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A COPA DE 86 CONTINUA VIVA EM MIM

por Marcos Vinicius Cabral

Por esses dias, tomando meu sol no terraço de casa em companhia de Bidu, meu dachshund de 12 anos, relembrei do dia 21 de junho de 1986. Não me perguntem o porquê da lembrança, mas recordei-me do jogo.

Eu, garoto de quase 13 anos, que amava Beatles, The Smiths, e Rolling Stones no cenário internacional, e Titãs, Barão Vermelho, e Legião Urbana no BRock dos anos 1980, era mais um sentado no chão no meio de uma multidão apinhada de torcedores na Avenida 70, como era conhecida a vila de moradores ao lado da fábrica Fluminense de Tecidos no Barreto, em Niterói.

Muitos ali – inclusive o pusilânime que escreve – ansiavam pelo título que seria o tetracampeonato mundial que os deuses do futebol não permitiram a talentosa geração de 82 conquistar em gramados espanhóis.

Brasil e França queriam mostrar ao mundo um futebol capaz de vencer a desconfiança e o insuportável calor que fazia no Estádio Jalisco, em Guadalajara. A partida, válida pelas quartas de final da Copa do México, colocaria frente a frente dois gênios da bola: Platini, ídolo da Juventus, e Zico, maior jogador da história do Flamengo.

Com a cabeça de Bidu refestelada sobre meu pé-esquerdo, o sol aquecia nossos corpos e lapsos de memórias faziam-me, de forma involuntária, lembrar de lances daquela partida memorável.

Vestido com a camisa branca do Flamengo – a mesma do título mundial de clubes em 81 – número 10 que meu saudoso pai me deu de presente por passar de ano no colégio, eu era mais um no meio da multidão.

De olhos fechados, enquanto Bidu fazia um dos meus pés de travesseiro e dormia, lembrei perfeitamente daquela tarde de sábado, 21 de junho. Lá se vão 16 anos do tricampeonato mundial da Copa do Mundo no México, no qual o Brasil brilhou com Pelé, Jairzinho, Rivellino, Tostão, Gerson, Carlos Alberto Torres e Cia.

Mas naquele 21 de junho, o dia estava estranho. Sobejamente estranho. Muito mesmo. Os fantasmas da Copa de 82 voltavam quatro anos depois para assombrar.

Enfrentaríamos no México a matreira Seleção da França, com meio-campo afinado por músicos de uma orquestra parisiense: Giresse, Tiganá, Platini e Fernández.

O mundo parou para assistir Brasil e França. Quem passasse encararia Alemanha Ocidental na semifinal. O time de Telê Santana estava alquebrado e nem de longe parecia com o de 1982, a dos desfiles encantadores e marcantes na terra de Pablo Ruiz Picasso (1881-1973).

Rubro-negro, prestes a completar 13 anos, sofri porque jogadores que me encantaram quatro anos antes não eram mais os mesmos: Éder não foi, Leandro se negou a ir, Falcão não vivia bom momento, Cerezo cortado, e a categoria de Sócrates (1954-2011), já no Flamengo, não era a mesma. Além deles, Renato, que voava, não foi chamado.

Outra injustiça foi a não presença de Roberto Dinamite (1954-2023) no México. Para piorar a situação e desespero de todos, desfigurava-se o timaço de 1982. As ficham estavam apenas em um jogador que atendia pelo nome de Zico.

Restava Zico. Corajoso, extraía forças sabe-se lá de onde para enfrentar uma gravíssima contusão de ligamento no joelho e jogar a terceira Copa do Mundo na carreira.

Melhor camisa 10 que vi jogar, o Galinho de Quintino fez o possível e impossível para estar dentro de campo em condições de jogo.

Viu o joelho direito ser assassinado pelas travas da chuteira do miliciano Márcio Nunes, do Bangu, naquele nefasto 29 de agosto de 1985, no Maracanã. Mas Zico reforçou a musculatura da perna e treinou como um louco. Normal que o corpo respondesse tamanha dor sentida.

O medo pairava no ar. Como curativo emocional, em silêncio, dizíamos nas mais secretas introspecções: “Eles têm o Platini, e nós, o Zico”.

Com atuações discretas, mas com outro significado de jogar futebol, o Brasil havia percebido a entrada de Zico contra Irlanda do Norte e Polônia.

Se não foi o jogador decisivo, nosso 10 impôs categoria, driblou, lançou e viu espaços que outros jogadores dificilmente enxergavam.

