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JOGAR UMA COPA DO MUNDO

por Serginho 5Bocas

O jogo é bruto! Assim Teixeira Heizer definiu com muita propriedade a maior competição esportiva do mundo. Lá é terra de brabos, não há espaço para choro nem vela, é lugar onde David surra Golias toda hora, é sorriso e choro ao mesmo tempo, só que de lados contrários.

Ser o mais técnico ou ter o melhor elenco, não significa ser campeão da Copa do Mundo. É um bom começo, mas não garante sucesso no fim, a história do futebol e principalmente das Copas, nos ensinou ao longo do tempo, que lá é terreno dos fortes.

Jogadores limitados crescem de tamanho, grandes craques se apagam e equipes pequenas dão trote e pregam grandes surpresas nas grandes e assim enriquecem o folclore desta competição emocionante e apaixonante.

Jogar uma Copa do Mundo é um sonho. Tem muita gente boa que nunca jogou e queriam ter jogado: Di Stefano, George Best, Dirceu Lopes, George Weah, Ryan Giggs, Halland entre outros, estão aí para comprovar a tese, que pena!

Jogar uma Copa do Mundo é sonho de menino e é difícil para qualquer jogador de futebol do planeta, pois implica em se manter em alto nível por um período que pode chegar a 4 anos e ser superior aos seus concorrentes.

Jogar mais de uma então? A cada Copa que o jogador participa, significa que esteve voando por mais 4 anos. Assim, jogadores que jogaram muitas Copas são exceções de qualidade.

O primeiro jogador que ouvi falar, que havia jogado muitas Copas, foi Antonio Carbajal, goleiro do México, que jogou da Copa de 1950 até a de 1966, um fenômeno com cinco participações

Por aqui, Castilho, Djalma Santos, Nilton Santos e Pelé, jogaram quatro vezes e foram os primeiros a se manter em nível alto por tanto tempo. Pelé foi um jogador de exceção, pois apesar de se machucar, conseguiu jogar partidas e fazer gols em todas elas. Jogou a sua última aos 29 anos, em seu apogeu e poderia facilmente, se quisesse, ter jogado mais uma em 1974, com 33 anos, mas preferiu sair por cima, como um rei.

O Alemão Lothar Mathaus repetiu o feito e jogou cinco edições, como Carbajal e no período de 1982 até 1998, esteve sempre lá. Esse alemão foi se adaptando e mudando de posição no campo, para ir se qualificando entre os grandes, até porque ser convocado na Alemanha, que sempre foi um bicho papão no futebol mundial, não é para qualquer um, ele não era.

Passadas muitas Copas, observamos que hoje, tem sido mais comum, jogadores atuarem em mais Copas do Mundo do que no passado. A preparação física tem sido fundamental para esse processo de evolução e participação, mas a qualidade técnica também é requisito obrigatório para ser elegível. A questão não é só física, é preciso ser grande, gigante tecnicamente.

Cristiano Ronaldo e Messi são os grandes exemplos emblemáticos desta longevidade, estão jogando a quinta edição em 2022, sem que ninguém em sã consciência, questione suas participações, se quiserem, jogam mais uma, situação impensável alguns anos atrás. Viva a ciência esportiva e suas inovações, tornando nossos ídolos imortais.

Não imagino onde a ciência vai parar, mas como é bom ver esses gênios tendo as suas carreiras prolongadas, possibilitando a gente desfrutar de grandes lances deles por longo prazo.

Fico aqui com meus botões, imaginando se Pelé tivesse a oportunidade de esticar sua carreira? Talvez tivéssemos a oportunidade e o prazer de vê-lo jogar a Copa de 1978, aos 37 anos, a sua sexta, junto aos jovens Zico, Reinaldo, Cerezo, Roberto, Gil, Oscar, Edinho, entre outros, que vinham pedindo passagem e debutando na competição, que coisa linda ia ser!

Forte abraço!

A ESTREIA DO BRASIL

por Kawer Anderson da Mata

E o Pombo, vai continuar a voar na Copa?

Tem uma revoada mais nova, como ele, querendo acompanhar e pedindo passagem.
Primeiros minutos de jogo e os “ponteiros”, que vem e vão no campo marcando e apoiando, pareciam sem objetividade no início, talvez mais preocupados em estudar o adversário, respeitando, até que…

Surge Raphinha, fazendo tudo isso, com mais eficiência, chegando mais perto da área, mas na hora de finalizar, era o pior na conclusão a Gol, isso quando finalizava!

Posse de bola demais, drible – pra variar! de menos e chute, só quando “lembravam”, é o que parecia, mas o controle da posse de bola, principalmente pela marcação alta no campo do adversário, levou um certo ar de confiança para o 2° tempo e placar em branco no primeiro.

