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CIDADE DO FUTEBOL

por Elso Venâncio

Vamos acolher nossos ídolos!!!

“Jogador de futebol morre duas vezes. A primeira, quando encerra a carreira.”

A declaração acima é de um atleta vitorioso, o volante Falcão, o ‘Rei de Roma’, craque da inesquecível seleção de 1982 e ex-técnico da Seleção Brasileira, além de ex-comentarista da TV Globo. No momento em que pendurou as chuteiras, Paulo Roberto Falcão não sabia que direção seguir. Técnico, supervisor, diretor, empresário, comentarista? Em determinado momento, abandonou a televisão para voltar a ser treinador, já que o salário era maior. Mas não conseguiu se firmar à beira do campo.

Valdir Pereira, o Didi, foi um dos maiores de todos os tempos, como jogador e técnico. Carlos de Souza, Carlos de Souza, o ‘Biro-Biro’, hoje produtor da TV Record, revelou-me no final dos anos 90 que Didi andava triste e recluso em sua casa, na Ilha do Governador. Ligamos para ele, que argumentou:

– Lá fora me chamam de ‘mestre’, mas, e aqui?

Perguntei se toparia participar do ‘Enquanto a Bola não Rola’, programa de debates que eu apresentava aos domingos na Rádio Globo.

– Claro!

Com seu carisma e conhecimento, Didi virou uma atração. Chegava sempre acompanhado do genro italiano Luigi, casado com sua filha Lia, e abraçado à neta Paloma, por quem tinha verdadeira adoração.

Inventor da ‘Folha Seca’*, Didi disputou três Copas do Mundo (1954, 1958 e 1962), sendo bicampeão nas duas últimas e, mais do que isso, maestro de ambos os times. Entrou para a História, também, ao marcar o primeiro gol do Maracanã. Ainda inaugurou, no ano de 1958, a honraria da FIFA de melhor jogador do mundo, mesmo tendo Pelé e Garrincha ao lado na disputa.

Se o craque Falcão e o fora de série Didi sofreram longe dos campos, imaginem os outros…

Por sinal, se temos em Jacarepaguá o ‘Retiro dos Artistas’, instituição centenária, hoje dirigida pelo ator Stepan Nercessian, que acolhe músicos, jornalistas, atores, atrizes e até mesmo ex-jogadores, como o goleiro Manga, que disputou a Copa do Mundo da Inglaterra em 1966, por que não ser criada a ‘Cidade do Futebol’?

Haroldo Couto, conselheiro atuante do Flamengo, defende essa ideia há tempos. Sergio Pugliese, que resgata a memória da bola com seu ‘Museu da Pelada’, é outro entusiasta. Assim como o eterno ídolo Zico.

O projeto seria uma área que tivesse campos de futebol nos quais ex-profissionais orientassem novos talentos, fazendo, assim, o que tanto sabem e gostam. No local, que também serviria como um grande museu, caberia um cinema – para mostrar, além de filmes, documentários e o excelente ‘Canal 100’, de Carlinhos Niemeyer, acervo hoje administrado por seu filho Alexandre. Teria também restaurantes, teatro, local para feiras, lançamentos de livros esportivos, shows, fotos históricas e, por que não, uma espécie de ‘Hall da Fama’.

A meu ver, empresas usariam incentivos fiscais para apoiar e eternizar nossos ídolos. Assim, o Rio de Janeiro teria, no país do futebol, outro de seus mais visitados pontos turísticos internacionais.

Temos apenas que pensar e planejar o projeto, em agradecimento aos personagens que fizeram do nosso futebol o maior do mundo e único pentacampeão do planeta.

*Apelido conferido pelo comentarista Luiz Mendes ao chute inventado por Didi no qual a bola tomava várias direções no ar antes de chegar ao gol, movimentos que lembravam uma folha seca descaindo de uma árvore.

TITA, O POLIVALENTE

por Luis Filipe Chateaubriand

Tita foi ídolo no Flamengo.

Tita foi ídolo do rival do Flamengo, o Vasco da Gama.

Tita foi ídolo no Grêmio.

Tita foi ídolo do rival do Grêmio, o Internacional.

Tita jogou na Alemanha.

Tita jogou na Itália.

Tita jogou no México.

Tita foi ponta direita.

Tita foi meia direita.

Tita foi centroavante.

Tita foi meia esquerda.

Tita foi ponta esquerda.

Tita foi até volante.

E o que impressiona é que, em qualquer posição que jogasse, Tita se destacava – seja pela técnica, seja pela raça.

No ano de 1979, Zico se machucou.

A lá foi Tita, assumir a camisa 10 do Flamengo.

Sem exagero nenhum, por alguns meses Tita jogou um futebol à altura de Zico!

Esse foi Tita, craque, diferenciado, fora de série.

Jogou muito mais do que é reconhecido.

