O CALENDÁRIO DO FUTEBOL BRASILEIRO 01: A ADEQUAÇÃO AO CALENDÁRIO EUROPEU
por Luis Filipe Chateaubriand

Suponha-se que o calendário do futebol brasileiro seja jogado, como atualmente, de Janeiro a Dezembro, só que de forma racional.
Sucede-se que, nesse caso, há nove meses para se jogar todas as competições da temporada, pois:
· Janeiro é dedicado à Pré-Temporada.
· Dezembro é dedicado às férias dos jogadores.
· Em meados do ano – segunda parte de Junho e primeira parte de Julho – há interrupção dos certames para se jogar competições de Seleções, como Copa América e Copa do Mundo.
Tem-se, portanto, três meses dedicados a outras coisas que não os certames de clubes e, assim, há nove meses dedicados aos certames de clubes.
Agora, suponha-se que o calendário brasileiro seja jogado de Julho de um ano a Junho do ano seguinte, também de forma racional, o chamado Calendário Europeu.
Sucede-se que, nesse caso, há dez meses para se jogar todas as competições da temporada, pois:
· Julho é dedicado à Pré-Temporada.
· Junho é dedicado às férias dos jogadores.
· As competições de seleções são realizadas exatamente em Junho e Julho, quando os clubes não jogam partidas oficiais.
Tem-se, portanto, dois meses dedicados a outras coisas que não os certames de clubes e, assim, há dez meses dedicados aos certames de clubes.
Fica claro que, em um contexto abarrotado de competições e, consequentemente, jogos, é melhor dispor de dez meses para isso do que dispor de nove meses para isso.
Assim, a adoção do Calendário Europeu no futebol brasileiro se impõe como algo necessário.
EM BUSCA DA GLÓRIA PERDIDA
por Péris Ribeiro

No badalado balneário de Atafona, o mais tradicional do município de São João da Barra, encravado no Norte do Estado do Rio de Janeiro, as bancas de jornais estampam, entre as principais manchetes daquela manhã, uma que, particularmente, mexe com a sensibilidade do antigo ponta-direita e meia-armador do Flamengo, Paulinho Almeida. É que, ali, está configurado o desaparecimento do velho amigo Dequinha – famoso pelo seu estilo clássico, como centro-médio -, morto na véspera, aos 68 anos, devido a uma cirrose hepática, em Aracajú, Sergipe.
Consta na matéria do Jornal do Brasil, que Dequinha morrera no esquecimento, triste e magoado, depois de ter sido o capitão e um dos heróis do tricampeonato do Flamengo, no início dos Anos 1950. Um título inesquecível, por si só. Mas, fundamentalmente, a primeira grande façanha de um time na história do Maracanã – o gigantesco e mágico estádio, que o carioca, orgulhosamente, só chamava de “ O Maior do Mundo”.
Abalado com o que lera, o que se percebe é que Paulinho remete ao passado em questão de segundos. E então sente, como que instantaneamente, estar de volta às radiantes tardes de domingo no seu velho Maracanã. O céu límpido e azul, o sol que convida a alegria, as arquibancadas coloridas de vermelho e preto, o ritmo pleno da festa…
Já, lá embaixo, o que se vê é mais um previsível show de bola dos garotos comandados pelo Feiticeiro Solich. Desta vez, a vítima é a Portuguesa. Que perde por 6 a 0 ainda na metade do segundo tempo, graças à facilidade de encontrar as redes de um Evaristo, um Índio, um Dida… E dele próprio, Paulinho – àquela altura, o artilheiro absoluto do Campeonato, com 17 gols.
Algumas semanas depois, era esse Flamengo avassalador de Don Fleitas Solich e Dequinha que se consagraria como tricampeão carioca. E se o infernal Dida iria se imortalizar como o herói dos 4 a 1 em cima do América, na decisão, quem levaria definitivamente a palma de maior artilheiro da competição seria mesmo ele, o não menos endiabrado Paulinho Almeida, com 23 gols.
