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A ONDA ÁRABE

por Idel Halfen

Os que acompanham mais de perto o futebol certamente estão vendo um movimento de contratações milionárias pelos times da Arábia Saudita. Cristiano Ronaldo saiu do Manchester United, Benzema do Real Madrid e Kanté do Chelsea para jogarem no futebol asiático, sendo que o salário desses dois últimos somados, segundo se especula, é maior do que a folha de sete times da Premier League da Inglaterra. 

Na verdade, a onda de investimentos no futebol por parte de países sem tradição na modalidade não é algo inédito. Já aconteceu no Japão, nos Estados Unidos inicialmente com o Cosmos de Pele e posteriormente com a criação de uma liga nos moldes das demais modalidades de esportes profissionais no país, na China e agora na Arábia Saudita.

Ainda que sejam movimentos parecidos, afinal os investimentos focam a contratação de jogadores e, algumas vezes, a busca por sediar competições importantes, no caso da Arábia Saudita a situação é um pouco diferente.

Vale adiantar que não discutiremos aqui questões políticas, tampouco focaremos o marketing sob o prisma da associação do esporte com entidades que se utilizam de práticas que contrariam os valores embutidos na atividade.

Também não creio que valha a pena debater no momento a eficácia da iniciativa no que tange ao desenvolvimento do futebol na região.

A ideia aqui é mostrar o aspecto estratégico envolvido na ação. 

Detentora da segunda maior reserva do mundo, atrás apenas da Venezuela, a Arábia Saudita tem o petróleo como responsável por 42% do PIB, 87% das receitas orçamentárias e 90% das receitas com exportação, o que denota uma extrema dependência dessa fonte.

Atento ao risco, o príncipe herdeiro do país anunciou em 2016, o plano Saudi Vision 2030, que tem como foco aumentar o comércio e o investimento não petrolífero no país, privilegiando setores como esportes e entretenimento. 

Já como frutos do plano, podemos citar, entre outros, além das contratações citadas acima:

  • A compra do Newcastle United FC por US$ 408 milhões em 2021.
  • O contrato de US$ 650 milhões com a Fórmula 1,  que garante a realização do Grande Prêmio da Arábia Saudita anualmente. 
  • A realização de eventos de boxe que, segundo comentam, custaram US$ 150 milhões.
  • A aquisição da ESL Gaming, uma das maiores entidades de eSport do mundo por US$ 1,05 bilhão, além da compra da FACEIT, uma das maiores organizadoras de torneios de eSports por US$ 500 milhões, operação que redundou na fusão entre as  duas empresas para formar o ESL FACEIT.
  • Uma espécie de estatização que envolveu quatro clubes, três dos quais abrigam os jogadores mencionados no primeiro parágrafo.

Gratifica ver que, diante de inúmeras oportunidades de investimento, o esporte foi uma das opções adotadas para geração de receitas.

Trazendo para o universo corporativo, a Arábia Saudita agiu como uma empresa que tem um único produto, o qual, por sua vez, é comprado por poucos clientes que proporcionam ótimas receitas. Preocupada com a dependência, resolve sair da zona de conforto e desbravar novas oportunidades, criando assim alternativas para o futuro.

O POLÊMICO ‘SENADOR’

por Elso Venâncio, o repórter Elso

EURICO MIRANDA, o mais conhecido, influente, atrevido e temido dirigente brasileiro, terá sua história contada na Globoplay

‘Senador’ era o apelido do Eurico Miranda entre amigos e aliados.

“Para que contrato?”, costumava perguntar. “Já rasguei vários.”

Eurico era de palavra. Foi o mais conhecido, influente, atrevido e temido dirigente brasileiro, por quase 40 anos.

“Doutor”, o supervisor Isaías Tinoco pediu atenção para avisá-lo. “Odvan sentiu e não joga.”

“Mande-o concentrar”, foi a resposta.

Eurico tinha verdadeira adoração por Romário. O então deputado estava no avião do Flamengo, que jogaria em Brasília, quando o ‘Baixinho’ o provocou:

“Vai ao show amanhã?”

“Você é o show”, Eurico retrucou, quebrando o camisa 11.

Na briga com a mais forte emissora de televisão do país, que havia feito um Globo Repórter para difamar o cartola, sua resposta foi mais rápida que tiro. Nem Sílvio Santos sabia que o Vasco entraria com o logotipo do SBT em plena decisão de Brasileiro.

Centralizador, seus métodos eram extremos. Em 2002, expulsou o maior ídolo do clube da tribuna de honra de São Januário. Roberto Dinamite estava na oposição, articulando para tentar a Presidência do Vasco.

