DADÁ DE TITE
por Rubens Lemos

Sempre surge o chato, lá pela 35ª rodada de cerveja, para irritar a maioria que enaltece como ritual a seleção brasileira tricampeã no México em 1970. A última Copa em que o Brasil foi, de fato, o melhor do planeta. O mundial da despedida de Pelé, fator de desequilíbrio e de soluções de discussões, entre bêbados ou diplomatas em conflito continental.
Quando o ébrio em lágrimas recita o time do meio-campo para frente com Clodoaldo, Gerson, Rivelino, Jairzinho, Tostão e Pelé, vem o insuportável repetir a sacaneada: “É mas esse time tinha Dadá Maravilha”. Dadá Maravilha era Dario, um centroavante que maltratava a bola e fazia gols feios que valiam tanto quanto os de placa.
Em 1970, o Presidente e General Garrastazu Médici, homem nunca apresentado à cordialidade, resolveu tirar do comando do escrete o jornalista João Saldanha e passou a cobrar a convocação de Dario.
João Saldanha, que fez uma campanha brilhante nas Eliminatórias de 1969 e começou a despencar quando arrumou briga com Pelé, disse que o presidente mandava no ministério e ele, na seleção. Dançou. Voltou a comentar futebol brilhantemente.
Entrou Zagallo em seu lugar e, pimba, chamou Dario para acalmar Garrastazu. Dario foi recrutado e aí os malandros do time passaram a humilhá-lo porque todos queriam o craque Toninho Guerreiro em seu lugar.
Nos coletivos, o diabólico Paulo Cézar Caju enfiava bolas cheias de curva. Dario tropeçava, desabava, saía pela linha de fundo e o resto do time jorrava em gargalhadas. Dario foi ao Azteca, recebeu sua medalha de campeão, mas os companheiros de equipe, quando narram a epopeia, esquecem impunemente dele.
De 2018 para cá, o técnico Tite comportou-se tal Zagallo de tequila. Se não tinha a quem temer ou contrariar, armou uma equipe de bons resultados e superior às terríveis formações de 2010 e, sobretudo, de 2014. Tudo estava ótimo para Tite.
Até que ele, primeiro, ameaçou, não acreditou nas reações e decidiu convocar o lateral-direito Daniel Alves, 39 anos de idade, há tempos sem atuar e o mais velho a representar o Brasil numa Copa do Mundo. Tite, coitado, encontrou seu Dario nas repercussões péssimas.
Daniel Alves, quando no auge, nunca chegou a ser excepcional. Deve ir ao Qatar para motivar a rapaziada. Eu, no Facebook, sugeri Leandro, o melhor da posição em todos os tempos. Aos 63 anos, põe Daniel Alves no meião.
o sobrevivente
por Zé Roberto Padilha

Em meio aos nossos craques criativos que foram vendidas ao futebol europeu, e para sobreviver tiveram que deixar seu arsenal ilimitado de recursos em prol de redobrar a marcação, um foi poupado da castração que os inibiu de driblar.
Éverton Ribeiro.
Desde que fez um gol antológico pelo Cruzeiro, em cima do Flamengo, devemos a humildade e ao bom gosto dos dirigentes rubro-negros a sua contratação. E sua manutenção em nosso futebol.
Mais do que isso, seus treinadores trataram de preservá-lo em um sistema tático que lhe dava total liberdade para exibir toda a sua habilidade.
Se o Brasil se destacou no futebol mundial, deve-se à prática de um recurso que foi esculpido na história de luta dos seus excluídos. Foram eles, na fuga da opressão e da senzala, que aprenderam a driblar os senhores da Casa & Grande.
Nós rituais, como dança, a Capoeira, alcançaram o equilíbrio, o alongamento, fundamentos da agilidade.
A seguir, foram se divertir no único playground que conheceram: os campinhos de pelada das periferias, onde desenvolveram, com os pés descalços, terrenos irregulares e bolas de borracha, uma gama de recursos que nenhum outro garoto estrangeiro alcançou.
Todos os nosso gênios da bola fizeram do drible a sua maior arma na conquista da Bola de Ouro da Fifa. Na última Copa do Mundo, nenhum atacante em atividade no país foi convocado. O Brasil esqueceu de levar o drible para a Rússia.
Com Éverton Ribeiro, o sobrevivente, o drible vai embarcar para o Catar. E quando aqueles ferrolhos suíços se mostrarem intransponíveis para os previsíveis Casemiros, Fabinhos e Fred ele vai entrar e redescobrir os caminhos que nos levarão à vitória.
POSTURA COVARDE
:::::::: por Paulo Cézar Caju :::::::::

