, as coisas foram aos poucos entrando nos eixos. E se pôde comemorar, com juros e correção monetária, o triunfo da, àquela altura, reverenciada “fórmula mágica”.
Afinal, nos retumbantes 5 a 2 contra os espantados suecos, aquele time de negros, mulatos, um descendente direto de índios – Mané Garrincha – e alguns poucos brancos, havia exibido simplesmente “o maior espetáculo da terra”. O Brasil que acabara de se sagrar campeão, era o maior time já visto em uma Copa do Mundo – e aplicando a maior goleada na história das decisões.
Os Didis, Pelés, Garrinchas, Djalmas Santos, Bellinis e Niltons Santos, haviam encantado definitivamente o mundo, ensinando uma coisa bem diferente. O seu jogo era pura ginga, malícia. Tinha magia, alegria. E presenteava as plateias com um monte de gols. E que gols! Mas o que eles também faziam questão de deixar no ar, era uma outra grande lição. A da força de uma até então desconhecida, mas poderosa mistura de raças.
No entanto, nada daquilo que estava acontecendo ali, em plena Suécia, era sem razão. Ainda mais porque o Brasil passava por um tempo de mudanças, vivendo um justificado clima de euforia. É que aqueles eram os Anos JK, do Presidente Juscelino Kubitschek e o seu revolucionário Plano de Metas. O do famoso slogan, “50 anos em 5!”
Para culminar, ainda era um tempo em que vivíamos do encanto, com a sonoridade sem igual da Bossa Nova. O movimento que celebrizou internacionalmente a música de Tom Jobim – eternizando, de quebra, a batida diferente do violão de João Gilberto. E que tal lembrarmos que, na mesma época, surgia a inquietante geração do Cinema Novo, com personagens com o brilho de um Nelson Pereira dos Santos , um Glauber Rocha, um Joaquim Pedro de Andrade, um Cacá Dieguez ?
Sorte que tudo aquilo tenha chegado também ao futebol. Campeão do mundo finalmente, na grande vitória do homem brasileiro.
COM O AVAÍ TATUADO NO CORAÇÃO
por Eduardo Lamas
Nos litorais deste Oceano Atlântico, Marquinhos talvez seja mesmo o último romântico. E não é mera citação ao já antigo sucesso de Lulu Santos. O hoje diretor de futebol do Avaí sempre mostrou seu amor pelo clube catarinense pelo qual torce desde criança em Biguaçu, cidade da região metropolitana de Florianópolis, onde nasceu.
Como jogador profissional, além de ter iniciado a carreira no clube do coração sem sequer passar pelas divisões de base, cometeu atos que certamente muitos podem considerar loucura. Pediu à diretoria do Santos para não jogar contra o Avaí, quando o clube lutava para não cair; revela que enfrentar o time azul e branco sempre foi muito difícil, e, mesmo ressaltando que nunca fez corpo mole para não prejudicar o clube do qual era contratado, dá graças a Deus de nunca ter feito um gol contra o Avaí.
Como ele próprio diz: tem sangue azul correndo nas veias. O sangue nobre do quase centenário Leão da Ilha de Santa Catarina. E este amor correspondido pela torcida o ajudou a se tornar, nas quatro vezes em que vestiu em campo, com o maior orgulho, a camisa do Avaí, que se tornou o maior artilheiro do estádio da Ressacada, com 61 dos 94 gols que marcou na carreira, e o segundo jogador que mais atuou pelo clube, com 400 partidas, apenas 12 a menos que Orivaldo, lateral-esquerdo que defendeu as cores azul e branca na década de 70.
Esta entrevista foi realizada em 14 de outubro de 2021, quando o Avaí ainda lutava na Série B pelo acesso à Série A do Campeonato Brasileiro, o que acabou obtendo para grande felicidade de Marquinhos. Este trabalho foi o primeiro que eu e o cinegrafista Fernando Gustav fizemos para o Museu da Pelada após o início da pandemia, em março de 2020, mas um problema técnico no áudio retardou a publicação, pois exigiu do próprio Fernando e de Daniel Planel um trabalho minucioso de edição para que a entrevista pudesse chegar à imensa torcida do Museu da Pelada. Todo esforço desta equipe incansável valeu muito a pena, você haverá de concordar.
NILO NEVES E O CORITIBA COMO ETERNIDADE
por André Felipe de Lima

Há torcedores que afirmam convictamente: “O melhor lateral-esquerdo da história do Coritiba foi Janguinho”. Mas o gaúcho Nilo Roberto Neves, que teve o brilhante Oreco, do Internacional, como ídolo, surgiu no Coxa em 1968 para disputar espaço com os ex-laterais-esquerdos Janguinho e Carazzai nos corações coritibanos. Para as gerações mais recentes, não há dúvida: dos três, Nilo Neves foi o melhor. Quem o buscou no São José de Porto Alegre e o indicou ao pessoal do Alto da Glória foi Rui “Motorzinho”, um excelente meia-atacante do Internacional no início dos anos de 1940, cujo time era conhecido como “Rolo-compressor”. Logo que pendurou as chuteiras, Rui tornou-se treinador do Atlético Paranaense, onde montou, em 1949, um timaço, com Jackson, Neno e Cireno. Um time chamado de “Furacão”, apelido que se tornou marca registrada do Atlético.
