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O CALENDÁRIO DO FUTEBOL BRASILEIRO 02: PRIVILEGIANDO O BRASILEIRÃO

por Luis Filipe Chateaubriand

Sem sombra de dúvidas, o Campeonato Brasileiro é a competição mais importante do calendário dos clubes brasileiros.

E, importante que é, deve ser jogado somente aos fins de semanas, durante a temporada inteira.

Então, teríamos – com a adequação ao calendário europeu – o Campeonato Brasileiro disputado de Agosto de um ano até Maio do ano seguinte, sempre aos fins de semanas.

As vantagens de ser ter um Campeonato Brasileiro jogado somente aos fins de semanas e durante a temporada toda são diversas, a saber:

· Com a principal competição do calendário sendo aos fins de semanas, a presença de público pagante nos jogos do certame tende a ser maior.
· Com a principal competição do calendário sendo aos fins de semanas, a audiência televisiva dos jogos do certame tende a ser maior.
· Com a principal competição do calendário sendo aos fins de semanas, esta ganha visibilidade e espaço na mídia maior que atualmente.

Se ter o Campeonato Brasileiro aos fins de semana e durante toda a temporada é ressaltar a importância do que, realmente, é importante.

ARUBINHA ESTÁ ENTRE NÓS

por André Felipe de Lima

Desenterrem o sapo do gramado de São Januário, pelo amor de Deus. O clamor não é do cronista em questão, mas de todo vascaíno que hoje nem em “SAF” e seus milhões de dólares e afins acredita mais

por André Felipe de Lima

Olhe, não é novidade para ninguém minha devoção vascaína. Ver meu time há anos sendo maltratado por elencos sofríveis e diretorias deploráveis só pode me permitir a certeza de que o Pai Santana faz muita falta. Acho que somente ele, o nosso amado guru que nos “livrava da dor” (como entoava a torcida), poderia tirar esse “trabalho feito” de cima do Vasco. Não tenho dúvidas de que há muita força sobrenatural (…de “Almeida”, rubro-negra ou seja lá qual for) para fazer São Januário ruir, e não haverá “SAF” e milhões de dólares que deem jeito na situação. A figura do sr. Altair Sérgio Calixto, o “Arubinha”, parece estar em cada canto do clube. Se o nome não soa familiar mesmo para quem conhece a história do futebol carioca, o apelido decerto é inesquecível. Especialmente para os vascaínos. Ao Altair, ou melhor, Arubinha, é atribuída uma sina da qual muitos torcedores do Vasco jamais esqueceram. Tudo começou no chuvoso dia 30 de dezembro de 1937, quando Vasco e Andarahy deveriam entrar em campo para uma partida sem muita importância na tabela do campeonato carioca. No campo do Fluminense, lá estavam os jogadores do Andarahy e nada de vascaínos. Até que surgiu a notícia de que os jogadores do Vasco sofreram um acidente a caminho do estádio e estavam todos no pronto-socorro. Os jogadores do Andarahy foram solidários aos colegas hospitalizados, mas aguardaria os reservas do Vasco, que escaparam do acidente. É aí que Arubinha entra na história, com um pedido inusitado: que o Vasco não abusasse no placar. Os reservas do Vasco fizeram ouvidos moucos. E logo no primeiro tempo sapecaram 5 a 0. Na segunda etapa, ampliou-se a sova e o placar impiedoso marcava 12 a 0.

Arubinha, dizem, ficou irritado. Afinal, os jogadores do Andarahy ficaram horas sob uma forte chuva aguardando os reservas vascaínos. Ademais, Arubinha antes de o jogo começar pedira clemência ao Vasco. Há quem garanta que após o juiz encerrar a peleja, Arubinha ajoelhou-se e pediu ao céu que punisse o Vasco com amargo jejum de 12 anos sem títulos de campeão. Mas esse pedido teria sido pouco para o transtornado Arubinha. Durante uma madrugada, ele teria ido ao campo do estádio de São Januário e lá enterrara um sapo com a boca costurada. A praga, agora sim, estava completa.

Os anos passaram e nada de o Vasco levantar troféu. A mitológica história do “Sapo de Arubinha” começava a ganhar cores dramáticas e há quem diga que até dinheiro os cartolas vascaínos ofereceram para que Arubinha revelasse onde enterrara o maldito sapo. O pobre Arubinha negava ter enterrado sapo ou mesmo praguejado contra o Vasco. A história nunca se confirmou, mas ganhou fama pelos textos do cronista Mario Filho. Verdade ou não, o Vasco só voltaria a ser campeão em 1945, o ano em que o melhor time já montado em São Januário começaria a encantar o Brasil e o mundo durante mais de uma década.

