CONTRASTE NAS ARQUIBANCADAS
::::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::::

Poderia começar a coluna falando do Mundial de Clubes, dos clássicos pelos Estaduais, do golaço do Cano, mas tem um assunto muito mais sério que pouco se fala: a violência dentro e fora dos estádios. Não sei se a galera já se acostumou com esse absurdo, mas para mim nunca vai ser normal torcedores brigarem com adversários ou entre si.
Neste fim de semana, por exemplo, acompanhei pela TV que torcedores do Corinthians sofreram uma emboscada de palmeirenses, proporcionando cenas de guerra em uma rodovia de São Paulo. O pior é que colocam em risco a vida de famílias, trabalhadores, que nada tem a ver com a confusão. O mínimo que a Federação Paulista deveria fazer era aplicar uma severa punição para os dois clubes, com restrições nos estádios e uma multa milionária. O problema é que nada acontece, ninguém é preso, A FIFA não faz nada, os dirigentes não fazem nada, os jogadores se calam e na rodada seguinte esses bobalhões vão ganhar ingresso das respectivas diretorias e farão a mesma coisa com outro rival nos estádios.
Confesso que estou cansado! Ontem mesmo fui ao Maracanã com um casal de amigos franceses para assistir Vasco x Fluminense e, mesmo de camarote, tive que fazer uma série de recomendações e prepará-los psicologicamente para o clima das torcidas. Para evitar o tumulto no fim do jogo, costumo sair antes do apito final e por pouco não perdi a pintura do Cano!
Em meio a tantas firulas, chuteiras rosas, brincos e moicanos, o atacante argentino é a prova de que a simplicidade é o melhor caminho. Quase sempre com um toque na bola, o goleador supera o adversário e ontem não foi diferente. No primeiro gol, aproveitou um cruzamento da direita e chutou de primeira. No segundo, estava atento e marcou um golaço com a sua perna “ruim”. Impressionante como é objetivo e efetivo! Por mais golaços e menos estilhaços!
Pérolas da semana:
“O professor gosta de verticalizar e intensificar as jogadas para criar identificação do adversário e lateralizar a rotação passando por cima do jogador agudo ou falso nove”.
“O encaixe do modelo de jogo serve para ficar confortável ao ter uma leitura perfeita, fazendo com que o último jogador do losango fatie a bola viva ou a segunda bola”.
Que besteira é essa, geraldinos? Futebol não se lê, se enxerga e se vê!
A FORÇA DO ‘BOLA EM JOGO’
por Elso Venâncio, o Repórter Elso

A Rádio Tupi fez um gol de Placa ao contratar Eraldo Leite, um dos campeões de audiência do Rádio Esportivo. Homenageado pela FIFA, pelas 11 Copas do Mundo que cobriu in loco, inspirou gerações, além de liderar a classe há anos, como Presidente da Acerj, a Associação dos Cronistas Esportivos do Rio de Janeiro.
O responsável pela portaria do meu prédio não me responde o ‘Bom Dia’ e resmunga:
– A Globo não teve condições de manter o Eraldo?
Falo que a Tupi acertou.
Contemporâneos, estudamos no Liceu de Humanidades, em Campos dos Goytacazes, nossa terra natal. O início foi na Rádio Continental – éramos chamados de ‘Os Tremendões’, pois meio que ‘imitávamos’ os famosos ‘Trepidantes’ Deni Menezes e Washington Rodrigues, da Globo. Pouco tempo depois, a dupla de repórteres de campo, cada qual com seus 16, 17 anos, já estava na Difusora, a mais ouvida da cidade.
No Rio, trabalhamos na Rádio Nacional e, mais tarde, por quase duas décadas, na Globo.
O ‘Bola em Jogo’ já teve o comando dos inesquecíveis Luiz Ribeiro e Gilson Ricardo, sendo apresentado todo domingo ao meio dia. Nesse horário, de segunda a sábado, tem a ‘Patrulha da Cidade’, 57 anos no ar, o mais antigo e bem sucedido programa da emissora.
