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A COR DA NAÇÃO

por Idel Halfen

Entre os temas que tomaram conta do noticiário da semana passada, um particularmente provocou enorme engajamento: a suposta cor da nova camisa da seleção brasileira. 

A Nike é comunista! O presidente Lula pressionou a empresa norte-americana! Vermelho não faz parte das cores da nossa bandeira!

De todas as três afirmações, a única que é verdadeira diz respeito às cores da bandeira. 

Porém, não custa lembrar, entre outros fatos, que a seleção italiana e a japonesa usam camisas azuis, a holandesa veste laranja e que a própria seleção brasileira já teve recentemente uma na cor preta. A relação de uniformes com cores divergentes é maior, principalmente com o advento das terceiras camisas, mas para não me estender muito, finalizo com a informação de que a utilização de camisa vermelha por parte da nossa seleção não seria inédita, tendo ocorrido em 1917 e 1936. 

Faz-se, no entanto, imperioso esclarecer que não se tratava de um uniforme oficial, e sim uma improvisação em função de os adversários estarem com camisas nas mesmas cores da brasileira. Todavia, se formos considerar o uniforme de goleiro, veremos que nossa seleção teve o vermelho em 2011 e 2014 de forma oficial.

Cumpre lembrar que vários clubes tiveram camisas em cores diferentes da sua bandeira. A “laranja” do Fluminense é um ótimo exemplo, pois, apesar do sucesso comercial, foi muito criticada pelos “tradicionalistas”. Faz parte!

Geralmente, os clubes e seus fornecedores de material esportivo lançam uma coleção por temporada, a qual, além de contemplar uma considerável gama de peças com variadas cores e modelos para treinos e viagens, vem com três camisas de jogo: a home – utilizada nas partidas em que se tem o mando de campo – a away para os jogos na casa do adversário e a terceira camisa, que não costuma ter a mesma frequência de uso das demais.

Particularmente, gosto da ideia da utilização de outras cores no terceiro uniforme, só faço a ressalva quanto aos cuidados para que o modelo não traga matizes que remetam a rivais tradicionais.

Esclarecimentos feitos e opinião dada, podemos focar no vermelho.

Historicamente, é fato que a cor esteve/está associada à esquerda, contudo, imputar ideologia às cores não me parece razoável. Seria a Coca-Cola de esquerda? E o iFood? Quem sabe o Santander? 

Se formos enveredar para esse tipo de associação, há o risco de aparecer gente questionando se a camisa preta da seleção – modelo 23/24 – tinha relação com o fascismo, visto a utilização de camisas dessa cor por parte dos apoiadores de Mussolini, os camisas negras (camicie nere). 

Pelo prisma de marketing, acho errado ter uma camisa com as cores diferentes das que constam na bandeira como a número 1 (home) ou 2 (away), exceto nos casos onde a tradição já tenha consolidada a tal cor, como é o caso, por exemplo, da Azurra italiana. Por outro lado, reitero que gosto da possibilidade de outras cores para o terceiro uniforme, desde que se respeite as restrições estatutárias e estéticas – aqui a subjetividade se faz presente, admito.

Sobre branding, consta que a camisa que gerou a discussão deve vir sob a marca Jordan, a qual pertence à Nike e está presente em um dos uniformes do Paris St. Germain. Trata-se, caso efetivamente aconteça, de uma estratégia que visa modernizar a imagem da seleção e atrair um público mais jovem e conectado à cultura urbana, de forma a aumentar o alcance da equipe para fora do universo do futebol, colocando-a como um ícone de lifestyle.

A propósito, essa estratégia, que podemos chamar de “colaboração”, já aconteceu no Real Madrid com adidas e Y-3 e no Arsenal com a mesma adidas e a 424.

Voltando ao tema que originou a polêmica, as informações mais acuradas dão conta que a cor da camisa seria uma espécie de magenta, e não vermelha, a confirmar. Entretanto, o ponto que, no meu modo de ver, deveria ser debatido se refere à utilização de símbolos do esporte na política. Nessa linha de raciocínio, considero que o uso da camisa amarela da seleção deveria ficar restrita às manifestações do esporte, assim como a vermelha, caso ela realmente viesse a existir. 

Afinal, os princípios e valores do esporte são definitivamente diferentes dos da política e, dessa forma, deveriam ser preservados. 

Acorda nação!

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OS PODERES DO DR. CASTOR

por Elso Venâncio

Temido, amado e odiado, Castor de Andrade mandava no samba, no futebol e na cidade. Poderoso, elegia até presidentes da CBF.

