“UMA COISA JOGADA COM MÚSICA” – CAPÍTULO 22
por Eduardo Lamas Neiva

Após uma leve dispersada da turma após o “Futebol no inferno”, João Sem Medo retoma a pelota e provoca Sobrenatural de Almeida.
João Sem Medo: – Ô, Almeida, você conta é muita história, viu. Quer saber, se macumba ganhasse jogo, Campeonato Baiano terminava empatado.
Sobrenatural de Almeida: – Tá tirando sarro comigo, João? Não tenho nada com macumba, nem religião nenhuma, não. Meu papo é futebol, mas também não visto a camisa de nenhum time, sou democrático. Tem gente que acha que causo tragédias, mas não tem nada disso. Influencio apenas nos resultados de campo. De vez em quando, de vez em quando… desvio uma bola, sopro algo no ouvido do árbitro, desloco traves, coisas deste tipo. Se chamam de tragédia, é culpa da imprensa.
Idiota da Objetividade: – Sempre a imprensa é a culpada.
João Sem Medo: – Às vezes é mesmo, inventa muita coisa pra vender jornal.
Garçom: – Enquanto há jornal. Hoje, “seu” João, a imprensa luta por audiência e cliques, na internet.
João Sem Medo: – No meu tempo, já existia isso, não isso de cliques, mas a busca dos jornais por leitores e de audiência das rádios e TVs. E nisso se inventava muita coisa.
Ceguinho Torcedor: – Sou da imprensa anterior ao copy desk. Quando Pompeu de Sousa trouxe pro Brasil o que se fazia nos Estados Unidos, o copy desk, os nossos jornais foram atacados de uma doença grave: a objetividade. Daí para o Idiota da Objetividade seria um passo.
Idiota da Objetividade: – Sou cria do Pompeu com muito orgulho, Ceguinho. A objetividade é fundamental no jornalismo.
Garçom: – Não vamos discutir, amigos… Olha, aproveitando a deixa, vamos homenagear o criador destes nossos amigos aqui.
Ceguinho Torcedor: – Gostei! “Sou do tempo em que até os canalhas choravam”.
Sobrenatural de Almeida dá mais uma gargalhada satânica.
Garçom: – Esta música do Zeca Baleiro se chama “Meu nome é Nelson Rodrigues”.
Após a homenagem a Nelson Rodrigues, João Sem Medo retoma a pelota.
João Sem Medo: – Meus amigos, vou contar uma história que ilustra bem esse debate do Ceguinho com o Idiota. É sobre o jornalismo no rádio… Foi em 1958, quando o Botafogo voltou de uma excursão ao México e à América Central. Guiomar, mulher do Didi, estava fula da vida com ele, por causa da visita que os jogadores do Botafogo fizeram a uma vedete famosa no México. A foto foi publicada nos jornais daqui e ela não queria saber se Didi tinha culpa no cartório ou não e partiu pro Aeroporto do Galeão pra matar o marido de pancada. O crioulo voltou branco na viagem. Peguei o Didi e fomos pro clube, onde já estavam Amauri e Quarentinha, que tinham ido buscar a bagagem deles. Logo veio o rádio-repórter Vitorino Vieira com um gravador. Ele disse que não teve tempo de ir ao aeroporto, então pediu pra fazer as entrevistas ali mesmo. Até aí tudo bem, mas ele viu um empregado do Botafogo e pediu um ventilador. O empregado trouxe, ele começou a falar: “Caríssimos ouvintes, bom dia! Aqui fala Vitorino Vieira, desde o Aeroporto do Galeão, para cobrir a chegada do Botafogo de Futebol e Regatas. Madrugamos aqui para satisfazer nossos ouvintes”.
O povo do bar não se aguenta de rir. João Sem Medo prossegue.
João Sem Medo: – Ele ligou o ventilador bem perto do microfone e continuou: “Estão ouvindo o ronco dos motores do avião? Já estão descendo os jogadores. Saltaram Didi, Quarentinha, Amauri e o treinador João Saldanha, que vêm ao nosso microfone”. Fizemos a entrevista “desde o Aeroporto do Galeão”, mas Vitorino queria mais: “Didi agora está abraçando e beijando dona Guiomar, sua esposa”. E estalou um beijo junto do microfone.
Todos caem na gargalhada.