Lembro um fato que retrata a força do ‘Bola em Jogo’. No Facebook há um grupo chamado ‘Saudades da Velha Rádio Globo’. Os internautas respondem a pergunta ‘qual o programa que mais te dá saudades?’. Relaciono, pela ordem, os eleitos:
1 – ‘Enquanto a Bola Não Rola’
2 – ‘Turma da Maré Mansa’ – comandado por Antônio Luiz
3 – ‘Programa Haroldo de Andrade’
4 – ‘Panorama Esportivo’ – conduzido por Gilson Ricardo
5 – ‘Globo Esportivo’ – o do ‘Garotinho’ José Carlos Araújo
Destes cinco, três são esportivos, o que dá a exata noção do que representa o futebol no Rádio.
‘Enquanto a Bola Não Rola’, concorrente do ‘Bola em Jogo’, foi criado por Kleber Leite e teve cinco apresentadores: além do próprio idealizador, Loureiro Neto, eu, Ronaldo Castro e Eraldo Leite tivemos o prazer de comandá-lo.
Quando apresentei, começava às 14 horas, direto do Maracanã, no Espaço Globo.com, marcando o lançamento do portal, em frente à ‘Calçada da Fama’. A direção da Globo acabou transferindo a atração para o meio dia, com o intuito de combater o crescimento do ‘Bola em Jogo’. O Ibope até melhorou, mas não ultrapassou o da Tupi.
A Globo jogou pesado: Armando Nogueira, Fernando Calazans, João Máximo, Oldemário Toguinhó, José Trajano, Paulo César Vasconcellos, Luiz Mendes, Alberto Helena Jr., enfim, nomes de peso do Jornalismo foram contratados. Treinadores como Zagallo, Parreira, Felipão e Evaristo de Macedo também, além de jogadores e ex-jogadores, nomes do quilate de Didi, Gerson, Carlos Alberto Torres, Paulo Cézar Caju e até mesmo Ronaldo ‘Fenômeno’. Apenas Didi e Gerson eram fixos; os convidados revezavam-se a cada semana.
Grandes debates discutiam o futebol brasileiro, mas a concorrente sempre teve um público fiel no horário. A Super Rádio Tupi, hoje, aposta numa programação popular, com grandes comunicadores e, agora, com o craque Eraldo Leite no ‘Bola em Jogo’, para deixar o ouvinte na ‘cara do gol’.
CANO DE PLACA
por Paulo-Roberto Andel

O golaço redime, o golaço liberta.
Ele desafia paradigmas e definições. Muda roteiros de forma inesperada.
E deixa sua tatuagem para sempre nos corações e memórias.
Há mais de sessenta anos, em alguma ocasião vemos os gols e a alegria de Garrincha na final carioca de 1962. Outros se emocionam com a arrancada de Rondinelli e sua cabeçada monstruosa em 1978. Outros, com o voo esguio e certeiro de Assis em 1984. Esses gols nunca vão acabar.
Mas também há os grandes gols de partidas que não necessariamente decidiram títulos, mas estão condenados à eternidade. O fantástico drible de Mendonça em Júnior em 1981, os mil dribles de Washington em 1987. O chutaço de Neto do meio da rua em 1991. Os golões de Roberto contra o Corinthians em 1980. São muitos e muitos gols.
Neste domingo, o argentino German Cano fez história no Maracanã. Um gol de placa, dos mais bonitos da história do estádio. Chutou do meio de campo e fuzilou o goleiro vascaíno, completamente batido. O estádio viveu um de seus grandes momentos.
Até então, Cano já estava consagrado no futebol carioca e brasileiro, por sua carreira no Vasco e agora no Fluminense, com mais de 40 gols na temporada 2022. Desta vez, assim como a bola que chutou cruzou o Maracanã até ganhar as redes, ele mesmo ganhou o mundo de vez. Não há lugar na Terra onde não se esteja falando do golaço que aconteceu no coração do Rio de Janeiro, no outrora maior estádio do mundo.
Lembram que o golaço muda roteiros? Pois é. Num jogo de muita luta, transpiração e lances razoáveis, o Vasco foi melhor do que o Fluminense no primeiro tempo, cujo destaque foi o veteraníssimo goleiro Fábio, do Tricolor. Melhor, mas sem a capacidade de definição. E no segundo tempo a coisa ficou mais equilibrada, até que o mesmo Cano aproveitou um cruzamento e marcou com oportunismo. Desesperado, o Vasco se lançou em busca do empate, sem êxito, novamente esbarrando em Fábio até que o corte final aconteceu – e a magia do futebol prevaleceu. O golaço tornou tudo pequeno no Maracanã.