O começo da carreira de Nilo foi, entretanto, nas divisões de base do Internacional, no finzinho da década de 1950. Menino ainda, Nilo conviveu com o ídolo Oreco, lateral já consagrado na seleção brasileira.
Oreco foi para o Corinthians e nunca mais pintou um lateral-esquerdo como ele no Inter. Deveriam apostar na prata da casa. Nilo deveria ser o virtual herdeiro de Oreco, mesmo com pouca idade. Mas foi tratado com indiferença pela desesperada e xucra comissão técnica, que não conseguia parar o rival, o Grêmio, de ganhar tudo pelas paragens gaúchas. Nilo saiu magoado do Inter e seguiu para o São José de Porto Alegre em 1963. Foi campeão da segunda divisão estadual, em 1965, e permaneceu no modesto clube gaúcho até 1968. Estava sem clube. Cinco meses parado. Mas surgiu uma proposta do Banrisul. Salvação da lavoura para Nilo, que já demonstrava pouca motivação para continuar a carreira de jogador de futebol. O Banrisul o chamou, mas não para um emprego formal. Foi contratado para compor o time titular que disputaria o campeonato dos bancários.
Motorzinho, que nos idos de 1940 foi treinador do Atlético Paranaense, estava no papel de olheiro do Coritiba quando deu de cara com Nilo. “Dois dias depois, ele levou o dinheiro vivo numa sacola. Se fosse cheque, eu nem aceitaria.”
O rapaz ainda estava com dúvida entre o gramado e… o palco. Quando morava em Porto Alegre, inspirado pelo movimento musical Jovem Guarda, Nilo cantava e também era percussionista do conjunto “Evolução”. Nilo confessou ao repórter Ayrton Baptista Jr. que se trava de um “samba, mas não tradicional”, no estilo Golden Boys. Optou pela bola. Melhor para ele e para o Coritiba.
Baixinho e atarracado, não dava moleza para ninguém. Cobertura à zaga era como ele mesmo. Quantas bolas, cujo endereço era o gol do Coritiba, Nilo desviou a trajetória? Inúmeras. Dezenas. Era leal. Leal ao Coritiba. Sobretudo em dia de enfrentar o rival.
Atletiba inesquecível — senão o melhor de todos — para Nilo foi o que decidiu, no dia 28 de agosto de 1968, o campeonato paranaense daquele ano.
O placar estava 1 a 0 para o Furacão, gol de Zé Roberto, que anos mais tarde iria para o Coxa. O juiz Arnaldo César Coelho — prontinho para apitar o final do jogo — marcou uma falta para o Coxa. Nilo correu para buscar a bola e cobrar o quanto antes a bendita falta. Bellini, em fim de carreira no Atlético, tentou cortar, mas sobrou para Paulo Vecchio meter a cuca na bola e marcar o gol de empate. Do título. Festa para a torcida, para Nilo no estádio Durival de Britto.
O técnico Elba de Pádua Lima, o Tim, deve ter sido mesmo o maior que já comandou times do Coritiba. Competente como jogador no passado, manteve o estigma positivo como técnico. Todos gostavam dele. Krüger, Leocádio… Nilo não fugiu à regra. “Queriam me tirar do time, os diretores. Aí, acabei com um jogo contra o Botafogo, marcando o Zequinha. No final, o Tim zombou deles: ‘Queriam tirar você. veja como ficaram chateados…’. O Tim e o Francisco Sarno foram os melhores que vi no Coxa.”
Na lateral-esquerda, não havia gente melhor que Nilo nos gramados do Paraná. Acabou lembrado por Aymoré Moreira para a seleção brasileira. No mesmo ano em que chegou ao Coritiba foi convocado para o jogo em que o escrete nacional colocou a faixa de campeão estadual nos jogadores do Coxa. Nilo vestia a amarelinha, apesar de ter participado da campanha campeã do Coritiba. Mas há um dado que desperta curiosidade: naquele período em que aconteceu o jogo amistoso, Nilo estava emprestado ao Atlético Paranaense para a disputa do Torneio Roberto Gomes Pedrosa.
O Coxa perdeu de 2 a 1, mas deu uma canseira danada na seleção. Nilo começou no banco. O titular de Aymoré Moreira era Paulo Henrique, do Flamengo. No segundo tempo, enfim, sua oportunidade aconteceu.