Ainda saboreando a glória do inédito tri, eis que lá iria Paulinho, logo depois, desfrutar do seleto ambiente da Seleção Brasileira, ao lado do amigo de sempre, Dequinha, e ainda de Evaristo de Macedo e Pavão – formando assim o quarteto rubro-negro convocado para a excursão à Europa. E seria lá, no Velho Mundo, que Paulinho teria a honra de pisar a grama sagrada de Wembley, ao lado de craques notáveis como o mestre Didi, Gilmar, Canhoteiro, Zózimo, Dequinha e os dois Santos, os eternos Nilton e Djalma.
– Pois é, pode parecer frase feita, mas não é. Naquele tempo, sim, é que eu era um homem feliz! Era feliz, e sequer sabia… Não tinha disso, a mínima noção– disse-me ele, certo dia, numa daquelas mornas tardes de verão lá em Atafona. Quase que a parodiar, sem querer, o genial compositor Ataulfo Alves.
Naquela tarde longínqua – tenho certeza -, volvendo aos velhos jornais e às antigas revistas, e se debruçando demoradamente sobre os recortes das glórias no Flamengo, na Seleção Brasileira e no Palmeiras – pelo qual foi supercampeão paulista, em 1959, ganhando do Santos de Pelé na decisão -, o reencontro do antigo ídolo com o sucesso me parecia, isso sim, um misto de puro êxtase com uma certa aura de maldição.
Tempos depois, na inglória luta por uma aposentadoria que nunca vinha, o que veria Paulinho nas noites de insônia, senão o beque caído, o goleiro vencido, as redes balançando?
No vídeo-tape da memória – sou capaz de garantir -, só havia espaço mesmo para a torcida gritando o seu nome. A faixa de tricampeão pelo seu amado Flamengo, a reluzir-lhe no peito. A consumir-lhe as madrugadas, apenas o delírio da eterna paixão rubro-negra.
CARLOS GAINETE
por Eduardo Lamas
Minhas primeiras tentativas de entrevistar o ex-goleiro e ex-técnico Carlos Gainete foram no início de 2020, quando entrei em contato com o filho dele, de mesmo nome, pelo facebook. Na época, ele morava no Rio de Janeiro e o pai, fui informado, estava residindo em Porto Alegre. Mas como Gainete nasceu em Florianópolis, pensei cá comigo: uma hora ele vai aparecer na área e não vou perder a chance.
Quando eu e o cinegrafista Fernando Gustav retornamos aos trabalhos para o Museu da Pelada, em outubro de 2021, após longo e tenebroso inverno pandêmico sem vacinação, retomei os contatos com Carlos Gainete filho, que, para sorte minha, tinha vindo para Florianópolis. Numa prévia da pesquisa que sempre faço para preparar a pauta das entrevistas, descobri que estava se aproximando o 81º aniversário do ex-goleiro de Inter, Vasco, Athletico-PR, em 15 de novembro. E aí fui informado pelo filho que o pai viria de Porto Alegre para cá. Mas engana-se que, por isso, foi fácil.
Gainete não se mostrou nada entusiasmado com a ideia de dar uma entrevista, informou-me seu filho. Sem ser chato, algo que detesto ser, mas com alguma insistência, Carlos Gainete cedeu depois de tentar suportar uma saudável e carinhosa pressão caseira do filho e da esposa, aos quais agradeço imensamente. Sorte nossa e de toda massa torcedora do Museu da Pelada. Afinal, boas histórias não faltam, tanto dos tempos de goleiro, quando foi campeão catarinense logo na sua primeira temporada pelo Paula Ramos Esporte Clube, em 1959; campeão da primeira Taça GB, pelo Vasco, em 65, e quatro vezes seguidas campeão gaúcho pelo Inter, e de treinador, com maior destaque para o timaço que formou no Guarani, com Ricardo Rocha, Marco Antonio Boiadeiro, Evair, João Paulo e outros (entre eles Tite, o atual técnico da seleção brasileira), que acabou sendo vice-campeão brasileiro, perdendo nos pênaltis para o São Paulo de Careca, Pita e cia, em 86, numa partida final antológica e cheia de polêmicas, com muita tristeza para os bugrinos e, em especial para Gainete, que confessa jamais ter conseguido rever aquele jogo.
