OS PODERES DO DR. CASTOR
por Elso Venâncio

Temido, amado e odiado, Castor de Andrade mandava no samba, no futebol e na cidade. Poderoso, elegia até presidentes da CBF.
O contraventor Castor de Andrade estudou no tradicional Colégio Pedro II e se formou em direito pela UFRJ. Mandava no samba, na cidade do Rio de Janeiro e nos bastidores do futebol brasileiro. Agradava aos grandes nomes da imprensa, sobretudo os da TV Globo.
Castor foi preso algumas vezes, mas deixava a cadeia quando queria se divertir. José Bonifácio Sobrinho, o Boni, todo poderoso da Globo, enviava um maquiador da emissora para que lhe colocasse bigode postiço, barba, peruca, enfim, um disfarce. Assim, o bicheiro ia rever amigos ou frequentava shows, entrando sempre após o início e saindo antes do final.
Durante um dia habitual de trabalho, o empresário Roberto Marinho ficava na redação do jornal O Globo e só ia para a TV no final da tarde. O diretor de jornalismo da emissora e criador do “Jornal Nacional”, Armando Nogueira, era o único a ver o telejornal ao lado do chefe.
— Armando, o Boni foi visitar Castor na prisão? — perguntou Roberto Marinho em um dos encontros.
— Não sei!
— Chama o Boni — retrucou Marinho, sem levantar o tom de voz.
Boni compareceu e respondeu com sinceridade: “Fui, a pedido do João Havelange (presidente da FIFA), porque estamos negociando os direitos (de transmissão) das duas próximas Copas do Mundo”.
A única eleição acirrada para a presidência da CBF ocorreu em 1986. Giulite Coutinho estava desgastado desde a perda da Copa do Mundo de 1982, na Espanha. Na ocasião, a Itália surpreendeu e venceu o Brasil, que jogava pelo empate, por 3 a 2, numa partida eternizada como “Tragédia do Sarriá”. Giulite, então, decidiu não concorrer no pleito seguinte e apoiou o vascaíno Medrado Dias. O adversário foi o habilidoso Nabi Abi Chedid, ex-presidente da Federação Paulista e apadrinhado por Eduardo Viana. O polêmico Caixa D’água nunca desejou ser o número 1 do futebol brasileiro, mas não abria mão de comandar a Assembleia Geral da CBF e eleger o seu preferido. Então, ele chamou Castor na sede da Federação do Rio de Janeiro, entidade que presidiu durante 20 anos, e deu um recado: “Precisamos eleger o Nabi”.
Naquela época, só as federações tinham direito a voto. E pelas contas do Eduardo Viana, o paulista Nabi Abi Chedid venceria por um voto de diferença. Castor de Andrade colocou os presidentes que apoiavam Nabi no Copacabana Palace, sem direito a deixar o hotel, e fez o ultimato: “Vocês estão sendo remunerados para votar no melhor candidato”.
Na véspera da eleição, surgiram boatos de que haveria uma traição, o que causaria empate. Se a tal traição fosse confirmada, Medrado Dias seria eleito presidente por ser o mais velho entre os postulantes ao cargo. Por isso, a chapa de oposição foi estrategicamente invertida. Otávio Pinto Guimarães assumiu como candidato a presidente, enquanto Nabi Abi Chedid se tornou o vice. No final, Otávio venceu por um voto, e Medrado Dias acusou o presidente da Federação do Acre, Antônio Aquino Lopes, de ter levado grana. O caso chegou ao Conselho Nacional de Desporto, que absolveu o “Tuniquim”.
Na eleição seguinte, Castor de Andrade atuou decisivamente para Ricardo Teixeira ser eleito. Na época das vacas magras, apoiava financeiramente a CBF, sendo por várias vezes convidado para chefiar a delegação brasileira em amistosos e torneios no exterior. O “capo di tutti capi” carioca faleceu de infarto, em abril de 1997.
ELE MERECE SER EFETIVADO
por Zé Roberto Padilha

