FATURAMENTO DOS CLUBES – 2023/24
por Idel Halfen

O estudo “Football Money League” publicado recentemente pela Deloitte foi base para a Jambo Sport Business preparar um relatório sobre os números apurados, o qual pode ser acessado pelo link https://www.linkedin.com/posts/halfen_os-clubes-de-futebol-que-mais-faturaram-2023-activity-7294632009337827328-Dbzm?utm_source=share&utm_medium=member_desktop. A seguir destacamos algumas informações a respeito.
• O somatório das receitas dos 10 clubes com maiores faturamentos cresceu 5,5%. Dentre esses times, três tiveram decréscimo no faturamento – Chelsea, Tottenham e Barcelona, enquanto os demais atingiram seus recordes.
• O montante de receitas desses clubes com matchday cresceu 12,3% e equivale a 18,4% do total. Embora esse percentual tenha melhorado em relação à temporada passada (17,3%), ele ainda se encontra bem distante das demais. Situação que é lógica, visto haver limitação de assentos nos estádios, ou seja, só uma majoração de preços seria capaz de impactar, a qual pode não ser suficiente, visto a possibilidade de sofrer com a elasticidade do preço dos ingressos. Oito dos TOP10 aumentaram o faturamento nessa linha.

• Já o faturamento com broadcasting caiu 0,8% e contribuiu com 33,5% do total, a propósito, essa queda de participação também foi detectada na temporada passada.
• Os ganhos com commercial aumentaram 7,6% e representam 48,1% – a segunda participação mais alta da história do estudo se expurgarmos a temporada da pandemia. Apenas o Paris St. Germain, entre os TOP 10, não evoluiu sob essa ótica.
• Vale atentar para o enorme crescimento da indústria “futebol”, pois em 18 anos a receita total dos TOP10 saiu de € 2.505,2 para € 7.577,2, um aumento de 202,5%, salientando que poucos negócios evoluíram tanto e de forma praticamente constante neste período.
• A temporada 2023-24 trouxe pelo segundo período seguido, o Real Madrid como o clube com maior faturamento, fato que ocorre pela 12ª vez. Vale enfatizar que essa foi a primeira vez que um clube arrecadou mais de € 1 bilhão.
• O clube merengue foi também o com maior incremento de receitas – € 126 milhões entre os TOP20, sendo em termos percentuais o que teve o terceiro maior incremento (25,8%), ficando atrás sob esse indicador do Arsenal 34,5% e do Newcastle com 29,2%.

• O Manchester City se manteve na segunda posição, lembrando que em 2020-21 e 2021-22 o clube inglês esteve na liderança.
• A diferença do Real em relação ao City, foi de € 207,7 milhões. Na temporada anterior essa distância ficou em apenas € 5,5 milhões. Para entender essa variação na diferença entre os dois clubes que mais faturaram, vale registrar que o Real Madrid ganhou tanto o título espanhol como a Champions League, enquanto o City, ainda que tenha conquistado a Premier League, foi eliminado nas quartas de final do principal campeonato da Europa.
• Os times que tiveram as maiores quedas de faturamento foram: Juventus (€ 76,7 milhões), Chelsea (€ 43,9 milhões) e Barcelona (€ 39,8 milhões). Em termos percentuais manteve a ordenação com 17,7%, 7,4% e 5,0%, respectivamente.
• Vale destacar o decréscimo de € 63 milhões em matchday do time catalão e de € 70 milhões do Chelsea em broadcasting.
• A Premier League se mantém como a liga com mais clubes entre os TOP 10 (seis). Em segundo aparece a LaLiga (Espanha) com duas equipes. Completam a relação com um time cada: Bundesliga (Alemanha) e Ligue 1 (França).
A MULHER COM O TERÇO NA MÃO
por Cláudio Lovato Filho

