AQUI JAZ UM SONHO DE MENINO
por Zé Roberto Padilha

Não tinha essa foto. A do pesadelo. Porque tenho várias que revelam o meu sonho de defender, por sete anos, o time do meu coração. O Fluminense FC.
Cheguei em 1968 nas Laranjeiras e permaneci até essa partida, contra o Internacional, em dezembro de 1975, pelas semifinais do Campeonato Brasileiro.
Meu primeiro contrato profissional foi em 1972, o técnico era o Zagalo. Era reserva do Lula e não tinha essa palhaçada de time misto.
Ele jogava, eu assistia. E o substituía quando servia à seleção brasileira.
Em 1974, Parreira assume, Lula é vendido ao Inter e assumo, depois de tanta luta e espera, a titularidade da camisa 11.
Quando entrei em campo, liderava a Bola de Prata da revista Placar, como melhor ponta esquerda, estava na lista dos pré-selecionados, de Osvaldo Brandão e nosso treinador, Didi, pedira a renovação do meu contrato. E, na partida anterior, atropelamos o Palmeiras, no Maracanã, por 4×2.
Conhecem nossos quinze minutos de fama?
Pois é, aos 23 minutos Lula abriu a contagem, e Paulo César Carpegiani fez 2×0, aos 30 minutos do segundo tempo. Aos 32 fui substituído em campo pelo Carlos Alberto Pintinho e fora dele trocado pelo Doval, do Flamengo. E nunca mais vesti a camisa do meu time de coração.
Foram duas Taças GB, 71 e 75, três títulos estaduais, 71, 73 e 75, conquistados, além do título de Campeão Juvenil, em 1970.
Permaneci em cena por mais dez anos, e encerrei minha carreira defendendo o Bonsucesso FC, pela primeira divisão carioca, de 1985.
Tenho um pequeno memorial, que montei para meus filhos e netos curtirem. Os pôsteres estão nas paredes, livros, medalhas, faixas e troféus na estante.
Faltava a foto da lápide dos meus sonhos.
Agora, não falta mais.
CARLOS ALBERTO PINTINHO, O PATRÃO DA BOLA
por Luis Filipe Chateaubriand

Quem viu Carlos Alberto Pintinho jogar bola, é um privilegiado!
Jogador de técnica e de força, defendeu o Fluminense e o Vasco da Gama, antes de ir exibir sua arte em campos espanhóis.
Era um volante clássico, daqueles que defendem sem fazer uso da violência e armam o time para o ataque.
Assim, fazia o que queria com a bola, seja para interceptá-la, seja para fazê-la correr.
Aliás, Pintinho é do tempo que quem tinha que correr era a bola, e não os jogadores.
A frustação, para Pintinho, foi não ter jogado muitas vezes na Seleção Brasileira.
A concorrência era alta: Falcão, Toninho Cerezo, Paulo Cesar Carpegiani, dentre outros.
Mas que o mancebo “tinha bola” para jogar na Seleção, não se discute. Esse era Carlos Alberto Pintinho, show de bola, literalmente.
ROMÁRIO: “MEU NEGÓCIO É FAZER GOL”
por Elso Venâncio

Fui setorista do Vasco, na Rádio Globo, durante o bicampeonato carioca de 1987/88. O senador, hoje com poucos cabelos, a maioria brancos, tinha na época uma cabeleira encaracolada e o apelido de Toddynho.
A imprensa, com acesso direto aos jogadores, ficava ao lado do campo nos treinos e com facilidade escutava o promissor talento cruzmaltino:
– Meu negócio é fazer gol! – repetia sempre.
Foi o único atacante que acompanhei que era verdadeiramente obcecado em marcar gols.
O coletivo começava e era comum os titulares entrarem com somente 10 em campo. O “Baixinho”, aos 22 anos, preferia ficar atrás do gol, onde hoje está a estátua do artilheiro Roberto Dinamite, treinando e se aperfeiçoando nas finalizações. Ademar Braga, o preparador físico, era quem o auxiliava. Trave móvel, sem goleiro, o atacante dominava de costas, virava e batia. Pelo menos, por 30 minutos. Mas diariamente.
Chutes frontais e laterais, cabeceios, piques em diagonal sempre com a bola aos pés. Batia fraco, às vezes forte, vez ou outra colocado, dava fintas com gingas de corpo, enfim, a gente percebia sua satisfação pessoal. Treinamento físico? Arrumava um jeito de escapulir, sair dessa para ficar na sua, apenas batendo para o gol.
O garoto que havia saído do Jacarezinho e morava na Vila da Penha já era folgado. Em um coletivo, o lateral-esquerdo Lira reclamou aos gritos do treinador Sebastião Lazaroni e deu um bico na bola para a arquibancada. O técnico expulsou de imediato o lateral. Romário, amigo de Lira – e que já liderava a artilharia do Carioca –, pegou outra e igualmente a isolou com força:
– Me tira também!
Lazaroni levou todos os jogadores para uma longa conversa no vestiário.
O humorista Tom Cavalcante, logo após o “Tetra” conquistado na Copa dos Estados Unidos, em 1994, lançou uma música que viralizou. O nome, ‘Treinar pra quê?’:
“Treinar pra quê, se eu já sei o que fazer…”
Nos times em que atuou desde que retornou ao Brasil, Romário sempre deixou claro aos presidentes dos clubes:
– Não bebo, mas gosto da noite. Por isso, só treino à tarde.
Os técnicos, porém, não sabiam do combinado:
– Onde está o Romário?
À tarde, assim que o craque surgia era imediatamente abordado pelo supervisor. De bate-pronto, respondia:
– Pergunta ao presidente…
Muitas vezes, nem à tarde o goleador aparecia. Júlio Leitão, diretor de futebol do Flamengo, cansou de ir até o quiosque Viajandão, na Barra da Tijuca, implorar para que ele voltasse para a Gávea:
– Estou treinando! – argumentava, bem-humorado. Na verdade, jogava futevôlei com alegria, e a cada ponto marcado parecia se lembrar das finalizações que matava todo e qualquer goleiro na área adversária.
Ah… falei sobre o tema porque ainda tento apagar da memória o chute na trave do Gabigol, após passe de Pedro, diante do Athletico Paranaense. Gol enorme! Escancarado! Se praticasse forte esse fundamento, não teria como errar…
*Elso Venancio foi setorista do Flamengo por 11 anos seguidos (de outubro de 1988 a dezembro de 1999) e cobriu a seleção brasileira em 3 Copas do Mundo (1990, 1994 e 1998)
DINAMITE, A ESPERANÇA
por Rubens Lemos