Então no tempo complementar, partiram pra cima, a marcação alta, parecia mais alta, os chutes, embora poucos, começaram a serem mais precisos e, bola na trave de Alex Sandro (repetida por Casimiro, quando o jogo já estava resolvido) e a seleção afunilando mais, no campo do adversário, tanto pelo meio, como nas jogadas pelos lados, inclusive com Neymar que, embora apareceu menos pelos lados, foi fundamental no início da jogada do 1° Gol do Brasil, que na conclusão do Vini Jr. teve no nosso 9, centroavante, o mérito do ofício e caixa! Abrimos a porteira, soltamos o Pombo e ele começou a voar.

Dez minutos depois, o Brasil, através de Vini Jr. arranca pela esquerda e, num toque, seco, objetivo, pelo meio da área, achou um inspirado Pombo, era ele de novo, nosso 9, centroavante, marcando um belo Gol, (já tem dois Gols na Copa!) tranquilizando a seleção no placar, com quase meia hora do 2° tempo.

A partir daí, com o perdão da “concordância futebolística” e, sem querer ser redundante e já sendo; entraram novos novatos em Copa:

Sim, porque já eram cinco, quando o jogo começou, entraram mais quatro, vejamos:

Fred; estreante em Copa, controla as ações de marcação de meio, segura e apoia bem as tentativas de contra-ataque da Sérvia, jogador seguro, sem comprometer na função.

Rodrygo; estreante em Copa, realizou boas jogadas pelo lado esquerdo do ataque, buscando a conclusão pelo meio e o drible, (O DRIBLE Senhoras e Senhores!!!!) sempre em linha objetiva do Gol, teve até chance de marcar o seu no jogo.

Antony; estreante em Copa, entra no lugar do Neymar, que sai machucado, segurou bem a marcação Sérvia, deu bons passes para os nossos homens de frente, sem ações ofensivas, porém, muito seguro e sem comprometer.

Gabriel Martinelli; estreante em Copa, de convocação tão criticada, fez na sua estreia o seu papel honesto, apoiando o ataque, com velocidade, era o homem em algumas jogadas, do passe final para o jogador mais bem posicionado para fazer o Gol, igualmente seguro, nem parecia estreante, como os acima citados.

Gabriel Jesus; entrou no lugar do Pombo consagrado no jogo, este além de não estreante, o único que na minha opinião, destoa do nível bom do grupo nessa estreia, sendo nada produtivo para o time, nada eficiente, apenas um pouco esforçado, correndo pra lá e pra cá e passe pro lado, sem nenhum perigo para a Sérvia e, ele é um jogador de área, pra fazer Gol, perdeu a passada inclusive, no esboço de chance que teve.

E a Sérvia?

A Sérvia, propôs um jogo, que fez a seleção brasileira ficar no início, respeitando muito eles, que tentaram aquele velho e antiquado estilo de jogar em cima do erro do adversário, no início do jogo.

Mas depois que a nossa seleção, começou e logo! A tomar a iniciativa de jogo um pouco mais ofensivo, principalmente pelos lados do campo, aos poucos, a Sérvia foi comprovando a sua inexistência ofensiva, quase que no total dos dois tempos de jogo, tanto que…o Alisson jogou hoje? E aquele bigodudo que entrou no lugar dele?

O que mais gostei no jogo: O nível de confiança dos estreantes, mesmo no começo mais tímido e, somado ao resultado positivo do jogo, a princípio, pode promover mais combustível positivo para partidas futuras, veremos!
E quanto a marcação alta, na minha opinião, outro destaque no jogo de hoje; com quatro, cinco e às vezes seis jogadores, lá na frente do campo do adversário, pode ter efeito adverso, principalmente, se o adversário, for a França de Mbappé, ou mesmo a Argentina de Messi, apesar da derrota feia do “Los Hermanos” na estreia.
E o Pombo vai continuar a voar?

Ou ele só voa, se a revoada acompanhar e vice-versa? Veremos hoje!

NECA, O DESCOBRIDOR DE TALENTOS

por Leandro Costa

Ser jogador de futebol é o sonho de nove entre dez meninos brasileiros. Ter talento não basta. Encontrar alguém que saiba identificar suas qualidades e trabalhá-las é um privilégio. Os garotos que tiveram em seus caminhos Manoel dos Santos Victorino, o Neca, tiraram a sorte grande.