A mulher segura o terço debruçada na mureta da arquibancada.
É uma senhora.
Nossa, senhora!
Quanta fé!
Fé: crença incondicional, adesão absoluta.
Está nos dicionários, mas isso é o de menos; importa o que está no coração.
A mulher e suas mãos postas, com o terço entre elas.
A mulher, o terço e (é claro) a camisa do time.
Quanta paixão!
Paixão: sentimento intenso capaz de ofuscar a razão.
Definição lexicográfica que nem de raspão dá conta de explicar o que vai no coração.
Ah, minha senhora!
Ela assiste ao jogo sozinha; ao menos não há ninguém em torno dela.
Teria filhos? Teria netos? Não se sabe.
Talvez o pai tenha sido um torcedor fanático, um torcedor daquele tipo: torcedor de quatro costados.
Talvez o velho a tenha ensinado, talvez simplesmente tenha lhe transmitido pelo sangue (sem discursos, sem imposições); ao natural.
Talvez ela frequente estádios (o estádio, o seu estádio, o templo!) desde muito jovem, ainda criança.
Talvez ela tenha na mente a escalação completa de todos os times que conquistaram títulos para o clube do coração – e não foram poucos, os títulos!
E lá está ela: querendo que o jogo termine logo, porque a vitória é apertada, e, como toda vitória apertada, essa de hoje também não é amiga do cronômetro.
Acaba o jogo, ela abaixa a cabeça, e depois a ergue às alturas, para além, muito além das torres dos refletores, e as mãos de pele fina seguram o terço, e ela ajeita o cabelo e olha para o campo, de onde os jogadores, seus guerreiros, estão agora começando a sair, e ela então grita, aliviada, mas com a adrenalina ainda alta:
“Eita ferro! Ganhamos, meu Deus do céu!”
UMA MÁQUINA DE SONHOS
por Zé Roberto Padilha

O relógio do Mineirão marcava 44 minutos do segundo tempo. E o corner era a nosso favor. O placar mostrava Cruzeiro 1×1 Fluminense, em jogo pelo Campeonato Brasileiro de 1975. Paulo Cesar Caju, nosso camisa 8, foi batê-lo e ao notar mais homens de azul na grande área do que tricolores, gritou para eu encostar e tocar a bola.
Ali, na linha de fundo, junto à bandeirinha, para fazer o tempo passar. Até se esgotar. O empate fora de casa, a duas rodadas do fim do campeonato, já nos classificava. Esgotado por correr os 89 minutos naquele gramado fofo, da bendita grama esmeralda, recusei o convite e me plantei na intermediária.
A pressão do Cruzeiro era insuportável e certamente viria o contra-ataque após o corner. Não tínhamos um centroavante alto, Manfrini era pequeno e nem o Edinho, nosso melhor cabeceador, ousou se meter na grande área. Mas PC, que igualmente cansado, parecia nem ter forças para alçar a bola para lá, continuava berrando:
– Encosta aqui, ô juvenil!
Mesmo começando minha carreira e diante das ordens de uma velha raposa, felpuda e tricampeã mundial, resisti. E devolvi, lá de longe, da risca do meio campo:
– Joga essa po… pro abafa!
Contrariado, PC bateu o corner direto e a bola fez uma curva incrível e enganou o goleiro Raul, que caiu enroscado com ela dentro do gol. Um gol inesquecível, olímpico, garantira de vez nossa presença nas semifinais ao lado do Inter, Corinthians e do próprio Cruzeiro.
Dia seguinte, os méritos da nossa má criação foram transferidos para um tal Sobrenatural de Almeida, um personagem místico, criado por Nelson Rodrigues, tricolor e teatrólogo, que aparecia nas mais inusitadas conquistas
Pouco importava, era um garoto de Três Rios, torcedor do Fluminense, que dera um jeito de vestir sua bandeira. Fazer testes no infantil até jogar com a camisa histórica honrada por Lula, Gilson Nunes e Escurinho. E defender uma máquina de jogar futebol.
Félix, Roberto, Nielsen, Toninho, Zé Maria, Silveira, Assis, Abel, Edinho e Marco Antônio; Zé Mário, Carlos Alberto Pintinho, Cleber, Paulo César e Rivelino. Gil, Herivelton, Manfrini, Mário Sérgio….
E quando o juiz ia encerrar a partida, acordei. Que droga! Deveria ser mais um sonho de um candidato a jogador de futebol que despertara para a realidade de um funcionário público da Prefeitura de Três Rios.
Mal humorado, mal dei um bom dia aos meus filhos e um beijo na patroa, tomei correndo o meu café e saía batido quando observei um pôster da Revista Placar pendurado na sala.
E, quanta alegria, descobri minha foto entre eles, o Campeão Carioca de 1975. Fora mesmo um sonho sonhado.
Um sonho realizado de ter tido a honra de ser, de fato e na ponta esquerda, o motorzinho de uma Máquina de Futebol que deixou sua arte registrada na nossa história.
GOLEIRO DO TRI
por Elso Venâncio

