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COMO LIBERARAM O ÚNICO CENTROAVANTE?

por Zé Roberto Padilha

Assistindo todo o heroico esforço dos jogadores do Vasco, que equilibraram a partida contra um time bem estruturado, como o Athletico Paranaense, ficou latente a falta que um centroavante faz.

Mesmo não atravessando uma boa fase, Pedro Raul jamais perderia os gols que o Figueiredo deixou de marcar sozinho na pequena área.

No futebol brasileiro, são cada vez mais raros os centroavantes. Há alguns anos o Vasco tinha o Roberto Dinamite e Waldir, o Flamengo, Romário e Nunes, o Botafogo, Cláudio Adão e Túlio Maravilha e o Fluminense, Washington e Assis.

Hoje, não está sendo fácil encontrar um homem gol. Aqueles que sabem se colocar, chutar bem, e cabecear com precisão. Pedro Raul fez história no Goiás, Botafogo e no Vasco caiu sobre si todo o mau momento do time.

Se estivesse em campo, dificilmente o Vasco perderia. Mas perder para o Toluca, do poderoso campeonato mexicano, e ficar sem um só centroavante, é um deboche. Uma piada sem graça de um clube que se tornou SAF.

Que clube empresa é esse que não consegue ter um camisa 9? E quando tem abre mão?

Desse jeito, só há mesmo um caminho aberto para o Vasco. E ele o leva de volta para a segunda divisão.

GRANDE ARMANDO NOGUEIRA

por Elso Venâncio, o repórter Elso

Desde 1954, na Suíça, Armando Nogueira trabalhou consecutivamente em 15 Copas do Mundo. O ‘Poeta do Esporte’ ainda cobriu sete Jogos Olímpicos. É o ‘Machado de Assis’ da crônica esportiva brasileira.

Nascido em Xapuri, no Acre, encantou-se com a seleção húngara do genial Ferenc Puskas, no mesmo Mundial de 1954. Esse timaço ficou dezenas de jogos invictos, perdendo apenas a final da Copa. Por isso, é lembrado e elogiado em várias crônicas de Armando. Aliás, três seleções assombraram o mundo da bola, mesmo não conquistando o caneco: aquela Hungria; a Holanda de Cruijff, em 1974; e o Brasil de Zico, Sócrates, Falcão, Junior e Cia., em 1982.

Botafoguense, Armando era amigo íntimo do seu ídolo, Nilton Santos, que, por sinal, o puxou pelo braço para dar a seu lado a volta olímpica, na Suécia, em 1958:

“Tu, em campo, parecia tantos e, no entanto, que encanto! Eras só um: Nilton Santos” – teceu Armando.

Formado em Direito, mas jornalista por vocação, Armando Nogueira lançou dez livros, todos de esportes, além de centenas de crônicas compiladas das colunas que escreveu em jornais e revistas. Participou também da ‘Grande Resenha Facit’, entre os anos 60 e 70, na TV Rio, ao lado de feras como João Saldanha, Luiz Mendes, Nelson Rodrigues, Hans Henningsen (o ‘Marinheiro Sueco’) e o ‘Queixada’ Ademir Menezes, ídolo do Vasco e artilheiro da Copa de 1950.

Por mais de duas décadas Armando foi um dos responsáveis por construir e solidificar a TV Globo. Diretor da Central Globo de Jornalismo, criou o ‘Jornal Nacional’, primeiro programa do país em rede nacional, além do ‘Globo Repórter’. Também foi o responsável por inserir o futebol na grade da tevê.

Durante o dia, Roberto Marinho ficava no jornal ‘O Globo’. Ao fim da tarde, ia para a emissora. Via o ‘Jornal Nacional’ ao lado de Armando Nogueira. Apenas os dois. Raramente chamava outro colaborador:

“Armando, por acaso o Boni foi visitar o Castor (de Andrade) na prisão?”

“Não sei” – a resposta foi seca.

No mesmo instante, Nogueira chamou José Bonifácio de Oliveira Sobrinho:

“Não gostei, Boni. Você foi ver o Castor?”