Arubinha não foi um craque na acepção mais rigorosa do termo. Entrou para a história do futebol graças à “mandiga” que teria derrubado o Vasco durante quase 10 anos. Mas pode-se dizer que foi um dos principais jogadores da história do Andarahy, que tantos craques revelou para os grandes clubes cariocas, entre os quais o genial Russinho, ídolo [logo de quem…] do Vasco.

Arubinha também jogava na ponta-direita, sobretudo nos tempos em que defendeu o Bonsucesso, de 1929 a 1934, mas sua posição oficial era mesmo a extrema esquerda. Antes de defender o Bonsucesso, Arubinha atuou, em 1929 e 1930, pelo Mazda F.C., um time amador do Rio. Em 1936 e 1937, defendeu o Escolas de Samba, um time formado por jogadores oriundos das agremiações de samba da cidade do Rio de Janeiro. Em meados de 1937, o craque “mandigueiro” aportou no Andarahy, que formava naquele ano com Panello: Cazuza e Dondon [ele mesmo, o do famoso samba interpretado por Zeca Pagodinho]; Reynaldo, Flodoaldo e Tide; Nilo, Astor, França, Armando e ele, o “algoz” do Vasco, Arubinha. Em abril de 1938, o Madureira o levou do Andarahy. Defendeu o Tricolor suburbano até 1939.

No começo da década seguinte, Arubinha ainda atuou por times amadores do subúrbio carioca, especialmente o Brasil Novo, um dos destaques do campeonato de times suburbanos. No Brasil Novo, o velho Arubinha “brincava nas onze” e até de zagueiro jogou. Tornou-se treinador, mas não abandonou a bola. Dirigiu e defendeu times amadores. Um deles, em 1947, o brioso Adelia Futebol Clube. Em 1948, o Brasil Novo retomou as atividades e Arubinha, veteraníssimo, foi imediatamente convocado pelo ex-clube.

Altair nasceu no Rio de Janeiro e era filho de João Sérgio Calixto e de Julia Sérgio Calixto, como descreve o Diário Oficial da União, de 8 de julho de 1930, o nome de Arubinha estava na lista da “Classe de 1908”, ou seja, o craque “mandigueiro” teria nascido naquele ano. Em setembro de 1977, aposentou-se do serviço público. Trabalhava, desde a década de 1940 na Estrada de Ferro Central do Brasil.

Depois disso, nunca mais se ouviu falar do Arubinha, mas a figura mítica que construiu [ou construíram sobre ele] jamais será esquecida. Os vascaínos que o digam. E atenção: o sapo continua lá, no gramado de São Januário. “São” Pai Santana, entre em ação, por favor.

CARTA PARA FRANCISCO HORTA

por Paulo-Roberto Andel

Prezado Doutor Horta,

Meu nome é Paulo, sou camelô, tenho 54 anos e conheço o senhor desde os sete, quando eu integrava a torcida mirim do Fluminense.

Embora desse muita atenção ao cachorro quente do Maracanã, bem como ao refrigerante dos vendedores, todos de branco, de tanque nas costas e capacete como se fossem astronautas, fui firme testemunha ocular de uma galeria de arte criada pelo senhor. A exposição era no gramado e atendia pelo nome de Máquina Tricolor. É um nome tão poderoso que, passados quase cinquenta anos, ainda povoa o imaginário de milhares e milhares de tricolores. Mesmo campeão e recheado de craques, o Fluminense daquele tempo nunca é chamado de “time do Rivellino” ou “do Paulo Cezar”, simplesmente de Máquina e pronto: está tudo bem descrito, basta olhar o pôster.

Queria dizer que aqueles foram alguns dos melhores anos da minha vida. Eu sempre estava abraçado com meu pai na arquibancada, todo mundo ria e festejava, a gente vivia nas nuvens de pó de arroz com um mar de bandeiras do nosso time. Era festa, festa e vitória. Sempre tinha alguém me jogando pro alto na hora do gol – e tome gol, gols, gols! Nuvens e nuvens: a gente estava num verdadeiro avião de concreto e degraus.

