UMA VOADORA QUE PODE ROUBAR UM SONHO
por Zé Roberto Padilha

O que leva um atleta rodado, como Carlos Eduardo, do Bragantino, dar uma voadora sobre Guilherme Arana, aos 44 minutos do segundo tempo, em uma jogada na intermediária que não levava perigo a gol algum?
Ao atingir no joelho o lateral esquerdo, único titular da seleção brasileira que joga no país, ameaça levar para o Departamento Médico o sonho maior de todo jogador: disputar uma Copa do Mundo.
Tão imbecil a jogada, que ela conseguiu imbecializar a comentarista de arbitragem do Canal Premiére, que por nunca ter disputado uma jogada, declarou que o cartão amarelo “estava de bom tamanho”.
Guilherme Arana se arrastou nos minutos finais de Atlético-MG 1×1 Bragantino. Vai realizar exames e tomara que seu joelho, que é quem dita a expectativa de vida de um atleta profissional, não tenha sofrido uma grave lesão nos meniscos ou nos ligamentos cruzados.
Se Zico realizou obras-primas durante sua ascensão, imagine o que faria se o Márcio, do Bangu, não lhe desferisse uma voadora parecida que lhe roubou parte dos movimentos?
Na hora, doeu aqui em casa. Operei o meu diante de uma imbecialidade parecida, talvez pior, pois fui atingido num treino recreativo. E o meu futebol perdeu a graça. Deixou de ser um prazer para se tornar um sofrer em outras três cirurgias corretivas.
Boa sorte, Arana.
TEM QUE CONVERSAR COM O TÉCNICO
por Elso Venâncio

Ricardo Teixeira avisava de cara ao treinador da seleção:
– Sou o primeiro a ver a relação dos convocados e tenho poder de veto.
Eurico Miranda era informado de tudo, em tempo real. Na véspera dos jogos, sabia de antemão a escalação.
O presidente do Flamengo campeão do mundo em 1981 chamava o treinador e lhe perguntava qual a estratégia para o jogo. Antônio Augusto Dunshee de Abranches não pretendia escalar o time. Mas, sim, evitar erros primários. Nada mais saudável do que a troca de ideias entre um chefe e seu subordinado.
Dorival Júnior precisava vencer o Ceará e, de forma surpreendente, escalou o meio campo com Pulgar, Diego Ribas e Vitor Hugo? Todos reservas. Na época de ouro do clube, o time vinha no meio com Andrade, Adílio e Zico; e na frente, Tita, Nunes e Lico. Será que algum destes gostaria de ser poupado? Pergunta ao Zico…
A entrada de Matheuzinho no lugar de Varela, no intervalo, me lembrou as observações feitas em coletivos. O problema é que o jogo era à vera! Nelson Rodrigues diria sobre Rodinei:
– Tem saúde de vaca premiada.
João Saldanha já falava:
– Futebol é momento.
Hoje Rodinei é o melhor lateral do país. Ainda assim, mesmo no auge e com toda sua disposição, saiu para que testes fossem feitos no setor.
Muricy Ramalho disse certa vez, durante uma preleção:
– Galera, quando estiver ruim, toca pro negão.
Rodinei, sabendo que o técnico se referia a ele, perguntou, com um ar provocativo e sorrindo:
– Que negão é esse, professor?
– Não fode… cala a boca e ouve!
Será que alguém conversava com Paulo Souza, que tinha incrível vocação para o erro?
Um inédito tetracampeonato carioca lhe escorreu pelas mãos e a sucessão de equívocos absurdos no Campeonato Brasileiro reflete até hoje, visto a distância do clube para o Palmeiras.
Na Libertadores de 2008, o supervisor Isaías Tinoco avisou no hotel ao vice de futebol Kleber Leite, já bem tarde da noite, que Joel Santana escalaria os reservas no dia seguinte, contra o América, no México.
– Chama o Joel aqui agora! – foi firme o dirigente.
– Ele está dormindo…
– Acorde-o, então!!!
‘Papai Joel’ apareceu explicando que no domingo teria decisão do Carioca, contra o Botafogo.
– A posição é institucional. Titulares amanhã e domingo. Vamos com os melhores! – sentenciou Kleber.
No jogo, América 2 x 4 Flamengo. Na sequência, o Mais Querido conquistou o título metendo 3 a 1 no Botafogo.
Na semifinal da Libertadores, no Maracanã, porém, veio a improvável e fatídica derrota por 3 a 0 para o mesmo América de Cabañas, em pleno Maracanã.
Mas isso, bem, só os deuses do futebol são capazes de explicar…
O Vélez Sarsfield é o primeiro time argentino da história que perdeu de quatro em casa e não partiu para a violência, para a briga, nem em Buenos Aires nem no Rio. Verdade que a galinha já estava morta no jogo da volta, ontem. Só Dorival Júnior que não admitiu o erro cometido contra Ceará.
Com todo respeito, time misto era para ter sido ontem.
CLAUDIO ADÃO, O CIGANO DA BOLA
por Luis Filipe Chateaubriand