Roendo unhas e com nervos à flor da pele, acompanhei o jogo diante do aparelho de TV colocado em frente da casa de Toninho Carcará e dona Eleuza, pais de Luiz Antônio, Carlos e Kátia.

Gritamos em alto e bom tom e vibramos muito quando Muller e Junior tabelaram para Careca abrir o placar.

O Brasil tocava a bola pondo os bléus para bailar. Até que um cruzamento despretensioso de Rocheteau desviou em Branco e proporcionou o empate. Gol de Platini.

Minutos depois, chamado, Zico substituiu Muller. Ao receber a bola de Junior, aos 27′ do segundo tempo, no círculo do meio-campo, nosso camisa 10 enfia na medida para Branco, que faz o ‘facão’ e é derrubado por Joël Bats.

Ioan Igna, árbitro romeno que apitava o jogo, marca o pênalti. Zico bateu e perdeu. Com o coração apertado, chorei. Minhas lágrimas tinham endereço certo: não eram pela Seleção Brasileira, mas por Zico. Fim de jogo. O 1 a 1, por incrível que pareça, despertou em mim o pragmatismo de um garoto de apenas 12 anos.

Minutos tonitruantes de uma prorrogação nervosa e a insuportável disputa por pênaltis em seguida. Sócrates e Júlio César perdem. Zico faz. A França comemorou a vitória, embora Platini tenha chutado a cobrança por cima da meta de Carlos.

Ao fim de tudo, a TV foi desligada. As bandeirinhas nas cores verde e amarelo sendo arrancadas pelos vizinhos. Uns, esboçavam raiva, outros, eram desânimo em forma de gente. Camisas eram retiradas do corpo para esconder o rosto e disfarçar o indisfarçavel choro de quem não acreditara no que acabara de presenciar.

A tristeza não era comparada à Copa de 82, claro, mas doeu muito. Fez sangrar um machucado chamado esperança que estaria encascado por quatro anos.

Difícil foi ir à escola na segunda-feira, dia 23, e seguir normalmente a vida. Ver meu saudoso pai acordar cedo para ir trabalhar. Receber as contas de luz, água, IPTU e observar ruas sendo desarrumadas. Juntar os cacos da derrota para, arrebentado por dentro, ter que esperar pelo quarto título na Copa do Mundo seguinte.

Mas eu, queria alguém para conversar. Muitos ali também queriam. O silêncio fez barulho. E o que antes era celeuma se transformou na perda de algo valioso para alguns ali, inclusive para mim, que garoto, engoli a seco o grito de “campeeeeeããããooooo!”.

Passados 37 anos, confesso que queria no apito final do árbitro, abraçar Junior e Zico, jogadores do meu Flamengo. A vontade era desligar o interruptor deles com o mundo. Preservá-los das críticas. Distanciá-los dos abutres que adoram momentos como esses para aparecerem.

Entendi, depois de certo tempo, que no futebol, há coisas que não se podem explicar aos normais. Para entender determinadas derrotas, como essa contra a França, em 86, no México, ou a contra a Itália, em 82, na Espanha, só sendo louco mesmo.

Quem sabe que, uma das maiores inexplicabilidades do futebol, talvez, seja a geração de Leandro, Sócrates, Cerezo, Junior, Careca, Edinho, Falcão, Éder e Zico não ter conquistado uma Copa do Mundo.

Pode ser. Mas para aquele garoto de apenas 12 anos, fechar os olhos e lembrar daquela Copa do Mundo de 1986 dói no corpo. Fere a alma. Torna o espírito torcedor pequeno, do tamanho de um grão de mostarda. A Copa do Mundo de 86 ainda não terminou.

UMA MÁQUINA DE SONHOS

por Zé Roberto Padilha

O relógio do Mineirão marcava 44 minutos do segundo tempo, em uma época em que ainda se permitiam relógios nos estádios de futebol. Eles que ajudavam a torcida vitoriosa ficar berrando para o juiz acabar o jogo, e a que tivesse perdendo implorasse alguns minutos a mais. E o escanteio era a nosso favor. O placar apontava Cruzeiro 1×1 Fluminense, e o Campeonato Brasileiro de 75 se aproximava do fim.

Paulo César Caju, nosso camisa 8, foi batê-lo e ao notar mais homens de azul do que tricolores no interior da grande área, gritou para eu encostar e trocar passes na linha de fundo, junto à bandeirinha, até o tempo se esgotar. O empate fora de casa, a duas rodada do fim, já nos classificava. Esgotado por correr 89 minutos naquele gramado fofo, vigiando de perto os mísseis do arsenal do Nelinho, recusei o convite.

