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O MENINO NA MURETA

por Claudio Lovato Filho

O time está mal na foto. Despencou na tabela. Pode ser que ainda hoje assuma a lanterna. Mas o menino está lá. Na arquibancada. Com a camisa do clube. A camisa preferida. A mais nova.

O time está jogando mal de novo. Um esforço máximo para segurar o zero a zero. Superação total. E o menino ali, firme, gritando.

“Vai, vai!”

Ele não desiste do time. Sua convicção. Seu sentimento.

O pai está sentado um pouco mais atrás. Olha para o filho tanto quanto olha para o campo. O pai acha que o time vai ser rebaixado. Fica irritado com os seguidos erros na defesa, no meio e no ataque (em todos os setores, em todos os fundamentos). Quando olha para o filho, contudo, o pessimismo perde força. O mau humor arrefece. A irritação se dilui. E ele, o pai, chega até mesmo a sorrir. E até (até!) a acreditar que… De repente… Quem sabe…

“Vai, vai!”, o menino grita.

Então o centroavante do time do pai e do menino, o time de amarelo e preto, manda um chute atravessado, lá do bico da grande área, que passa tirando lasca do travessão. O menino olha para trás, para o pai, e diz: “Viu? Viu???” E o pai balança a cabeça para cima e para baixo e diz: “Vi”.

Há outros meninos ali, mas só ele está com o peito encostado na mureta, com os braços passando por cima da borda.

Termina o primeiro tempo. O pai chama o vendedor de picolé. Compra dois.

“Tamo jogando melhor que eles”, o menino diz. O pai concorda, sem muita sinceridade: “É”.

Faz calor. O sol castiga sem dó nem piedade. Não tem vento, não tem sequer uma brisa. Os bumbos da organizada voltam a fazer barulho. O menino termina o picolé e volta para o seu posto, abraçado à mureta. O pai diz: “Vira a aba do boné pra frente”. O menino obedece, mas não por muito tempo. Aba pra trás.

Os minutos passam, o calor continua, os times voltam. Aplausos, poucos. “Vamo, suas ferida!”, alguém grita. O pai ri. O menino não gosta – nem do que o torcedor disse nem da risada do pai. O pai percebe isso e tira o riso do rosto.

O apito do árbitro. O segundo tempo começa do mesmo jeito como terminou o primeiro. Então um contra-ataque do time adversário. Uma troca de passes rápida entre dois jogadores. O drible no goleiro. A bola morrendo no fundo do gol. Vaias.
O time da casa perdendo. Agora é lanterna. Mais vaias.

O menino olha para o pai, mas não diz nada. O pai olha para o menino e também não diz nada.

O jogo prossegue. A partir disso, um tremendo perde-ganha nas duas intermediárias. Os goleiros só assistem ao jogo. Um calor infernal. Algumas nuvens escuras se aproximam.

“Mas são uns pereba mesmo!”, diz alguém lá em cima. O menino se volta e olha de cara feia.

Segue o perde-ganha, o bate-rebate, o rame-rame. Então, um passe errado do volante adversário. A bola interceptada por um volante do time da casa. Um passe em diagonal para o centroavante, cria da base. Ele parte para cima do zagueiro. Um corte seco em direção à linha de fundo. Pisa na bola quando ela está em cima da linha. Nova acelerada, agora invadindo a área. De novo pé em cima da bola. A travada e o outro zagueiro passa lotado. A tentativa de enquadramento do corpo. O chute engatilhado. Ainda sem ângulo. Vai assim mesmo. Um foguete. Bola no alto. O goleiro apenas levanta um braço – impotente, protocolar. Um a um.

O menino salta e grita. Não cabe em si. Pula e pula. Mais um pouco cairia no fosso. O pai está de pé. De boca aberta. Não acredita no que viu. O pai desce dois degraus e se aproxima do filho, que olha para ele e diz: “Viu? Viu???” E o pai responde: “Vi!” “Eu não te falei? Eu não te falei?”, o menino diz. “Falou”, o pai diz. “Falou”. O coração do menino parece uma britadeira. O do pai, um bate-estaca.

O jogo termina. O time escapou da lanterna. Até quando, ninguém sabe. E neste momento não importa. O menino e o pai vão saindo do estádio. Cumprimentam conhecidos. Cumprimentam também desconhecidos. O menino tem o peito estufado, e, de tempos em tempos, passa a mão sobre o distintivo.