“Havelange me pediu. Estamos negociando os direitos da Copa…”

Armando Nogueira testemunhou o crime que, de certa forma, mudaria a história do país. Passava pela Rua Tonelero, em Copacabana, a caminho de casa, quando escutou tiros. Era o atentado contra o jornalista Carlos Lacerda, fato que levaria o Presidente da República Getúlio Vargas ao suicídio. De madrugada, voltou de imediato para o Diário Carioca, de onde escreveu uma bombástica matéria, em primeira pessoa e com riqueza de detalhes.

Na Churrascaria ‘Porcão’, em Ipanema, me encontrei casualmente com Telmo Zanini, que me apresentou ao filho de Armando, o Manduca:

“Meu Pai é louco por rádio, Elso.”

Pegou o aparelho e discou de imediato para o pai, me passando o telefone:

“Acompanho sempre o ‘Enquanto a Bola Não Rola.’”

Este programa acontecia todo domingo. Era um debate esportivo transmitido simultaneamente pela Globo-RJ e Globo-SP. Perguntei a Armando:

“Mestre, você participaria do programa?”

“Com prazer!”

Logo, tornou-se uma das principais atrações do programa. Nessa época, almoçávamos eu, Fernando Calazans, Paulo Cesar Vasconcellos e Armando. Este, de jaleco e tênis. Do nada, no intervalo entre uma garfada e outra, tirou uma gaita do bolso:

“É importante termos uma atividade lúdica. Virei gaiteiro, toco Bossa Nova.”

O grande Armando Nogueira faleceu aos 83 anos, em março de 2010, em seu apartamento na Lagoa, deixando um enorme legado para o Jornalismo Esportivo do Brasil.

COM O PÉ DIREITO

:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::

A Copa do Mundo feminina de futebol começou e tenho visto pouca repercussão nas mídias. Claro que o apelo ainda não é igual a edição masculina, mas fico feliz de ver a luta pela igualdade, as competições mais estruturadas e os clubes investindo cada vez mais na categoria.

O Brasil fez sua estreia ontem, contra o Panamá, e aplicou um belíssimo 4×0, com direito a um golaço que passou de pé em pé até o fundo da rede. Que orgulho ver a ginga do futebol brasileiro sendo representada pelas meninas!

A minha torcida nessa competição é para que as mulheres não tentem imitar os homens, sobretudo no comportamento, na falta de educação, nas simulações e na violência. O que eu mais gostaria de ver, para tirar conclusões, era um amistoso entre Seleção Masculina x Seleção Feminina. Não pelo resultado em si, mas pela diferença de comportamento, pelos carrinhos desenfreados, pelas simulações na cara de pau e por aí vai.

A estreia foi com o pé direito e espero que seja assim até o fim! Quem sabe as meninas não consigam dar a alegria que há mais de 20 anos estamos carentes?

No Campeonato Brasileiro, os homens, pra variar, deram um show de horror, mas não quero falar disso! Quero falar da postura do líder Botafogo, mesmo tendo levado dois gols. O grande lance foi manter a confiança até o fim e isso que faz um time vencedor. “Mas PC, o Botafogo levou sorte”. Sorte teve o Santos, que por pouco não levou a virada nos minutos finais.

Não é fácil enfrentar os times que estão nas últimas posições e o Flamengo sofreu isso na pele neste fim de semana. Conheço muitos flamenguistas que foram ao Maracanã esperando uma goleada e voltaram frustrados com o empate. Pois digo que, devido às circunstâncias da partida, o empate foi até um bom resultado para o rubro-negro, que ainda contou com a ajuda da arbitragem em lances polêmicos.

Ainda no Rio de Janeiro, o Vasco perdeu para o Athletico-PR e assumiu a lanterna. Triste ver um clube dessa grandeza em uma situação tão difícil em todos os aspectos, caminhando a passos largos para mais um rebaixamento. Coincidência ou não, depois da saída do Felipão, o Athletico-PR deslanchou. Por outro lado, desde que o treinador assumiu o Atlético-MG… kkkkk!

Estamos próximos do fim do primeiro turno, quais são as apostas de vocês?

Pérolas da semana:

“Para controlar a largura do jogo do adversário e qualificar a transição, a última linha de cinco espaça o terreno e proporciona jogadas agudas com intensidade”.