João Sem Medo: – Depois o repórter ainda se gabou que era bárbaro em sonoplastia e lascou outro favor, pedindo pra bancarmos os jogadores do Vasco, que estavam chegando ao Santos Dumont, de Belo Horizonte, onde tinham enfrentado o Atlético. E ligou de novo o microfone: “Senhores e senhoras, a vida do repórter de rádio é dura, viu. De madrugada estávamos falando do Aeroporto do Galeão com a chegada do Botafogo. Agora, estamos falando desde o Aeroporto Santos Dumont, com a chegada do Vasco da Gama”. E aí entrevistou o Amauri como sendo Almir, que tinha feito o gol do Vasco no empate em Belo Horizonte, eu fingi que era o Pinga; o Quarentinha bancou o Sabará, e o Didi, que já estava assustado, sumiu.
Garçom (rindo mais que todo mundo): – Sensacional!
Ceguinho Torcedor: – Quem diria, Didi, o Príncipe Etíope de Rancho, numa situação dessa.
João Sem Medo: – Jogava uma barbaridade. Meu amigo Neném Prancha tem uma boa definição sobre como Didi jogava. Como é, mesmo, Neném?
Numa mesa próxima, Neném Prancha levanta a voz.
Neném Prancha: – Didi jogava bola como quem chupa laranja, com muito carinho.
Didi: – Obrigado, minha gente. Mas essa história que o João contou já resolvi há muito tempo com a Guiomar. Não é, meu bem?
Didi dá um beijo em Guiomar e todos sorriem e aplaudem o casal.
Músico: – Com todo o respeito ao ilustre casal, até porque ficou tudo bem, mas a dona Guiomar ficou achando que o seu Didi tinha abusado da regra 3?
Risada geral e a banda toca um trecho de “Regra Três”, de Toquinho e Vinícius de Moraes.
Fim do Capítulo 22
SEU SANTOS – GRANDE MASSAGISTA!
por Ivan Neguinho

No início dos anos 70, o Colégio Delta possuía um excelente time de futebol, tanto no campo quanto no salão. Prova disso é que fomos bicampeões estudantil entre escolas de Deodoro à Santa Cruz, campeonatos disputados no campo do Campo Grande. Chegou ao ponto do time inteiro, mais alguns reservas, serem aproveitados no elenco juvenil do Campusca. Com isso, abriu-se a oportunidade do Sr. Enéas, dono do Colégio, assumir o cargo de Vice-Presidente de Futebol Amador do Campo Grande. No cargo, com o seu “olhar clínico”, observou um profissional que trabalhava como massagista na Agremiação e imediatamente convidou-o para trabalhar no Delta como Inspetor e Diretor Desportivo. Ele era o SEU SANTOS!
Gente muito boa, gentil, prestativo e com um coração enorme, porém um tanto quanto “explosivo”! Amava futebol, exímio massagista e, logo entrosou-se com a galera: alunos e atletas! Nas horas de calmaria, juntava-se com o grupo e repicava um samba ou uma macumba legal! Brincava pra dedéu! Contudo, tinha dia que notávamos que ele não estava pra brincadeiras. Ficava carrancudo! Mesmo assim, nós não o deixávamos sossegado e perturbávamos!

Seu Santos era aposentado como Sargento da Polícia por motivo emocional (neuro) e com o decorrer dos anos ficou tão íntimo da gente, que nos defendia como se fôssemos seus filhos. Amor pra valer! Parte à parte! Ambos os lados! Tivemos muitas histórias em comum e muitos fatos até folclóricos, que não posso deixar de citar e elogiá-lo, em sua competência como profissional e principalmente como amigo. Em um deles, o meu cunhado Tico teve uma crise na coluna gravíssima e nem sentar-se na cama conseguia. Arrastava-se pelo chão e dormia por lá mesmo. Até que levei o Seu Santos para ver a situação do meu cunhado e ficou tão piedoso, que resolveu ajudar-nos, decidindo cuidar do Tico de forma incansável. Todos os dias, duas horas de massagens sem interrupção. Ficava exausto e banhado de suor e nunca aceitou um centavo! Graças a Deus e por seu empenho e dedicação, após dez dias de tratamento intensivo, meu cunhado ficou curado. O homem massagista era fera!