E me plantei na intermediária. A pressão do Cruzeiro era insuportável e certamente viria um contra-ataque após a cobrança do escanteio. Nosso centroavante, Manfrini, não era alto. E até o Edinho, nosso melhor cabeceador, não se arriscou a atravessar o campo.

Mas PC parecia não ter mais força sequer para alçar aquela bola. E continuou a berrar: “Encosta aqui ô juvenil!”. Mesmo começando a minha carreira e diante das ordens de uma velha raposa tricampeã do mundo, resisti. E devolvi o grito da linha do meio de campo. ” Joga essa po… lá pro abafa!”.

Contrariado, Paulo César bateu o corner direto. A bola fez uma curva incrível e enganou o goleiro Raul, que caiu dentro do gol enroscado com ela. E um gol inesquecível, olímpico, garantia de vez a nossa presença nas semifinais do Brasileiro junto ao Inter, Corinthians e o próprio Cruzeiro.

Como sonha todo mundo no país do futebol, eu era jogador de um grande time quase imbatível, cujo goleiro, Félix, era uma lenda tricampeã mundial. Nas laterais, dois modernos apoiadores: um mais forte, Toninho Baiano, que chegava rapidamente à linha de fundo, outro mais técnico, também tricampeão mundial, chamado Marco Antônio.

Na zaga, um jogador experiente, dono de um chute impressionante, chamado Silveira. Ao seu lado, um fenômeno de 19 anos, Edinho, se apresentava ao futebol. Zé Mário, um incansável e inteligente cabeça de área nos protegia, deixando espaço para o livre pensar de duas genialidades: Rivelino e Paulo César Caju. No ataque, a explosão e o oportunismo do Búfalo Gil, ao lado da inteligência natural de um Manfrini, decidiam tudo a nosso favor.

Nesse paraíso da bola rolando, eu, tricolor fanático desde criancinha, ganhara de presente a camisa 11. E percorria, com e sem a bola, os quatro cantos do Maracanã, do Mineirão, do Serra Dourada, onde quer que o Fluminense se apresentasse feliz toda vida. Vestia a camisa que era minha bandeira nas arquibancadas e trocava passes com meus ídolos. E ainda por cima era pago para isso.

E quando estava próximo de mais um título, depois de ganhar invicto a Taça Guanabara, o Campeonato Carioca e encantar o Torneio de Paris, o relógio tratou de me despertar.

Decepcionado, me levantei naquele dia de um sonho inesquecível e fui tomar meu café pra lá de mal- humorado. Porém, antes de sair para o trabalho, na Prefeitura de Três Rios, passei pela sala e me deparei com poster da Revista Placar. Para minha alegria, nele vi a minha foto em meio a todas aquelas feras. E aquela imagem me fez recordar uma passagem inesquecível de minha vida como atleta profissional de futebol.

Que bom saber que tudo aquillo fora realmente vivido e jogado. E que apesar de vir evitando maiores decepções ao recordar a dura realidade com a qual nós, ex-atletas, nos deparamos após nossa precoce retirada do cenário esportivo, fiquei feliz ao descobrir que poderia, e não me seria proibido. mesmo que dormindo, relembrar com orgulho cenas da minha vida esportiva sem o trauma que machuca a maioria dos meus colegas.

Aquelas feras que construíram a nossa admirável história, verdadeiros ídolos que, uma vez abandonados, se entregaram às lembranças nas mesas dos botequins. Sem a justa aposentadoria, estudos que poucos tiveram acesso, muitos ainda circulam entre o álcool, a jogatina e as drogas.

E levam retratinhos do time no bolso da camisa, como a provar que um dia foram importantes na vida esportiva de um país que vive a lhes virar as costas.

* texto do livro “Crônicas de um ex-jogador”, disponível como e-book na Amazon e Cultura.

PASSADO E PRESENTE

por Serginho 5Bocas

Às vezes me questiono se o futebol do passado era melhor ou pior do que o do presente. O bom senso recomenda ter prudência numa análise deste tipo, porque podem ter fatores bons e ruins para cada lado da balança, é só não se deixar levar. Pensando nisso, elenquei alguns pontos observados para a nossa resenha:

No passado recente, jogadores costumavam vibrar quando faziam gols e a torcida também dava um sonoro “uhhhhh”, para bolas na trave e dribles desconcertantes.
Hoje, é comum vermos jogadores que vibram exageradamente chegando a cerrar os punhos, quando dão um chutão pra lateral ou um carrinho, daqueles feios ou criminosos, que sujam a bunda e a dignidade do jogador, puro jogo de cena lamentável.