As crianças tricolores que estavam no Maraca hoje vão perseguir o Fluminense para sempre, assim como outros garotos perseguiram por causa de Assis e Washington e eu, criança, vi Pintinho e Cristóvão destruírem o Fla x Flu de 1979, mais Paulo Goulart pegando pênalti. E Edinho e Rivellino. Eu ainda persigo o Fluminense.
Não precisa ser um título, uma decisão. Às vezes, não precisa nem ser um clássico. Basta que num segundo surja a magia do grande momento do futebol: ela explode e encanta pelo resto da vida.
@pauloandel
EM 1986, FLAMENGO 4 X 1 FLUMINENSE E SHOW DE ZICO
por Luis Filipe Chateaubriand

No início do ano de 1986, primeira rodada da Taça Guanabara, Flamengo e Fluminense se confrontaram no Maracanã.
De um lado, Zico, Sócrates e Bebeto, dentre outros.
Do outro, Romerito, Assis e Washington, dentre outros.
Veio o primeiro tempo.
Aos dez minutos do primeiro tempo, Adalberto cruzou pela esquerda e Zico, de “peixinho”, fez o gol de cabeça.
Flamengo 1 x 0 Fluminense.
Aos 44 minutos do primeiro tempo, Leomir cobrou pênalti com perfeição.
Flamengo 1 x 1 Fluminense.
Veio o segundo tempo.
Aos 27 minutos do segundo tempo, Zico bateu falta com perfeição absoluta!
Flamengo 2 x 1 Fluminense.
Aos 30 minutos do segundo tempo, Bebeto penetrou na área pela direita e chutou em gol com extrema felicidade.
Flamengo 3 x 1 Fluminense.
Aos 35 minutos do segundo tempo, Zico bateu pênalti de forma irreparável.
Flamengo 4 x 1 Fluminense.
O brilho de Zico no jogo não se resumiu aos três gols que marcou.
Bateu falta no travessão.
Deu passe a Adalberto de calcanhar.
Fez lançamento de bicicleta.
E até “matar” a bola com as nádegas, para dar agilidade à jogada (como ele mesmo confirmou), fez.
Em resumo, aquele dia do início de 1986 foi o dia de Zico!
ALBERI, ORFANDadE DO GÊNIO ETERNO
por Rubens Lemos Filho

O futebol potiguar está órfão desde o dia 28 de outubro de 2022, quando o corpo do gênio Alberi adormeceu para sempre. A falta dele está em todas as referências ao amor à bola.
Mesmo assim, ventos imaginários sopram fortes e uivantes, lenços brancos cruzam os portões ancestrais do Estádio Juvenal Lamartine e os céus sobre a paisagem do antigo Castelão(Machadão). Em festa, soam trombetas, tocam clarins, bandeiras são hastearás em heráldica fúnebre, ode ao Rei morto, Alberi José Ferreira Matos.
O espiritual e a ilusão tratam de cumprir o ritual que os humanos naturalmente não farão dentro da liturgia adequada. Há, nos bares decadentes, na aposentadoria e nos cemitérios, uma legião de gratos a Alberi pelos recitais de gênio negro esguio e solista, dono de corações que se unem na loucura superando limites lógicos, científicos, acadêmicos e teóricos. Alberi subvertia-os na intuição sanguínea.
Alberi, no Olimpo, faz 78 anos e corresponde, no Brasil, aos 79 anos de Ademir da Guia, aos 67 anos de Zico no Flamengo, de Roberto Dinamite no Vasco e aos 75 de Rivelino no Fluminense e no Corinthians.
O tempo passa e Alberi ficará para sempre. O maior dividindo polêmicas com o respeitável colégio eleitoral de Jorginho, o Professor, versão natalense do corintiano Luisinho, o Pequeno Polegar, que driblava e sentava na bola para humilhar o adversário. Tenho um amigo, o contabilista Eduardo Mulatinho, que não tem dúvidas.
Nem Garrincha – segundo o isento Mulato -, deu o drible aplicado por Jorginho em Bellini num amistoso ABC x Vasco em 1960. Bellini, dois anos após erguer a Jules Rimet no Estádio sueco de Rasunda, não caiu de bunda no acanhado JL porque se segurou no alambrado.