Nos jogos de futebol, defendia-nos a ponto de arriscar a sua própria vida. Certa vez, fui jogar pelo Central, em Paracambi, contra o Brasil Industrial e o Seu Santos foi como Chefe dos Massagistas. Até que um jogador do time adversário atacou-me traiçoeiramente e maldosamente pela retaguarda, quase quebrando meu tornozelo. Todos ficaram revoltados e fui retirado do gramado carregado, sem conseguir andar. Seu Santos fez os primeiros atendimentos, imobilizou o local com esparadrapo e ataduras e, mesmo sabendo que eu não tinha condições de continuar na partida, colocou-me de pé e disse-me: “Vá lá, dê uma porr… bem dada nele, e corre pra cá, na minha direção. Vou ficar com a minha “45” na mão, esperando-o”. Tentei fazer o que ele me instruiu, mas graças a Deus, para o bem de todos, não consegui pisar com o pé no chão e caí. O pernambucano era “brabo”!
Em outra ocasião, jogando em Paciência, sendo o nosso ataque habilidoso e veloz, os zagueiros deles passaram a apelar de maneira violenta e agressiva. Quase quebraram o Birinha, coitado! Agrediam sem pestanejar! Daí, meu mano Nando, resolveu “abrir a mala de ferramentas”. Passou a fazer o mesmo que a zaga dos oponentes estava praticando. Deu uma pancada tão forte no atacante rival, que o cara foi cair fora do campo, dentro do “espinhal”. Os jogadores e torcedores locais irromperam em direção do meu irmão mas, por “sorte”, quem estava lá?… Seu Santos! Com a arma em punho gritou: “Ninguém vai fazer nada no rapaz! Ele não é marginal. Ele é Militar e Professor do Estado!”. Todo mundo murchou! Seu Santos, o herói!
Contudo, como atletas do Colégio Delta, deixamos duas vezes a desejar e o envergonhamos! O Sr. Enéas não pode dirigir a equipe, então o Seu Santos ficou no comando. Parece brincadeira! Perdemos duas vezes de cinco e ele quase nos bateu. Queria que voltássemos a pé para o Colégio. O nosso time era um escrete: Rui, Fusquinha, Paim, Baiano Pou Pou, Nega, Zé Luís, Alonso, Azael, Nildo, Carlinhos Tutu, Carlinhos C. Milho, Anu…
A primeira goleada se justifica porque nós fomos pro baile no Géu, Sepetiba, e chegamos de manhã, com alguns indo direto pro campo. Já na segunda vez, foi por arrogânciamesmo. Negligenciamos! Menosprezamos um time que só tinha gordinho. Resultado: fomos eliminados e desclassificados por simpáticos gorduchinhos!
FOI DIFÍCIL JUSTIFICAR E MAIS DIFÍCIL FAZER O NOSSO AMADO E INESQUECÍVEL MASSAGISTA SEU SANTOS ENTENDER!
COISAS DO FUTEBOL E DE AMIZADES SELETAS!
ALMAS PENADAS
por Rubens Lemos

Ciclos da Pedra e do Cão é um livro fininho, de poemas do meu pai, versos doloridos das cicatrizes que a repressão plantou no seu corpo e na sua alma, primeiro combalida, depois destruída.
Nunca disse a ele, mas, menino de oito anos, morria de medo de um dos textos, que falava em cemitério, algo que me causa fascínio e pavor: “Vasto cemitério, de corpos insepultos, almas penadas povoando Europas e o céu silencioso, ouvindo tudo”.
A (falta) de vergonha de ABC e América em nova jornada de times bisonhos, me trouxe o livro, editado pelo maior dos incentivadores da leitura no Rio Grande do Norte: Carlos Lima, que morreu em 8 abril de 1997, dia em que o alvinegro ganhou um clássico por 5×0.
Carlos Lima é pai de Sérgio Tareco, ou melhor Doutor Sérgio Tareco, ou médico Sérgio Lima, competente anestesista e frequentador incontestável de todos os jogos do Mais Querido em Natal. Espero que Tareco não se chateie por chamá-lo de Tareco, como fiz desde a primeira vez que o vi, pelos anos 1970, falando sobre futebol. Nem ele nem eu somos dados a intimidades.
Há circunstâncias em que não dá para confrontar a crueza do caos. E o que existe na vida atual dos dois principais clubes do Rio Grande do Norte é desastre, tragédia, inércia e incompetência. Pela primeira vez, algo uniu, como gêmeos, ABC e América: o fracasso sucessivo.
Nem é preciso buscar respostas nos clássicos do Inspetor Jules Maigret, personagem do belga Georges Simenon, para encontrar os autores intelectuais e materiais da catástrofe. Confesso que arregalei os olhos, como se um fantasma me atacasse, ao ver pessoas inteligentes com saudades do técnico Fernando Marchiori.