O pai tem a mão no ombro do menino. O menino tem uma tarde para jamais esquecer. Lembrará disso tudo para sempre: a emoção da partida, o gol (aquele gol!), a mão do pai no seu ombro, o lento caminhar deles até a rua. E do quanto sempre acreditou.

Caminham em silêncio. Estão felizes.

Nada mais precisa ser dito.

OSVALDO, A LIGAÇÃO EXPRESSA DO IMORTAL

por Reinaldo Sá

O clássico camisa 8 do Grêmio ganhou a confiança do técnico Valdir Espinosa ainda na Libertadores. Foi beneficiado, claro, com a contusão de Bonamigo, segundo volante do tricolor dos pampas, e com as saídas de Tita para o Flamengo e Vilson Tadei para o Coritiba. Mas ele não deixou a oportunidade escapar! Sua entrada foi fundamental, pois com muita obediência tática deu mais liberdade para a criação de Mario Sérgio e Paulo César Caju no meio de campo, e os avanços, pelo lado direito, do lateral Paulo Roberto e do jovem ídolo, o ponta atrevido Renato Portaluppi. Sua marcação implacável ao lado de China freou o Hamburgo. Mas Osvaldo não se limitava a marcar e desde sua época de Ponte Preta, ao lado do mestre Dicá, já notava-se sua técnica refinada. Sua contratação foi um pedido do então treinador Ênio Andrade, um ano antes. Treinou muito para quando o momento chegasse estivesse na ponta dos cascos! Valeu a pena! Hoje Osvaldo consta como um dos gigantes dessa conquista inesquecível!

AS ACADEMIAS

por Elso Venâncio, o repórter Elso

Ao longo de sua História, o Palmeiras teve três Academias de Futebol. Foram grandes esquadrões, tanto nos anos 60 e 70 como nos 90. O responsável pelo termo ‘Academia’ foi Ademir da Guia, ‘O Divino’, maior ídolo do clube. Ele era o maestro de uma equipe que conquistou os Estaduais de 1963 e 1966, que, somado ao título de 1959, impediu o Santos, de Pelé, de gritar ‘campeão’ por doze anos seguidos.

Dudu, que é tio do treinador Dorival Júnior, formava o meio de campo com Ademir em duas Academias e também outras vezes, na seleção brasileira.

A poderosa primeira ‘Academia’ chegou a vestir a camisa amarela, representando o Brasil, contra o Uruguai, em 1965, na disputa da Taça Inconfidência, durante a inauguração do Estádio Magalhães Pinto, o Mineirão. O time base era Valdir de Moraes, Djalma Santos, Djalma Dias, Valdemar Carabina e Ferrari; Dudu e Ademir da Guia; Júlio Botelho, Servílio, Tupãzinho e Rinaldo. O argentino Filpo Nuñez era o treinador.

Ademir, o craque carioca que o Palmeiras tirou do Bangu, era filho de outra lenda, Domingos da Guia, um dos maiores zagueiros do nosso futebol em todos os tempos. O defensor desfilou talento por vários clubes, dentre eles Flamengo, Corinthians, Vasco e Boca Juniors, além de ter disputado a Copa do Mundo de 1938.

A segunda Academia começou a se destacar ao conquistar dois títulos de expressão, o bicampeonato brasileiro de 1972/1973. A equipe era formada por Leão, Eurico, Luís Pereira, Alfredo e Zeca; Dudu e Ademir da Guia; Edu, Leivinha, César Maluco e Nei. Como técnico, Oswaldo Brandão.

Evaristo de Macedo lembra o carinho dos europeus com seus ídolos:

“Aqui, no Brasil, as pessoas nos esquecem.”

Primeiro jogador brasileiro a se destacar tanto no Barcelona como no Real Madrid, Evaristo regularmente vai à Espanha, onde é homenageado pelos gigantes rivais. No Brasil, encontros entre esses cracaços que fizeram história são raros.

A terceira Academia conquistou um punhado de títulos. Três Campeonatos Paulistas: 1993, 1994 e 1996. A Copa do Brasil de 1998 e, por fim, a Taça Libertadores de 1999. O time base da primeira equipe, a de 1993, era Velloso, Mazinho, Antônio Carlos, Cléber e Roberto Carlos; Flávio Conceição, Amaral, Rivaldo (Edilson) e Zinho; Edmundo e Evair. Todos comandados por Vanderlei Luxemburgo, que depois teve às mãos – não só ele como também Felipão – jogadores como Marcos, Arce, Junior Baiano, Junior, Djalminha, Alex, Oséias, Faustino Asprilla e Paulo Nunes, entre outros.