Félix foi um dos heróis do tricampeonato mundial da Seleção Brasileira, em 1970, no México. Na época, os goleiros não tinham uma preparação adequada e eram muito criticados. Barbosa, Castilho, Gilmar, Manga, Leão, Taffarel, Marcos, Júlio César, Dida e outros como Félix, que atuaram na mais difícil e desafiadora posição do futebol, merecem ter o seu valor reconhecido.
Com apenas 15 anos, Félix Miélli Venerando já era profissional pelo Juventus da Mooca. Contratado pela Portuguesa de Desportos em 1955, ficou no Canindé por 15 anos e teve quatro convocações para a Seleção Brasileira. Para tirá-lo da Portuguesa, o Fluminense abriu os cofres, pagando 150 milhões de cruzados em julho de 1968. Antes, contratou Samarone, então com 18 anos, da Portuguesa Santista, desembolsando 80 milhões. O Santos tinha adquirido junto ao Fluminense o jovem lateral Carlos Alberto Torres, por 200 milhões, numa transação que foi a maior do futebol brasileiro.
Félix estava com 31 anos quando conquistou o seu primeiro título carioca, em 1969, sob comando do técnico Telê Santana. Na final, seu Fluminense derrotou o Flamengo por 3 a 2, com Flávio Minuano marcando o gol decisivo. Um time vencedor se formava nas Laranjeiras. Não à toa, foi campeão brasileiro em 1970, no campeonato mais difícil da história, com os tricampeões mundiais jogando no país. Era um time tricolor histórico, com Félix; Oliveira, Galhardo, Assis e Marco Antônio; Denilson e Didi; Cafuringa, Samarone, Flávio Minuano (Mickey) e Lula. Mostrando sua força, o clube ainda conquistou o Campeonato Carioca em 1971, 1973, 1975 e 1976, e a Taça Guanabara em 1969, 1971 e 1975; além de importantes torneios internacionais, como o de Paris e o Ramón de Carranza.
Ídolo do Fluminense, Félix tinha o apelido de “Papel”, por ser magro e ágil, voando para fazer grandes defesas. Tinha 1,76m de altura, o que dificultava as suas saídas nas bolas altas. Porém, compensava a baixa estatura com coragem e eficiência embaixo do gol. Pelo Brasil, foi uma das feras de João Saldanha na campanha das Eliminatórias para a Copa de 70, sendo mantido por Zagallo, que substituiu Saldanha faltando menos de três meses para o Mundial.
O esquadrão comandado por Pelé encantou o mundo, vencendo todos os seis jogos disputados. Diante dos ingleses, na época os campeões do mundo, Félix se destacou com defesas arrojadas. Ele e a Seleção Brasileira foram coroados na finalíssima, com vitória por 4 a 1 sobre a Itália, gols de Pelé; Gérson, Jairzinho e Carlos Alberto. Mais de 100 mil mexicanos presenciaram a história sendo escrita no Estádio Azteca.
Eternizado como um dos grandes do futebol brasileiro, Félix faleceu em agosto de 2012, com 74 anos, em São Paulo, vítima de embolia pulmonar.
UMA CAMISA CÚMPLICE DE TÍTULOS
por Zé Roberto Padilha

Uma coisa é você ser torcedor de um clube que, vira e mexe, mereça ou não, se torna campeão. Um time que tem cumplicidade com os títulos.
Outra é você conseguir um lugar no seu time, e assistir, de perto, no banco de reservas, ele alcançar a mais improvável das conquistas, que foi o de campeão carioca de 1971.
O Botafogo, então assíduo fornecedor de craques para a seleção brasileira, um ano após Brito, Roberto Miranda, Jairzinho, Gerson e Paulo Cesar Caju alcançarem o tricampeonato, disparou na liderança do estadual carioca.
Abriram um mundo de pontos à frente do segundo colocado e o jornalista Raul Quadros, do Placar, convenceu PC a posar com a faixa de campeão com rodadas de antecedência. E ele o fez.
Só esqueceram da soberba, que é própria. Não do Botafogo, mas do ser humano. E do Fluminense, o então distante segundo colocado, e sua camisa sobrenaturalmente poderosa. E o Botafogo foi se perdendo nas últimas rodadas. Com todo respeito, até o Bonsucesso lhe concedeu insucessos.
E fomos para a última rodada com o Botafogo ainda em vantagem por jogar pelo empate. E aos 38 do segundo tempo, Ubirajara Motta, goleiro alvinegro, foi abalroado dentro da pequena área por Marco Antônio (foto) após a cobrança de um corner. Só o árbitro não viu.
A bola sobrou para nosso ponta esquerda, o Lula, que a colocou no fundo das redes. Não tinha VAR e o juiz foi perseguido até o túmulo pela torcida alvinegra.
Quando pego essa faixa, Campeão da Guanabara 1971, em meio às minhas recordações, não penso que ela foi imerecida. Estava no banco e tinha jogado toda a Taça Guanabara e meu time não tinha nada a ver com a soberba. Nem com a falha do juiz.
Era apenas uma outra prova, naquela ocasião, já como jogador, da intimidade com que o Fluminense historicamente tem com suas conquistas.