“O triângulo estrutural é a logística para armar o jogo reativo como modelo, sem desorganizar a compactação realizada pelos jogadores de beirinha”.

“Com o objetivo de recuar suas linhas, o treinador exige que o corredor centralizado faça ligações diretas para que o atacante entre no facão do movimento diagonal”.

Geraldinos, até quando vamos aturar essas malas?

PALHINHA, MAIS LÁGRIMAS

por Rubens Lemos

Soube da morte, aos 73 anos, de Wanderley Eustáquio de Oliveira, o Palhinha, causada por uma infecção não detalhada pela mídia digital. Palhinha era um dos meus ídolos.

Fez duplas encantadoras com Dirceu Lopes no Cruzeiro, Sócrates no Corinthians e Reinaldo no Atlético Mineiro.

Veteraníssimo, fez parte do Vasco campeão de 1982 na reserva de Roberto Dinamite e, vez por outra, trocando figurinhas com um jovem de 18 anos que seria o mais habilidoso da história cruzmaltina: Geovani.

Mais novos lamentaram pelo outro Palhinha, aquele que jogou no São Paulo de Telê Santana, no Cruzeiro, Grêmio, no Flamengo. Deus o conserve vivo. O Palhinha morto jogava bem mais do que ele.

Habilidade incomum, contava com a desconcertante malandragem aliada à coragem de bater em beques que o agrediam. Sua grande fase foi nos anos 1970 e 70.

Meus ídolos estão indo embora e chorei por Palhinha. Chorar é a alma que sangra sem contenção emocional, reveladora de minha devoção aos estilistas responsáveis pela minha felicidade menina. E meu estado de espírito. Chorei por Palhinha do jeito que chorei por Roberto Dinamite. Por Pelé, chorei quase uma semana.

Mudou o futebol, estou envelhecendo e começando a temer quem eu – na idiotice dos meus 30 anos -, achava poder questionar: o fim, a ida sabe-se lá para onde. Religiões inteiras tentam nos seduzir pintando céus e nuvens com arcanjos tocando harpas.

Outras, tentam se impor pelo medo, assombram, exibindo cadáveres e supostos depoimentos sobrenaturais, cutucando: sofreremos tanto quanto em vida em caso de suicídio, cujo tratamento, lúcido , deve ser médico e científico. Quem se mata, cansou de lutar pra viver.

Me coloquei na situação do Íbis, o pior time do mundo, goleado em duas divisões: vivo e defunto. Não vou duvidar, mas acho injusto e egoísta.

É preciso alguém sair da catacumba e esclarecer de uma vez por todas o que nos espera, se o paraíso ou o inferno. Se vamos sofrer antes e depois de virar alma penada.

Talvez, conceder uma entrevista coletiva espiritual e dirimir dúvidas de forma concisa e definitiva, conforme ensinam os manuais de boa comunicação.

O Corinthians passou 23 anos sem título e em 1977, seu time poderia ser chamado de medíocre, não fosse a bombástica contratação de Palhinha. De camisa 10, malandro, driblando, cavando pênaltis e faltas na entrada da área adversária, liderou os companheiros até a decisão em três jogos contra a Ponte Preta, que era bem superior.

No primeiro jogo, a sorte que sempre foi coligada ao seu talento, levou Palhinha a fazer o gol da vitória do Timão, cabeceando sem querer um chute do goleiro Carlos que fez a bola entrar, quebrando seu nariz.

No dia 13 de outubro, o Corinthians venceu por 1×0, gol do predestinado Basílio e Palhinha estava ausente. A foto do título – é a que vale -, não tem a fera do time. Dois anos depois, um Anjo Magro apareceu e, com Palhinha, construiu tabelinhas geniais.

A Ponte Preta apanhou outra vez, desta vez por 2×0, Palhinha fazendo um golaço e compensando a falta do confronto anterior. Armou a jogada do segundo gol, de Sócrates.

Vibrei com Palhinha e Reinaldo enfrentando o Flamengo de Zico e, na maioria das vezes, perdendo para a arbitragem. Palhinha honrava a camisa 10 nos dribles em centímetros e na antevisão dos lances, pensando antes e matando seus adversários. Reinaldo foi uma luz esplêndida e apagada pelas cicatrizes produzidas no seu corpo franzino.