Nascido no Rio de Janeiro, no dia 04 de junho de 1923, Neca foi um dos maiores técnicos de categorias de base do Brasil. Se fosse vivo, completaria 100 anos em 2023. Nada mais emblemático do que relembrarmos sua brilhante carreira no ciclo de seu Centenário Póstumo. A equipe do Museu da Pelada encontrou os filhos do Neca, Carlos Alberto e Lourdinha, para contar esta história.

O conhecimento do mestre Neca foi adquirido na prática, jogando futebol profissionalmente. A carreira de jogador começou e terminou no São Cristóvão. No final da década de 1940, entre 1947 e 1949, foi jogador do São Paulo, onde conquistou o campeonato paulista de 1948. Em 1950, Neca fechou contrato com o Botafogo, seu clube de coração, onde ficou até 1951, jogando 53 partidas e assinalando 12 gols. O meio-campista foi o destaque ofensivo do Glorioso em várias partidas daquela época, conforme matérias do jornal O Globo, que a equipe do Museu presenteou a família. Como jogador, Neca teve ainda passagens por Flamengo, América do Recife e Portuguesa-RJ.

No início da década de 1960, quando já havia encerrado sua carreira de jogador, Neca procurou o Botafogo para propor a criação de uma escolinha de futebol para o clube. A ideia foi prontamente abraçada pelo dirigente alvinegro, Ademar Bebiano, que também era dono da fábrica de tecidos Nova América, em Del Castilho. Bebiano ofereceu o campo do fábrica para que Neca pudesse treinar os garotos. Assim começou a trajetória de Neca como treinador, que rendeu gloriosos frutos para o futebol brasileiro. Pelas suas mãos passaram Carlos Roberto, Nei Conceição, Zélio, Rogério, os irmãos Ferreti, Mendonça, Osmar Guarnelli, Galdino e Luisinho Quintanilha, entre outros.

O treinador conquistou pelo Glorioso o Torneio Início de Infanto-Juvenis de 1963, o Quadrangular de Teresina de 1966 (interino na equipe principal), o Tricampeonato Carioca Infantil, em 1968-69-70, e o Torneio Mundial Oficial Infanto-Juvenil de Croix (França), em 1973, entre outros títulos. Esse último foi, sem dúvidas, o ponto alto da carreira de Neca, afinal, ser Campeão Mundial pelo time de coração é o sonho de infância de todo garoto apaixonado por futebol.

Na nossa resenha, os filhos do Mestre, orgulhosos, ratificaram que muito melhor do que o profissional era a pessoa Manoel Victorino, como devem ser os grandes Professores, referências eternas na vida de muita gente.

NEYMAR NO BANCO? ÓTIMO!

por Marcos Eduardo Neves

Neymar e Danilo estão fora do restante da primeira fase. Uma boa e outra péssima notícia. Ambas, porém, em nada mudam o cenário da seleção brasileira que luta rumo ao hexa na Copa do Mundo do Catar.

Ruim é perder Danilo, visto que seu reserva, Daniel Alves, é, como diz o brilhante comentarista Paulo Cesar Vasconcellos, não passa de um “ex-jogador em atividade”, alguém que só está no grupo para injetar ânimo, experiência e confiança no jovem e talentoso elenco.

Se não contar com Danilo é ruim, bom, aliás, bom demais é saber que Neymar pode ter todo o tempo necessário para se recuperar, até porque não somos mais dependentes dele. Talentos não faltam ao time de Tite. Até no banco.

Danilo vai se recuperar e voltar, talvez já nas oitavas de final, retomando com propriedade a sua posição de titular. Quanto a Neymar tenho minhas dúvidas. Apesar de sua alta capacidade técnica, seria maravilhoso vê-lo no banco. Mostraria a todo o planeta o gigantismo da nossa força. E, vem cá, qual o problema em ser banco? Pelé e Garrincha foram em 1958, até entrarem bem contra a União Soviética. PC Caju ficou na reserva durante a Copa de 70 e mesmo assim foi eleito um dos melhores do Mundial.

Em 1982 Roberto Dinamite e Edinho, só para citar estes dois, sequer entraram em campo. Na Copa seguinte, Zico, à lá Roger Milla, de Camarões, entrava no decorrer do jogo, e nisso, deu passe de calcanhar para Careca marcar, sofreu pênalti diante da Polônia e ainda colocou Branco na cara do gol, contra a França, apenas dois minutos depois de Telê sacá-lo do banco.

Em 1994 Ronaldo, que seria o astro das duas Copas seguintes, nem jogou nos Estados Unidos. Em 1998 Edmundo só entrou nos minutos finais da decisão. Em 2002 Alex sequer foi convocado e o Brasil trouxe o penta. Então, qual o problema de Neymar sentar no banco? Ele é apenas mais um entre os 26 convocados. Mais um dentre os mais de 200 milhões de brasileiros que torcem pelo sucesso da seleção.