O contraventor Castor de Andrade estudou no tradicional Colégio Pedro II e se formou em direito pela UFRJ. Mandava no samba, na cidade do Rio de Janeiro e nos bastidores do futebol brasileiro. Agradava aos grandes nomes da imprensa, sobretudo os da TV Globo.

Castor foi preso algumas vezes, mas deixava a cadeia quando queria se divertir. José Bonifácio Sobrinho, o Boni, todo poderoso da Globo, enviava um maquiador da emissora para que lhe colocasse bigode postiço, barba, peruca, enfim, um disfarce. Assim, o bicheiro ia rever amigos ou frequentava shows, entrando sempre após o início e saindo antes do final.

Durante um dia habitual de trabalho, o empresário Roberto Marinho ficava na redação do jornal O Globo e só ia para a TV no final da tarde. O diretor de jornalismo da emissora e criador do “Jornal Nacional”, Armando Nogueira, era o único a ver o telejornal ao lado do chefe. 

— Armando, o Boni foi visitar Castor na prisão? — perguntou Roberto Marinho em um dos encontros.

— Não sei!

— Chama o Boni — retrucou Marinho, sem levantar o tom de voz.

Boni compareceu e respondeu com sinceridade: “Fui, a pedido do João Havelange (presidente da FIFA), porque estamos negociando os direitos (de transmissão) das duas próximas Copas do Mundo”.

A única eleição acirrada para a presidência da CBF ocorreu em 1986. Giulite Coutinho estava desgastado desde a perda da Copa do Mundo de 1982, na Espanha. Na ocasião, a Itália surpreendeu e venceu o Brasil, que jogava pelo empate, por 3 a 2, numa partida eternizada como “Tragédia do Sarriá”. Giulite, então, decidiu não concorrer no pleito seguinte e apoiou o vascaíno Medrado Dias. O adversário foi o habilidoso Nabi Abi Chedid, ex-presidente da Federação Paulista e apadrinhado por Eduardo Viana. O polêmico Caixa D’água nunca desejou ser o número 1 do futebol brasileiro, mas não abria mão de comandar a Assembleia Geral da CBF e eleger o seu preferido. Então, ele chamou Castor na sede da Federação do Rio de Janeiro, entidade que presidiu durante 20 anos, e deu um recado: “Precisamos eleger o Nabi”.

Naquela época, só as federações tinham direito a voto. E pelas contas do Eduardo Viana, o paulista Nabi Abi Chedid venceria por um voto de diferença. Castor de Andrade colocou os presidentes que apoiavam Nabi no Copacabana Palace, sem direito a deixar o hotel, e fez o ultimato: “Vocês estão sendo remunerados para votar no melhor candidato”.

Na véspera da eleição, surgiram boatos de que haveria uma traição, o que causaria empate. Se a tal traição fosse confirmada, Medrado Dias seria eleito presidente por ser o mais velho entre os postulantes ao cargo. Por isso, a chapa de oposição foi estrategicamente invertida. Otávio Pinto Guimarães assumiu como candidato a presidente, enquanto Nabi Abi Chedid se tornou o vice. No final, Otávio venceu por um voto, e Medrado Dias acusou o presidente da Federação do Acre, Antônio Aquino Lopes, de ter levado grana. O caso chegou ao Conselho Nacional de Desporto, que absolveu o “Tuniquim”.

Na eleição seguinte, Castor de Andrade atuou decisivamente para Ricardo Teixeira ser eleito. Na época das vacas magras, apoiava financeiramente a CBF, sendo por várias vezes convidado para chefiar a delegação brasileira em amistosos e torneios no exterior. O “capo di tutti capi” carioca faleceu de infarto, em abril de 1997.

ELE MERECE SER EFETIVADO

por Zé Roberto Padilha

Estou escrevendo antes da partida contra o Palmeiras terminar. E o Vasco, enfrentando uma equipe que, há anos, e em qualquer competição, mais frequenta a parte de cima da tabela, faz uma boa partida.

E acho que o Felipe, um dos grandes jogadores da sua história, merece ser efetivado como treinador. Dificilmente o clube encontrará no mercado alguém tão identificado com ele. Desde que decidiu por uma nova profissão, jamais teve a proteção e as oportunidades no clube que defendeu.

Pelo contrário, foi ralar pelos clubes de menor expressão e sempre apresentou bons trabalhos, como o fez no Bangu. E não seria por uma falha bisonha do seu zagueiro, que entregou uma saída de bola e o Palmeiras acaba de abrir a contagem, que vai pagar essa conta.