Desde criança, no sufoco que a vida me reservou e à vida dos meus pais, a minha crença chamava-se Roberto Dinamite, herói de sorriso triste e gladiador solitário na luta contra o espetacular Flamengo de Zico. Narrava gols de Roberto Dinamite sozinho no quarto, tarde da noite, com fé e orgulho. Ele foi o maior artilheiro que vi jogar com a camisa do meu Vasco.
Hoje nem chamo o Vasco de meu, porque o Vasco é uma catástrofe de falta de vergonho e futebol paupérrimo, sem qualquer jogador acima da média, apanhando de times que goleava nos meus tempos de viciado nos domingos de Gol do Fantástico.
O Vasco de hoje não desperta aquele sentimento confiante de euforia, nem pode, é um time ridículo, com jogadores desconhecidos que podem perfeitamente jogador na Série C e até mesmo na Série D.
O Vasco tirou dos seus apaixonados a confiança nas vitórias tranquilas contra adversários ruins. Sua raça acima da técnica como nas jornadas em que guardava sozinho Roberto Dinamite contra a orquestra flamenguista.
O carisma de Roberto Dinamite, buscando o gol sem qualquer temor, assumindo a escritura da grande área ou partido do meio-campo como o Quixote das conquistas impossíveis. Roberto Dinamite é o maior jogador da história do Vasco, embora meu ídolo seja, também, o genial meia Geovani.
Roberto Dinamite é um estoico, um resignado. Desde o golaço que valeu seu apelido de Dinamite em 1971(ele aos 17 anos), contra o Internacional no Maracanã.
Roberto Dinamite se entregou à massa e ela o assumiu como explosão das causas impossível. Roberto Dinamite assumiu o cetro de ídolo e fez a torcida cruzmaltina assumir uma razão de lotar o Maracanã.
Roberto Dinamite sofreu muito a vida inteira. Introspectivo, de timidez e conformismo indescritíveis, foi convocado para a seleção brasileira de 1978 porque o centroavante Nunes se machucou. Roberto Dinamite parecia um guerreiro sem lança na chuteira, esquecido e sem merecer o menor respeito do falecido técnico Cláudio Coutinho.
O Brasil, tudo bem, tinha um gênio chamado Reinaldo do Atlético(MG) que sucumbiu, não apresentou 5% do seu toque esplêndido. O Brasil seria eliminado se empatasse com a Áustria e o Almirante Heleno Nunes, presidente da Confederação de Futebol, no auge da Ditadura, agiu certo e mandou escalar Roberto de titular.
Um passe preciso do ponta-direita Gil encontrou Roberto Dinamite pronto para o tiro de sniper, bem colocado, ajeitando a bola e fulminando o goleiro Koncília. Roberto – ah, hipocrisia impossível -, passou a ser bajulado sem deixar de manter o semblante blasé e sábio. Os elogios eram oportunistas.
Roberto Dinamite jogou mal uma partida, apenas uma, contra a Tchecoslováquia no Morumbi em 1×1 nos preparativos para a Copa do Mundo e Telê Santana, brilhante e teimoso, simplesmente o ignorou.
Roberto Dinamite fez falta e teria classificado o Brasil contra a Itália em 1982 porque Serginho Chulapa não passava de um zagueiro disfarçado. Só pra lembrar, Zico e Roberto nunca perderam juntos pela seleção.
Então Roberto entregou-se ao Vasco como um libelo, silencioso, grito abafado pela multidão vascaína , liderando time espetacular com Romário, Geovani, Mazinho, Tita, Acácio, Mauricinho, uma máquina que botou no liquidificador o Flamengo de 1987.
Roberto voltou a sofrer. Em 1989, o Vasco o emprestou para a Portuguesa(SP) e ele seguiu, humilde e machucado, para o campeonato brasileiro.
Duvidaram dele e em 1990 até 1992, fez gols decisivos tabelando com o craque e sucessor Edmundo. Roberto, claro, sempre buscando a foça e a liberdade de quem respondia balançando a rede, aqueles que o menosprezavam.
Roberto Dinamite é tão bom que Zico vestiu camisa do Vasco em sua despedida. Roberto é tão bom que os vídeos dos seus gols são repetidos com emoção e o ineditismo das lágrimas que correm de saudade.
Roberto Dinamite está com câncer aos 68 anos e, a cada batalha que vence, rompendo a covardia da doença, ensina que o ser humano é resistência. Roberto Dinamite é perseverança e exemplo. Explodindo o gol da vida que vai prosseguir.
A FARRA DA PATOTA
::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::::