Foi a ‘Era Parmalat’, onde Edmundo despontou como o maior jogador brasileiro. Um fora de série, tanto que foi negociado, em 1995, com o Flamengo por seis milhões de reais, num período em que a moeda brasileira competia de igual para igual com o dólar. A contratação do ‘Animal’, apelido dado pelo ‘Garotinho’ Osmar Santos, narrador da Rádio Globo de São Paulo, foi um pedido de Romário, eleito o melhor jogador do mundo após a conquista do tetracampeonato que a seleção trouxe no ano anterior, ao derrotar a Itália de Baggio nos Estados Unidos.

Com egos inflados, os dois acabaram se desentendendo durante uma excursão à China. O relacionamento ruim fora de campo acabou prejudicando o badalado ‘Ataque dos Sonhos’: Romário, Sávio e Edmundo – também chamado de ‘Melhor Ataque do Mundo’.

Há quem defenda a ideia de que o português Abel Ferreira formou a Quarta Academia. O Palmeiras atual, mesmo tendo conquistado duas Libertadores e três paulistas, além de outros títulos, não tem craques do mesmo gabarito daquelas Academias. E muito menos um ÍDOLO DIVINO para chamar de seu.

GANSO MERECIA MAIS RESPEITO

por Zé Roberto Padilha

O Fluminense merecia perder de mais. 3 x 0 para o Cuiabá foi até pouco diante dos erros cometidos e levou até um olé na Arena Pantanalrr, fruto de erros de escalação, lapsos de logística.

Tudo pode ser perdoado, até o maldito time misto, aquele com reservas infiltrados que nunca jogam bem porque nunca treinaram juntos, em razão da decisão de quarta-feira, contra o Internacional. Menos o que fizeram com o Ganso.

Já que não foi aproveitado, mesmo diante da péssima atuação da equipe, por que viajou, mudou roupa e se submeteu a um calor insuportável que fazia em Cuiabá?

Será que se ficasse no Rio, descansando, fazendo um trabalho físico de manutenção, não cansaria menos?

Hoje, fizeram tudo para atrapalhar todo o bom ambiente até então vivido e buscado para ir a Porto Alegre decidir uma vaga na final.

Conseguiram.

MAZINHO, UM ESPETÁCULO DE JOGADOR

por Luis Filipe Chateaubriand

Iomar do Nascimento, apelidado de Mazinho, foi um grande jogador brasileiro dos anos 1980 e 1990, que atuava nas duas laterais e no meio de campo.

Em 1985, o paraibano Mazinho aparece para o futebol, vindo das divisões de base do Vasco da Gama para o time principal.

Atuando como volante, o jovem Mazinho demonstrava uma vitalidade impressionante em campo, aliando técnica apurada com preparo físico exemplar.

Em 1987, passou a atuar pela lateral esquerda, onde teve um desempenho de tal forma exuberante que o levou à Seleção Brasileira.

Ali, na Seleção, passou a atuar também pela lateral direita, um jogador polivalente e muito útil ao elenco.

Disputou os Jogos Olímpicos de Seul, na Coréia do Sul, onde foi vice-campeão.

Disputou a Copa do Mundo de 1990, na Itália, onde era o reserva imediato tanto da lateral direita como da lateral esquerda.

Negociado ao futebol italiano, onde entre 1900 e 1992 atuou por Lecce a Fiorentina, teve desempenho satisfatório.

Voltou ao futebol brasileiro em 1992, jogando pelo Palmeiras, na posição de terceiro homem de meio-campo.

Estraçalhou, jogando pelo “Alvi Verde Imponente”.

E, novamente, foi à Seleção, para jogar a Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos, como terceiro homem de meio-campo, e como titular, tendo sido campeão mundial.

Depois da Copa do Mundo, transferiu-se ao futebol espanhol, tendo jogado no Valência (1994-1996), no Celta de Vigo (1996-1999) e no Elche (1999-2000).

Voltou ao futebol brasileiro em 2001, para jogar no Vitória e, em Salvador, encerrou a carreira.

Quando se lembra do desempenho de Mazinho no futebol, lembra-se de um jogador extremamente profissional, comprometido com o trabalho, um dínamo e, além de tudo, tecnicamente competente.

Está na história!