No fim do nosso papo, já em off, ousei perguntar a ele quem tinha sido melhor, o goleiro ou o treinador. Ele respondeu: “O homem”. Aplaudimos espontaneamente, eu, Fernando Gustav e seu orgulhoso filho.
ADILSON HELENO
por Eduardo Lamas
A primeira vez que vi Adilson Heleno na minha vida foi no dia 29 de agosto de 1982. Eu e boa parte dos mais de 122 mil torcedores que resolveram chegar mais cedo ao Maracanã para assistir a mais um Fla-Flu, fomos privilegiados na preliminar do clássico com um gol que provavelmente nenhum profissional conseguiu fazer em mais de 70 anos de existência do mítico estádio do Rio de Janeiro. Adilson, ainda sem o sobrenome, vestia a camisa 10 rubro-negra e arriscou um chute do meio do campo ao perceber adiantado o goleiro, que ele acha que era Ricardo Cruz, e marcou um gol antológico. Nunca mais me esqueci daquele lance, mesmo com o show do meu time no clássico principal, com o placar de 3 a 0, gols de Vitor, Andrade e Marinho, construído num primoroso primeiro tempo que fez um torcedor tricolor invadir o campo e pedir para os craques rubro-negros pararem com o baile.
Mas o papo aqui é com o canhota que nasceu na Baixada Fluminense e surgiu como grande promessa na Gávea, num momento em que Gilmar Popoca, outro canhota habilidoso e ótimo cobrador de faltas de uma geração anterior de craques feitos em casa, já despontava no time principal. Para complicar mais, logo depois, Zico retornaria da Itália. Adilson não pôde ficar no seu time do coração, mas foi brilhar no Fortaleza, tornando-se campeão cearense de 85; Avaí, onde se tornou um dos grandes ídolos da história do clube catarinense; Criciúma, quando superou o ídolo maior do Flamengo, ao vencer a Bola de Prata do Brasileiro de 88; Grêmio, onde se sagrou campeão da primeira Copa do Brasil, em 89; entre muitos outros.
Adilson era um entrevistado que buscava desde o início da nossa jornada aqui em Floripa, em outubro de 2019. Com a pandemia, a partir de março de 2020, eu e o cinegrafista Fernando Gustav só retornamos em outubro de 2021 e, finalmente, pudemos nos encontrar com o ex-camisa 10 num dia de reunião de amigos na escolinha do Barcelona que fica bem próximo do estádio Orlando Scarpelli, do Figueirense, onde ele cuida do bar local e joga suas peladas. Lá, após o papo que você vai curtir, entre tantos peladeiros muito bons de papo, estavam os ex-atacantes Aldrovani, um cigano do futebol que atuou por diversos clubes do Brasil, além de ter jogado na França e no Japão, e Jorge Luís, ex-Bangu. E a resenha, que começou após a entrevista, por volta das 17h, não queria acabar.
CONVOCAÇÃO
por Rubens Lemos

Parávamos todos, o país suspendia seus debates sobre inflação e liberdade amordaçada, porque a seleção brasileira servia como lenitivo para as dores nacionais. Um jogo do Brasil unia extremos ideológicos e inquietava a massa alucinada por futebol.
Perdi, pelos meus parcos dois anos e meio de idade, a euforia em Natal pela presença de Marinho Chagas na primeira lista de Zagallo para os preparativos à Copa de 1974. No dia 10 de março do ano anterior, natalenses saíram de casa para soltar foguetões, esquecendo a audiência da novela Cavalo de Aço da Rede Globo, estrelada pelo casal Tarcísio Meira e Glória Menezes.