Lembrando de minha infância, afirmo que Claudio Adão foi um injustiçado, porque não vestiu a camisa da Seleção Brasileira.
O cara era “fera”.
Tão “fera” que, certa vez, perguntaram a Zico quem tinha sido o melhor companheiro de ataque com quem havia jogado.
O “Galinho de Quintino” não titubeou: “Foi o Cláudio Adão!”.
Facilidade imensa no cabeceio.
Chute de classe, sempre tirando a “pelota” do alcance dos goleiros.
Domínio de bola perfeito.
Esse era Claudio Adão, que jogou em mais de 20 clubes e, por isso, era chamado de Cigano da Bola.
Ave, Adão!
Você jogou muita bola!
VALORES ESTRATOSFÉRICOS
:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::

Com um final de semana chuvoso no Rio, passei os dias vendo os jogos na televisão e posso afirmar que vi de tudo! Vibrei com meu Botafogo ganhando do Fortaleza fora de casa, mesmo sabendo que essa vitória não significa nada ainda. Sofri com o jogo horrível do Vasco contra o Brusque e mais ainda com o empate do Flamengo diante do Ceará em um dos jogos mais chatos do campeonato!
Já falei algumas vezes, mas parece que, quanto mais eu falo, a situação só piora: é impressionante o desrespeito e a falta de educação dos jogadores. No Maracanã, Jô foi expulso por mandar o juiz para aquele lugar e Gabigol também foi para o chuveiro mais cedo por malcriação. Foram nove minutos de acréscimo no segundo tempo, mas não seria exagero se ele desse 15!
Sabe qual é o pior? Também assisti as mesas redondas depois das partidas e fiquei impressionado com as análises rasas dos analistas de computadores. Além das “pérolas da semana”, que vocês já estão cansados de ouvir, descobri também que eles são ótimos professores de matemática, pois não analisam mais a qualidade do futebol, apenas os números! Kkkkkk! Não se vê mais a coletividade do time ou a qualidade do domínio, por exemplo, agora são só números para lá e para cá! Não importa se as finalizações foram bem feitas, o que conta é a quantidade delas para as estatísticas!
Na minha época, além da galera que cornetava na Geral, ainda tinha que ouvir João Saldanha, Oduvaldo Cozzi, Rui Porto, Luiz Mendes, Sandro Moreyra, Oldemário Touguinhó, Sebastião Pereira e cia. analisando o meu desempenho! Fico imaginando o que eles falariam do futebol atual… kkkkkk!
Na minha maratona de jogos do fim de semana, assisti também a estreia de Antony no Manchester United e, assim como Cristiano Ronaldo no banco, vibrei com o gol garoto! Gosto do futebol dele e deve estar no grupo que disputará a Copa do Mundo daqui a três meses, mas fiquei impressionado quando me falaram que ele foi o terceiro brasileiro mais caro da história! Com todo respeito, nossa história é muito rica para que ele esteja nessa colocação! E aí pergunto a vocês: quanto valeria o meu passe, o do Jairzinho, do Afonsinho, Ademir da Guia, Rivellino, Dirceu Lopes, Carlos Alberto Torres, Eduzinho, Tostão, Gerson, Nei Conceição, Garrincha, Nilton Santos, Djalma Santos e por aí vai…
Pérolas da semana:
“Com Intensidade, consistência e força alta no contato, o time ativou a partida para sentar em cima da vantagem e desmarcar a linha com 4, com encaixamento por dentro”.
“Dando tapa na orelha da bola viva, o marcador congelou o time para queimar a gordura e encaixar o atacante agudo que aumenta a intensidade e fecha as linhas no último terço do campo”.
LABRUNA, UM MILONGUEIRO DE ESTILO
por Péris RIbeiro