Na última semana, li uma matéria que dizia que Tite havia definido uma “agenda de observações” para analisar o desempenho de alguns jogadores e definir o grupo que vai disputar a Copa do Mundo. Antes de mais nada, acho um absurdo que, às vésperas de um torneio tão importante, o treinador da Seleção ainda não tenha o elenco formado.
Disputei duas Copas do Mundo, três Eliminatórias e tenho propriedade no assunto. Não é por acaso que o Mundial é disputado de quatro em quatro anos e não vai ser a dois meses da competição que Tite vai descobrir o craque que vai nos salvar.
Se já não fosse o bastante, o que me causou indignação ainda maior foi o roteiro definido para acompanhar os jogos e treinamentos: Brasil, Espanha, Portugal, Itália, Inglaterra, França e México. Ao lado da sua patota, o treinador fará uma viagem dos sonhos com o que há de melhor em termos de gastronomia e hospedagem com tudo pago pela Confederação.
Pelo que li, são dez jogos distribuídos ao longo desse período e a panela contará com Matheus Bachi, filho do treinador, César Sampaio, Juninho Paulista, Fábio Mahseredjian e outros que eu nem sei quem são. No México, por exemplo, li que César Sampaio e Guilherme Passos foram acompanhar Puma x Santos Laguna e viram Daniel Alves perder de 5 a 1, com direito a drible desconcertante que o deixou no chão. Agora me respondam com sinceridade: precisa ir até lá para constatar que o lateral de 39 anos não tem mais condições de disputar o Mundial? Pelo menos a comissão deve ter aproveitado os pontos turísticos da cidade, degustado bons vinhos, tacos, tortillas e burritos! Não sou bobo!
Por falar em lateral, a carência é tanta que teve uma galera cogitando Rodinei na Seleção! Kkkkkk! Vamos aguardar as próximas partidas porque estou ansioso pelo relatório da comissão após esse tour gastronômico abaixo:
17/8 – Athletico-PR x Flamengo (Cleber Xavier e César Sampaio)
17/8 – Fluminense x Fortaleza (Tite e Matheus Bachi)
21/8 – Palmeiras x Flamengo (Tite e Cleber Xavier)
21/8 – Atlético de Madrid x Villareal (Matheus Bachi e Fábio Mahseredjian)
21/8 – Pumas x Santos Laguna (César Sampaio e Guilherme Passos)
23/8 – Benfica x Dínamo Kiev (Matheus Bachi e Fábio Mahseredjian)
24/8 – Pumas x Tigres (César Sampaio e Guilherme Passos)
27/8 – Juventus x Roma (Matheus Bachi e Fábio Mahseredjian)
27/8 – Arsenal x Fulham (Tite e Juninho Paulista)
28/8 – PSG x Mônaco (Tite e Juninho Paulista)
PÉROLAS DA SEMANA:
“Com uma ligação direta e transição no último terço do campo, o cenário se ofereceu desconfortável para o time inflar sem mudar a escalação com a corda esticada, aprimorando o modelo de jogo qualificado por dentro”.
“Para balançar o meio-campo, o time desconecta os setores amassando e empurrando o adversário para trás em direção ao gol e no controle da segunda bola (só existe uma!!). Para quebrar a marcação e algemar o adversário, também potencializa o homem de lado para ganhar amplitude de campo”.
Algemar
Contundente
Transição
Amplitude
Potencializar
Passar na linha Central (Seria Central do Brasil? kkkk)
Quebrar a marcação
Diz aí, geraldino! Entendeu alguma coisa?