Na sede da antiga Confederação Brasileira de desportos(CDB), Zagallo anunciou Marinho Chagas como lateral-esquerdo reserva do tricampeão mundial Marco Antônio. Marinho Chagas participou de uma longa excursão para a África e Europa, escrete sendo usado de moeda eleitoral na campanha de João Havelange à presidência da Fifa.
A 07 de abril de 1974, diante de 80.552 pagantes no Ex-Maracanã, o gigante do povo humilde das gerais, Marinho Chagas tomou a camisa titular fazendo uma partida impecável e marcando o gol da vitória sobre a Tchecoslováquia. Daí, para o posto de melhor do mundo na posição escolhido após a Copa da Alemanha, ele um dos poucos a escapar do fiasco do covarde time de Zagallo.
Quatro anos depois, em 1978, assisti, de fato, minha primeira Copa do Mundo estarrecido: o técnico Cláudio Coutinho barrou Marinho Chagas, o impecável Falcão e o debochado Paulo Cezar Caju alegando indisciplina. Eram rebeldes geniais. Quase cortou o meu ídolo Roberto Dinamite, que salvaria a seleção da degola logo na primeira fase.
Expectativa também para a chamada de Telê Santana em 1982. Aquele timaço poderia ter sido muito melhor, caso o ranzinza da arte houvesse levado Leão ou Raul para o gol, Adílio para o meio-campo, Reinaldo para centroavante junto com o convocado, mas esquecido Roberto Dinamite e o vesgo genial Mário Sérgio Pontes de Paiva. Perdemos também por soberba para uma Itália de time competente e pragmático.
Telê Santana fez uma convocação medíocre em 1986, cheia de veteranos sem condição física e técnica e de medíocres da estirpe de Casagrande, Alemão, Edivaldo e do razoável Valdo que viajou apenas para passear. Deixou no Brasil: Pita do São Paulo, Andrade do Flamengo, Geovani do Vasco, sacaneou Renato Gaúcho e desprezou Bebeto.
Pior foi em 1990 com Lazaroni. Foram cinco zagueiros na lista, dois volantes e nenhum meia criativo. O que havia foi trucidado: Geovani do Vasco. O ponta-esquerda João Paulo do Guarani também jogava o fino. Esse papo de Neto injustiçado é balela. Neto não tinha bola para seleção e começou a atuar bem em 1990 no segundo semestre.
Em 1994, Parreira tetracampeão não quis Rivaldo. Em 1998, Zagallo inventou um lateral-direito ridículo, Zé Carlos, que tomou um baile diante da Holanda. Insistiu com o ciscador Denílson. Foi injusto com Romário, cortando-o. E deixou vendo tudo pela TV, dois canhotos estupendos: Alex do Palmeiras e Djalminha, ex-Palmeiras e La Coruña(Espanha).
A cada lista, desde sempre, há reações negativas. Até no tricampeonato de 1970, há remanescentes sem entender, até hoje, porque Ademir da Guia do Palmeiras e Dirceu Lopes do Cruzeiro passaram longe, enquanto Dario, o Dadá Maravilha, imposto pelo general-presidente Garrastazu Médici e o zagueiro Baldochi, ostentam a faixa mundial.
Vem aí a seleção de Tite. Não me aquece o coração saber quem vai, quem fica. A relação para os dois últimos amistosos trouxe Thiago Silva, o xerife que chora. Esse deveria ter ficado em 2014. O tal Fred é nocivo à bola. Everton Ribeiro não dispõe de categoria para a camisa amarela. Menos mal que Gabigol, o insuportável, passou batido.
Gosto de quem sabe jogar. Gosto de Bruno Guimarães no meio-campo, de Antony. Gosto do jovem Rodrygo. Gosto demais de Vinicius Júnior, habilidoso e insinuante, jogador de drible (meu requisito fundamental).
Vinicius joga demais, só não pode seguir a estrada da antipatia de Neymar, também na lista, felizmente sem o carnaval de sempre. Quem sabe, despido de máscara, Neymar possa, finalmente, jogar uma Copa do Mundo na prática.