Antigamente, a gente sofria com as atrasadas de bola para o goleiro, quando um time tentava segurar um resultado, fazendo “cera”. Argentinos e uruguaios eram os mestres da “milonga” futebolística. Atualmente, é comum e irritante ver seu time bater um escanteio e observar sem acreditar que a bola está sendo recuada do córner até o goleiro do seu time, por falta de habilidade ou de culhão mesmo, sob a desculpa de que está atraindo o adversário para ficar em maior número ou para manter a posse de bola. Então tá, me engana que eu gosto.

Sempre existiram jogadores “catimbeiros”, que simulavam ter sofrido faltas para ganhar tempo ou irritar o adversário. Mas atualmente tenho a sensação que essas mesmas e terríveis simulações desagradam mais. Não que seja uma novidade, mas porque as inúmeras câmeras que agora transmitem o jogo, nos revelam toda a malandragem ou falta de ética das simulações grotescas e ridículas, fazendo a gente se envergonhar, até mesmo com nossos próprios jogadores.

No passado, não tão distante assim, os árbitros toleravam muitas reclamações dos jogadores e, por essa postura, tinha muito jogador que mandava no jogo. Agora a FIFA orientou os árbitros a aumentarem o rigor, chegando a tolerância zero com as irritantes reclamações. Não acho que chega a ser errado, mas o esquisito é que não se usa o mesmo critério para as agressões desleais, tolerando as entradas violentas com muita parcimônia e paciência, gerando em muitos casos o revide da vítima e a expulsão conjunta.

É límpido e claro na minha retina que os goleiros do passado quase não usavam os pés durante a partida. O primeiro que eu vi demonstrando até uma certa habilidade, apesar dos riscos, foi o “paredão” argentino Ubaldo Fillol, quando veio defender o Flamengo na década de 80, em substituição ao também lendário Raul Plassman. Fillol foi um suspiro de inovação, apesar dos gols de cobertura que levou. Depois dele, só veríamos de novo aquele jeito de jogar com os famosos Higuita e Jorge Campos. Hoje em dia, goleiro jogar com pé já está sendo um requisito para a posição, mas confesso que é coisa para cardíaco ou quem está a fim de ficar. Acredito que é um processo lento e nem todos os arqueiros estão aptos para a tarefa. Apesar dos riscos, a ideia está com pinta que veio pra ficar.

Antigamente a gente via os técnicos sentadinhos no banco de reservas, sem dar um “pio”. Tenho saudades da época em que os treinadores passavam a semana tramando o que seria apresentado no jogo e tinham o intervalo e a substituições para reverter algum ponto. Hoje, os treinadores parecem que estão em transe, gritando e se descabelando na beira do campo, que faz parecer que é um traço de modernidade de nossos professores ou “misters”. Nem vou falar da falta de educação das palavras e dos gestos que eles exibem quando são contrariados por alguma marcação dos juízes, mas hoje ficar gritando sem ser ouvido, com as vozes encobertas pelos gritos das torcidas, passam a impressão de sapiência qualidade.

No tempo em que Don Don jogava no Andaraí, Oto Glória fez sucesso na terrinha, levando os patrícios a um honroso terceiro lugar na Copa de 1966. Felipão, após ser campeão do mundo com o Brasil em 2002, desceu em Portugal e levou os caras a uma final de Eurocopa e uma semifinal de Copa do Mundo em 2006. Agora é um tal de português desembarcar por aqui, que fica parecendo que ser treinador português é certificado de qualidade e garantia de sucesso. Como o mundo dá voltas.

Quando eu era moleque, adorava escutar jogos no rádio para ouvir a emoção da voz dos locutores, narrando as grandes jogadas e ouvir as entrevistas com os jogadores na saída de campo, quando se colhia impressões da partida e pérolas engraçadíssimas das feras. Atualmente, só entrevistas agendadas, normalmente coletivas, só com o técnico e mais um jogador escolhido, colocado estrategicamente na frente do painel dos patrocinadores, um saco!

Somos dinossauros de uma época em que câmeras filmando o jogo era um luxo, que os erros de arbitragens quase não eram notados, exceto pelo Mario Viana da cabine de rádio. Bem diferente de hoje, em que o VAR domina a cena, como uma muleta para boa parte dos árbitros, que não tem coragem para tomar as decisões mais críticas e preferem se proteger, aparando-se na tecnologia.