Na última coluna falei o quanto estava na torcida para ver o Vasco da Gama de volta à Série A, lembram? Por toda a história, pela sua torcida e pela grandeza do clube, mereciam demais estar na elite do futebol brasileiro e conseguiram ontem em um jogo emocionante. Impressionante como a torcida vascaína sofre e precisa ter os exames de coração em dia para não ter nenhum problema mais grave.
Fiquei contente com o resultado final, mas muito chateado com a postura do time comandado por Jorginho. Com todo respeito ao Ituano, que fez uma bela Série B, um clube do tamanho do Vasco da Gama nunca pode se acovardar, ainda por cima com um jogador a mais quase que durante o jogo todo e com o placar a favor. Quem diria que o contestado goleiro Thiago seria o grande herói do acesso, com um gol de um veterano de 41 anos?
Respondam com sinceridade: havia a necessidade desse sufoco todo? Claro que não! É muito bacana ter de volta os quatro grandes do Rio na Primeira Divisão, mas Vasco e Botafogo precisam se reformular urgente se quiserem brigar na parte de cima da tabela.
Ainda sobre a Série B, comemorei muito o retorno do Bahia, mas queria também que o Sport conseguisse o acesso! O futebol do nordeste tem times de tradição como o Santa Cruz, Náutico, que há tempos foram rebaixados e estou sempre na torcida para retornarem. Acredito que muito por conta das mudanças de treinadores, o Ceará está prestes a cair. O Fortaleza, por sua vez, deu a volta por cima e pode até beliscar uma vaga para a pré-Libertadores.
No fim de semana, também acompanhei o duelo entre Coritiba x Flamengo. Que jogo ruim! Não venham com essa de que o Flamengo jogou com time reserva e blablablá, porque isso nunca pode servir como desculpa. Nunca vou entender o fato de pouparem os jogadores. Vestir a camisa do Flamengo deveria ser motivo de orgulho para os jogadores até o fim do campeonato. Na minha geração, todos tinham esse mesmo sentimento e vai ver que é por isso que o nível era totalmente diferente.
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O América-MG goleou o Bragantino por 4 a 1 e está cada vez mais próximo de conseguir uma vaga para a Libertadores. Na última coluna também falei da facilidade para chegar à competição e acabei de saber que o Brasileirão dá incríveis 8 vagas para disputarem o torneio. Ou seja, ou você briga para não cair ou se classifica para a Libertadores! Quase isso! Kkkkk!
Estive no Maracanã sábado e presenciei uma atuação de gala do Ganso, que saiu aplaudido de pé pela galera. Apesar dos três gols do Cano, foi o camisa 10 que ditou o ritmo contra o São Paulo. Excelente atuação do tricolor!
Deixei a lista do Tite para o final, mas a vontade era de nem comentar, confesso! Essa panela do Tite e do Juninho Paulista está insustentável e a convocação do Daniel Alves foi a gota d’água para mim! Como pode um jogador de 39 anos e sem clube ser chamado para disputar o torneio mais importante do mundo? Será que tem cadeira cativa na Seleção? Se eu não me engano, estava treinando no time B do Barcelona! Cadê o presidente para opinar em relação a esse absurdo? Vou ficando por aqui…
Pérolas da semana:
“O jogador deu uma raquetada/chicotada na bola chapada com o pé de embreagem alta em um contexto de jogo pegado e compactuado para mudar a chavinha, maturar a transição e agredir o adversário com um DNA ofensivo”.
“O time tem um modelo de jogo automático para encaixar o atacante agudo e espaçar o último terço do campo, quebrando a linha, compactando as ideias e trazendo um ponto de sustentação no conceito sintomático”.
Salve, geraldinos! Está difícil de aturar essas malas pesadas!
CIDADE DO FUTEBOL
por Elso Venâncio