Quem o contratou e ele mesmo, são os primeiros culpados da sentença informal e nem por isso menos dolorosa: retranqueiro ululante, Marchiori enganou a torcida com seu jogo feio, que sucumbiu contra o Grêmio na Copa do Brasil e descarrilou de vez na primeira etapa do Campeonato Brasileiro.
Marchiori está na galeria dos grandes vilões alvinegros, onde pontificam Rodrigo Pastana, supervisor de porra nenhuma, Zé Roberto de 1977, o estelionatário e Giscard Salton, doloroso igual a enxaqueca de vinho barato. O ABC entrou na Série B imaginando que enfrentaria adversários pífios das Séries C e D. Erro infantil. A Série B é uma guerra cheia de minas explosivas a cada rodada.
Quando lembraram de mandar Fernando Marchiori embora, trocando-o por um comum Alan Aal, parecia tarde demais. Chegou outro balaio de jogadores, contratados por um executivo de futebol autodenominado criterioso em escolher boleiros. Vieram outros iguais aos que se foram.
Com 13 pontos ganhos, o ABC joga duas partidas em casa: contra o Ituano e o CRB. Em condições habituais de temperatura e pressão, seriam jogos tranquilos. O sentimento da insegurança, do pânico, faz a Frasqueira duvidar de seis pontos ganhos obrigatórios.
O América embaralhou-se quando inflou o peito por conta da tal da Sociedade Anônima de Futebol, a SAF, que, na prática, vendeu o clube a empresários sem amor a nada que não seja monetário. Seriam 174 milhões, de início, depois a grana foi diminuindo em contradição à chegada de pernas de pau incapazes de dar um passe de cinco metros.
Essa história da SAF precisa ser contada direito e apenas homens históricos do naipe dos ex-presidentes Jussier Santos e Eduardo Rocha sacaram suas lanças para brecar o apetite dos compradores, eles vorazes, a direção do clube passiva, aparentando cumplicidade, enquanto a tensão se instalou entre funcionários, as notícias rarearam – afinal, a empresa é dona e não dá satisfações a ninguém e o América saiu a padecer no gramado.
É uma fase pavorosa, em que alguns tentam buscar desculpas esfarrapadas. A força implacável dos números, registra a iminente queda dos dois clubes.
Enquanto lá dos mistérios paranormais, os ex-presidentes Ernani da Silveira do ABC e José Rocha, do América, observam, em revoltado silêncio, cada um em seu túmulo. Mas, há, sim, um vasto cemitério de corpos insepultos. Nem cadáveres jogariam pior do que ABC e América hoje em dia.
PEGADAS DA BOLA ETERNIZADAS NO CORAÇÃO DE ZAGALLO
por Marcos Vinicius Cabral

O futebol, de forma impiedosa, começou maltratando o coração de Mário Jorge Lobo Zagallo que, nesta quarta-feira (09), celebra 92 anos. Isso porque, naquele 16 de julho de 1950, o único tetracampeão mundial de futebol era um desconhecido soldado do Exército que trabalhava no Maracanã quando ouviu o apito final do árbitro inglês George Reader (1896-1978) e, ali, viu o sonho do primeiro título naufragar como Titanic nas águas gélidas canadenses do Oceano Atlântico.
O que Zagallo mal sabia era que o destino o colocaria em mais cinco decisões da Seleção Brasileira, tendo vencido quatro delas. Mas muito antes de tornar-se o mais vitorioso entre todos os esportistas do mundo, o Velho Lobo era retrato da tristeza diante da tragédia conhecida como ‘Maracanazo’.
Sem tempo para enxugar lágrimas que desceram do rosto do jovem militar naquela derrota do Brasil para o Uruguai de Ghiggia (1926-2015) na 4ª edição de uma Copa do Mundo e 1ª em solo nacional, Mário despiu-se da amargura e decidiu que se vingaria. Não a curto prazo, mas em épocas diferentes do tempo.
E o tempo, marcador implacável que forjou tantos e tantos e tantos heróis, não marcou o rosto de Zagallo em vão. De vez em quando, os cabelos brancos recebem o carinho dos familiares, dos fãs e dos amigos. Afinal de contas, estamos falando de um esportista que sobreviveu às custas da capacidade, competência e conquistas na carreira.