Além disso, há uma enorme quantidade de câmeras que mostram a mesma jogada de vários ângulos, destruindo a fragilidade humana dos árbitros e bandeirinhas, pois muitas vezes não são capazes de avaliar corretamente e dar o veredito final somente com os recursos humanos. A máquina (VAR) é boa, mas fez o jogo ficar carente de replay, para conferir de perto todos os lances e nivelou por baixo todos os homens de preto, já que dificilmente algum arbitro mantém decisão contrária ao VAR quando é chamado para os “conferes”. O ruim do VAR é que quando você quer, ele não quer e quando você já estava feliz que ele ficou quieto, ele aparece de repente colocando água no chopp.

Para finalizar, não tenho certeza absoluta se as coisas melhoraram ou pioraram, mas ficaram diferentes e a gente tem que ir se adaptando, pra não ficar só reclamando, em vez de comemorar e aproveitar o que ainda existe de bom neste esporte apaixonante.

Forte abraço
Serginho 5Bocas

O CLÁSSICO DO VAR

::::::: por Paulo Cézar Caju :::::::

Maracanã lotado, domingo ensolarado, bons jogadores em campo, ingredientes perfeitos para um Fla-Flu de alto nível. O que vimos em campo, no entanto, foi uma bagunça, muita confusão e o zero não saiu do placar. De bonito mesmo, só a caneta que o Marcelo deu no final do segundo tempo e nada mais.

Na minha visão, grande parcela de culpa vem do VAR, que mexe com o comportamento dos jogadores e é motivo de longos debates. Basta observar que, em todo gol, o time adversário inteiro pede a revisão para ver se teve algum lance faltoso que possa invalidar. Ontem mesmo, nos dois gols, tivemos isso! Sem contar os outros lances polêmicos que nem revisados foram. Vai entender!

Não sou contra a tecnologia no esporte, mas acho que ainda não estamos adaptados a ela. Quem sabe, em um futuro próximo, os árbitros não precisem de quase dez minutos para revisar um lance? Acho que o placar foi justo e excelente para o meu Botafogo!

Estive no Nilton Santos com o parceiro Carlos Roberto e vibrei com mais uma vitória do líder. Um fato curioso é que, por superstição, troquei de lugar no segundo tempo e os dois gols saíram. Não sou pé quente, costumo falar que sou vitorioso, desde os tempos de jogador.

Sobre o jogo, o Botafogo conseguiu aproveitar as oportunidades e soube se defender. É um time que tem ganhado confiança, derrubando os grandes com personalidade, sem soberba em nenhum momento. “Mas o Bragantino é fraco, PC!”, disse um amigo flamenguista. Deve ter se esquecido que o time de Bragança Paulista meteu quatro no rubro-negro há pouco tempo atrás! Kkkkk!

Quem também meteu quatro nessa rodada foi o São Paulo, no clássico contra o Santos. Gostaria de parabenizar o Dorival Jr. por ter retomado a confiança para esse time e confesso que estou cada dia mais preocupado com o time da Vila Belmiro. É torcer para que surja uma nova promessa na base e que tire o time dessa situação o quanto antes!

ncerrei o fim de semana assistindo a entrevista de Abel Ferreira após o empate sem gols diante do Internacional e, mais uma vez, perdi a paciência! Impressionante como o português tem a dificuldade de reconhecer o bom trabalho dos rivais.

Pérolas da semana:

“Os times que gostam da bola proporcionam assistências verticais para blindar o último terço do campo e povar a ideia de jogar. Dessa forma, é possível fazer uma leitura completa do jogo sem saber sofrer”.

“Para dar cara e corpo ao time com contundência, propondo o jogo, o treinador encaixa o ala pelos corredores e recua as linhas no último setor sem morder o adversário”.

Número 1, como meu time não vai gostar da bola e vai devolver para o adversário? Segundo, nunca mordi ninguém jogando bola, só carne. Leitura de jogo? Outro escândalo! Sempre tive visão de jogo. Estamos juntos, geraldinos!

O LENDÁRIO PINHEIRO

por Elso Venâncio

O tricolor Pinheiro cumprimenta o rubro-negro Zagallo diante do árbitro Alberto da Gama Malcher, num Fla-Flu disputado em 1957, no estádio de São Januário

Capitão por mais de dez anos consecutivos, Pinheiro foi o grande líder da história do Fluminense. Zagueiro, atuou como titular de 1948 a 1963. Como jogador e técnico, disputou 722 partidas no total. Apenas seu melhor amigo no futebol, o goleiro Castilho, vestiu mais vezes do que ele a camisa tricolor: foram 697 exibições, contra 606 de Pinheiro. Aliás, o defensor foi titular da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1954, realizada na Suíça.