Ao passar, reverente, pelo estadinho salvo da especulação imobiliária, calculo Bellini, todo duro, arranhado pelos fios de arame farpado, enquanto Jorginho ria, de mãos na cintura, miniatura de açucareiro. O Vasco venceu de 6×2, mero e insignificante detalhe, segundo Mulato, que estava lá, na geral.
Alberi virou adjetivo de futebol no Rio Grande do Norte. Até 1972, dominava a cena, intocável, vindo de Pernambuco, nascido e criado na Praia do Pina, renegado pelo Santa Cruz que preferia o sergipano Mirobaldo. Sorte nossa. Alberi jogava muito mais e ao chegar a Natal descobriu-a berço e divisa. Aqui ele mandava e, ao sair, não repetia o deslumbre.
No primeiro Campeonato Brasileiro de Clubes, possível pela inauguração do Estádio de Lagoa Nova no bendito 1972, Alberi encontrou o tapete ideal para os seus desfiles.Dois ex-titulares do Vasco, o volante Maranhão e o meia-armador uruguaio Danilo Menezes, lhe permitiram liberdade total de atacar e triturar os marcadores famosos da fase fantástica do começo dos anos 1970, da febre do pós-tricampeonato da seleção no México.
Maranhão, Danilo Menezes e Alberi, escolhidos para o meio-campo do século passado, enfrentaram sem temer os grandes do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Minas Gerais, do Rio Grande do Sul e os rivais regionais. A maior exibição individual do Castelão, Alberi, aos 27 anos, fez contra o Flamengo, treinado por Zagallo.
Ponta de lança autêntico, em caça ao gol, descadeirou os volantes Liminha e Zé Mário em cortes bruscos e freadas inesperadas no gramado. “Marca a esquerda do Negão”, berrava Zagallo. Alberi desferia um torpedo de direita. “Marca a direita desse monstro”, Alberi mandava um canhão de canhota na trave do goleiro Renato, da seleção brasileira.
Atuação decisiva para que Alberi ganhasse a Bola de Prata, o Oscar do Futebol Brasileiro, superando nomes do nível de Jairzinho, Dirceu Lopes e Tostão. Recebeu proposta do Fluminense. Casa com piscina, carro, mas ficou. A raiz afetiva chamava-se Natal e o palco, o Castelão.
Alberi foi para o América em 1976. Em 1977, lá estava eu vendo-o ajudar o time rubro a conquistar o campeonato. Rodou por vários clubes. Foram busca-lo em Juazeiro do Norte(CE) para uma volta emocional ao ABC em 1981. Fez de pênalti, o gol do título do primeiro turno(1×1 com o América). Aos 78 anos, Alberi é concessão celestial ao Rio Grande do Norte.
Chegada
Alberi chegou ao ABC em 17 de janeiro de 1968.Nascido na comunidade pobre do Pina, vinha do Santa Cruz(PE).No primeiro treino, no Estádio Juvenal Lamartine, marcou três gols.
Estreia
Alberi estreou num 28 de janeiro e fez gol na derrota do ABC para o Santa Cruz por 3×2 no JL. Há 53 anos, quando cravava 23 de idade.
ABC
Com público de 3.567 pagantes, o ABC perdeu com Jarbas; Toinho Dantas, Piaba, Nivaldo Dantas e Otávio; Tonho Zeca e Jorge Segundo(Jairo); Cocó(Martinho), Elson, Alberi e Rocha. Técnico: Álvaro Barbosa.
Santa Cruz
O Santa Cruz: Naérsio; Agra, Reginaldo, Rivaldo e Jório; Norberto e Araponga (Luciano Veloso ou Coalhada, craque); Joel, Uriel, Erandy Montenegro(Fernando Santana) e Nivaldo (Fernando José). Técnico: Amaro Santos. Gols: Joel(2) e Uriel para o Santa Cruz, Cocó e Alberi para o alvinegro.
Títulos
Primeiro título em 1970, início do tetracampeonato no Castelão(Machadão). Em 1977, campeão no América. Na volta ao ABC, foi campeão em 1983 e 84, quase sem jogar.