Mas o começo, em toda história com final feliz, se deu quando Zagallo, sem conhecimento do pai Aroldo, demonstrou talento nas peladas no terreno do Derby Club – onde eram realizados turfe, esportes equestres e atividades sociais – antes do espaço virar o Estádio Jornalista Mário Filho, conhecido como Maracanã.
Foi nas peladas que Zagallo mostrou habilidade. Mais tarde no time amador do Maguari foi aprimorando o dom de jogar futebol dado por Deus. O América Football Club, local em que praticava natação, tênis de mesa e vôlei, inevitavelmente, o receberia de braços abertos.
Mais iluminado do que o futebol apresentado no antigo Estádio da Rua Campos Sales, apenas os refletores que o pai Aroldo, conselheiro do clube, ajudou comprar. O brilho do jovem Zagallo já era visto por qualquer um.
Sendo assim, luz não seria problema para abrilhantar o menino Zagallo que, de maneira pueril, calçara pela primeira vez na vida um par de chuteiras.
Contrariando o pai, que queria porque queria que Zagallo fosse técnico de contabilidade, o futebol foi pulsando mais forte no peito do menino franzino nascido em Atalaia, no estado de Alagoas.
Mas a sorte ‘sorriu’ para o aspirante a craque. Contratado pelo Flamengo em 1950, Zagallo teve a oportunidade quando Esquerdinha, então titular, pediu licença para se casar e Itamar, reserva imediato, ficou doente.
No primeiro Campeonato Brasileiro de Amadores, em 1951, quando faturou o primeiro título, logo acabou notado pelo treinador Fleitas Solich. Foi titular no tricampeonato de 1953, 1954 e 1955, formando um senhor ataque com Joel, Moacir, Índio, Evaristo e Dida.
O bom futebol levou Zagallo a vestir a camisa da Seleção Brasileira e conquistar as copas do mundo de 1958 e 1962. Valorizado e dono do próprio passe, acertou com o Botafogo e fez parte de lendárias formações de ataque com craques como Garrincha, Didi, Amarildo, Paulo Valentim, Quarentinha e tantos outros. Privilégio para poucos.
Técnico vitorioso na Copa do Mundo do México, em 1970, e coordenador técnico na dos Estados Unidos, em 1994, Zagallo completa mais um ano de vida. No entanto, toda e qualquer homenagem feita ao supersticioso ex-jogador, ex-treinador e ex-coordenador técnico seria pequena diante da grandeza do Velho Lobo para o futebol.
Na lista de grandes ícones do futebol mundial, Zagallo, fã do número 13, devoto de Santo Antônio, não entra em nenhuma delas. Deve, obrigatoriamente, ter um asterisco ao lado do nome e ser colocado na prateleira de grandes nomes do futebol mundial como Pelé, Garrincha, Carlos Alberto Torres, Beckenbauer, Maradona, Ronaldo Fenômeno, Messi, Zidane, Cafu, Iniesta e tantos outros que foram campeões do mundo por suas respectivas seleções.
No entanto, Mário, não um Mário qualquer, mas Mário Jorge Lobo Zagallo, pai exemplar, avó e bisavô dedicado. Não bastasse, é um homem apaixonado pela bola e que amou a eterna Alcina de Castro (1932-2012) até os últimos dias de vida dela está um degrau acima dos gigantes do futebol.
Mas cá entre nós, por quê?, perguntariam os incautos.
Porque ele é, simplesmente, Mário Jorge Lobo Zagallo.
QUANDO O TREINADOR É APENAS UM DETALHE
por Zé Roberto Padilha

Pode sair Luis Castro, entrar o interino, Cláudio Caçapa, aparecer um Bruno Lage, que poucos conheciam, que, se os jogadores querem, o Botafogo dificilmente perde.
Não há segredos para o sucesso do Botafogo. Jogadores rodados, prestes a fechar o currículo com modestos feitos individuais, e, ao juntarem, aleatoriamente que seja, deram liga.
Na equipe não há espaço para crianças. Para erros e posturas infantis. O último a sair das fraldas, Matheus Nascimento, viajou rumo a uma franquia SAP para ganhar experiência.
E uma observação, de um dos integrantes da Comissão Técnica, revela um dos segredos: “Eles fizeram um pacto para não tomar gol!”. Desse jeito, todos dão um gás a mais. Marcam, não cercam. Ajudam um ao outro.
Desse jeito, treinador passa a ser apenas um detalhe. E que uma campanha tão bonita não se perca por um Tiquinho.