CURIOSIDADES SOBRE AS COPAS DO MUNDO PARA TIRAR ONDA POR AÍ

por Mário Moreira

Época de Copa do Mundo é sempre aquele momento em que pululam dados estatísticos e informações históricas sobre as edições anteriores do torneio. Para contribuir com quem gosta de posar de sabichão, listei algumas curiosidades que não costumam aparecer nos
almanaques.

Por exemplo: a partida com mais gols em Copas do Mundo – qualquer compêndio registra – é Áustria 7 x 5 Suíça, em 54. Mas você conhece a marcha da contagem? Então pasme: aos 19 minutos de jogo, os suíços venciam por 3 x 0. E pasme de novo: aos 34, os austríacos já tinham virado para 5 x 3. Aos 39, os donos da casa reduziram a diferença. Na segunda etapa, os visitantes marcaram mais um aos 8 minutos, a Suíça diminuiu de novo aos 15 e a Áustria fez o último gol do jogo aos 31. Detalhe: pouco antes do intervalo, ganhando por 5 x 4, a Áustria chutou um pênalti para fora – ou seja, o recorde de gols poderia ser ainda maior!

Abaixo desse confronto “épico”, há três partidas com 11 gols: Brasil 6 x 5 Polônia (na prorrogação, após 4 x 4 no tempo normal), em 38; o célebre Hungria 8 x 3 Alemanha, em 54; e Hungria 10 x 1 El Salvador, em 82 (a maior goleada dos Mundiais, fato público e notório). E você sabia que um único jogo registrou exatamente dez gols na história da competição? Pois é. Foi França 7 x 3 Paraguai, em 58.

Já os empates com mais gols terminaram em 4 x 4, nas partidas Inglaterra x Bélgica (em 54, na prorrogação, após 3 x 3 nos 90 minutos) e URSS x Colômbia (em 62). Nesse último jogo, o colombiano Marcos Coll marcou o único gol olímpico já registrado no torneio – ironicamente, em cima do soviético Lev Yashin, considerado, de modo quase unânime, o melhor goleiro de todos os tempos.

Além de ser o único pentacampeão do mundo, o Brasil é o país que mais vezes forneceu o artilheiro da Copa: quatro (em 38, com Leônidas; em 50, com Ademir; em 62, com Vavá e Garrincha, empatados com mais quatro jogadores; e em 2002, com Ronaldo). A Alemanha vem a seguir, com três vezes. Romário ampliaria a lista de brasileiros se a arbitragem não tivesse anulado um gol seu contra os EUA em 94, por impedimento inexistente – ele teria alcançado o russo Salenko e o búlgaro Stoichkov como artilheiro da Copa, com seis gols. (A propósito, o alemão Gerd Müller também teve um gol legal anulado pelo mesmo motivo na final de 74, contra a Holanda. Esse tento o igualaria a Ronaldo como segundo maior artilheiro dos Mundiais, com 15, um a menos que seu compatriota Miroslav Klose, como todo mundo sabe.)

Apesar de jamais uma seleção do Leste Europeu ter ganho um Mundial, a região é pródiga em artilheiros de Copas. Nove jogadores da ex-Cortina de Ferro já atingiram esse feito: dois húngaros, um tcheco, um iugoslavo, um polonês, um búlgaro, um croata e dois da URSS/Rússia. A Europa Ocidental forneceu 11 artilheiros: três alemães, dois italianos, dois ingleses, um francês, um português, um espanhol e um holandês. Da América do Sul, brasileiros à parte, foram dois argentinos, um chileno, um uruguaio e um colombiano.

Além de Ronaldo e Pelé (12 gols), só dois sul-americanos chegaram aos dois dígitos em Mundiais: o peruano Teófilo Cubillas e o argentino Gabriel Batistuta, ambos com dez gols. (Para quem não viu Cubillas jogar, sugiro buscar no YouTube o gol de falta que ele marcou contra a Escócia na Copa de 78, uma verdadeira obra-prima!) Jairzinho, que marcou sete gols em 70 e dois em 74, também poderia estar nessa lista: marcou de cabeça contra a Hungria em 66, mas o gol foi anulado por impedimento – como a imagem da TV não mostra a posição do atacante no momento do passe, é impossível saber se ele tinha condição de jogo. (Na mesma partida, o árbitro anulou um gol húngaro quando já estava 3 a 1 para eles, que foi o placar final do confronto; no caso, a imagem permite ver claramente que o jogador vinha de trás, ou seja, o resultado deveria ter sido uma goleada para a Hungria.)