Durante dois anos, aquele time do Fluminense que o senhor montou virou o campo dos sonhos de homens, mulheres e crianças. A Máquina dava as cartas nas manchetes esportivas, no rádio, na TV, em revistas e jornais. Nosso oxigênio era tricolor.

Há quem diga que a Máquina ganhou “pouco”, mas por mero desconhecimento histórico. Nos anos 1970, nenhum campeonato de futebol no Brasil era tão charmoso, atraente e disputado quanto o Estadual do Rio – e o Flu passou o trator em 1975 e 1976. E se os Brasileiros bateram na trave, azar o deles que perderam um supremo campeão em sua galeria. Aliás, em 1976 o Fluminense teve a maior média de público pagante de seus 120 anos, o que mostra a empolgação dos tricolores com seu time. Quase 50 anos depois, a Máquina apaixona a torcida tricolor e desafia definições.

Doutor Horta, neste seu aniversário de 88 anos, eu queria dizer que o presente é meu e de todas as crianças tricolores de 1975 e 1976. Nós passamos dois anos no maior playground do mundo, tocando as nuvens de pó de arroz como se fossem algodão doce. Nós fomos abraçados, beijados e jogados para o alto em tardes de glória, de gols inesquecíveis e de um time que não jogava futebol, mas apresentava espetáculos de futebol. Na hora do recreio na escola, éramos respeitados por todos os outros alunos – afinal, éramos os torcedores da Máquina. Nós éramos Vencer ou Vencer.

Crescemos, vivemos e, apaixonados por futebol, iniciamos uma procissão pelo Fluminense que nunca mais terminou – um de nós ficou tão louco pelo Flu que escreveu 20 livros sobre o clube. Nestes quase 50 anos, vimos e vivemos de tudo, de grandes títulos a fracassos monumentais devidamente superados. Rimos, choramos, vivemos. Cada vez que passamos um momento difícil, seguimos o ditado de Nelson Rodrigues e procuramos no passado tricolor o caminho do futuro. Invariavelmente caímos em duas fotos. Uma delas tem Félix, Toninho, Marco Antônio, Zé Mário, Mário Sérgio, Manfrini, Assis, Silveira, Cafuringa. A outra tem Carlos Alberto Torres, Edinho, Rodrigues Neto, Pintinho, Cleber, Doval, Dirceu, Gil, Rubens Galaxe, Miguel. Nas duas tem Rivellino e Paulo Cezar. E não falamos ainda de Didi, de Parreira, de Travaglini, de Paulo Emílio. São muitos nomes gigantes, símbolos da apoteose tricolor no século XX, bússolas que nos apontam o norte.

Doutor Horta, muito obrigado por tudo. A Máquina não foi apenas uma exposição nos gramados: ela foi teatro, cinema, música, drama, paixão. Ela foi arte. Se fosse jazz, seria Miles Davis, Charles Mingus, Bill Evans, Thelonious Monk, Chet Baker, Art Blakey e Dizzy Gillespie, todos juntos num grande espetáculo que, tal como os sonhos das crianças de 1975 e 1976, está proibido de ser esquecido.

A nossa procissão é infinita: nós somos os filhos da Máquina. E o senhor é o mais emblemático presidente da história do nosso Fluminense.

Um grande abraço, feliz aniversário, Saudações Tricolores.

A ÚLTIMA VEZ FOI COM A CAMISA 7

por Zé Roberto Padilha

A ultima vez que pisei no gramado do Maracanã foi em 1985. Jogava pelo Bonsucesso FC, tinha 33 anos e não contava mais com o auxílio dos meus meniscos da caneta boa, a esquerda, para continuar exercendo minha profissão.

Meus preparadores físicos pediam que nadasse, não treinasse no campo duro para sobrecarregar o joelho. E com aquele calor do subúrbio carioca, em Teixeira de Castro, imaginem o que o elenco reclamava enquanto aquele “folgado” realizava seu trabalho no parque aquático ao lado. A sorte minha, azar deles, é que abria a caixa e voava no domingo mesmo com duas hélices enguiçadas.

Paulinho Carioca (foto) jogava comigo e era muito parecido. No tamanho, no início da calvície e era ponta também. Só que do lado direito.

Quando enfrentamos, no Maracanã, o poderoso Fluminense de 85, cujo lado esquerdo tinha Branco, Tato e Assis, nosso treinador Denílson, o Rei Zulú, deixou o Paulinho, mais ofensivo, no banco, e me escalou com a camisa 7 para tentar marcar aquelas feras. Foi minha primeira, e ultima, experiência jogando do lado direito.