Que entre e nos ajude assim que puder. Ou nem entre, como não entraria Daniel Alves não fosse a lesão de Danilo. Com ou sem eles, a verdade é que hoje temos time. Temos Tite. E teremos título.

COPA DE 82

2a parte – “O debacle”

Marcos Fábio Katudjian

A nostalgia é um sentimento humano que tende a idealizar o passado. No futebol isso também acontece na lembrança de grandes equipes. A seleção brasileira que jogou a Copa da Espanha é um desses times, considerada uma espécie de bastião do futebol bonito e do futebol arte diante do pragmatismo e da ranhetice do chamado futebol moderno.

Eu adorava aquele time, e depois da nossa eliminação – e durante um bom tempo – gostava muito de ouvir elogios àquela seleção e mais ainda, de ouvir lamentos por não sido campeã do mundo. Eu me sentia amparado em minha desilusão, como um luto em que os parentes próximos ao falecido transmitissem suas condolências uns aos outros.

Ao longo dos anos, essa reverência foi ganhando cada vez mais espaço na mídia, de forma que quanto mais nos afastamos no tempo daquela Copa, mais aquele time é idealizado. Idealizado, eu diria, com certa falta de escrúpulos da imprensa especializada.

Por isso, eu gostaria nesse pequeno espaço, a partir de uma reflexão mais distanciada, de oferecer um contraponto à nostalgia que eu mesmo alimentei por tanto tempo.

Então, permitam-se dar um alerta de gatilho para os mais românticos ou ainda reféns daquele trauma: esse vídeo pode provocar reações adversas, como lágrimas, ranger de dentes e urticárias.

Já entenderam, né? Então vamos lá.

Em primeiro lugar, deve estar no topo de qualquer comentário, algo que os brasileiros têm muita resistência para fazer: reconhecer os méritos do adversário. E eu já posso ouvir alguém aí dizendo: “mas eu acho que a seleção brasileira era a melhor seleção daquela Copa”. E eu respondo: “e daí?” O Brasil podia até ter o melhor time, mas isso não garante nada no futebol. Não éramos um time perfeito, simplesmente porque isso não existe. Nem os times de Pelé eram perfeitos porque havia outros dez que não eram Pelé.

O fato é que a Itália tinha um grande time, possivelmente a melhor Azzurra de todos os tempos, e mereceu amplamente ganhar a Copa apesar de uma primeira fase medíocre.

Outra coisa difícil de admitir é que o Brasil tinha falhas, especialmente na defesa. Falhas que estavam claras desde o início. Se na primeira fase a Itália percorria um caminho doloroso de olhar para os próprios erros, a primeira fase do Brasil nos colocou no posto de queridinhos da imprensa e da torcida internacionais. E isso foi a nossa ruína, como acontece via de regra quando o sucesso nos coloca antolhos, viseiras que impedem que os erros sejam observados.

E aqui eu gostaria de chamar os românticos mais exaltados a colocarem os seus pezinhos no chão por um momento. Notem, o Brasil fez apenas cinco jogos naquela Copa. Foi eliminado numa fase equivalente às quartas de final. Daí eu pergunto: como se referir com tamanha devoção a um time que sequer passou pelas quartas de final? Só para citar outras duas seleções que marcaram época sem ter vencido a Copa, a Hungria de 54 e a Holanda de 74, ambas chegaram às finais e têm sido menos lembradas que a nossa seleção de 82.

E independente da fase em que foi eliminada, vamos dar uma olhada nessa campanha. Foram quatro vitórias e uma derrota. As vitórias foram contra a União Soviética, Escócia, Nova Zelândia e Argentina. E perdemos da Itália. Essa foi a campanha do Brasil em 82.

Pois eu pergunto: o que representavam esses adversários na ordem das coisas? Bem, a União Soviética era um bom time, liderados pelo meia Blokhin, com uma defesa sólida e um ataque e meio campo competentes, mas ainda assim, uma seleção europeia de segunda linha. Pois bem, o Brasil suou sangue para ganhar da União Soviética. E uma coisa que ninguém diz: o Brasil não teria vencido aquele jogo sem a ajuda da arbitragem, que deixou de marcar um pênalti escandaloso para os soviéticos aos 36 do segundo tempo quando o jogo estava empatado, um toque de mão intencional absurdamente claro do qual ninguém, absolutamente ninguém fala ou falou. O fato que ficou para a posteridade, na onda do pachequismo reinante foram os dois golaços do Brasil, na verdade, duas obras de arte que ofuscaram os enormes riscos aos quais o Brasil se submeteu durante todo o jogo. Uma análise fria daquela partida, um olhar mais competente do técnico, faria ver que naquele primeiro jogo estava o embrião do que aconteceu no Sarriá três semanas depois.