Nada igual a um dos maiores zagueiros do mundo, o chileno Don Elias Figueroa. Do Internacional. Perguntado sobre qual atacante lhe causara mais infortúnios, foi taxativo: “Palhinha. Cobra dribladora que revidava a cada pancada dada por mim.”

Dos meus times de botão e de televisão em preto e branco, perdi, Orlando Lelé, Geraldo, Dirceuzinho, Jorge Mendonça, Roberto Dinamite, Toninho Baiano, Figueiredo e Geraldo Assobiador do Flamengo, Doval, Carlos Alberto Torres, Cléber, Zezé e Gilson Gênio do Fluminense, o esteta Mendonça do Botafogo.

Do ABC, Alberi, Moraes, Erivan, Demolidor, Dedé de Dora, Lulinha goleiro, Berg. Por cada um deles eles, choro. Lavando a tristeza que a cada dia mina minhas parcas forças. A esperança é o reencontro, se existir, como garantem os oradores da fé e eu duvido. Por ora, choro Palhinha. E aguardo, disciplinado, pela minha vez.

NO SEU BOTECO PREFERIDO – BIGORRILHO

por Mauro Ferreira

Botequins guardam em silêncio e a sete chaves a doce e exclusiva ciência de reunir o improvável. Na tentativa também improvável de revelar esses segredos e entender sua relação com a bola, iniciamos a série esportiva/etílica/investigativa “Museu da Pelada no seu boteco preferido”. Através de rodadas e mais rodadas de chope, petiscos e resenhas, vamos passear pelo espaço da conversa fiada e afiada, da cornetada sacana, das comparações entre o melhor e o pior, do mais gostoso e o “nem tanto assim”; do bom e do ruim, do pereba e do “joga pra caralho”. E, se rolar um pandeiro, um cavaco e um tamborim, a hora de acabar a resenha será sempre a manhã do amanhã de um dia qualquer…

No primeiro episódio… BIGORRILHO

Sexta-feira, hora do almoço. A calçada em frente à Praça General Osório, no Leblon, reúne uma fauna diversa. Advogados, jornalistas, atores, publicitarios e jogadores de futebol discutem temas variados e da maior relevância para o futuro da nação.

“Quem era melhor: Calçada ou Eurico?” Paulo Reis advogado do Vasco nos tempos em que a Colina tremia, sentencia: “Eurico como vice de futebol, Calçada como presidente”. É a resposta salomônica própria dos causídicos.

Os temas se sucedem. Chega a vez de Moreira propor novo debate. Lateral do Botafogo, cabelo tratado na tintura para disfarçar a idade, dispara: “Zico ou Fio Maravilha?” Sentado em um banquinho de barril de chope em volta de uma mesa de caixotes de cerveja, Carlos Alberto Pintinho reage indignado: “Moreira, cê tá de sacanagem, né?” Carlos Roberto, Acácio e Nielsen acompanham a indignação de Pintinho. “Oh, senhor Deus, perdoa. Ele não sabe o que diz”, reforça Carlos Roberto.

Por traz dos óculos de grau, Romulo, dono do Bigorrilho, boteco raiz cravado no número 814 da Ataulfo de Paiva, sorri como um menino. Homem criado entre os gráficos do mercado financeiro, resolveu comprar o estabelecimento para não ter que enfrentar outro gráfico: o eletrocardiograma de seu cardiologista. “Isso aqui não é um negócio. É minha terapia. Me salvou. Eu ia morrer se continuasse na bolsa”.

A resenha não para. Seis da tarde, e chegam mais e mais frequentadores ilustres . David Pinheiro, o Sambarilove da Escolinha do Professor Raimundo, se junta à turma. Vira tiete, pede foto, autógrafo, e entra no debate munido de um copo de uísque “on the rocks”: “Preciso deixar a mente leve. A turma aqui tem conhecimento”.

Os temas se sucedem. Risos, gargalhadas, causos, discussões. No calçadão da Ataulfo, o Bigorrilho brilha em luz verde. Todos os dias. Mas, na sexta-feira… na sexta, na hora do almoço, a luz é bem mais intensa.

E é só chegar. O Romulo recebe com sorriso de menino levado e feliz estampado no rosto.