Foi um domingo de surpresas, aquele de 7 de julho de 1957. Tinha ido ao Maracanã para ver o campista Tite, escalado de saída na ponta-esquerda. Porém, o que acabei descobrindo foi uma dupla de crioulinhos que parecia jogar por música: Pelé e Moacir. Meu sonho era ver o Brasil humilhar a Argentina, aplicando-lhe um sonoro show, um autêntico banho de bola. Mas, encantado, tive mesmo foi de me curvar ante a arte inolvidável de Angel Amadeo Labruna.
Baixinho, bigodinho fino, como se cantor de “El Dia Que Me Quieras” e outros tangos de nomeada fosse, o camisa 10 do time platino mandou e desmandou naquele jogo inaugural da Copa Rocca. Imprimiu contra-ataques mortais, quando sentiu a defesa brasileira vulnerável. Desguarnecida. E ditou o ritmo daquele famoso “toco y me voy” – que sempre foi a nossa maior perdição -, no exato momento em que o bom senso dizia que, aqueles 2 a 1 para a Argentina, estavam pra lá de bom tamanho.
Naquela tarde de céu azul, sol radiante, o público de mais de 100 mil pessoas presentes ao estádio sonhava com uma forra dos 3 a 0. Placar sonoro com que os argentinos haviam nos humilhado no início do ano, na decisão do Sul-americano de Lima, lá no Peru. E o entusiasmo era até justificável, já que, 15 dias antes, o Brasil tinha levantado a Taça General Craveiro Lopes – presidente de Portugal -, com duas convincentes vitórias sobre o time luso: 3 a 0 em São Paulo; e 2 a 1 no Rio – gols dos campistas Tite e Didi.
Só que, após começar a pleno vapor, o time brasileiro tinha agora de ceder ao estilo cadenciado dos campeões da América do Sul. Uma cadência que começava nos gritos de guerra e passes sob medida do grande Nestor Rossi – um médio volante como poucos. Mas que só atingia o seu ápice, quando a bola chegava aos pés de Labruna.
Dono de um drible refinado com o pé esquerdo, em que se livrava do adversário como se nem mesmo saísse do lugar, o camisa 10 argentino sabia arquitetar um contra- ataque como ninguém. Ainda mais se partisse lá de trás com a bola dominada, em jogada individual. Ou então, se optasse pelas triangulações com Juarez, Herrera, Sanfilipo ou o infernal Corbatta, o ponta-direita.
No segundo tempo, com a entrada dos estreantes Pelé e Moacir, até que o Brasil deixou transparecer que ganhara ritmo de jogo, uma espécie de alma nova. E Pelé chegou a descontar para 2 a 1 – Corbatta e Juarez haviam feito Argentina 2 a 0, ainda no primeiro tempo. Mas, a partir dos 30 minutos, a ordem do comandante Labruna era simplesmente tocar a bola. O tão temido “toco y me voy”. E ponto final!
Três dias depois, com Luisinho, o Pequeno Polegar do Corinthians, em estado de graça, o Brasil obteve a tão almejada forra no Pacaembu: 2 a 0, gols de Pelé e Mazzola. E foi com aquele resultado, que conseguiu sair campeão da Copa Rocca, no saldo de gols.
Mesmo assim, para os meus olhos de garoto apaixonado pela magia do artista da bola, o que ainda contava era o que o genial Labruna havia aprontado no Maracanã. E dizer que, naquele mês de julho de 1957, ele chegava aos 39 anos de idade jogando aquilo tudo!
Recordista de conquistas e de longevidade nos campos, Don Angel Amadeo Labruna, na verdade, só parou aos 42 anos. Com a marca de 296 gols, em 512 partidas oficiais pelo River Plate. Além do mais, sagrou-se tricampeão sul-americano com a sua amada Argentina, sendo nove vezes campeão com o River – fazendo parte, inclusive, da mais que temida “La Maquina” dos Anos 1940.
Aliás, “La Maquina” deu ao River nada menos de cinco títulos nacionais -1941, 42,44,45 e 47. E, nela, o brilho começava com o gigantesco Carrizo no gol, passando pela imponência de Nestor Rossi no meio-de-campo. Porém, a culminância a nível de arte se refletia mesmo era no ataque – deveras, arrasador: Muñoz, Moreno, Pedernera, Labruna e Lostau. Com Di Stefano, então reserva de Pedernera, se contentando em entrar, apenas, em alguns jogos.
Milongueiro típico, chegado aos cassinos, noitadas regadas a tangos no mas puro estilo Carlos Gardel e um entusiasmado amante dos bons vinhos, o outro ponto fraco do velho Labruna eram as corridas nos hipódromos de Palermo e San Isidro. A ponto de trocar um jogo do seu amado River Plate – pelo qual ainda foi seu o seu técnico campeão, em 1975, revelando craques como o meia-armador Beto Alonso, o zagueiro Daniel Passarela e o goleiro Ubaldo Fillol – por um atraente programa turfístico.
E foi como milongueiro, turfista e uma instituição à parte dentro do próprio River Plate, que a morte veio buscá-lo, numa noite de 1983. O enfarte foi fulminante, já dentro do hospital. E a acompanhá-lo naquele instante, como que numa espécie de derradeiro adeus do River, estava o goleiro Fillol. Um grato afilhado que fora visitá-lo, e que tinha por ele venerações de um filho pelo próprio pai.
Genial sempre, Labruna acabou deixando várias frases históricas, pensamentos folclóricos. Mas uma análise, em especial, resume bem como ele enxergava as várias tendências e estilos dentro do futebol:
– Ora, a cadência é que dita o ritmo do jogo. Para se vencer, há que se ter, sempre, o domínio da jogada. Então, é como eu digo: “Toco y me voy!”, “Toco y me voy !”