Depois da União Soviética, o Brasil enfrentou a Escócia. O que dizer da Escócia na ordem das coisas do futebol? A Escócia é um futebol com o nível parecido com o da… Escócia, entendem? Se existe algum time mediano no futebol é a Escócia. A Escócia é uma seleção radicalmente mediana. E o Brasil ainda conseguiu tomar o primeiro gol daqueles cinturas duras. E por falar em bichos de goiaba, o Brasil terminou a primeira fase enfrentando um time semiprofissional, a Nova Zelândia, composto de padeiros, carteiros, marceneiros e jogadores de rúgbi, e o Brasil meteu quatro a zero.

No primeiro jogo da fase seguinte, sim, pode-se dizer que o Brasil foi testado. Jogou contra um gigante do futebol mundial e foi muito bem, ainda que se possa dizer que aquela Argentina era um time meio requentado, sem o mesmo viço da Copa anterior, o fato é que o Brasil fez três a um fora o baile.

Depois veio o jogo contra a Itália. Partida em que a defesa voltou a falhar bisonhamente repetidas vezes. Muita gente fala do pênalti do Gentile no Zico, e foi pênalti mesmo, mas ninguém se refere ao gol legal do Antognioni anulado pelo árbitro, o que seria o quarto gol da Itália.

Mas além dos aspectos técnicos e táticos há outro que me interessa ainda mais. Diz respeito à atitude da seleção ao longo da Copa e especialmente naquele jogo fatídico.

O fato é que o Brasil jogou sem demonstrar nenhum respeito ao acaso. E jogar sem respeitar o acaso no futebol é o mesmo que jogar sem respeitar os deuses. Eu me refiro aos deuses do futebol. Sim, porque eu não sei se Deus existe. Tem horas que eu acho que sim, horas que eu acho que não. Deus pode não existir, mas os deuses do futebol existem, quanto a isso não há sombra de dúvida. E só não conhece os caprichos desses deuses quem nunca foi vitima deles.

Contra a Itália, o Brasil não entrou para se classificar para a semifinal. O Brasil dava isso como certo. A classificação era apenas um objetivo burocrático a ser cumprido, algo como assinar a súmula. O objetivo era outro, o objetivo era dar espetáculo. E se vocês acham isso uma virtude, bem… os italianos também devem ter achado.

O Brasil jogou como se a vaga numa semifinal de Copa do mundo fosse algo menor, algo banal. O que importava era o virtuosismo de seu jogo. Ir para a semifinal era um objetivo reles, que estava aquém das suas possibilidades. Vocês tem um adjetivo para determinar esse tipo de comportamento? Eu tenho pelo menos dois: arrogância e soberba. E se você tem dúvidas a esse respeito, sugiro que assistam novamente pelo menos os minutos que sucederam o gol de empate do Falcão. O que se vê é gritante: um preciosismo egocêntrico raramente visto na história desse esporte.

E do outro lado, o que se via? Uma Itália execrada pela torcida e imprensa, com quem estava rompida. Um time que lambia as próprias feridas de uma primeira fase sofrível. Um time que exatamente por tudo isso, deixou tudo em campo naquele jogo, colocando o coração na ponta da chuteira em cada lance, em cada palmo do gramado, um time heroico, de muita entrega e valentia. Um David que não hesitou em comer grama diante de um Golias sobranceiro, impávido, colosso. E nesses mais de quarenta anos acompanhando o jogo, eu lhes digo: não há mitologia que mais deleite os deuses do futebol do que essa de David e Golias.

Enfim, é bom que se entenda de uma vez por todas: Jogar bem, jogar melhor nunca foi determinante de nada no futebol. Jogar com determinação, raça e profundo empenho muitas vezes está mais próximo da bem aventurança.

Volto a dizer, a seleção de 82 talvez tenha sido minha maior paixão adolescente. E me dói ter que desdizê-la. Se faço isso, é por perplexidade diante do culto exagerado àquele time. Um time que não teve a sabedoria e a humildade suficientes para transformar seu talento excepcional em resultado, coisa que a aborrecida seleção de 94 fez com muito menos potencial. Minha perplexidade é ver a forma condescendente e sentimentalóide com que a imprensa ainda hoje trata nossa participação naquela Copa.

E aqui entre nós, para mim isso diz respeito a vários outros aspectos do caráter nacional, onde – entre tantas outras mazelas – aprender com os erros do passado é tão raro e improvável.