Estou escrevendo antes da partida contra o Palmeiras terminar. E o Vasco, enfrentando uma equipe que, há anos, e em qualquer competição, mais frequenta a parte de cima da tabela, faz uma boa partida.
E acho que o Felipe, um dos grandes jogadores da sua história, merece ser efetivado como treinador. Dificilmente o clube encontrará no mercado alguém tão identificado com ele. Desde que decidiu por uma nova profissão, jamais teve a proteção e as oportunidades no clube que defendeu.
Pelo contrário, foi ralar pelos clubes de menor expressão e sempre apresentou bons trabalhos, como o fez no Bangu. E não seria por uma falha bisonha do seu zagueiro, que entregou uma saída de bola e o Palmeiras acaba de abrir a contagem, que vai pagar essa conta.
Perder essa oportunidade que há tempos tem feito por merecer. A não ser que Vasco da Gama, o navegador português que descobriu o caminho das índias, envie um patrício que redescubra os caminhos das vitórias
MELHOR ADOTAR O PRETO E ACATAR O LUTO
por Zé Roberto Padilha

Passamos a semana discutindo a ideia da Nike, patrocinadora da nossa seleção, de adotar a camisa vermelha em seu uniforme oficial. Quando, na verdade, não foram as cores que determinaram a queda da nossa seleção. Foram quem passou a vesti-las.
Podem entrar em campo com a camisa dourada. Sem os craques que saíram de cena, e com os jogadores limitados que os substituíram, nossa seleção jamais terá brilho de novo.
Aconteceu, no futebol com os que ganharam a Bola de Ouro da FIFA, Rivaldo, Kaka, Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo, substituídos pelos que nunca ganharam uma. E acontece, agora, com a música popular brasileira.
Que a cada dia leva nossas musas para o andar de cima. E deixam um vazio danado, a perda dos seus encantos e magias, pelos palcos do andar de baixo.
Gal Costa, Elza Soares, Leny Andrade, Astrid Gilberto e, agora Nana Caymmi, nos deixam à sorte de buscar uma vaga nas eliminatórias escalados com Maíra & Maraisa, Iza, Ana Castelo e Ludmila.
Melhor adotar o preto. E acatar o luto que paira, hoje, sobre nossas maiores expressões artísticas.
PARTIDA ESQUECÍVEL
Por Ivaneguinho, em homenagem a Aldecir Sapatão

Sexta-feira, dia 18 de abril, às 12h30, meu celular tocou exatamente no momento em que eu me dirigia à mesa para almoçar. A ligação era tão importante e valiosa que, se fosse preciso, deixaria até de almoçar para continuar uma resenha que já dura 52 anos. Quando ouvi aquela voz tão familiar, nem precisei me esforçar para identificar. Pelo timbre e jeito de falar, foi facílimo! Mais ou menos assim:
— Fa… fala, me… meu com… compadre! Tu… tudo bem con… consigo?
Respondi:
— Ô, meu parceiro! Beleza, pura!
Daí em diante, foi mais um papo pra lá de agradável, que, como sempre, termina da mesma maneira: com uma amorosa discordância, seguida de uma sonora risada de ambos os lados!
O tema, como de costume, foi uma partida de futebol — uma semifinal ocorrida no campo do Oriente, num domingo, dia 17 de dezembro de 1972. O Central (meu time) venceu o Independente (time em que ele atuava). Talvez sua decepção e dor sejam maiores porque, no primeiro turno, sua equipe foi disparadamente a melhor.
Eles tinham o melhor goleiro: Índio — que, após a partida, assinou com um time de Minas e decolou na carreira. Tinham uma zaga de primeira, muito ajustada: Sapatão e o craque Filoquinha. No meio, jogavam dois garotos que eram o fino da bola: Nildo e Beto. O ataque era arrasador, com Guarino, Caia e Vaval!
E nem falei ainda do favorito antes da competição: o poderoso Operário, com um verdadeiro escrete! Toninho Cachaça, Carlão (Jorge Luís), Nepô, Álvaro e Andeda; CB Rezende, CB Costinha e Antônio Português; Paulo Burro Preto, Odair e Beraldo.
Já o Central virou uma excelente equipe a partir da terceira rodada, com a chegada do cracaço Aílton Neguinho, do América. Após sua entrada, não perdemos mais. E assim, sagramos-nos campeões!
A partida que o zagueirão Sapatão jamais esquece foi decidida nos pênaltis. O time dele foi eliminado sem perder no tempo normal. Invictos nos 90 minutos! A dor vem do empate sofrido no último minuto da prorrogação — eles venciam por 3×2, mas tomaram um gol de pênalti, que levou a decisão para os tiros livres da marca da cal. Eliminamos o Independente por 3×2 nas penalidades. E, na final, vencemos o Operário por 2×1, com gols da dupla Ivaneguinho/Aílton Neguinho, tornando-nos Super Campeões!
O mais impressionante é que ele, assim como eu, lembra lance por lance daquele jogo “interminável”. Inclusive uma jogada no fim, em que eu já havia driblado quase todo mundo e, no instante exato em que eu faria o gol que selaria a partida, ele surgiu sabe-se lá de onde, com um carrinho genial, tirando a bola do meu domínio.
Ele nunca esqueceu o trabalho que a dupla Aílton Neguinho/Ivaneguinho deu para ele, Filoquinha, Nildo e todos os zagueiros daquele concorrido campeonato.
Zagueirão, você era fera… mas deu a dupla imparável do Central na final!
TROCA DE CEO
por Idel Halfen