Já os africanos que mais marcaram em Mundiais jogavam por seleções… europeias: o marroquino Fontaine, artilheiro em 58 com 13 gols pela França, e o moçambicano Eusébio, goleador em 66 com nove, jogando por Portugal. Pelas equipes africanas, o maior artilheiro é o ganês Asamoah Gyan, com seis tentos – teria chegado a pelo menos sete não fosse o famoso pênalti perdido contra o Uruguai no finzinho da prorrogação do jogo pelas quartas- de-final de 2010, o que levou o confronto para a decisão por pênaltis, vencida pelos uruguaios.

Apesar de ser a seleção com mais títulos e artilheiros, o Brasil nunca deu a maior goleada em nenhuma edição da Copa. Nesse quesito, o destaque é a Alemanha, que aplicou o placar mais elástico em cinco Mundiais – incluindo o de 2014, com um certo 7 a 1. Argentina e Hungria deram a maior goleada em três Copas. Na outra ponta, a seleção que mais sofreu o maior placar foi a dos EUA (três vezes), seguida de Bulgária e El Salvador (duas cada). E o placar mais frequente como maior goleada foi 6 x 1, nada menos que seis vezes.

Uma última curiosidade. Você sabia que os laterais direitos brasileiros somam o mesmo número de gols que os esquerdos ao longo dos Mundiais? Acredite: sete para cada lado. Eles empatam até em gols de bola parada: um de pênalti e um de falta para os direitos; dois de falta para os esquerdos.

Pronto: quando o assunto for Copa, você já pode despejar toda a sua cultura inútil para cima
dos amigos.

LEI DO MANDANTE

por Manoel Flores

Adoramos um grande espetáculo futebolístico! Quem não gosta? Ver um estádio lotado, grandes torcidas, craques consagrados… Esse é o objeto de desejo de todo torcedor que se preze. Torcedor este que consome futebol da maneira que pode, seja na TV, no estádio ou no ipad. É o consumo, o desejo, a audiência que fazem do esporte que tanto amamos um dos negócios mais lucrativos do planeta, capaz de atrair milhares de espectadores, centenas de patrocinadores e as estrelas mais badaladas. É assim no mundo e não poderia ser diferente no Brasil. Os grandes clubes, aqueles com as maiores torcidas, são os grandes arrecadadores, capazes de acumular fortunas e montar elencos cada vez mais fortes. E assim eles fazem, prioritariamente, através das vendas de seus direitos televisivos, cada vez mais cobiçados e, por consequência, caríssimos. Foi nesse cenário que, no ano passado, surgiu uma lei que nos igualou ao mundo e que mudará para sempre a maneira de negociar tais direitos.

A Lei 14.205, de 17 de setembro de 2021, comumente chamada de “Lei do Mandante”, é basicamente a ferramenta que autoriza o clube mandante a negociar seus jogos independentemente da vontade do seu adversário, o visitante. Ela veio para modernizar o modelo de negociação de direitos esportivos. No entanto, se argumenta até hoje que essa lei favoreceria ainda mais o clube gigante, o “blockbuster”, que poderia negociar diretamente seus jogos sem ter que pedir autorização a ninguém. Em um modelo de negociação individual, vigente no Campeonato Brasileiro até 2024, essa medida, se aplicada, cumpriria seu dever de favorecer sempre os clubes maiores, em tese. Ainda assim, a Lei do Mandante evitaria que um clube virasse refém de uma negociação feita por outro clube. Antes da lei do Mandante, se um clube vendesse seu direito de transmissão para o grupo de mídia X, um clube que subisse e não tivesse contrato, só poderia vender seus direitos de transmissão para esse mesmo grupo X. Ou seja, seria obrigado a aceitar as condições ou não teria seu jogo exibido.

Acontece que nosso futebol amadureceu. Todos os clubes entendem que ao negociar individualmente, o valor obtido é infinitamente inferior a uma negociação coletiva. Está provado e temos benchmarks em todo o mundo para comprovar essa tese. Se o caminho para a venda coletiva, a partir do campeonato de 2025, será através de uma liga(s) ou até mesmo da CBF, só saberemos nos próximos meses. Sendo assim, resta saber se em um modelo de venda coletiva, a tese de favorecimento do clube gigante ainda se sustenta. Eu me arrisco a dizer que não!