Na época de Eurico, arbitral na Federação não demorava. Quando muito, durava poucos minutos. Na realidade, as decisões eram tomadas antes mesmo da reunião.

“Tabela, regulamento, cota de televisão generosa para os clubes de menor investimento…”

O Flamengo se revoltou por receber cota igual à do Vasco. Eurico fez pouco caso:

“Ata Assinada: 15 a 1!”

Eu ancorava, na Rádio Globo do Rio de Janeiro, o ‘Pré-Jogo’, o intervalo e o final das jornadas esportivas. De repente, o telefone tocou. Do outro lado da linha, ouviu-se a voz irritada do Governador:

“Me bota no ar! Acabou o jogo!”

Vasco x São Caetano decidiam a Taça João Havelange. São Januário entupido, com quase 40 mil presentes. Corre-corre, brigas, cenário de suspense. Até que o alambrado cedeu e duzentos feridos precisaram ser atendidos no campo. O dirigente tinha pressa, queria ver a bola rolando. Tratou, pessoalmente, de retirar as vítimas.

“TÁ NO AR!”

Anthony Gatotinho entrou e anunciou:

“Não tem mais jogo!”

Eurico reagiu:
“Frouxo e incompetente… Esse Governador é viad…”

A Justiça determinou o pagamento de meio milhão de reais ao político.

Em 1989, Eurico chefiou a delegação da seleção que conquistou a Copa América, título que o Brasil não celebrava havia quatro décadas. Do cargo Eurico saiu por vontade própria, após contratar Bebeto para o Vasco. De fora, previu:

“O Brasil não passa das oitavas de final, na Copa do Mundo da Itália.”

Não deu outra. Caniggia fez o gol da Argentina, após receber passe açucarado de Maradona no Estádio Delle Alpi.

Eurico Miranda, que trocou os cigarros pelas baforadas do Cohiba Siglo II, tinha inimigos, sim. Mas também muitos fãs e amizades que o defendiam e brigavam por ele.

Com o Bank Of America, foi claro:

“Vocês entendem de dinheiro, mas não de futebol.”

A parceria de três anos fortaleceu o esporte amador e olímpico do Vasco. Ainda rendeu títulos no futebol, como Brasileirão e Libertadores. Mas também trouxe dívidas e processos na Justiça.

Eurico se insurgia contra o maior rival:

“Eles não têm estádio. Que papo é esse que o estádio do Flamengo é o Maracanã?”

O Vasco vencia o Internacional, em Porto Alegre, por 3 a 0, mas acabou cedendo o empate. Na sequência, jogando em casa, em um sábado à tarde, fez 2 a 0 no Cruzeiro, mas novamente levou dois gols.

“Isaías… reapresentação na terça à tarde, OK?”, inquiriu Eurico.

Oswaldo de Oliveira, que estava próximo, alertou o dirigente que essa decisão não lhe competia. Eurico sequer ouviu:

“Muda para segunda de manhã, Isaías”, ordenou, de bate-pronto.

“Não! Eu sou o técnico”, arguiu Oswaldo.

“Então, tá demitido! Fora!!!”

Imagina a reação dele hoje, ouvindo Barbieri depois da derrota de 1 a 0 para o Santos, em São Januário:

“Santos é time grande. Nunca caiu!”

Aos domingos, Eurico reunia a família num churrasco. Sempre que se lembrava da mãe, emocionava-se na cobertura da rua Coelho Neto, em Laranjeiras. Nesse endereço, foi assaltado certa vez, na entrada da garagem, após vitória sobre o Flamengo por 1 a 0. Levaram a parte da renda que cabia ao Vasco – na época, cerca de 75mil reais.

O mais polêmico dirigente de futebol do país faleceu em março de 2019, aos 74 anos, em razão de um tumor no cérebro. Sua história será contada em breve, na Plataforma Globoplay.

ATÉ QUANDO?

::::::: por Paulo Cézar Caju :::::::

Eu tinha tudo para estar feliz, soltando fogos, com a vitória do Guardiola e, consequentemente, do futebol arte na Liga dos Campeões, mas conseguiram me irritar! É sempre assim, essas hienas da hipócrita imprensa só reconhece e valoriza depois que vem o título.

Nos tempos de jogador, Guardiola era um volante clássico, fino, de toques na bola, que dava gosto ver jogar. Quando se tornou treinador, além dos atributos essenciais que aprendera dentro de campo, se desenvolveu ainda mais e o resultado está aí.

Para refrescar a memória de vocês, vou lembrar os feitos do espanhol até aqui. Foi ele o responsável por transformar aquele Barcelona que conquistou a Liga dos Campeões e encantou o mundo com um toque de bola que deixava os adversários na roda. Na sequência, depois de ganhar tudo, topou o desafio de assumir o Bayern de Munique e fez o milagre de transformar o futebol físico e de força alemão em um futebol bacana de se ver, trazendo resultados expressivos.