Vamos acolher nossos ídolos!!!
“Jogador de futebol morre duas vezes. A primeira, quando encerra a carreira.”
A declaração acima é de um atleta vitorioso, o volante Falcão, o ‘Rei de Roma’, craque da inesquecível seleção de 1982 e ex-técnico da Seleção Brasileira, além de ex-comentarista da TV Globo. No momento em que pendurou as chuteiras, Paulo Roberto Falcão não sabia que direção seguir. Técnico, supervisor, diretor, empresário, comentarista? Em determinado momento, abandonou a televisão para voltar a ser treinador, já que o salário era maior. Mas não conseguiu se firmar à beira do campo.
Valdir Pereira, o Didi, foi um dos maiores de todos os tempos, como jogador e técnico. Carlos de Souza, Carlos de Souza, o ‘Biro-Biro’, hoje produtor da TV Record, revelou-me no final dos anos 90 que Didi andava triste e recluso em sua casa, na Ilha do Governador. Ligamos para ele, que argumentou:
– Lá fora me chamam de ‘mestre’, mas, e aqui?
Perguntei se toparia participar do ‘Enquanto a Bola não Rola’, programa de debates que eu apresentava aos domingos na Rádio Globo.
– Claro!
Com seu carisma e conhecimento, Didi virou uma atração. Chegava sempre acompanhado do genro italiano Luigi, casado com sua filha Lia, e abraçado à neta Paloma, por quem tinha verdadeira adoração.
Inventor da ‘Folha Seca’*, Didi disputou três Copas do Mundo (1954, 1958 e 1962), sendo bicampeão nas duas últimas e, mais do que isso, maestro de ambos os times. Entrou para a História, também, ao marcar o primeiro gol do Maracanã. Ainda inaugurou, no ano de 1958, a honraria da FIFA de melhor jogador do mundo, mesmo tendo Pelé e Garrincha ao lado na disputa.
Se o craque Falcão e o fora de série Didi sofreram longe dos campos, imaginem os outros…
Por sinal, se temos em Jacarepaguá o ‘Retiro dos Artistas’, instituição centenária, hoje dirigida pelo ator Stepan Nercessian, que acolhe músicos, jornalistas, atores, atrizes e até mesmo ex-jogadores, como o goleiro Manga, que disputou a Copa do Mundo da Inglaterra em 1966, por que não ser criada a ‘Cidade do Futebol’?
Haroldo Couto, conselheiro atuante do Flamengo, defende essa ideia há tempos. Sergio Pugliese, que resgata a memória da bola com seu ‘Museu da Pelada’, é outro entusiasta. Assim como o eterno ídolo Zico.
O projeto seria uma área que tivesse campos de futebol nos quais ex-profissionais orientassem novos talentos, fazendo, assim, o que tanto sabem e gostam. No local, que também serviria como um grande museu, caberia um cinema – para mostrar, além de filmes, documentários e o excelente ‘Canal 100’, de Carlinhos Niemeyer, acervo hoje administrado por seu filho Alexandre. Teria também restaurantes, teatro, local para feiras, lançamentos de livros esportivos, shows, fotos históricas e, por que não, uma espécie de ‘Hall da Fama’.
A meu ver, empresas usariam incentivos fiscais para apoiar e eternizar nossos ídolos. Assim, o Rio de Janeiro teria, no país do futebol, outro de seus mais visitados pontos turísticos internacionais.
Temos apenas que pensar e planejar o projeto, em agradecimento aos personagens que fizeram do nosso futebol o maior do mundo e único pentacampeão do planeta.
*Apelido conferido pelo comentarista Luiz Mendes ao chute inventado por Didi no qual a bola tomava várias direções no ar antes de chegar ao gol, movimentos que lembravam uma folha seca descaindo de uma árvore.
TITA, O POLIVALENTE
por Luis Filipe Chateaubriand

Tita foi ídolo no Flamengo.
Tita foi ídolo do rival do Flamengo, o Vasco da Gama.
Tita foi ídolo no Grêmio.
Tita foi ídolo do rival do Grêmio, o Internacional.
Tita jogou na Alemanha.
Tita jogou na Itália.
Tita jogou no México.
Tita foi ponta direita.
Tita foi meia direita.
Tita foi centroavante.
Tita foi meia esquerda.
Tita foi ponta esquerda.
Tita foi até volante.
E o que impressiona é que, em qualquer posição que jogasse, Tita se destacava – seja pela técnica, seja pela raça.
No ano de 1979, Zico se machucou.
A lá foi Tita, assumir a camisa 10 do Flamengo.
Sem exagero nenhum, por alguns meses Tita jogou um futebol à altura de Zico!
Esse foi Tita, craque, diferenciado, fora de série.
Jogou muito mais do que é reconhecido.