Nilo nasceu em Porto Alegre, no dia 2 de dezembro de 1942. Até 1975 foi o titular absoluto da lateral-esquerda do Coxa. Ajudou ao time nas conquistas dos títulos estaduais de 1968, 69, 71, 72, 73, 74 e 75 e do Torneio do Povo, em 1973. Pendurou as chuteiras no Palmeiras, de Santa Catarina, aos 32 anos, e assumiu uma nova fase no futebol. Como treinador.
O início foi em divisões de base do Internacional de Porto Alegre, depois Coritiba, Atlético Paranaense, Pinheiros [atual Paraná Clube] e Criciúma. Em equipes profissionais, fincou o pé em Mato Grosso, estado em que dirigiu times do Sinop, Mixto, Operário de Várzea Grande, Barra do Garças, Sorriso e Tangará. Nilo também comandou o time de Francisco Beltrão, no Paraná. A frente do Sinop foi campeão mato-grossense em 1990 e 2000. Com o Barra das Garças, um surpreendente título nacional da Série C, em 1993.
Nilo, nos tempos em que treinou o time do Sinop, foi técnico e preparador de goleiros de Rogério Ceni.
Nilo Neves está devidamente eternizado na linda história do Coritiba.
REENCONTRANDO MARADONA
por Péris Ribeiro

Quando um emocionado Diego Maradona chegou junto ao balcão da Casa Rosada para, ao lado do presidente Raúl Alfonsín, erguer a Copa do Mundo à multidão em delírio, não havia questionamento que fosse sobre quem era a típica figura de um deus encarnado vivo para o povo argentino. Nem mesmo no mais venturoso dos sonhos.
Corria o ano de 1986, e Dieguito, naquele instante, era maior até que Gardel – ou Perón. E até ousaria dizer mais: nem Evita Peron, a santa redentora dos humildes, a eterna madona dos descamisados, seria capaz de vencê-lo num duelo em termos de idolatria popular.
Era a Maradomania, que se instalava de vez no coração de um povo profundamente apaixonado. E, convenhamos, havia motivo de sobra para tal. Tanto assim que a Argentina acabava de se sagrar campeã mundial pela segunda vez, em gramados mexicanos. E quem, senão Don Diego Armando Maradona, havia tornado aquilo possível?
Hoje, bem sei, os caminhos por ele trilhados acabaram sendo outros. Cada vez mais tortuosos. E é com infinito pesar, que me vejo descrer de vez da ilusão. Tão somente por chegar à conclusão de que, nunca mais, verei pelos campos a arte fulgurante de um jogador de sonhos. Capaz, só ele, de repetir o fenômeno Garrincha de 1962. Os dois dando uma Copa, praticamente sozinhos, aos seus respectivos países – Brasil e Argentina.
Porém, o que anda a me entristecer ainda mais é que, com esse futebol de negociatas escusas, e mais pobre ainda de craques – que dirá de gênios! -, teremos lá pelos gramados do Catar uma Copa de brilho duvidoso.
Mbappé? De Bruyne? Messi? Modric? Cristiano Ronaldo? Lewandowski? Neymar? Benzema? Harry Kane? Nenhum deles – asseguro-lhes – irá dar mostras da centelha de genialidade que, um dia, emanou da canhota mágica do rebelde Dieguito. E ainda irei mais longe. Em que pese o brilho de um Zico, um Platini, um Falcão, um Boniek, um Rummenigge, não houve termos de comparação entre eles e o iluminado Maradona, na maior parte dos Anos 80. Era ele, sim, Don Diego, o maior de todos naqueles tempos dourados!
Campeão pelo Barcelona, pelo Napoli e pelo Boca Juniors do seu coração, aquele irrequieto baixinho de cabelos encaracolados, nada mais fez que proporcionar a alegria das grandes conquistas às torcidas mais desafortunadas. Uma gente sofrida, carente anos a fio. Sempre vivendo tão longe, da doce comemoração de um título de campeão.
Aliás, ao erguer aquela Copa, ao lado do presidente Alfonsín – bem me lembro das imagens-, Dieguito vivia, muito mais que a emoção, o infinito orgulho de ser portenho. Tanto que dizia, sorriso aberto, lágrimas nos olhos:
– Essa é uma conquista definitiva, para engrandecer de vez o nosso país. É uma homenagem nossa, a todo o povo argentino. E também aos velhos craques do passado, heróis como, Stábile, Labruna, Di Stefano, Sívori…
Só que, maior que essas históricas legendas – e maior, ainda, que Pedernera, Nestor Rossi, Moreno, Rattin… -, será sempre ele, Maradona.
Sobre quem a mais feliz definição que encontro é a de, ao imaginá-lo bola atrelada ao mágico pé esquerdo, ver-lhe no gesto a grandeza do mais comovente dos poemas de Borges. Ou o frenesi desenfreado, do mais passional dos tangos de Gardel.