No City, chegou com a missão de fazer o clube conquistar sua primeira Liga dos Campeões da história e, depois de bater na trave, quando perdeu injustamente para o Chelsea nos pênaltis, conseguiu neste fim de semana o que ele tanto merecia! Eu, como jogador de uma geração que sabia jogar bola, fico muito feliz com a visão que esse cara tem! Inclusive, ele já declarou algumas vezes que se inspira nas Seleções de 70 e 82 para implementar seu estilo de jogo. O título só veio para calar a boca daqueles que o criticavam.

Sabe qual é o pior? Tem gente comparando o Abel Ferreira ao Guardiola… kkkkkk! Com todo respeito, o treinador do Palmeiras nunca comandou nenhum grande de Portugal, chegou ao pobre futebol brasileiro, um cemitério de veteranos que são rejeitados na Europa, e vive dando péssimos exemplos de comportamento na beira do gramado. Neste fim de semana, por exemplo, quase saiu na mão com Calleri após uma dividida dentro de campo. Não lembro a última vez que vi uma situação tão tosca no futebol!

Sei que já bati nessa tecla várias vezes, mas até quando vão deixar esse português agir assim de forma impune? Pior que isso, até quando a imprensa vai continuar exaltando esse cara que não jogou em lugar nenhum?

Pérolas da semana:

“Com um tipo de encaixe que favorece a ligação direta, o jogador de beirinha procura chapar na orelha da bola para surpreender e atacar as linhas verticais e diagonais da marcação alta”.

“Para providenciar um losango no último terço do campo, a leitura de jogo se faz de área à área, de forma consistente, de modo que o atacante agudo aproveite a segunda bola central”.

MESMO COM O SANGUE COAGULADO, EU SEMPRE IREI DE TORCER

por Reinaldo Sá

O coração rubro é cativante mesmo tendo poucos títulos, mas a sua relevância no contexto futebolístico nacional, não pode ser apagada. Mesmo que os gênios dos bastidores tentem, não dá para ofuscar a trajetória rubra. Comandada à época pelo Almirante Álvaro Grego, que obteve um honroso terceiro lugar que na Taça de Ouro de 1986, depois de ser eliminado pelo São Paulo, a equipe americana sofreu um baque em suas estruturas sentido até os nossos dias atuais.

Quando foi criada a Copa União em 1987, a CBF alegou que não tinha condições estruturais para financiar o torneio que se intitulava como campeonato. Daí surgiu a primeira liga brasileira, que foi o Clube dos Treze, e tinha mais três convidados mais bem ranqueados, tais como o Náutico, Santa Cruz de Pernambuco e a Portuguesa de Desportos de São Paulo, que formavam o módulo verde, equivalente hoje a primeira divisão. Já o módulo amarelo seria a segunda divisão, e nessa estava incluído o América, terceiro colocado da temporada de 1986, o vice campeão brasileiro Guarani e o Sport Clube do Recife, de onde haveria um cruzamento dos dois melhores colocados em cada módulo. A direção do América, com o apoio do ex-presidente da CBF e também ex-presidente Giulite Coutinho, não aceitou esse regulamento e decidiu por não disputar o torneio, contando com o apoio de Guarani e Sport, que optaram por disputar o módulo amarelo. Nos bastidores o clube rubro não obteve o apoio dos representantes do Clube dos Treze, tendo à época Carlos Miguel Aidar, presidente do São Paulo, e Márcio Braga, presidente do Flamengo.

Sendo assim, a CBF puniu o América ao rebaixamento para a terceira divisão do campeonato nacional. Vários gestores passaram pela antiga sede da Rua Campos Salles 118 e não conseguiram reverter o quadro de caos em que a equipe rubra foi colocada injustamente. Daí veio o declínio no âmbito regional e, antes da virada do milênio, a sua nova casa situada em Edson Passos, na Baixada Fluminense, foi um progresso não bem entendido por seus fervorosos torcedores em pequena escala, longe da mídia oficial, porém presente nas redes sociais.

O futuro é incerto pois a luta por um lugar ao sol é árida, seca e solitária, mesmo que as estatísticas mostrem que o América está entre o 50 maiores clubes do Brasil. Hoje o que sobrou do pavilhão foram os escombros para a construção de um shopping em que a nova sede estará inserida nela e as disputas na Segunda Divisão do estadual carioca e a Copa do Rio. Daí vai a frase, Deus salve o América.