Gigante, por seus 1m87, aos 17 anos Pinheiro estreou pelo Fluminense, na vitória de 2 a 1 sobre o Nacional, de Montevidéu, nas Laranjeiras. Logo, ganhou destaque ao anular o irascível ídolo alvinegro Heleno de Freitas, que, irritado e amplamente vaiado, teve dificuldades até para tocar na bola.

Pinheiro gostava de recordar o título e a vitória no Pan-Americano de 1952. Brasil 4 x 2 Uruguai, que ainda tinha como base a forte seleção campeã mundial de 1950 aqui mesmo no Brasil:

“Fomos à forra!”

O time base do treinador Zezé Moreyra contava com Castilho, Djalma Santos, Pinheiro, Ely e Nilton Santos; Brandãozinho e Didi; Julinho Botelho, Baltazar, Pinga e Rodrigues.

Zagueiro artilheiro, marcou meia centena de gols. Inclusive, pela seleção. Chamava a atenção por jogar de meias arriadas, aliando a refinada técnica ao excelente vigor físico. Era o ‘Xerife Pinheiro’. E nunca se eximiu de cobrar pênaltis:

“É meia altura, e para cima. Dependendo do goleiro, bato de bico ou com o peito do pé.”

No dia da decisão do Carioca de 1960, foi de carro a Campos dos Goytacazes, sua cidade natal, enterrar seu pai. Mesmo abatido, mostrando extremo profissionalismo, voltou para jogar. Durante a final, partiu para cima do conterrâneo Ari, goleiro do América, antes de cobrar seu pênalti:

“Meto-lhe a porrada!”

Ari se defendeu:

“Apenas disse a ele que sentia pela morte do seu pai…”

Pinheiro bateu com raiva, de bico. O goleiro espalmou, mas, na sequência, aproveitou o rebote para soltar o pé, abrindo o placar. O América empatou com Nilo. No final, de forma surpreendente, virou o jogo com um gol do lateral Jorge, evitando o bicampeonato tricolor.

Ídolo imortal das Laranjeiras, Pinheiro passou a ter carteira assinada no momento em que pendurou as chuteiras. Ainda assim, com autorização do clube, saía para trabalhar. Treinou times na Arábia Saudita e, no título da Copa do Brasil conquistado pelo Cruzeiro em 1993, lançou para o mundo Ronaldo Nazário, então com 16 anos. Ronaldo se transformaria no ‘Fenômeno’, ídolo internacional e bi campeão mundial nas Copas de 1994 e 2002.

No Flamengo, Carlinhos ‘Violino’ viveu situação idêntica. O mesmo ocorria, no Vasco, com Alcir Portela. Também no Botafogo, com Sebastião Leônidas.

Quando surgiu Xerém, Pinheiro mostrou-se um visionário:

“É o futuro”, costumava repetir.

Supervisionava pessoalmente as obras e, como treinador dos juvenis, lançou nomes com Abel, Edinho, Deley, Pintinho, Edevaldo e Zezé, dentre outros excelentes jogadores. Inclusive, dirigiu a ‘Máquina Tricolor’, formada a partir de 1975 pelo presidente Francisco Horta, aquele do lema ‘Vencer ou Vencer’.

Dentre os seus principais títulos constam os Estaduais de 1951 e 1959. Em 1952, conquistou a Copa Rio – o equivalente ao Mundial de Clubes, na época. Ganhou também o Torneio Rio-São Paulo, em 1957 e 1960. E, no ano de 1986, levou o América ao terceiro lugar do Brasileirão com uma campanha histórica.

A dois meses do seu falecimento, eu estava na Praia da Reserva, na Barra, quando o vi passar de bicicleta, boné e óculos escuros. Notei que ele tinha emagrecido, mas continuava com indiscutível físico de atleta. Gritei duas vezes o seu nome, mas minha voz foi abafada pelos carros e motos que circulavam pelo local.

João Carlos Batista Pinheiro, um dos maiores nomes do futebol brasileiro, teve uma vida toda ela dedicada ao Fluminense. Em 30 de agosto de 2011, aos 79 anos, faleceu devido a complicações ligadas a um câncer de próstata. Seu corpo foi velado no salão nobre do Fluminense, que decretou luto oficial de sete dias, na ocasião.