Fiz o melhor que pude, mas aos 43 minutos Branco se livrou desse “pentelho” e cruzou para Assis abrir a contagem. No intervalo, Denílson agradeceu minha colaboração e me substituiu pelo Paulinho. Louco ou corajoso, resolveu sair para o jogo.

Mudei de roupa e fui encontrar meus pais, que foram de Três Rios até lá ver seu filho jogar. E depois visitar o Bruninho que acabara de chegar. Ao me aproximar, vi meus pais batendo boca. Diminui o suficiente para não intervir. E seu Zé Roberto, bravo, esbravejava;

– Você, Janet, não sabe nada de regras. Aonde já se viu um jogador começar com a camisa 7 e voltar com a 16? Tem súmula que eles assinam!

E minha mãe, confiante, afirmava:

– Posso não conhecer de regras, mas que mãe não conhece seu filho? Aquele lá é o Robertinho…

Quando me viram, meu pai abriu um sorriso e minha mãe ficou branca. Na dúvida, reforcei a tranca da porta. Morava em Jacarepaguá. Vocês sabem, quem enganou até a mãe…

Obs. Na foto, contra o Corinthians. Paulinho em uma ponta, eu na outra.

PET SÓ VIROU ÍDOLO GRAÇAS A ZAGALLO

por Elso Venâncio

Petkovic comemora o gol que deu o tricampeonato carioca ao Flamengo

Há 21 anos Petkovic marcou, contra o Vasco, o histórico gol de falta que rendeu ao Flamengo seu quarto tricampeonato estadual. Eternizado, o lance transformou o gringo – um dos mais importantes estrangeiros da história rubro-negra – em ídolo na Gávea.

A partida em si foi tensa. No primeiro confronto decisivo o Vasco ganhou de 2 a 1, ampliando a vantagem de jogar por dois resultados ‘iguais’. Na finalíssima, porém, o ‘Capetinha’ Edílson fez dois gols, Juninho Paulista descontou e aquela cobrança de falta, aos 43 do segundo do tempo, consagrou o sérvio, fazendo o treinador Zagallo vibrar igual criança, a ponto de agarrar e beijar com fervor uma imagem de Santo Antônio. O ‘Velho Lobo’ admitiria tempos mais tarde que a emoção sentida somente era comparável à conquista de uma Copa do Mundo.

Gols marcantes ficam gravados em nossa memória e deles lembramos até onde estávamos e que amigos se encontravam ao nosso lado na ocasião. Mas, voltemos no tempo. Mais precisamente, ao domingo, dia 27 de maio de 2001.

Eu trabalhava na cabine da Rádio Globo, no Maracanã, ao lado de José Carlos Araújo, do “Canhotinha de Ouro” Gerson e do “Comentarista da Palavra Fácil” Luiz Mendes. Além de comandar os debates antes dos jogos, atuava também como âncora no intervalo, e no final acionava os comentaristas e repórteres.

Pet não iria para o jogo. Insatisfeito com os atrasos nos salários, sobretudo os direitos de imagem, o craque decidiu abandonar a concentração para tomar umas e outras. O Flamengo se concentrava no Copacabana Mar Hotel. Todos jantaram, menos ele. Lá pelas tantas o gringo apareceu. Foi recebido pelo supervisor José Eduardo Chimello:

– Vai jantar ou prefere um lanche?

– Não, quero cerveja! – retrucou.

Presidente do clube, Edmundo Santos Silva, ao ser comunicado do fato, mandou retirá-lo da grande decisão.

Zagallo acordou naquele domingo com o mal-estar formado. Seríssimo e com o rosto avermelhado, reagiu com força:

– Ele vai jogar, sim! Quero falar com o presidente… O clube é que está errado, não ele.

Considero aquele gol, pela emoção, inspiração e vibração, o melhor de todos os tempos dentre todos os milhares até hoje narrados, ao longo de décadas, pelo Super ‘Garotinho’ José Carlos Araújo. Em São Paulo, inesquecível é ouvir Osmar Santos naquele mítico gol de Basílio – claro, aquele Corinthians x Ponte Preta que quebrou o incrível tabu corintiano que já se prolongava por 23 anos, no Campeonato Paulista.

Aliás, para você, qual a narração, o gol inesquecível que você ouviu, seja pelo rádio ou na tevê? Cite um momento histórico do seu clube do coração ou mesmo do futebol brasileiro. Aguardo aqui os comentários!