A transferência de um jogador ou de um treinador para times rivais costuma despertar sensações e reações bastante passionais. O fato de se tratar de uma atividade profissional é esquecida e julgamentos sobre aspectos pessoais passam a habitar as manifestações dos torcedores do time “rejeitado’, enquanto que os do time que o receberá ficam divididos entre a desconfiança e a perspectiva de bom desempenho.
Natural!
E qual será a reação quando isso acontece com um gestor como o CEO, por exemplo?
Bom, até pelo fato de o gestor não ficar em muita evidência, tampouco ter seus feitos avaliados sob a emoção das vitórias e derrotas, não creio que desperte maiores arroubos.
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Agora mesmo, no início de abril, foi anunciado que o novo CEO do Tottenham será Vinai Venkatesham que, apesar de possuir um belo currículo em gestão esportiva, era mais conhecido por ter sido CEO do arqui-rival Arsenal. Essa rivalidade até mereceria um espaço maior no artigo, visto envolver questões territoriais, posicionamentos na 2ª guerra e, não menos impactante, a transferência de dois jogadores: Emmanuel Adebayor, fazendo o mesmo caminho de Vinal e Sol Campbell, o inverso.
No Brasil, talvez até pelo fato de o cargo ser recente no futebol, há alguns casos similares.
Já no mundo corporativo, ainda que muitos contratos contemplem cláusulas de “nom compete” – (não trabalhar no competidor imediatamente quando sai), há inúmeras mudanças para a concorrência, fato que pode ser explicado pela maior familiaridade do executivo com o setor, o que demanda uma curva de aprendizado menor. Somado a isso, a base de clientes e relacionamentos adquirida torna-se um ativo de extrema valia, isso sem entrar no mérito da inteligência competitiva, pois, por mais ético que se queira ser, é impossível não se utilizar de informações do antigo empregador.

Claro que nem tudo são flores, a possibilidade de um choque cultural existe, o que pode dificultar a adaptação. Dúvidas sobre a lealdade do novo CEO também acontecem, tal qual a relativa ao jogador rival que vem para o seu time.
Embora muitos citem problemas concernentes à resistência interna pelo fato de a empresa não aproveitar algum executivo “da casa”, penso que isso aconteceria, independentemente de o novo CEO vir da concorrência ou não. Concordo, no entanto, que a questão salarial pode interferir nesse contexto, pois, muito provavelmente, o salário para atrair um executivo do “competidor” costuma ser mais alto. Na lista de riscos, valem também ser incluídos os relativos à imagem, já que a busca externa pode vir a denotar alguma fragilidade na formação de talentos.
A propósito, na mesma época do anúncio a respeito da contratação do CEO do Tottenham, a Puma comunicou o nome do seu novo CEO: Arthur Hoeld, ex-diretor de vendas da rival adidas. Cumpre relatar que dois anos antes, em 2023, a adidas contratou para essa posição Bjorn Gulden, que ocupava o mesmo cargo na Puma.