UMA COISA JOGADA COM MÚSICA – CAPÍTULO 13

por Eduardo Lamas Neiva

Carmen Miranda deixou o palco mais uma vez muito aplaudida, Leônidas se despediu do Além da Imaginação à francesa e os 4 amigos retornaram à resenha, mantendo o Diamante Negro no comando do ataque.

João Sem Medo: – Meus amigos, mesmo campeão em 35 pelo Botafogo, depois de ter jogado no Vasco, Leônidas deixou o clube por causa do racismo. E foi parar no Flamengo, onde foi campeão carioca em 39.

Garçom: – É verdade que o Flamengo começou a ganhar mais torcida por causa dele? É o que ouvi falar.

João Sem Medo: – Depois da Copa de 38, principalmente, Leônidas virou até garoto-propaganda de chocolate, cigarro…

Idiota da Objetividade: – Leônidas foi um dos homens mais populares do Brasil na década de 40, dividindo as honras com Orlando Silva, o Cantor das Multidões, e o presidente Getúlio Vargas, conhecido como o Pai dos Pobres.

Sobrenatural de Almeida: – É, Leônidas ajudou o Flamengo a se tornar popular, mas quando o São Paulo veio ao Rio com um caminhão de dinheiro para contratá-lo, nenhuma viva alma rubro-negra foi se despedir do ídolo na Central do Brasil. Isso foi assombroso.

Ceguinho Torcedor: – Mas na capital paulista foi recebido por uma multidão de filme épico. Até o prefeito o carregou nos ombros. Foi uma festa que parou a cidade.

Idiota da Objetividade: – Leônidas fez o São Paulo conquistar cinco títulos paulistas na década de 40 e começar a rivalizar com Palmeiras e Corinthians, formando o grande Trio de Ferro da Terra da Garoa. O Homem-Borracha, como Leônidas era conhecido também, levou o São Paulo aos títulos paulistas de 43, 45, 46, 48 e 49.

Garçom: – Tem uma música aqui que é perfeita pra ilustrar isso aí.

Zé Ary vai ao notebook do bar, ajeita as caixinhas e seleciona a faixa 5 do site de Hélio Ziskind.

Clique para ouvir!

Todos ouvem com atenção, muitos até aplaudem ao fim da execução da música, apesar de o artista não estar presente ao local.

Ceguinho Torcedor: – Leônidas da Silva foi um gigante do nosso futebol!

Garçom: – Fico curioso pra saber por que ele não defendeu a seleção brasileira na Copa de 50?

João Sem Medo: – O técnico Flavio Costa tinha uns problemas com ele, Zé Ary.

Idiota da Objetividade: – Leônidas da Silva acabou não sendo convocado para a Copa do Mundo de 1950 pelo técnico Flavio Costa, porque ambos  tinham desavenças desde os tempos de Flamengo. Muitos anos mais tarde, Flavio Costa admitiu ao jornalista Andre Ribeiro, que escreveu uma biografia de Leônidas, ter errado ao não convocar o Diamante Negro para o primeiro Mundial de Futebol realizado no Brasil. No ano seguinte, em 1951, encerrou a carreira e foi treinador do São Paulo em 73 jogos.

Sobrenatural de Almeida: – É, mas ele mesmo disse que não se deu bem como treinador, porque tinha um temperamento muito difícil.

Ceguinho Torcedor: – Isso é típico dos gigantes, daqueles que se entregam de alma. E o que me importa são os atos, os sentimentos. É a alma que está em questão.

Idiota da Objetividade: – Posteriormente foi o primeiro jogador a se tornar comentarista de futebol. O Diamante Negro foi um comentarista de rádio dos mais laureados.

Os outros três: – Laureados, Idiota?

João Sem Medo: – Ele quis dizer premiados, um dos comentaristas mais premiados.

Idiota da Objetividade: – Exatamente. E o hino do São Paulo, embora composto por Porfírio da Paz em 1935, só foi oficializado em 42. Justo quando Leônidas estava chegando por lá.

Músico (do palco): – Tinha uma estrofe que falava do Palmeiras, mas não era o Palestra Itália, e sim a Associação Atlética Palmeiras, que se fundiu ao Paulistano para dar origem ao São Paulo. Pra evitar confusões, Porfírio trocou na última estrofe Palmeiras por Floresta, local onde ficava o clube tricolor, e a letra ficou “Do Floresta também trazes um brilho tradicional” em vez de “Do Palmeiras também trazes um brilho tradicional”. Vamos tocar aqui pra vocês.

Os são-paulinos presentes, muito entusiasmados, cantaram junto com o grupo e fizeram uma grande algazarra no fim da execução do Hino tricolor. Respeitosamente, os demais aplaudem.