Vamos tomar o Campeonato Brasileiro como exemplo. Em um campeonato que gera hoje cerca de R$ 2 bilhões de receita de TV contra “valuations” que já estão na casa dos R$ 4 a R$ 5 bilhões, é confortável afirmarmos que a negociação coletiva geraria dividendos nos dias de hoje sem muito esforço e que, de fato, nossos clubes estão com valores de arrecadação extremamente defasados por conta das negociações individuais dos últimos anos. Nossa tese de negociação coletiva gerando mais receitas está correta. Partimos então para a análise do poder de negociação dos nossos clubes. No Campeonato Brasileiro em seu atual formato, cada clube atua em 38 partidas, sendo 19 como mandante e 19 como visitante. Pela lógica da Lei do Mandante, cada clube só poderia comercializar suas 19 partidas como mandante e nada mais. Sendo assim, clubes como Corinthians, Flamengo e Palmeiras, por exemplo, teriam suas 19 partidas vendidas, partidas com altíssimo valor agregado por se tratar de três dos maiores clubes do país. E as outras 19 partidas como visitante de cada um deles, o que aconteceria? Bem, cada partida desses três clubes, fora de casa, pertenceria a alguém e eles nada poderiam fazer a respeito. Aí que “mora o perigo” …Outros clubes, seus adversários, possuem esses direitos. E se esses (outros) clubes se juntam? Não teriam um volume relevante de jogos pra negociar? Não teríamos, portanto, um equilíbrio de forças? Se de um lado temos os clubes mais poderosos do país com seus 19 jogos como mandante disponíveis para comercialização, do outro temos clubes que possuem boa parte (ou todos) dos jogos desses gigantes como visitante e outros. Ou seja, por mais contraditório que pareça, a Lei do Mandante acaba empurrando indiretamente os clubes para a venda coletiva.

É exatamente esse equilíbrio de forças que estamos vivenciando nas duas iniciativas de Ligas que nasceram no país nos últimos meses. E esse desenrolar que iremos observar com atenção nos meses por vir. Torceremos sempre para o melhor pois sabemos do potencial do futebol brasileiro. De todo modo, a Lei do Mandante veio pra ficar e sua maturidade em solo brasileiro será notada nos próximos movimentos de clubes e ligas. É seguro afirmar que o coletivo é melhor, mas é muito cedo pra afirmar quem será o grande beneficiado pela Lei do Mandante. Que tudo isso eleve nosso futebol para patamares altíssimo, pois quem ganha é o torcedor. Aquele que está sempre pronto pra consumir um grande espetáculo.

MONSIEUR PAUL CÈZAR – “PERSONALIDADE DO ANO”

por Elso Venâncio

Búfalo Gil, Carlos Roberto, PC Caju, Elso Venâncio e Jairzinho

A Câmara de Comércio França-Brasil, fundada há mais de 100 anos, tem representações no Rio, São Paulo, Minas e Paraná. Anualmente, desde 2001, um grande nome é escolhido para ser homenageado, em áreas distintas: econômica, social, política, ambiental, cultural, científica, enfim, e aproveitando o embalo da Copa do Mundo, Paulo Cezar Lima, o Caju, foi eleito a “Personalidade FRANÇA-BRASIL 2022”.

Nísia Trindade Lima, Presidente da Fundação Oswaldo Cruz, recebeu a honraria no ano passado. Os últimos agraciados foram Jaques Marescaux , médico; Ruth de Aquino, jornalista; Arthur Ávila, matemático; Sebastião Salgado, fotógrafo… só para citar alguns.

Tricampeão do Mundo em 1970, e da Copa da França pelo Olympique de Marselha, Paulo Cezar abriu o mercado francês para os brasileiros ao ser negociado pelo Flamengo em 1974, pouco antes da Copa da Alemanha, em plena concentração do Brasil, na Floresta Negra. Passou a ser ídolo na Europa, sobretudo dos franceses.

Há 6 anos, o Presidente Francois Hallande homenageou o “Monsieur Paul Cèzar” numa emocionante solenidade, após um café da manhã no Hotel Sofitel, em Copacabana, com a ‘Comenda Nacional da Legião de Honra’, criada por Napoleão Bonaparte em 1802 e que representa, até hoje, a condecoração máxima do país.

Essas homenagens não refletem somente o ícone que o ídolo é no futebol. Vai muito além, já que ele é admirado pelas suas posições verdadeiras, por sua história de superação e, principalmente, pelo combate ao racismo. A festa, retomando o formato presencial, acontecerá no próximo dia 17 de novembro, no ExC Rio Jockey Club, com jantar assinado por chefs renomados.

Na primeira Copa do México, Paulo Cezar jogou tanta bola contra Inglaterra e Romênia que, com Gerson recuperado, Zagallo não sabia o que fazer. O técnico reuniu Carlos Alberto Torres, Piazza, Gerson e Pelé:

– Vamos decidir juntos!

Na votação, empate em 2 a 2. Zagallo resolveu tirar o mais novo, que era Caju, e manter Clodoaldo. Sim, quem sairia para a manutenção do Paulo Cezar seria Clodoaldo, com Gerson sendo recuado e Rivellino passando para o meio.

Seria, no futebol de hoje, um ídolo global e candidato à Melhor Jogador do Mundo.

Ou seja, o Brasil teve 12 titulares no México. Afinal, o francês Caju entrou na Seleção da FIFA, eleita após o Mundial.

João Saldanha assim definiu Paulo Cezar Lima, no microfone da Rádio Globo:

– Esse aí… é um garoto grande, jogando bola no meio de crianças.