Perder essa oportunidade que há tempos tem feito por merecer. A não ser que Vasco da Gama, o navegador português que descobriu o caminho das índias, envie um patrício que redescubra os caminhos das vitórias

MELHOR ADOTAR O PRETO E ACATAR O LUTO

por Zé Roberto Padilha

Passamos a semana discutindo a ideia da Nike, patrocinadora da nossa seleção, de adotar a camisa vermelha em seu uniforme oficial. Quando, na verdade, não foram as cores que determinaram a queda da nossa seleção. Foram quem passou a vesti-las.

Podem entrar em campo com a camisa dourada. Sem os craques que saíram de cena, e com os jogadores limitados que os substituíram, nossa seleção jamais terá brilho de novo.

Aconteceu, no futebol com os que ganharam a Bola de Ouro da FIFA, Rivaldo, Kaka, Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo, substituídos pelos que nunca ganharam uma. E acontece, agora, com a música popular brasileira.

Que a cada dia leva nossas musas para o andar de cima. E deixam um vazio danado, a perda dos seus encantos e magias, pelos palcos do andar de baixo.

Gal Costa, Elza Soares, Leny Andrade, Astrid Gilberto e, agora Nana Caymmi, nos deixam à sorte de buscar uma vaga nas eliminatórias escalados com Maíra & Maraisa, Iza, Ana Castelo e Ludmila.

Melhor adotar o preto. E acatar o luto que paira, hoje, sobre nossas maiores expressões artísticas.

PARTIDA ESQUECÍVEL

Por Ivaneguinho, em homenagem a Aldecir Sapatão

Sexta-feira, dia 18 de abril, às 12h30, meu celular tocou exatamente no momento em que eu me dirigia à mesa para almoçar. A ligação era tão importante e valiosa que, se fosse preciso, deixaria até de almoçar para continuar uma resenha que já dura 52 anos. Quando ouvi aquela voz tão familiar, nem precisei me esforçar para identificar. Pelo timbre e jeito de falar, foi facílimo! Mais ou menos assim:

— Fa… fala, me… meu com… compadre! Tu… tudo bem con… consigo?

Respondi:

— Ô, meu parceiro! Beleza, pura!

Daí em diante, foi mais um papo pra lá de agradável, que, como sempre, termina da mesma maneira: com uma amorosa discordância, seguida de uma sonora risada de ambos os lados!

O tema, como de costume, foi uma partida de futebol — uma semifinal ocorrida no campo do Oriente, num domingo, dia 17 de dezembro de 1972. O Central (meu time) venceu o Independente (time em que ele atuava). Talvez sua decepção e dor sejam maiores porque, no primeiro turno, sua equipe foi disparadamente a melhor.

Eles tinham o melhor goleiro: Índio — que, após a partida, assinou com um time de Minas e decolou na carreira. Tinham uma zaga de primeira, muito ajustada: Sapatão e o craque Filoquinha. No meio, jogavam dois garotos que eram o fino da bola: Nildo e Beto. O ataque era arrasador, com Guarino, Caia e Vaval!

E nem falei ainda do favorito antes da competição: o poderoso Operário, com um verdadeiro escrete! Toninho Cachaça, Carlão (Jorge Luís), Nepô, Álvaro e Andeda; CB Rezende, CB Costinha e Antônio Português; Paulo Burro Preto, Odair e Beraldo.

Já o Central virou uma excelente equipe a partir da terceira rodada, com a chegada do cracaço Aílton Neguinho, do América. Após sua entrada, não perdemos mais. E assim, sagramos-nos campeões!

A partida que o zagueirão Sapatão jamais esquece foi decidida nos pênaltis. O time dele foi eliminado sem perder no tempo normal. Invictos nos 90 minutos! A dor vem do empate sofrido no último minuto da prorrogação — eles venciam por 3×2, mas tomaram um gol de pênalti, que levou a decisão para os tiros livres da marca da cal. Eliminamos o Independente por 3×2 nas penalidades. E, na final, vencemos o Operário por 2×1, com gols da dupla Ivaneguinho/Aílton Neguinho, tornando-nos Super Campeões!

O mais impressionante é que ele, assim como eu, lembra lance por lance daquele jogo “interminável”. Inclusive uma jogada no fim, em que eu já havia driblado quase todo mundo e, no instante exato em que eu faria o gol que selaria a partida, ele surgiu sabe-se lá de onde, com um carrinho genial, tirando a bola do meu domínio.

Ele nunca esqueceu o trabalho que a dupla Aílton Neguinho/Ivaneguinho deu para ele, Filoquinha, Nildo e todos os zagueiros daquele concorrido campeonato.

Zagueirão, você era fera… mas deu a dupla imparável do Central na final!